Connect with us

Cultura Pop

Um papo com Marília Neves, a criadora do @capasderevistas

Published

on

A julgar pelas previsões que estão sendo feitas para o mercado de revistas, há notícias ruins para quem continua frequentando bancas de jornal. Só que as revistas – e derivados – continuam dando meia volta e invadindo a web, às vezes de maneira completamente torta, com títulos antigos sendo relembrados. Lá fora, a conta do Twitter @pulplibrarian, por exemplo, faz a alegria de seus seguidores com threads excelentes sobre livros pulp, revistas e publicações antigas. Também faz muitos posts sobre outros aspectos da cultura pop (discos, programas de TV, etc).

Dá para descobrir muito sobre como as pessoas pensavam, numa determinada época – ou o que elas toleravam – por intermédio das capas das revistas vendidas nas bancas. Muitos questionamentos que nem são feitos em 2018 (felizmente ou infelizmente) estavam presentes em capas de publicações dos anos 1970, 1980, 1990, por aí.

Traduzindo: hoje, dificilmente algum editor deixaria passar uma manchete que pergunta algo como “devo bater no meu fllho?”. Ou: “A censura é necessária?” Há uns trinta anos, pode acreditar, você iria numa banca de jornal e acharia essas manchetes, além de outras que você jamais veria hoje. A Capricho já incentivou suas leitoras a escovar o cabelo para “agradar mais os garotos”. Quem tem entre 30 e 60 anos em 2018, é fruto de vários desses produtos jornalísticos.

No Brasil, um pouco do papel que cabe ao @pulplibrarian é feito pela conta @capasderevistas, que é atualizada por Marília Neves Viana, que tem 29 anos e mora em Brasília. Ela trabalha numa agência, tem acesso a publicações diariamente, mas boa parte do material que põe na conta vem de pesquisas pela web. Não apenas em sites especializados como também na maior fonte de material para malucos (as) por discos, livros e revistas antigas: o Mercado Livre. No dia em que proibirem a publicação de páginas inteiras por lá, muita gente vai deixar de movimentar o site.

Tem muitos posts lá que, com a ação do tempo, apontam para detalhes que hoje já devem ter sido esquecidos. Como o fato da revista O Cruzeiro ter perdurado por tanto tempo (até os anos 1980). Natália do Vale já esteve na capa da publicação em 1981, e foi definida como “tímida e agressiva”.

Seios à mostra (e “concurso de seios e bumbuns”) na capa de outro exemplar.

Há capas que parecem ter sido feitas hoje. Mas não foram, não.

O ator Juca de Oliveira (ou algum sósia) preocupado com o cara lá de baixo em 1973.

Capricho impressa em 2013, com Anitta pós-teen falando em “garotos”.

Quando “sexo sem amor?” era um dilema cabeludo a ponto de ir para a capa de uma revista.

Não tem só capas. Se você mal lembrava que em 1993 teve plebiscito para escolher entre presidencialismo e parlamentarismo, saiba aqui a opinião de Alcione sobre o assunto.

Fomos bater um papo com Marília, criadora do @capasderevistas (que tem também uma toca no Facebook). Marilia sabe bastante da importância do seu trabalho e reconhece – o que é melhor ainda – semelhanças entre o que ela fez e o que o @pulplibrarian faz. E fala sobre como ela trabalha na conta.

Como você resolveu montar o Revistas Antigas?
Eu sou bem fã de história, principalmente da vida privada, política, celebridades e esportes e numa dessas buscas de Google da vida acabei me deparando com uns posts de revistas antigas e achei legal, porque acho incrível mesmo ver a história retratada no presente, sem que quem estivesse escrevendo aquilo pensasse no registro pro futuro (divaguei aqui hahaha). Enfim, volta e meia eu fazia essas buscas só por hobby mesmo e postava alguma coisa no meu Twitter pessoal. Calhou que um dia alguém comentou comigo por lá que eu era o @pulplibrarian brasileiro. Eu vi o perfil, gostei, percebi que não tinha nenhuma página específica sobre o tema no Facebook e comecei a postar.

Sempre colecionou revistas?
Meu gosto por revista começou com a assinatura de Veja que tinha na casa da minha avó, fora isso eu também acompanhava muito a Carta Capital que tinha na biblioteca da escola. Mas assinatura mesmo só tive de gibi da Panini e da Mundo Estranho quando era mais nova, hoje em dia é bem raro eu comprar.

Tinha alguma revista que você esperava chegar na banca, ansiosamente?
O Homem-Aranha Ultimate que meu amigo comprava e me emprestava mensalmente hahahaha.

Espera alguma hoje? Continua comprando?
Não, gosto muito da Piauí, mas ultimamente eu só tenho focado em revista antiga mesmo.

