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Cultura Pop

Dez músicas para todo mundo concluir que Grant Hart era o cara

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Grant Hart era o cara

Ex-baterista do Hüsker Dü, pilar do punk norte-americano e inspiração para Nirvana, Pixies e Green Day, Grant Hart perdeu nesta quinta (14) a batalha para um câncer, aos 56 anos. Nas redes, poucos fãs da banda não aproveitaram a oportunidade para lembrar que, mesmo que o trio tivesse o fantástico Bob Mould nos vocais e na guitarra, eram de Hart algumas das melhores músicas da banda. Em suma: Mould podia ser o líder, mas Grant Hart era o cara.

Vale citar que se você nunca ouviu o Hüsker Dü (uma das bandas preferidas do POP FANTASMA, cujo nome foi tirado de um antigo jogo de adivinhação), pare tudo e ouça agora. Foi a banda que fez o hardcore norte-americano partir da crueza para o apuro melódico. E também foi o trio que, seguindo as lições de bandas como Buzzcocks, se atreveu a inserir nas letras temas como amor, pés na bunda, relacionamentos disfuncionais e até homossexualidade. Discos como os duplos Zen arcade (1984) e Warehouse: Songs and stories (1987, último da banda) são básicos.

O grupo encerrou atividades em 1988, um pouco pelo fato de Mould e o baixista bigodudo Greg Norton se incomodarem com o vício de Hart em heroína. E bastante pelas brigas entre Hart e Mould pelo número de músicas suas que poderiam entrar nos álbuns. Mesmo com o produtivo Mould liderando e ocupando espaços, Hart sempre tinha lugar para encaixar algumas músicas por disco, e algumas delas viraram hits. Seguem aí dez músicas que mostram o quanto Grant Hart, que chegou a se apresentar em São Paulo em 2013 (olha o vídeo acima), era importante para o grupo.

“DON’T WANT TO KNOW IF YOU ARE LONELY” (Candy apple grey, 1986, Warner). O HD estreva numa grande gravadora com um excelente disco e um single memorável feito e cantado por Hart, que chegou a ser gravado anos depois pelo Green Day. A letra é um primor de dor de cotovelo. O clipe, que traz de relance a capa de Kick out the jams, do MC5 (1969), ficou famoso.

“DIANE” (Metal circus EP, 1983, SST). Lançada em plena fase hardcore do HD, essa música inspirou todo o punk melódico que viria depois. A letra não é nada fofinha: descreve os pensamentos do assassino serial Joseph Donald Ture antes de assassinar a garçonete Diane Edwards, um crime que aconteceu de verdade em 1980. No vídeo lá de cima, do show de SP, Hart diz que “é uma história real e ver as pessoas festejando ao som da música me deixa doente”.

https://www.youtube.com/watch?v=VTy8GGyUgBQ

“SORRY SOMEHOW” (Candy apple grey, 1986, Warner). Um dos refrãos mais bonitos já feitos por Hart, com letra no estilo amor-e-ódio. “Não tenho que pensar em você, pensar no passado/aqueles dias ainda estão na minha mente e foram os últimos”.

“CHARITY, CHASTITY, PRUDENCE AND HOPE” (Warehouse: Songs and stories, 1987). Em meio às gravações de seu último disco, o Hüsker Dü desmoronava. Mould e Hart, descontentes com as linhas de baixo de Norton, regravavam tudo por conta própria. O vocalista provocava o baterista dizendo que ele poderia se contentar com metade das canções de um disco da banda, se quisesse. Mas saíam obras-primas do punk e do amor estranho e disfuncional, como essa aqui.

“SHE IS A WOMAN (AND NOW HE IS A MAN)” (Warehouse: Songs and stories, 1987). É uma canção sobre decisões difíceis e planos que dão errado – não exatamente uma canção sobre pessoas trans ou homossexualidade. Um vídeo clássico para fãs do grupo é o do dia em que o HD foi lançar Warehouse no Late show with Joan Rivers, fizeram uma pequena entrevista e tocaram duas músicas: Could you be the one?, de Mould, e She is a woman.

“BOOKS ABOUT UFOS” (New day rising, 1985). Sem o rancor de boa parte das músicas de Hart, é apenas um power pop animado, sobre uma garota que vai à biblioteca procurar livros sobre discos voadores.

“NEVER TALKING TO YOU AGAIN” (Zen arcade, 1984). Como todo o repertório “de transição” do Hüsker Dü, entre o hardcore e a elaboração musical, essa música tem ar skate-punk, ou de som de surfista: um som punk de violão, lembrando The Cure ou New Model Army. Os Foo Fighters já tocaram ao vivo algumas vezes.

“PINK TURNS TO BLUE” (Zen arcade, 1984). Punk pop com paredão de barulho, refrão em falsete (lembrando Byrds, cuja Eight miles high fazia parte do repertório do HD) e letra sobre um amor puro que acaba em morte por overdose.

