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Crítica

Ouvimos: Bush – “I beat loneliness”

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Bush lança I beat loneliness, disco que mistura peso grunge, ecos de Bowie e clima 80s, entre riffs pesados e letras sobre solidão.

RESENHA: Bush lança I beat loneliness, disco que mistura peso grunge, ecos de David Bowie e clima 80s/90s, entre riffs pesados e letras sobre solidão.

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Odeia Bush? Acha a banda uma baita armação que já vem durando tempo demais? Você talvez esteja certo: o grupo britânico fazia um som bem diferente antes de mudar o nome para Bush, teve seu destino bastante alterado pelo encontro com o executivo de gravadora Bob Kahane e acabou se tornando o cabeça de chave dos Nirvaninhas dos anos 1990 – as bandas que estavam tentando fazer um disco tão certeiro quanto Nevermind.

Tem mais: Gavin Rossdale, o vocalista, é fã ardoroso de Pixies e Cocteau Twins, sonhava em ser contratado pelo selo experimental 4AD, e era frequentador da noite new romantic de Londres nos anos 1980 – um currículo de ouro, mas que acaba dando munição para quem quiser falar que ele nem sequer ouve seu próprio som em casa.

Vá lá que o mix de peso, vocais groarizados no estilo de Eddie Vedder/James Hetfield e melodias dramáticas que o Bush faz tem mais elementos de David Bowie – por exemplo – do que se poderia imaginar. Dá até para perceber um pouco disso em baladinhas como Glycerine. Ou seja: quem se achar uma pessoa de extremo bom gosto e engrossar as fileiras da galera cult, pode gostar de Bush que tá liberado. Ainda mais depois desse I beat loneliness, décimo disco da banda, e talvez um disco bom para convencer eternos haters.

Se o negócio é pegar no pé de Gavin Rossdale (guitarra, voz), Chris Traynor (guitarra), Corey Britz (baixo) e Nik Hughes (baterista), I beat loneliness oferece munição à beça, de qualquer jeito. As guitarras pesadas e a vibe robótica de faixas como Scars, The land of milk and honey, I am here to save your life, 60 ways to forget people e a elegante We are of this Earth dão a impressão de um Suede + Placebo grunge. São músicas boas, pesadas e marcadas por riffs bem sacados, vale dizer, mas é uma combinação provavelmente não vai descer macio para muita gente.

A faixa-título tem lá seus cruzamentos com Deftones, e faixas como We’re all the same on the inside e Footsteps in the sand cruzam o peso dos anos 1990 com a magia musical oitentista, mostrando que Gavin decidiu mesmo exibir publicamente as duas eras que residem no som do Bush – às vezes, soando como bandas que já tinham as mesmas mumunhas no som, como Nine Inch Nails.

Já faixas como Everyone is broken e Rebel with a cause soam como algo que Steve Lillywhite poderia ter produzido – mas são músicas bem próximas da linguagem do pós-grunge. Nas letras de I beat loneliness, por sua vez, Gavin foca basicamente em temas como solidão, depressão e o que fazer para sair da fossa. Não são letras excelentes nem muito poéticas, mas são diretas e sensíveis ao tratar de determinados assuntos – como quando ele põe depressão, obsessão e dinheiro lado a lado em The land of milk and honey. Eu deixaria a antipatia de lado e daria um desconto.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: earMusic
Lançamento: 18 de julho de 2025

Crítica

Ouvimos: The Rasmus – “Weirdo”

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No álbum Weirdo, The Rasmus mistura pop e metal com o auxílio de Desmond Child, unindo refrãos grudentos, peso à moda anos 80/90 e sons irresistíveis.

RESENHA: No álbum Weirdo, The Rasmus mistura pop e metal com o auxílio de Desmond Child, unindo refrãos grudentos, peso à moda anos 80/90 e sons irresistíveis.

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Lembra quando Hide from the sun (2005), aquele disco da banda norueguesa The Rasmus que tinha a silhueta de uma borboleta na capa, saiu no Brasil? O single No fear virou meio-hit, tocou em rádios-rock e em algumas rádios pop, e deu uma despertada na curiosidade de várias pessoas – que quiseram saber, pelo menos, quem é que estava fazendo aquele som que mais se parecia com um desdobre robótico da fase It’s my life, do Bon Jovi.

