Cultura Pop
Disco de 1983 de Neusinha Brizola tá de volta no Spotify

Em 1983, pouco depois de Leonel Brizola (1922-2004) tornar-se governador do Estado do Rio de Janeiro, quem virou celebridade foi ninguém menos que sua filha, Neusinha Brizola. Brizola, crítico histórico das Organizações Globo, teve que engolir essa: sua filha, que tinha se separado do marido e resolvera se dedicar à música, virou figurinha fácil em programas da Rede Globo (como o Cassino do Chacrinha e o Globo de Ouro) e gravou um disco pela Som Livre, gravadora pertencente à emissora. E a mesma Som Livre acaba de relançar nas plataformas digitais (pela primeira vez!) o disco epônimo de Neusinha.
Quem tem por volta de uns 40 anos lembra do grande hit do disco, Mintchura, que falava de uma festa que acabava mal e ainda zoava a Blitz – que fazia sucesso com Você não soube me amar. Essa música, uma verdadeira afronta à new wave de bandas como Devo e B-52’s (Neusinha foi o mais próximo que o Brasil conseguiu chegar de Cindy Wilson), tocou MUITO no rádio. E, claro, ganhou clipe no Fantástico.
https://www.youtube.com/watch?v=vsUwrClxFZU
Neusinha podia ser uma ilustre desconhecida para muita gente. Quem frequentava as areias de Ipanema, o Baixo Leblon e o Baixo Gávea sabia bem quem ela era. Ela acompanhara o pai no exílio, conhecia vários músicos e artistas, era amiga de Cazuza (que a definia como “mais louca que todos nós”) e, a partir do contato com outro amigo famoso, Paulo Coelho (bem antes de virar o escritor brasileiro mais famoso do mundo), começou a desenvolver repertório para um disco. Mintchura, cujo nome é um cruzamento doidaralhaço entre “mentira” e “luxúria”, foi composta (olha só!) nas eleições de 1982, numa noitada no Baixo Gávea, com Neusinha muto doida, “cheirando aos montes e bebendo cântaros”. Os amigos começaram a ficar preocupados com o estado de Neusinha e seu amigo compositor Joe Euthanasia (parceiro dela na música e sucesso solo nos anos 1980 com Me leva pra casa) disse que ela estava assim “porque foi numa festona no subúrbio”.
“Tentei protestar: ‘É… mintchura!’. A ovação foi geral, noite afora. E começamos a rabiscar num guardanapo uma letra sobre uma festa fajuta que seria na Pavuna”, disse Neusinha na biografia Neusinha Brizola sem mintchura, de Fabio Fabricio Fabretti e Lucas Nobre. A música é um verdadeiro trabalho de invenção, já que Neusinha, seguindo ela própria, nunca nem tinha ido a um subúrbio na vida. Mas o nome virou gíria da época e a música virou mania entre crianças (Neusinha por sinal, testava as músicas primeiro com os filhos).
Neusinha Brizola, o disco, não tinha só Mintchura. Tinha o mais próximo que o Brasil conseguiu chegar de uma mescla de Cramps e Devo (Zumbi), outra na linha do B-52’s (107 interurbano a cobrar, que, no Cassino do Chacrinha, animava as chacretes a fazerem uma coreografia imitando o verso “presa na cabine telefônica”), a puladinha Hello boys and girls e a zoação cruel de Pra não dizer que nunca te dei nada, que era “uma fracassada festa de campanha eleitoral que acabava no Hospital Psiquiátrico do Pinel” e parodiava o hino esquerdista Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré.
Er… tinha também uma versão politicamente incorretíssima para Back in the USSR, dos Beatles, Voltando para Nova Iguaçu. Que por sinal não foi incluída no relançamento (direitos autorais de músicas dos Beatles são sempre um problema).
https://www.youtube.com/watch?v=__YxGGshraw
A carreira de Neusinha não gerou muitos discos. Em 1984 saiu um compacto com Directha e Máfia, parcerias dela com o empresário Franco Bruni, com quem se casara um ano antes – numa cerimônia no Terminal Rodoviário Menezes Cortes, a qual compareceu vestida de Cleópatra. E que, hum, gerou problemas e desentendimentos em família.

Saiu também outro compacto, com Álbum de retratos.
Seus problemas com drogas, além de uma ou outra briga com o pai, acabaram se tornando mais populares que sua música. Em 1987, Neusinha chegou a posar para a Playboy – numa espécie de ensaio gótico, em que ela aparecia até num caixão. Ninguém viu essas fotos, já que Brizola mandou recolher a revista antes que ela chegasse às bancas.
Ela também fez uma aparição na trilha do filme O cangaceiro trapalhão com a música Gato por lebre e até fez um trapa-clipe nos Trapalhões.
Infelizmente, Neusinha saiu de cena aos 56, em 27 de abril de 2011, devido a complicações pulmonares decorrentes de uma hepatite. Felizmente, teve tempo de deixar o rock brasileiro dos anos 1980 bem mais desencanado e mais alegre.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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