Crítica
Ouvimos: Death In Vegas – “Death mask”

RESENHA: Richard Fearless retorna com o Death In Vegas em Death mask, disco fantasmagórico que mistura alucinação, batidas e clima de recomeço.
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Durante vários anos desde a década de 1990, Richard Fearless foi o frontman do grupo de música eletrônica Death In Vegas. Agora, o Death In Vegas é ele, tudo nasce da mente e do trabalho dele, e Death mask, primeiro disco do grupo em nove anos, vai seguindo firme na missão de transformar a obra do projeto numa imensa bad trip – algo que une alucinações, sustos e medos.
Por acaso, num papo com o site Louder Than War, Fearless contou que o uso de fitas na construção de Death mask acentuou a fantasmagoria do álbum, como vem fazendo com álbuns anteriores. “Há sons antigos que se infiltram no disco. Usamos muito isso em Transmission (disco anterior, de 2016). Porque construímos um para captar os serviços de emergência e a estática. Parecia que você quase conseguia ouvir vozes ali”, afirmou. Esse clima de viagem sonora fantástica surge na faixa de abertura, Chingola – som vindo, aos poucos, com poucas notas -, ganha batidão dançante em Lovers, e une ritmo e distorção em While my machines gently weep.
Death mask tem também faixas mais próximas do universo (digamos) clubber, como a tempestade dançante de Hazel e de Roseville (essa, bem mais hi-NRG), a vibe hipnótica de Robin’s ghosts e a onda sussurrada, escapista e introvertida de Your love. Róisín dub (h) vira o clima para um lado mais experimental e saturado. No final, a faixa-título soa mais próxima de uma trilha para o fim – um time lapse de algo que vai terminando aos poucos. Uma faixa composta para “falar” musicalmente sobre o funeral de seu pai, e uma música que, apesar do nome, traz mais recomeço e transformação do que qualquer outra coisa.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Drone
Lançamento: 6 de junho de 2025
Crítica
Ouvimos: Supercombo – “Caranguejo” (parte 1)

RESENHA: Supercombo lança a parte 1 de Caranguejo: mistura criativa de metal, punk, emo, forró e piseiro, com letras irônicas e emotivas.
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E aí? Como lidar com essa coisa dos lançamentos de discos, às vezes, serem divididos em duas partes? Enfim, quando o lado A sai primeiro e meses depois vem o B – caso por exemplo, do disco mais recente do Circa Waves. Decidimos que vale resenhar a primeira parte e, depois, fazer um texto mais completo – e com outra nota, maior ou menor – quando todo o conceito for colocado nas plataformas.
No caso da parte 1 de Caranguejo, novo disco do Supercombo, a torcida é para que a parte 2 complemente bem as ideias altamente criativas que a banda pôs nesse primeiro lançamento. Caranguejo, se fosse um EPzinho de 20 minutos, já seria o lançamento mais criativo e variado do grupo, buscando uma saída sonora que une metal, punk, emo e estilos que parecem tão imiscíveis a ele como óleo e água. A transmissão, na abertura, mescla som pesado, forró e piseiro para comentar sobre a vida dos artistas em época de pouco pagamento das plataformas digitais, e de rádio quase sucateado. Piseiro Black Sabbath você provavelmente já ouviu: um apelo aos bangers de cabeça aberta, um brega-metal de primeira.
As letras soam como um chamariz para o material e misturam-se ao clima livre do disco. Hoje eu tô zen é emo-anti-exaltação à turma gratiluz e aos coaches de plantão (e aos fãs deles). O eletroemo Testa é dedicado a alguém que já se foi, mas tenta abordar o tema de forma menos tensa. A ironia também toma conta da sofrência Nossas pitangas e da sofrência nonsense de O alfaiate – sobrou para Alento o momento sério do disco, um emo de encontros, desencontros e saudades, talvez de pai para filho (ou filha). Esperando agora pela parte 2.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Deck
Lançamento: 15 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Water From Your Eyes – “It’s a beautiful place”

