Lançamentos
E o tal single novo do Guns N’ Roses?

Se você havia se apressado em decretar a morte criativa do Guns N’Roses, pode esquecer: Perhaps, novo single do grupo, é bem legal. Tem um energia que lembra bastante a época do par de discos duplos Use your illusion, até bem mais do que a estreia com Apetite for destruction (1987), uma pianinho que lembra as influências de Elton John que Axl Rose sempre disse ter, e guitarras legais.
O lançamento da faixa vem obedecendo a várias etapas: foi tocada em passagens de som (com direito a vídeos feitos por fãs), foi liberada para jukeboxes digitais, chegou ao público dia 18 de agosto. E já ganhou clipe, com imagens da banda durante a turnê We’re F’n Back! No dia 17 de outubro, sai o vinil de 7 polegadas com Perhaps no lado A e The general no lado B.
Uma curiosidade é que não se trata de uma música “nova” de fato. Perhaps havia sido escrita e gravada durante as duradouras (e bota duradouras nisso) sessões do disco Chinese democracy, o álbum mais recente do Guns. Foi a mesma coisa com o single anterior do grupo, Hard skool, lançado em 2021 e também gravado durante o trabalho no álbum. Já havia até uma versão demo de Perhaps rolando no YouTube.
Mês passado, antes de Perhaps ser liberada, Tom Mayhue, gerente de produção da banda, já havia afirmado que o Guns terminaria a parte norte-americana de sua turnê em meados de outubro, e que depois disso começaria a trabalhar em novas músicas. “Eles já têm um monte de coisas gravadas. Na verdade, acho que eles estão tentando lançar um single a qualquer momento, então você poderá ouvir algo muito, muito em breve”, contou (via Blabbermouth). Mayhue também disse que o novo material da banda lembra bastante o primeiro álbum.
Numa entrevista ao programa Trunk Nation with Eddie Trunk, Slash contou que várias outras músicas antigas da banda também foram retrabalhadas durante a pandemia. “Há um punhado dessas músicas que realmente consertamos e fizemos quando estávamos isolados”, disse. “Não foram lançadas ainda e serão lançadas. São muito boas e estou animado com elas. Vamos lançar apenas uma ou duas músicas. E acho que serão praticamente todas. Não tenho certeza de quantas fizemos no total”, tentou explicar.
Se você não ouviu Perhaps ainda, tá aí o clipe. A canção é uma parceria de Axl com o produtor, técnico de som e tecladista Caram Costanzo. Formação do Guns na gravação: Axl (co-produção, voz, piano), Slash (guitarra), Duff KcKagan (baixo, backing vocals), Dizzy Reed (teclados), Richard Fortus (guitarra), Brain (bateria).
Foto: Reprodução YouTube
Lançamentos
Radar: Rico Dalasam, Leu Kalunga, Luana Flores, Matheus Gomes Lima, Undo, Supervão, Pedro Silveira

O Radar nacional costuma apostar na mistura sonora, mas hoje…. Bom, hoje a seleção vem BEM misturada: hip hop, MPB de base afro-cigana, soul, pós-punk, experiências do dia a dia, saberes espirituais e encantarias, heranças que vêm de outras culturas, ciclos emocionais, problemas da modernidade, música e existência, tudo junto e misturado. E rumo ao último volume! (Foto Rico Dalasam – Divulgação).
Texto: Ricardo Schott
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RICO DALASAM, “DILEMA”. Rapper ligado a temas e vivências LGBTQIAP+, Rico volta com single novo, Dilema, que fala sobre as confusões que todo mundo pode fazer entre amor e ódio – aliás, entre amor e ódio a si próprio. Parece contraditório, mas não é: o que tem mais no mundo que a gente vive são contradições, com as quais lidamos no dia a dia, e que Rico põe em sua música. Em fase nova na carreira, Rico juntou-se ao produtor Pedrowl e ao DJ Lukinhas e, em Dilema, cai dentro do funk misturado com rap.
LEU KALUNGA, “AFRODISÍACA”. Multitarefa? Leu é mais. Intérprete, poeta, cantriz, compositora, percussionista e performer — tudo isso orbitando a cena efervescente de Pelotas (RS). Já apareceu por aqui antes com um single, agora volta com Afrodisíaca, faixa que mistura o swing do afropop com a ternura melódica do brega recifense.
A produção vem assinada pelo moçambicano Leo Pro Beatz, no que é o primeiro feat internacional de Leu. “A música mergulha em um jogo de sedução intensificado pelos sabores do mel e do açaí, elementos afrodisíacos”, define a cantora, que já tem três singles lançados antes de Afrodisíaca. Leu é uma das vozes do selo Dona Dete Records.