De lá para cá, The Rasmus teve mudanças de formação, mas continuou na ativa nos estúdios e palcos. Por acaso, Weirdo, o décimo-primeiro disco da banda, segue na mesma missão de vinte anos atrás: tentar fazer uma música que seja tão grudenta quanto a do grupo de Livin’ on a prayer, mas que una estilos como metal, rap e sons eletrônicos. Um Bon Jovi nu-metal, você poderia dizer – e é exatamente esse o som de músicas como a sombria faixa-título do disco, por exemplo. Aliás, não é surpresa alguma que o co-produtor de Weirdo seja justamente um antigo parça de Jon Bon Jovi, o compositor e produtor Desmond Child.

A parceria da banda com o eficiente Desmond não vem de hoje – o Rasmus já havia trabalhado com ele em discos como o bem sucedido Black roses, de 2008, e ele é tido como um dos maiores responsáveis pelo sucesso do grupo na época. Em Weirdo, a marca de Child surge em faixas como a boa Dead ringer, praticamente uma canção de boy band com batidas que lembram o Dave Grohl de Nevermind, álbum do Nirvana (1991). Ou na atmosfera “de hino” de Creatures of chaos, que convoca todas as pessoas rejeitadas pela sociedade (“criaturas do caos / isso é o que eles fizeram com a gente / somos contagiosos / o futuro tem medo de nós”). E tem ainda Bad things, rockão pauleira, de estileira totalmente metal anos 1980.

O conceito de Weirdo é unir peso, elementos pop e letras em tom de revolta, como no r&b “de atitude” Break these chains e no metal eletrônico de Rest in pieces. Essa última não dá para chamar de nu-metal porque os vocais são bem melódicos. Já a letra é um primor de ranço por algum traíra do passado: “descanse em paz / porque não dou a mínima se perdi você (…) / e não dou a mínima para o que você fez no verão passado / descanse em paz, irmão / filho da puta”. Já Love is a bitch, a melhor do disco, é o maior gol do grupo: riff irresistível de assovio-e-piano no começo, refrão ótimo, guitarras pesadas, coral estilo Bee Gees e estilo metal-Michael Jackson. Tem também a alegria punk-metal de Banksy, que faz referência ao ex-grafiteiro inglês – com direito a versos tolos e felizes como “você é só um punk barracuda / aposto que você pensa que é Pablo Neruda” (!).

Se você achava que Weirdo ia terminar sem nenhuma balada, tem You want it all, música de clima sixties que lembra nada levemente uma banda conterrânea do The Rasmus (o A-Ha, claro). E no encerramento do disco tem I’m coming for you, aberta com um piano estilo Richard Clayderman, e seguida com vibe de pop adulto oitentista – só que é uma música sem muita conexão, praticamente a única bola fora de Weirdo. De qualquer jeito, no geral, o novo do The Rasmus é um disco BEM difícil de não gostar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Playground Music Scandinavia / Better Noise Music
Lançamento: 12 de setembro de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Anacrônicos – “(Isso não é) o lado B” (EP)

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RESENHA: Anacrônicos lança o EP Isso não é o lado B, evocando o rock underground carioca com garage, glam, punk-funk e atitude 80/90.

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A banda Anacrônicos vem do Rio e é formado por quatro músicos experientes do cenário roqueiro carioca:  Bernardo Palmeiro (voz e guitarra), Mauricio Hildebrandt (voz e guitarra), Zé Sepúlveda (baixo e voz) e Pedro Serra (bateria, também Estranhos Românticos). (Isso não é) o lado B é o segundo EP da banda, e também é uma verdadeira evocação do rock underground do Rio nos anos 1980/1990, com guitarras e batidas despojadas e clima de vale-tudo musical.

Alma nua, na abertura, é um rock de garagem próximo do punk, levado adiante por teclados que dão um clima psicodélico e espacial para a música. A mesma vibe volta em Tempo galaxial, um glam rock com alma gospel, ritmo funkeado e clima quase racional (de Tim Maia Racional, não de Racionais MCs), com participação de Katia Jorgensen nos vocais.

