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Cultura Pop

E aquela história do disco psicodélico do Nelson Gonçalves?

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E aquela história do disco psicodélico do Nelson Gonçalves?

O texto Tropicalismo Cinza – A estranha estória do disco tropicalista de Nelson Gonçalves que todo o mundo esqueceu foi escrito em 2014 e viralizou inúmeras vezes. O autor, o paraense Jefferson Nunes, o publicou naquele ano em seu blog Em Um Universo Paralelo Qualquer, especializado em “inventar” discos que nunca existiram. O resultado é que até hoje Jefferson, que é roteirista, escritor e professor de defesa pessoal, tem que informar a amigos e desconhecidos que o LP A máquina colorida tropicalista de Nelson Gonçalves, que teria sido lançado em 1970 pela RCA, nunca existiu.

“Encontro sempre gente que acredita na história do disco. Às vezes desminto, mas outras vezes eu deixo rolar por pura zoeira. É uma prova de que as pessoas acreditam demais no que encontram pela internet. Só que nesse caso é pura diversão. Em outros, é perigoso porque pode até eleger presidente”, diz Jefferson ao POP FANTASMA.

A história do LP, criada por Jefferson, é uma mistura maluca de vários tropos narrativos obscuros do rock nacional. Como numa perversão dos “discos psicodélicos” de Ronnie Von, Nelson troca a cocaína pelo LSD e resolve fazer um disco com acompanhamento de Mutantes e arranjos de Rogério Duprat.

No repertório, doideiras como a versão psicodélica do standard Negue (“transformado aqui em música para acompanhar fossa de hippies chapados, com guitarras viajantes e barulhinhos estranhos”), um dueto com Gal Costa em Não identificado, de Caetano Veloso, e uma versão marchinha-de-carnaval-on-acid de Desculpe babe, dos Mutantes. Já a capa do LP trazia um “Nelson Gonçalves sem camisa, forte, com guias de umbanda no pescoço, cabelos longos, de braços cruzados e olhar desafiador. Nelson é abraçado por uma linda hippie loira, e o casal cercado por uma falsa ilha tropical, onde vemos cartazes com slogans como ‘é proibido proibir’ colados nas arvores de plásticos, enquanto modelos vestidos de macacos se escondem atrás delas”.

“O texto era um sarro com essas subculturas hipsters, e seu culto a discos ‘esquecidos’. Eu estava de saco cheio do povo só falar nos discos psicodélicos do Ronnie Von, e ignorarem o resto da obra do cara”, conta o autor. Por volta do dia 21 de junho, centenário de Nelson, o texto voltou a circular nas redes sociais. “Fiquei sabendo porque, de repente, vários amigos começaram a me marcar em postagens em vários grupos de música pelo Facebook. Acho que pela comemoração do centenário, as pessoas passaram a buscar informações sobre ele e acabaram topando com o meu texto. Típico acidente de internet”, diz Jefferson, que tem lembrança de ouvir Nelson Gonçalves com a avó, que pedia a ele para que colocasse os discos do cantor. “Ela ficava ali, quieta, perdida em pensamentos enquanto ele cantava sobre amores perdidos e corações partidos”, recorda.

Se você já passou algumas horas se perguntando porque certos discos, livros e filmes, presentes na história de determinados criadores, nunca saíram do papel e se tornaram projetos-fantasma, Jefferson também já fez isso. “Numa tarde de ócio, comecei a ler sobre o filme Duna, do Alejandro Jodorowsky, que nunca saiu do papel. Comecei então a rabiscar sobre coisas legais que eu queria que tivessem existido. É como sempre fui fascinado por universos paralelos, comecei a brincar com isso e saiu o blog”, conta.

Ele decidiu criar e dar vida a alguns projetos próprios, como o desfile da Mangueira em homenagem a Alan Moore (“essa já foi até publicada em páginas sobre o autor”, recorda) e a cena musical cyberpunk de Belém, que deu origem a um romance que Jefferson está fazendo. “É uma história policial que se passa numa Belém de um futuro próximo que está sumindo, aos poucos, sob as águas do aquecimento global”, diz ele, que também prepara um livro de contos.

Tem também a resenha do disco de Tom Waits com os dois irmãos do Jesus & Mary Chain, Songs for dark boring nights. E Flying catzo, disco feito em parceria por Mike Patton (Faith No More) e Frank Zappa. “Se você esperava uma explosão de ‘cabecismo experimentalista’ vai ficar decepcionado. Flyng catzo é um disco quase normal, não fossem as vinhetas malucas (Fundamentalist feud), e as quebradas inesperadas no meio das canções (Hardcore valsa)”, diz o texto. Tudo isso, claro, saiu da cabeça de Jefferson, que por sinal não atualiza o blog desde 2014.

Uma curiosidade é que no blog também tem um textinho sobre Sgt. Pepper’s, disco lançado em 1992 pela banda de rock-comédia Big Daddy, que reinterpreta o clássico dos Beatles como se ele tivesse sido gravado em 1957. Só que esse disco existe de verdade, foi lançado no Brasil e está no Spotify. “E o pior é que pensam que esse disco é mentira!”, brinca.

Aliás, se o tal disco do Nelson existisse, e se alguém resolvesse fazer uma homenagem a ele, quem Jefferson gostaria de ver gravando algumas das faixas? Acho que o Ira! da fase Psicoacústica. E o Pio Lobato, um músico aqui do Pará que tem um trampo de guitarras muito bom e é ligado a ritmos como bolero e guitarradas. E cantoras como a Elza Soares, Alice Caymmi e o Arnaldo Antunes”, diz.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

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No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

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Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

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Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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