Crítica
Ouvimos: Amy Millan – “I went to find you”

RESENHA: Após 16 anos, Amy Millan retorna com I went to find you, um disco de etéreo, introspectivo e com ecos de americana, soft rock e pop progressivo.
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I went to find you, terceiro álbum da canadense Amy Millan, sai 16 anos após seu último disco, Masters of burial (2009 – um disco que mesclava country, clima indie e uma certa melancolia sinistra. O novo disco, por sua vez, une o conforto do estilo musical conhecido como americana (a união de várias sonoridades e vibrações em torno do country) com a elevação da música espacial, dos teclados que cintilam em meio a melodias pop.
Em I went to find you, Amy retorna com um novo parceiro, Jay McCarrol, e explora temas como confiança, amizade, autoaceitação e memórias do passado (o “você”, do título, segundo ela, são pessoas que passam pela vida da gente e criam laços, modificam nossa vida). Em vários momentos, deixa a impressão de estar construindo um soft rock texturizado, como se o Fleetwood Mac fosse contratado pela 4AD.
É o que surge na abertura, com Untethered – uma canção tranquila sobre relacionamentos duradouros, erros, acertos e continuidades. E também no clima introspectivo e melancólico de The overpass, canção com tom contemplativo de rádio AM antiga, modernizada pelos teclados. Ou no neo soul angelical de Wire walks, um chamamento à voz interior (“em volta dessa ferida teimosa / o futuro pode ser o passado também / você pode precisar se inclinar / para o que você sempre foi”). Don valley, por sua vez, é um folk beatle – cujos vocais relacionam-se com Let it be, dos Beatles, enfim. Uma canção bonita, mas que parece deslocada num disco tão focado em encontrar sua própria identidade sonora.
Em alguns momentos, Amy Millan chega perto do rock progressivo – ou de uma noção progressiva de música pop. Como no tom quase post rock de Borderline, no pop elegante de Kiss that summer e Make way for waves, e na vibração épica de Murmurations, que fecha o álbum trazendo um pouco de clima lo-fi.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Last Gang Records Inc
Lançamento: 30 de maio de 2025.
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Crítica
Ouvimos: Nilüfer Yanya – “Dancing shoes” (EP)

RESENHA: Nilüfer Yanya revisita sobras de My method actor no EP Dancing shoes, com indie pop cru, folk sombrio e beats sutis. Um registro íntimo e transitório.
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Assim que retornou da turnê de seu terceiro álbum My method actor, Nilüfer Yanya decidiu mexer, ao lado de sua parceira Wilma Archer, em algumas canções que haviam sobrado do álbum. Desse material, quatro faixas acabaram sendo escolhidas para Dancing shoes, EP curto (menos de vinte minutos) e que funciona como extensão mais despojada do disco de estreia. O tom quase indie-pop-grunge de My method actor retorna com uma quietude característica do bedroom pop, além de experimentações que dão novos usos para beats conhecidos.
Kneel, a faixa de abertura, tem herança do pós-punk e dos mistérios do folk setentista – cabendo vocais sussurrados, cordas, beats e uma soma de facetas pop e sombrias. Where to look é indie folk, mas com uma batida industrial usada de maneira leve, dando uma sujeira dosada no som. Cold heart prossegue na onda de canções desencantadas de My method actor, inserindo dores e friezas até mesmo no arranjo, em que a guitarra soa como um loop de fita. Treason encerra o disco no clima caseiro: é um folk indie gravado como numa jam de quarto, com violão batido, e beats feitos no tampo do instrumento. Um registro mais íntimo e cru, e uma transição.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Ninja Tune
Lançamento: 2 de julho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Biloba – “Sala de espera”

RESENHA: Em Sala de espera, o Biloba, vindo de Portugal, mistura pós-punk, psicodelia e poesia num art rock minimalista, denso e imagético.
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O art rock português está com tudo e não está prosa, a julgar pelo Biloba – um quinteto cuja sonoridade lembra mais a trilha de um filme que só existe na mente deles, com momentos sombrios, climas desérticos e cenas bastante enevoadas, tudo em p&b. Sala de espera, primeiro álbum do grupo, é exatamente o que diz o título: as músicas falam sobre expectativas, coisas ainda não realizadas, sobre um dia a dia em que ninguém sabe exatamente o que vai acontecer e qual surpresa os algoritmos prepararam para a gente.
O som do Biloba é bastante minimalista, a ponto de às vezes, se destacar pelos segundos (ou minutos) de quietude entre um instrumento e outro. A banda une detalhes do pós-punk (guitarras estilingando, variações rítmicas) e da psicodelia (efeitos de teclados) em faixas como a onírica Quando for pra ir, a dance-punk-jazz Amor em tempos de guerra, a cantiga sombria Na chuva e o afro-pop Se deus demora.
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Sala de espera, a faixa-título, une vibes dançantes e psicodelia na cola do Som Imaginário, a dissonante Flor de verão tem melodia dada pelo baixo e guitarra que soa como um sinal de transmissão distante. Já faixas como Rei dos animais e Andorinha fazem lembrar até Secos & Molhados – não à toa, uma banda criada por um português radicado no Brasil. Cores tem groove ligeiramente tropicalista e guitarra em clima blues-country lembrando JJ Cale.
No geral, em Sala de espera, o Biloba tem um experimentalismo que soa coeso mesmo quando a duração de algumas faixas assusta – e que muitas vezes ganha a/o ouvinte pela união de música, imagem e poesia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente.
Lançamento: 7 de março de 2025.
Crítica
Ouvimos: Mark Wilkinson – “Wild and hunted things”

RESENHA: Em Wild and hunted things, Mark Wilkinson investe em folk minimalista e melancólico, mas só brilha quando ousa fugir do lugar-comum.
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Cantor australiano de repertório tranquilo (extremamente tranquilo, eu diria) e ligado ao folk, Mark Wilkinson decidiu fazer de seu novo álbum, Wild and hunted things, um disco bastante conciso: oito faixas, menos de meia hora, repertório quase sempre minimalista, letras baseadas em lutas interiores, clima basicamente já entregue pela capa e pelo título.
Musicalmente dois lados convivem mais intensamente no disco de Mark. O primeiro é o do folk radiofônico de faixas como Don’t leave me behind, Adoration skies e Get out. O outro é o do pop adulto feito para abastecer as light FMs, e também realizado com base folk. New look, com linhas de baixo legais e batidinha eletrônica, vai nessa. Reborn, uma canção de violão meio sombria e que parece ter um refrão de nu-metal (ou de emo) enxertado, vai também.
O complicado de Mark é que em Wild ele não chega a se destacar lá muito do mar de cantores folk que vão na mesma onda violeira-existencialista – não são canções ruins, mas no todo, falta algo diferente quase sempre. Só não falta quando Mark solta a voz em In my darkest hour, mistura de soul e bittersweet, com letra soturna, mostrando o que ele pode alcançar em termos de composição e interpretação.
Esse lado meio tristonho é uma senha para praticamente todo o disco, mas bate com força igualmente no folk gracioso M95 e na amorosa Phosphene, canção que abre com violão lo-fi e prossegue com batidinha e cordas. Quando Mark se permite soar diferente, Wild and hunted things finalmente encontra seu brilho.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6,5
Gravadora: Nettwerk Music Group
Lançamento: 4 de julho de 2025.
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