RESENHA: O Water From Your Eyes mistura pós-punk torto, ruído e melodias robóticas em It’s a beautiful place, disco curto e enigmático.
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Nate Amos e Rachel Brown, os dois do Water From Your Eyes, criaram em seu terceiro disco, It’s a beautiful place, um universo que vem sendo chamado por aí de “alienígena”, “ficção científica”. Mas depois da audição e de uma olhadela em separado nas letras, a impressão que fica é a de que eles estão falando de algo que está dentro de nós mesmos. Ou de um mundo que faz a gente se iludir, como no jogo de tabuleiro musicado de Playing classics, em que, de passo em passo, uma pessoa “tentou chegar no além e acabou no shopping” e voam frases como “temos ídolos modernos para o fim de um era” e “eu só quero dançar, arquitetura sem aluguel”.
O som de It’s a beautiful place é difícil de definir. Entre vinhetas de ruídos e sons espaciais (como nos rasantes de sintetizadores de For mankind), o Water From Your Eyes parece querer fazer um pós-punk torto, uma no-wave ou um samba-punk – os três nomes cabem em Life signs, cheia de dissonâncias, mas que rende até bem em pistas de dança. Nights in armor é quase um pós-hardcore fincado numa superfície rotativa, transformado num samba robótico. Spaceship é pós-punk psicodélico com uma batida que vai se criando na cara do ouvinte – fica entre a primeira fase do Kraftwerk e uma espécie de valsa lisérgica.
Tem uma dicotomia entre “ruidoso” e “robótico” no som do grupo – tanto que sons de guitarra soam como se fossem feitos por máquinas, e ganham beats intermitentes, em faixas como Born 2 e a dance-punk Playing classics (que, segundo a banda, teve influência do Club classics, de Charli XCX). Agora, rola uma tentativa meio básica de soar tão despojado quanto artistas como Neil Young, J Mascis e até Ty Segall. Dá pra ver isso em solos de guitarra, riffs, vinhetas e em especial, no country rock dissonante e estranho da faixa-título (uma vinheta curtinha) e de Blood on the dollar, uma estranha canção de guerra do dia-a-dia (“não há inimigo / nada além de pele / sangue no dólar / deus, me faça vencer”). No fim, um disco curto (meia hora), que passa como um vento, e deixa perguntas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Matador Records.
Lançamento: 22 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Jangada Pirata – “Sal de casa”

RESENHA: Jangada Pirata mistura pós-punk, psicodelia, caribe e guitarrada no disco Sal de casa, entre o sonho, o mar e o pop cearense.
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Com um atrasinho de alguns meses, comentamos um lançamento indie bem instigante de 2025. O Jangada Pirata é uma banda cearense que passa estilos como rock, música caribenha, guitarrada, psicodelia e até micropontos de som gótico, tudo num filtro pós-punk. O som de Sal de casa alude à escuridão, a céu azul sobre a cabeça e a climas sonhadores e introspectivos – mesmo quando a banda faz música decididamente alegre.
Por vir do Ceará, o Jangada Pirata se associa naturalmente à variedade pop local. Mulher, na abertura, consegue soar cubana e gótica, Vai sofrer tem elementos de rock, reggae a até de pop adulto oitentista (Marina Lima em especial). Climas ligados ao blues tomam conta de Forma e pensamento, da cantiga apocalíptica Bandeira (com Mateus Fazeno Rock) e da valsa gótica-metal Mentes, além das experimentações rítmicas de Vem a lua cheia – que chega a lembrar a Gal Costa de Fa-Tal (1970/1971) no refrão.
Destacando os vocais de vibe jazz de Cecília Mesquita, o Jangada Pirata ganha clima espacial, quase na cola de bandas como The Waeve, na psicodelia de Carona numa estrela e na contemplação de Tenho sonhado com o mar. E investe em canções de quem olha o mar e o céu na base do sonho e da aventura.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Mercúrio Música
Lançamento: 8 de março de 2025.
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