“OLD EMPIRE” (Nova Mob, 1994, segundo disco do Nova Mob). Sem o HD, Grant voltou para a independente SST e passou a gravar solo. E deu vazão à sua veia literária e pop com sua segunda banda Nova Mob, que começou com um disco conceitual (The last days of Pompeii, de 1991) e depois mandou bala no bom punk-power pop do segundo disco, epônimo (de 1994).

“IS THE SKY THE LIMIT?” (The argument, 2013). Mais literatura vertida para o rock: o último disco de Hart foi um álbum conceitual inspirado no poema épico Paraíso perdido, de John Milton, e na amizade do músico com William S. Burroughs. O interessante é que Hart sequer tinha lido o poema de Milton inteiro, “mas estava familiarizado com a dinâmica da história”, contou ao The Aquarian.

(agradecimentos ao amigo João Pequeno, do jornal Destak, que sugeriu o texto e algumas músicas)

Crítica

Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”

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Ouvimos: Joan Armatrading, “How did this happen and what does it now mean”
  • How did this happen and what does it now mean é o vigésimo-primeiro disco de estúdio da cantora e compositora britânica Joan Armatrading. A única coisa que ela não fez no disco foi a engenharia de gravação: ela compôs, tocou, cantou, produziu e programou tudo.
  • Ao The Guardian, ela explicou o título do disco (“como isso foi acontecer e o que significa agora?”): “Acho que nos tornamos polarizados porque quando você está cara a cara com alguém, coisas como linguagem corporal e contato visual nos impedem de fazer certas coisas. Isso não acontece nas mídias sociais, então se espalha para o mundo real. Não vamos nos livrar de todas as guerras e desentendimentos, mas o título do álbum está perguntando como diabos podemos sair dessa situação em que estamos e como voltamos para um lugar melhor”.

Descobrir, sem estar esperando, que Joan Armatrading lançou um novo álbum, é uma surpresa enorme. Ver que o disco é um projeto quase inteiramente solo (ela compôs, produziu, tocou e programou tudo sozinha) não chega a ser uma surpresa para quem conhece um pouco da história dela e pelo menos alguns hits e discos clássicos.

No caso de How did this happen and what does it now mean, o estilo conhecido de pop-rock confessional dela, já a partir do título, vem com um subtexto de sobrevivência e superação. Ainda que algumas histórias contadas nas letras apontem para ressacas amorosas e falsidades do amor em geral, como no pop-rock Someone else e no r&b I gave you my keys (“eu te dei minhas chaves para tudo que eu tinha/você era minha divindade, você governou meu mundo/governou minha terra, governou meu céu/como você pôde me machucar tanto?”).

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Já o blues-rock-soul percussivo I’m not moving põe violência urbana no disco, com Joan recordando as cenas que viu durante um assalto, e levando a história para uma situação em que a minoria tem as maiores cartas na mão (“posso ser pequeno/mas sou poderoso/você pode ser muito mais velho/mas ainda assim eu governo você”). O pop com argamassa soul e musicalidade herdada do folk, especialidade dela, volta em faixas como 25 kisses, Here’s what I know e a faixa-título, que conta outra história de amor que acaba com problemas e dúvidas (“onde está aquela versão de nós mesmos/que nós amávamos, que era tão preciosa/em nosso mundo, em nossos corações?”).

Para quem tem saudades do lado baladão de AM de Joan, registre-se a presença de Irresistible e Say it tomorrow e do gospel Redemption love. No disco novo, ela fez questão de que todos os seus lados musicais convivessem sem problemas, cabendo até dois instrumentais, Now what e Back to forth, nos quais ela se mostra uma excelente guitarrista de blues e rock. Aos 74 anos e sabendo fazer de tudo num estúdio, Joan é o poder, mesmo que falte um certo empoderamento nas histórias amorosas das letras.

Nota: 7,5
Gravadora: BMG

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Crítica

Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”

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Ouvimos: Os Paralamas do Sucesso, “10 remixes”
  • 10 remixes traz (como diz o próprio título) dez canções dos Paralamas do Sucesso remixadas. O trabalho foi orquestrado pelo DJ Marcelinho da Lua, que escolheu DJs de diferentes gerações. O trio e o empresário José Fortes também já tinham uma lista com alguns nomes.
  • “Tudo começou quando eu estava num show do Paul McCartney em 2013, quando prestei atenção nas inúmeras releituras de músicas dos Beatles feitas por DJs que tocavam antes do Paul subir ao palco. Fiquei pensando como seria legal se fizessem o mesmo com o repertório dos Paralamas”, contou João Barone, baterista da banda, em seu Instagram.

Lançar um álbum de remixes dos Paralamas do Sucesso é uma ideia tão boa que não dá pra entender como ninguém pensou nisso antes. Discos de remixes de um mesmo artista, aliás, costumam sair bem irregulares, além de cometerem verdadeiras atrocidades. Felizmente, 10 remixes saiu legal, e quase tudo pode ser dançado na pista e ouvido em casa sem (muitos) atropelos.

