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Crítica

Ouvimos: Annahstasia – “Tether”

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Em Tether, Annahstasia transforma sua voz em instrumento de um folk celestial e soul introspectivo, cheio de silêncios, sensibilidade e beleza rara.

RESENHA: Em Tether, Annahstasia transforma sua voz em instrumento de um folk celestial e soul introspectivo, cheio de silêncios, sensibilidade e beleza rara.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Drink Sum Wtr
Lançamento:13 de junho de 2025

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Vinda de Los Angeles, Annahstasia Enuke quase viveu a pior forma de sucesso, que é o sucesso cagado e errado. Uma gravadora a contratou e tentou a empurrar para o r&b e para os vocais trabalhados, ultrapopizados e cheios de malabarismos. A razão falou mais alto, ela rescindiu o contrato e, em Tether, seu primeiro álbum, sua voz surge a serviço de um folk celestial e camerístico, com climas bittersweet e uma onda gospel que vai surgindo não lá muito discretamente em várias faixas.

  • Ouvimos: Melifona – Radiação do corpo negro

Boa parte do material de Tether mostra Annahstasia como a dona de uma sonoridade que parece casual – mas só parece, porque a sensibilidade de músicas como o chamber pop Unrest, com vocal forte e rouco que parece tirado BEM de dentro, e o folk Take care on me, que parece vir com o vento, é para poucos. Muito do som dela vem da combinação de sons e silêncios. Como na abertura com Be kind, balada sensível de violão e voz, em que o vocal de Annahstasia cresce quando os instrumentos se calam – e que vai se tornando uma balada celestial. Em Villain, a voz dela vai ganhando espaço ao redor da tranquilidade da música, com um coral que vem aparecendo lá do fundo. Waiting, soul sombrio, introspectivo e dolorido, dá sensação de barco navegando à noite.

No decorrer de Tether, surgem músicas com um tom mais natural e mais solar que as demais faixas – como no folk urbano de Overflow, no folk soul de Satisfy me (cuja percussão é feita no tampo do violão) e na balada-rock introvertida Believer. No todo, é um disco marcado pela sensibilidade à mostra, que domina todo o repertório. A onda meio Nina Simone de Silk and velvet (ei, tem uma onda Nina Simone em quase todo o disco!) e o jazz folk de All is. Will be. As it was são bem representativas disso.

Mas um dos maiores presentes do disco é a união da rouquidão forte de Annahstesia e do falsete de Obongjayar em Slow, soul tocado no violão, mostrando as veias abertas do chamber pop negro. Ouça correndo.

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Crítica

Ouvimos: Lily Allen – “West End girl”

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Lily Allen renasce em West End Girl: pop confessional, moderno e afiado, transformando dores pessoais no melhor álbum dela em anos.

RESENHA: Lily Allen renasce em West End Girl: pop confessional, moderno e afiado, transformando dores pessoais no melhor álbum dela em anos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: BMG
Lançamento: 24 de outubro de 2025.

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Muita gente anda dizendo que não esperava que Lily Allen, depois de tanto tempo (No shame, o disco anterior dela, saiu em 2018) voltasse com um álbum ótimo – e, de fato, as atenções do mercado fonográfico não estavam mesmo voltadas para ela. West End girl surgiu quase de surpresa no momento em que Lily se sentiu com coisas para falar, e mais do que tudo, segura consigo própria. O fim do casamento com o ator David Harbour, e os abusos e traições que ela viveu durante o relacionamento, são o suposto principal tema do disco (recentemente, a cantora deu uma disfarçada, falou que nem tudo é verdade e disse que West End girl foi “inspirado” em seu ex-casamento).

Lily sempre foi bastante confessional em relação a particularidades de sua vida, em músicas e entrevistas, mas dessa vez os fãs já vinham caçando detalhes de que algo estranho vinha rolando. Recentemente ressurgiu uma entrevista dada pelo ex-casal no tapete vermelho do prêmio teatral Oliviers Awards 2022: Lily foi indicada a melhor atriz por seu papel na peça 2:22 A ghost story e, no tal bate-papo, teve aturar o (então) marido fazendo uma piadinha cheia de ressentimento e inveja. Nas fotos do evento, ela parece bastante incomodada com tudo e sem a menor vontade de estar ali, pelo menos ao lado de Harbour.

  • Ouvimos: Blood Orange – Essex honey

Seja como for, o David Harbour (ou o que o valha) que é retratado em West End girl é um sujeitinho invejoso (na faixa-título), infiel (Just enough, Madeline e quase todo o disco), viciado em sexo (Pussy palace), escroto (em Nonmonogamummy ela fala algo sobre David ter exigido relacionamento aberto e que ela quisesse ter filhos com ele) e frequentador de redes sociais bem estranhas (4chan Stan, na qual Lily confessa que as bandeiras foram tantas que ela resolveu fuçar nas coisas do ex-marido e achou uma nota de compra suspeita). Allen também se diz cansada de ter que bancar a mãe de seus maridos e namorados (Fruityloop, de versos como “queria poder consertar todos os seus problemas / mas todos os seus problemas são seus para você consertar”).

Dallas Major, cantada na primeira pessoa, usa um truque típico de Madonna e Beyoncé – a criação de um alter-ego que, na real, é uma versão dela própria – e resume tudo em tristes constatações: “eu uso o nome artístico Dallas Major, mas esse não é meu nome verdadeiro / sabe, eu costumava ser bem famosa, isso foi há muito tempo atrás / sim, estou aqui em busca de reconhecimento e provavelmente devo explicar / como meu casamento se tornou aberto desde que meu marido me traiu”, canta, antes de mudar a perspectiva: “o nome dela é Dallas Major / ela morre de medo de fracassar / ela só está aqui em busca de validação”.