Você faz questão de informar que “nossos posts são feitos majoritariamente com buscas do Google e pesquisas em blogs especializados”. Rola muito pedido dos leitores? Ou de gente pedindo para comprar as revistas, achando que se vocês puseram as capas, elas estão à venda?
Sim! Muita gente pergunta se eu vendo revistas específicas, ou até se eu estou comprando alguma publicação antiga, daí eu resolvi colocar esse aviso pra sanar a dúvida do pessoal. Fora isso volta e meia alguém pede ajuda com trabalho de faculdade, mas quando eu sei como achar a informação eu sempre tento passar pra pessoa que pediu.

Tem muitas capas de revistas para garotas, como a Capricho, que hoje seriam consideradas machistas, com chamadas para reportagens do tipo “como agradar todos os garotos”, etc. Como enxerga esse tipo de coisa hoje?
Por um lado eu entendo isso como uma coisa de espírito da época mesmo, é até interessante ver pela ótica crítica que nós temos hoje, porque querendo ou não esse tipo de conteúdo moldou e acabou influenciando muitas meninas pra um lado ruim relacionado a padrão de beleza e não corresponder ao que a revista dizia que você devia ser impacta muito a autoestima. Ainda tem muita coisa pra melhorar, mas é bacana ver como já existe um estrato de representatividade na mídia.

Você lembra de alguma manchete (publicada no Twitter) que você achou particularmente distópica? Tem aquela capa da Realidade que tem a chamada “devo bater no meu filho?”…
Eu gosto muito das capas de revistas de tecnologia que tentavam adivinhar o futuro. E tem essa aqui com a Ana Paula Arósio adolescente, que eu só consigo seguir o meme e dizer que “caso as armas sejam liberadas, esse tipo de cena será normal”.

Mas o que eu acho bem doido mesmo é propaganda, tem umas de cerveja que são incríveis, botam até criança no anúncio, dizem que é bom pro leite e etc. A Malzbier tem algumas das minhas favoritas.

Você faz algum tipo de planejamento para os posts? Costuma seguir alguma ordem, do tipo “vou botar capa do tema tal porque ele está na moda”, etc?
Quando eu criei a página, normalmente eu tirava o domingo pra agendar os posts da semana inteira. Daí eu percebi que acompanhar o noticiário ou os temas do dia no Twitter geravam muito mais engajamento e comecei a publicar as capas de acordo com o que tá rolando na rede mesmo. Fora isso eu ainda faço planejamento pra algumas datas ou eventos específicos, foi o caso da Copa do Mundo, julgamento do Lula, dia dos Namorados. Se eu vejo que vai ter um dia que só vão falar do assunto tal já tento me antecipar.

Uma capa, mesmo que desacompanhada da reportagem que ela se destina a anunciar, tem peso histórico? Por que?
Claro. É um registro da época, né? Mostra o que era tão importante que virava o principal tema da publicação. E o que eu mais gosto em fazer esse trabalho e essas pesquisas é justamente isso, ver quem ou o quê chamava atenção, sei lá, em 1967, e que tipo de texto acompanhava essa pessoa ou tema.

Qual foi o post que teve mais repercussão até hoje?

No Facebook:

No Twitter:

E qual foi o que você gostou mais de ter publicado?
Em geral eu gosto muito de ver as propagandas, essa aqui é uma das minhas favoritas

Também gosto muito das capas da Realidade, da Para Todos e da O Malho.

Tem ideia do que está fazendo mais sucesso hoje em dia no @capasderevistas?
Em geral propaganda dos anos 80 e revista de fofoca dos anos 90/2000 sempre repercutem bem, tanto no Twitter quanto no Facebook. Fora isso, quando eu consigo acompanhar as discussões do dia e posto alguma coisa acompanhando o timing vai muito bem.

Como você, que lida com revistas o tempo todo nas redes sociais, está encarando o fato do segmento “revista” estar enfrentando tantos problemas? Dá uma certa tristeza?
Com certeza, não só pela página, mas por apego afetivo também. Apesar de não comprar faz tempo, eu gosto muito de ler o material físico e sempre curti visitar banca e livraria. Torço muito pro mercado editorial conseguir se reinventar, as revistas contam um pedaço muito importante da história – e o mais importante aqui eu acho que é perceber o trabalho do ponto de vista de cada época.

Cultura Pop

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Published

on

No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a "Jagged little pill"

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).

Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

Continue Reading

Cultura Pop

No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Published

on

Radiohead no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.

E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.

Mais Pop Fantasma Documento aqui.

Continue Reading

4 discos

4 discos: Ace Frehley

Published

on

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

Continue Reading
Advertisement

Trending