LUANA FLORES feat DUO LUUL, “SIGA CYGANA”. Não mexe com quem não anda só! A paraibana Luana adianta seu novo álbum com Siga cygana, uma música que fala de saberes ancestrais, encantamentos e todas as memórias que os povos ciganos guardam até hoje. O som tem samba de roda e experimentações de beats. O Duo Luul, também paraibano, participa da faixa, que ganhou um clipe dirigido pela própria Luana.
Aliás, clipe nada: Luana decidiu fazer um short movie para a faixa, com doze minutos e clima estradeiro, com toda a turma a bordo de uma kombi. “Esse vídeo é um conto sobre a terra, os alimentos e a memória ancestral ameaçada”, conta Luana. “Fala da perda de saberes, da manipulação da indústria alimentícia, da perseguição às sementes e da monocultura que empobrece a diversidade”.
MATHEUS GOMES LIMA, “ENCRUZILHADA, LICOR E DENTE-DE-LEÃO”. Músico de São Gonçalo (RJ), que passou pela banda Elefantes Voadores, Matheus entrega três grandes referências para seu novo single: Três lados, do Skank, Rockin’ chair do Oasis, e Just like heaven, do The Cure. Faz muito sentido – e se trata de uma canção romântica, de espírito leve, com a cara do som violeiro dos anos 1980 (Smiths também bate ponto na sonoridade de Matheus, audivelmente).
Encruzilhada, licor e dente-de-leão já ganhou clipe – por sinal um vídeo em que Matheus sai por aí com uma foto na mão, em busca de sua amada perdida. Tudo a ver com o clima amoroso da faixa – uma das canções mais bonitas que já passaram pelo Radar do Pop Fantasma em 2025. Carnaval, primeiro álbum de Matheus, sai em breve.
UNDO feat LEONI, “APRENDER A PERDER”. A banda de André Frateschi (voz), Rafael Mimi (guitarras), Johnny Monster (guitarras), Dudinha (baixo) e Rafael Garga (bateria) nasce com ares de supergrupo – afinal, todos são compositores, e todos são bastante experientes (André, você deve saber, é o vocalista dos shows de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá tocando repertório da Legião Urbana). O som é repleto de energia pós-punk – e a ideia das canções, a julgar pelos singles que já saíram nas plataformas, é falar 100% de realidade, dia a dia, temores e expectativas dos dias de hoje.
O novo single Aprender a perder, com letra de André Frateschi e Leoni (que solta a voz na faixa, como convidado), fala dessa ideologia de “coach” que vende vitórias como se fosse pão quente na padaria – sem garantia alguma, claro. O primeiro álbum do Undo está a caminho.
SUPERVÃO, “LOVE E VÍCIO EM SUNSHINE”. Um passeio por Porto Alegre, mais aproximadamente pelo Centro e pela Cidade Baixa, com imagens feitas em super-8 e clima vintage. A banda Supervão fez um clipe nessa vibe para uma das melhores músicas de seu disco Amores e vícios da geração nostalgia – que resenhamos aqui. E o passeio ainda se estendeu às casas dos integrantes, além de uma chegadinha em São Leopoldo (RS), cidade natal do grupo e do diretor do clipe, Mauricio Kessler.
Love e vício em sunshine equilbra-se, como quase todo o álbum do grupo, entre o power pop e o tecno, entre o indie rock anos 2000 e o lo-fi – e a letra é um banho de realidade, falando “desses ciclos emocionais que se repetem, dessas expectativas que, às vezes, frustram. Expõe o problema dos vícios, da solidão, dos finais de relacionamentos, das viradas de ano que prometem muito e não entregam nada”, diz o guitarrista e vocalista Mario Arruda, que fez a música.
PEDRO SILVEIRA, “EFEITO COLATERAL (AO VIVO)”. Cantor e compositor potiguar independente, Pedro lançou em janeiro o álbum Efeito colateral, e já soltou uma live session do álbum, gravada ao vivo no Dosol TV Sessions, do selo musical DoSol, de Natal (RN) – o álbum de Pedro já havia sido lançado numa parceria com a gravadora. A faixa-título do disco é uma canção de amor que lembra bastante os mestres do soul brasileiro. E Pedro explica que muito da letra vem de sua vivência profissional fora dos palcos e estúdios. Sim, porque além de músico, ele é médico.
“Enquanto médico, lido diariamente com queixas dos meus pacientes sobre efeitos colaterais causados por medicamentos. Enquanto indivíduo que se apaixona, lido constantemente com os efeitos colaterais de saudade, do desejo e do encanto causados pelas histórias de amor vivenciadas até aqui”, conta ele, cujo som é uma mistura de ritmos, indo do r&b ao maracatu e samba-reggae.