Musicalmente, West End girl é o melhor disco de Lily em bastante tempo, e tem algumas modernidades bem interessantes, como a bossa jazz pop da faixa-título, a agilidade sonora de Ruminating (com piano pop lembrando os hits de Joe Jackson), a blues ballad indie de Sleepwalking e o pop alternativo, com ares sessentistas, de Tennis. Madeline é um pop abolerado, quase um brega, que vai ganhando cara trap. Faixas como a celestial Pussy palace, 4chan Stan e Fruityloop (essa, lembrando a Lily do começo) deixam sempre a impressão de algo familiar – mas nunca repetido ou entediante.

Nonmonogamummy, mesmo com a letra relatando amarguras pessoas, é pop feliz e com ligeiro ar 60’s, evocando algo de Low rider, hit do War. Dallas Major é um r&b com cara quase disco, E ainda tem Let you w/in, pop adulto de piano, com andamento evocando Elton John e Paul McCartney. West End girl é o momento em que Lily percebe o tempo que perdeu tentando impressionar e conquistar gente estúpida – mas também musicalmente, é a “melhor versão” dela nos últimos tempos.

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Crítica

Ouvimos: Zécarlos Ribeiro – “(Todos os Homens)º = 1”

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Em (Todos os Homens)º = 1, Zécarlos Ribeiro une rock clássico, folk e deboche em disco variado que mistura poesia do cotidiano, crítica social e ecos de Erasmo, Zappa e Arrigo.

RESENHA: Em (Todos os Homens)º = 1, Zécarlos Ribeiro une rock clássico, folk e deboche em disco variado que mistura poesia do cotidiano, crítica social e ecos de Erasmo, Zappa e Arrigo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: 7 de novembro de 2025
Lançamento: Independente

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Zécarlos Ribeiro é, ao lado de Luiz Tatit, o principal compositor da história do grupo Rumo, e um cara bom de narrar cenas – sempre com um olho na história, e outro no que pode estar acontecendo nas internas. Esse clima toma conta de seu segundo disco solo, (Todos os Homens)º = 1 (“todos os homens elevado a zero é igual a um”).

A curiosidade é que (Todos os Homens)º = 1 é basicamente um disco de rock, e de rock clássico, à maneira de Erasmo Carlos – o espírito do Tremendão baixa em faixas como o boogie Bando de loucos (que tem ótimo arranjo de metais), o rock acústico Vai pra cama descansar e o blues-rock titânico É do mal. Estica a trena abre com uma improvável cara industrial e depois vira um rock irônico e nostálgico. Arrigo Barnabé comparece em Minha cabeça, um eletro-rap-samba zoeiro, que tem algo de Sparks. E vibes lembrando Frank Zappa aparecem na faixa-título.

  • Ouvimos: UmQuarto – Fora de lugar

Zécarlos também embarca e tons folk e country em faixas como a sombria Deslumbre (com Ana Deriggi nos vocais), a abolerada e italianada Sonhe em pé (com Carlos Careqa), o roquinho mineiro Vem pra cá e a abolerada Volta pra mim, que lembra Rita Lee. Nas letras, Zécarlos põe poesia e história no trivial, sempre com deboche e protesto, como na insônia de Volta pra mim (“não consigo mais dormir de madrugada / meus pensamentos marcam reuniões inesperadas”) e o papo sobre amor e algoritmos de Bando de loucos.

Sonhe em pé conta histórias de italianos em São Paulo, enquanto Estica a trena fala sobre operários que dançam, no sentido literal e figurado – com direito à citação de Construção, de Chico Buarque, e suas lembranças de dias acidentados para o trabalhador brasileiro. Som e poesia do dia a dia.

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Crítica

Ouvimos: Bianca and The Velvets – “Reminder” (EP)

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Vinda de Belém, Bianca and The Velvets lança Reminder, EP com base em The Cure, e em estilos como grunge e pós-punk, com voz grave marcante e clima dramático.

RESENHA: Vinda de Belém, Bianca and The Velvets lança Reminder, EP com base em The Cure, e em estilos como grunge e pós-punk, com voz grave marcante e clima dramático.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 22 de outubro de 2025

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Punk e indie rock de Belém (PA): no EP Reminder, Bianca and The Velvets (Bianca Marinho, Marcel Barretto, Emmanuel Penna e Leonardo Chaves) unem referências que passam pelo pós-punk, pelo grunge e pelo som de bandas dos anos 2000 – tendo como detalhe especial a voz grave de Bianca, que muitas vezes soa parecida com a de Dean Wareham (do Luna, lembra?) e em outros momentos ganha uma vibe entre o sexy e o robótico.

  • Ouvimos: Flerte Flamingo – Dói ter

O EP Reminder abre chegando perto simultaneamente de The Cure e do garage rock, com a distorcida Knives – que abre com um “go on” idêntico ao de In between days, do Cure. Like on TV une Gang Of Four e trevas darkwave. Summertime river é o lado sixties do disco, na guitarra e na composição, e tem algo de slacker, de despojado, no arranjo.

As duas próximas faixas reúnem o lado dramático de Reminder. Said you loved me, then you’re gone é uma música sombria de piano e violão, com voz sussurrada, e um clima o mais folk-grunge possível. I was a giver é folk tocado na guitarra, com algo de Velvet Underground nos vocais e na execução. No excuses, indie rock que encerra o álbum, traz emanações de Pretenders e The Killers, simultaneamente.

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