Destaque
Duo Severino: na luta pela positividade

A folia continuou para Humberto Campos e Edson Freitas, os dois do Duo Severino – mesmo depois do Carnaval frustrado de 2021, sem folia e sem desfile das escolas de samba. A dupla capixaba lançou em abril o EP Ainda é Carnaval, mas apostando numa sonoridade que não tem muito a ver com samba, axé ou estilos afins. Quando foram montar o conceito da banda (que no EP novo investem em “cinco canções leves e fáceis de ouvir”), inspiraram-se mesmo foi na dupla indie britânica The Kills, formada por um homem, uma mulher e uma… bateria eletrônica.
“E aí eu resolvi adaptar essa ideia de bases pré gravadas ao meu som. Comecei a produzir as bases percussivas e alguns arranjos para enriquecer o nosso som. E usamos um iPad, que é o nosso Severino, para soltar essas bases. Eu toco baixo, o Edson canta e toca guitarra e o Severino nos socorre com o for necessário. Desse jeito a gente acaba se tornando um projeto viável, enxuto e de fácil circulação, cabendo em qualquer espaço de palco e entregando um som encorpado”, conta Humberto.
Além das músicas próprias, a dupla ainda tem um repertório paralelo de covers (“vai de Rubel a Araketu, passando por Beto Guedes, Dominguinhos, entre outros”), que pretende usar em algum lançamento. “É um repertório que vínhamos usando pra atender algumas demandas de shows e eventos que não são típicos de música autoral e que nos ajudavam muito na sobrevivência e garantir a feira da semana”, conta ele, lembrando da vida antes da pandemia. Por sinal, Humberto diz que ele e Edson fazem questão de entregar um som que seja a antítese de um dos momentos mais escrotos da política brasileira, e de uma das eras mais bizarras da história do mundo.
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“Preferimos entregar algo que possa nos fazer bem e aos nossos ouvintes e fãs, afinal música é energia e as palavras tem poder de sugestão. Temos que plantar boas vibrações pra tentar diluir um pouco essa nuvem que paira sobre nossas cabeças. Nada nos deixa mais feliz quando ouvimos de alguém que a nossa música o deixa bem e que gosta da vibe dela”, conta. A opção veio inclusive após momentos difíceis vividos recentemente (o irmão de Edson morreu de câncer, em fevereiro de 2020, pouco antes da pandemia começar). Algumas músicas com letras mais cáusticas, como À queima roupa, chegaram a sair do repertório, ainda que fossem bastante elogiadas. “Mais para a frente, ela volta”, diz.
A dupla se conheceu pelas redes sociais, quando Humberto viu uma postagem de Edson se oferecendo para cantar em alguma banda. O nome Severino foi tirado do personagem interpretado por Paulo Silvino em programas de humor (o porteiro Severino). Humberto explica que a opção por manter um duo foi justamente por já ter enfrentado troca-trocas de integrantes. “Cheguei a conclusão que se eu quisesse avançar como compositor e músico autoral eu teria que me reinventar”, afirma ele, que ao lado do parceiro, trabalha de forma totalmente independente, sem empresário ou produtor. O duo também vem preparando devagar um clipe para Ainda é Carnaval, e pensa em fazer mais dois.
“Mas os dois serão feitos de forma experimental, na base do faça você mesmo, pois só temos grana para fazer um. Se ficar bom a gente lança, se não a gente engaveta e passa vergonha sozinhos”, brinca Humberto. “Desde março de 2020 a gente não faz shows e não nos encontramos pessoalmente para nada a não ser ir pro estúdio gravar quando necessário. Tudo tem sido online. O Edson tem feito umas lives, algumas de editais que passamos. O que nós temos feito é produzir, cada um na sua e nos esforçando o máximo pra lançar músicas”.
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Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
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Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
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A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
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