Em Lanterna dos afogados, Mahmundi deu um ar dançante e viajante à música, e inseriu sua voz como parte das novidades da canção – soou tão bem que ela deveria pensar em fazer outras visitas à obra da banda. Ska, com DJ Marky, virou um cruzamento de ska, reggae e drum’n bass. O beco ganhou remix conceitualmente correto (e bom) do Tropkillaz, em clima funk-reggae, com os vocais de Herbert Vianna filtrados e à frente. Selvagem, nas mãos de Daniel Ganjaman, virou reggae-dub.

No 10 remixes, vale também citar o samba-funk-reggae que surge de O amor não sabe esperar (com Paralamas e Marisa Monte), capitaneado por Pretinho da Serrinha e Bossacucanova. Além do synthpop simultaneamente experimental e cheio de balanço de Mulú em Aonde quer que eu vá, e do redesenho drum’n bossa de Marcelinho da Lua em Mensagem de amor.

Por outro lado, Lourinha bombril rendeu menos do que poderia ter rendido nas mãos do Àttooxxá. Ela disse adeus, com Papatinho, virou um batidão funk pequenininho (com pelo menos um minuto a menos que o original) e sem muitos atrativos. E não sei até que ponto a balada stoniana Saber amar tinha que ganhar um remix techno de botar fogo na pista, que foi para as mãos de Ké Fernandes (Groove Delight).

Nota: 8
Gravadora: Universal

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Crítica

Ouvimos: New Order, “Brotherhood (Definitive edition)”

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Ouvimos: New Order, “Brotherhood (Definitive edition)”

Pode ser algum problema de atenção ou de audição, mas não percebi nenhuma diferença no som dessa edição definitiva de Brotherhood em relação à remasterização “de colecionador” do disco, lançada em 2008 (e vale lembrar que o quarto álbum do New Order, de 1986, já teve seus bastidores recordados aqui mesmo no Pop Fantasma). Dois anos antes do quadragésimo aniversário do Sgt Pepper’s às avessas do grupo, no entanto, a definitive edition lançada pela Rhino é a melhor forma de comemoração, por reunir num só lançamento o antes, durante e depois do álbum.

Resumindo a história em poucas linhas: Brotherhood saiu numa época de transição para o New Order, uma banda cujas vendas ajudavam a dar sustentação ao selo indie britânico Factory, mas que não vivia uma vida de grupo do primeiro time – com direito a shows nos cafundós, camarins zoados e uma certa sombra de desprestígio. O álbum era dividido entre um lado A mais roqueiro e um lado B mais eletrônico. As duas faces eram balizadas por uma espécie de pós-punk-country (Paradise, com letra inspirada nas “canções de partida” do estilo musical) e um futuro clássico dance-pop (Bizarre love triangle).

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  • Mais New Order no Pop Fantasma aqui.
  • Episódio do nosso podcast sobre eles aqui.

Mas ainda havia no álbum rocks de pista (Broken promise, Way of life), outro pós-punk dançante (Weirdo, com abertura “falsa”), uma canção acústica pop e quase sixties (As it is when it was), dance music ambient (All day long), dance music sombria e lisérgica (Angel dust) e o encerramento com Every little counts, cantada por Bernard Sumner aos risos (ele chega a interromper a música para rir) e fechada com alguns minutos de psicodelia e ruídos.

A nova edição dá som a histórias sempre contadas a respeito do grupo, trazendo por exemplo, as músicas da demo gravada por eles no Japão em 1985, em meio a uma turnê por lá. A versão de State of the nation não é exatamente imperdível, mas a de As it is when it was vale a audição: vem mais tecnopop, sem violão, sustentada pelo baixo agudo de Peter Hook, e com certa cara de The Cure.

Evil dust, que já havia sido lançada na edição de colecionador de 2008, retorna – é uma versão “maligna” de Angel dust, com mais espaço para os vocais da cantora libanesa Dusya Yusin, sampleados de duas músicas de Brian Eno e David Byrne, The carrier e Regiment (ambas do disco My life in the bush of ghosts, de 1981). O material composto pelo New Order para o filme Salvation! (1987), de Beth B, aparece na íntegra, dos temas instrumentais (como as quase progressivas Salvation theme e Sputnik) ao single bem sucedido Touched by the hand of god.

Das inéditas lançadas na nova edição de Brotherhood, tem uma para escutar no último volume: Every little counts aparece em sua lendária versão completa, com alguns minutos a mais de psicodelia ruidosa e assustadora no final, um segundinho de silêncio e… o ruído de toca-discos pulando. Era para ser mais parecido ainda com A day in the life, fechamento do Sgt Peppers, dos Beatles, e era para dar mais sensação ainda de desnorteio. Brotherhood é uma ousadia que ainda permanece atual.

Nota: 9
Gravadora: Rhino

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