Crítica
Ouvimos: Hélio Delmiro e Augusto Martins – “Certas coisas”

RESENHA: Gravado pouco antes da morte de Hélio Delmiro, Certas coisas evita o tom de despedida com repertório variado e ótima sintonia com Augusto Martins.
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Quando o violonista Hélio Delmiro morreu (vítima de complicações de diabetes e problemas renais em 16 de junho, aos 78 anos), não apenas Certas coisas, gravado com o cantor Augusto Martins, estava terminado, como também o músico já estava prestes a cumprir agenda de imprensa – já até tinha dado uma entrevista. Produzido por Moacyr Luz, o álbum chuta a tristeza para o mais longe possível e escapa do clima de epitáfio, por causa da dinâmica entre cantor e músico, e pela vontade com que Hélio ataca violão e guitarra nas doze faixas.
Hélio Delmiro teve inúmeros amigos, parceiros e testemunhas. Seu trabalhos como guitarrista e violonista de cantoras como Elis Regina e Clara Nunes sempre são lembrados. Mas ele também tocou em grupos como o Fórmula 7, e na banda da versão carioca do Jovem Guarda, programa apresentado por Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos durante os anos 1960.
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Como um reflexo dessa trajetória variada, o repertório de Certas coisas vai da MPB clássica à mais popular. Certas coisas, de Lulu Santos e Nelson Motta, aparece com algo de blues no andamento – e De repente, lado B da dupla de compositores, encerra o álbum ganhando cara de música de Gilberto Gil. Fotografia (Tom Jobim), que teve a guitarra de Hélio na gravação do disco Elis & Tom (1974), traz o músico ao violão unindo jazz e blues, e encartando um trecho de Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes). Jardin d’hiver, popularizada por Henri Salvador, investe no samba-jazz noturno, e até Como vai você, de Antonio Marcos e Mario Marcos, está no repertório.
Augusto, cantor bom e despojado, acompanha e se deixa acompanhar por Hélio. O resultado vai do canto correto da faixa-título à entrega de Fotografia e de Fé cega, faca amolada (Milton Nascimento, Ronaldo Bastos) – que se torna um samba épico, quase viajante – passando por uma versão contida até demais do bolero Contigo aprendi (Armando Manzanero). O repertório tem uma música totalmente inédita – a ótima Acanhado, de Hélio e Moacyr Luz – e traz como maior surpresa Bye bye Brasil, de Chico Buarque e Roberto Menescal, gravada como se fosse uma bossa pop de Rita Lee e Roberto de Carvalho.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Mills Records
Lançamento: 30 de maio de 2025
Crítica
Ouvimos: Alberto Continentino – “Cabeça a mil e o corpo lento”

RESENHA: Alberto Continentino, com Cabeça a mil e o corpo lento, faz pop-psicodélico com clima setentista e cinematográfico, misturando MPB, soul, bossa, boogie e city pop.
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Mais do que o groove das músicas de Lincoln Olivetti e Robson Jorge, os discos de Gal Costa feitos entre os anos 1970 e 1980 – com todo aquele aspecto pop, mágico e quase espacial – parece servir de referência para vários álbuns e músicas das novas gerações da MPB. O terceiro disco de Alberto Continentino, Cabeça a mil e o corpo lento, tem muito desse clima.
Essa musicalidade rola em faixas que passam igualmente por um filtro psicodélico (Coral, com Dora Morelenbaum, e o single Milky way, com Leticia Pedroza) e fluido musicalmente – é o caso do disco todo, mas especialmente de O ovo do sol, que lembra os discos de orquestras dos anos 1970 e tem um quê passadista-futurista que ruma em direção a Stereolab e Arthur Verocai.
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Cerne, por sua vez, é um balanço no estilo de discos de Dom Salvador e Waltel Branco, com ritmo dado por assovios. Manjar de luz, com Ana Frango Elétrico, é tranquila e mântrica em letra e música. Go get your fix, com Gabriela Riley, une samba, bossa e city pop, e Uma verdade bem contada, com Nina Miranda nos vocais e Kassin na parceria, é boogie com cara de trilha de filme nacional antigo.
Como músico, Alberto tem duas décadas de carreira e trabalhou com músicos como Caetano Veloso, Ana Frango Elétrico, Adriana Calcanhotto – é um nome que provavelmente você já viu em muitos shows e discos. Em Cabeça a mil e corpo lento, por sua vez, ele filtra tudo que aprendeu nos estúdios e palcos por um clima voador e quase sempre, cinematográfico. O terço final do disco, com o soul Negrume, o pop francês carioca Vieux souvenirs (com Nina Becker) e a balada Madrugada silente – uma parceria com Negro Leo, levada por piano Rhodes, violão e baixo – traz bastante disso.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Selo RISCO
Lançamento: 17 de junho de 2025.
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