  • Ouvimos: Katia Jorgensen – Canções para odiar
  • Ouvimos: Supervão – AVGN na Rádio Agulha (EP)

O Anacrônicos tem uma certa filiação glam por causa da combinação entre guitarra e vocais – mas é um glam filtrado por bandas incomuns dos anos 1970 (Television, Gang Of Four, Talking Heads). Essa onda surge mais ainda nas outras três faixas do EP: o rock pesado de garagem e de protesto Flagrante, e o punk-funk de Febre amarela e Distração – essa última, com letra falada e emanações de Fausto Fawcett, em versos como “no fundo no fundo, todo mundo mente / por que ficar deitado eternamente?”.

***

Vale lembrar que neste sábado (27 de agosto) vai ter show do Anacrônicos aqui no Rio lançando o EP, no La Esquina (Avenida Mem de Sá, 61 Lapa), ao lado dos convidados Katia Jorgensen, Luciano Cian (Estranhos Românticos) e Paumgartten (808 Punks). Na mesma noite, Melvin e Os Inoxidáveis fazem show comemorando dois anos de lançamento de seu primeiro álbum, Copacético (resenhado pela gente aqui). Ingressos aqui.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de setembro

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Crítica

Ouvimos: Test + Deaf Kids – “Sem esperanças”

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Test e Deaf Kids celebram 15 anos com Sem esperanças, disco intenso, ruidoso e experimental, cheio de críticas sociais e políticas.

RESENHA: Test e Deaf Kids celebram 15 anos com Sem esperanças, disco intenso, ruidoso e experimental, cheio de críticas sociais e políticas.

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As bandas Test e Deaf Kids têm caminhos parecidos na vida: fazem música extrema, estão comemorando 15 anos e, em 2018, uniram-se numa turnê conjunta, a No hope tour. Agora, João Kombi (vocais e guitarra) e Barata (bateria), do Test, e Douglas Leal (guitarra, vocais, sintetizadores, percussão, saxofone tenor e berimbau) e Marian Sarine (bateria e percussão), do Deaf Kids, reavivam a parceria num disco chamado Sem esperanças. Um álbum no qual o ruído é parte das composições, e em que a intensidade é o principal ingrediente dos arranjos e da execução – mas em que as músicas são enriquecidas pela total ausência de limites e pela vontade de testar e experimentar de tudo.

No hope é marcado pelo encontro das guitarras ruidosas como a percussão intermitente, num estilo bem mais radical do que o de bandas como Sepultura, quando decidiram testar beats brasileiros em suas músicas. Selvagens, na abertura, vai pela onda do metal selvagem e robótico, enquanto Demiurgo tem guitarras emparedadas, percussão afro e distorções que circulam pela faixa. Cegueira abre num clima quase post rock, com teclado vindo e longe, embicando em algo que lembra um Minstry afro e cultural. Dança insana tem percussão que segue ligeiras notas, ao lado da bateria, enquanto a colagem sonora de Erro chega a lembrar um samba ou um forró maníaco feito apenas de ruídos.

  • Ouvimos: Portugal. The Man – uLu Selects vol #2 (EP)
  • Ouvimos: Matmos – Metallic life review

O Test e o Deaf Kids misturam também jungle e metal em Buraco, cinco minutos de som pesado, distorcido e quase industrial, em que a bateria vai tomando a frente e une-se com a percussão num bloco sólido ao final. Novos métodos range do começo ao fim, num som que parece uma transmissão de rádio tentando surgir, e a letra é rangida ao lado da música. O pesadelo artificial de Pó de ferro e Paraísos plásticos seguem no barulho assustador, percussivo e industrial – com vibe marítima no ritmo da primeira.

As letras, por sua vez, têm imagens assustadoras que evocam a exploração dos indígenas por parte dos portugueses na descoberta do Brasil (“eu te salvei / agora eu mando / eu mando em você / seu sangue é meu”, em Selvagens), desastres naturais (“e o que há no final? / pó de ferro para respirar”, em Pó de ferro), projetos neofascistas (“eu vejo fome / e escuto a gargalhada“, em Buraco). Novos métodos é um hai kai, e um triste espelho das motivações do capitalismo (“explorar / conquistar / aniquilar / tudo que ainda respira / que ainda não vendeu seu coração / pelo progresso“). Barulho bonito, revolta idem.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: sai em vinil dia 1º de novembro de 2025, mas já pode ser ouvido no Bandcamp.

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