Crítica
Ouvimos: Aerosmith + Yungblud – “One more time” (EP)

RESENHA: Yungblud e Aerosmith revivem a fase anos 1990 do grupo norte-americano em EP irregular. Tem hard rock psicodélico competente, uma boa faixa (Wild woman) e resto sem grandes surpresas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6
Gravadora: Capitol / Universal
Lançamento: 21 de novembro de 2025
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Tem um certo momento em que o que damos como garantido – ou seja: o que parece sair de uma torneira eternamente aberta – começa a escassear, às vezes sem que a gente se dê conta. Deve haver um gatilho que simboliza essa “falta”, mas o mais louco é que, quando a gente menos percebe, o que a gente achava que estava meio padronizado vira cult. Tipo jovens usando bigode ou bandas que fazem uma espécie de rock farofa alternativo. Ou artistas novos que estão mais próximos do emo (ou estilos parecidos) mas cresceram ouvindo a fase de sucesso noventista do Aerosmith, quando canções como Cryin’ e Livin’ on the edge não saíam do rádio.
Dominic Richard Harrison, o popular Yungblud, já foi definido como a mistura de “Robbie Williams, o falecido vocalista do Prodigy Keith Flint e o personagem Dennis, o Pimentinha” – e é um cara que usa imaginários conhecidos do rock para contar histórias e fazer música, como na ópera-rock Idols, lançada neste ano (e resenhada aqui pela gente). Normal que a parceria entre ele e o Aerosmith, pensada inicialmente para apenas uma música, tenha se tornado um EP de cinco faixas.
- Ouvimos: Sombr – I barely know her
Na real, One more time, o EP, traz o retorno do próprio som feito pelo grupo nos anos 1990 – aquela popização de psicodelia e de riffs de Rolling Stones e Led Zeppelin. Não é um disco excelente do Aerosmith, e é balizado por duas lembranças da era de discos como Get a grip (1993), em faixas como My only angel, o hard rock levemente psicodélico Problems, e o tom sombrio, roqueiro e selvagem de Wild woman – a melhor música, na cola do disco Rocks (1975).
A thousand days, por sua vez, é uma balada sem muito atrativo, que lembra não muito discretamente Knockin’ on heavens door (Bob Dylan). No fim, tem um remix de Back in the saddle (música de abertura do álbum Rocks) – que é quase a mesma música de sempre, só que com mais peso e ambiência, além dos vocais de Yungblud. Deve ter sido divertido para o convidado, mas não há muita coisa além da diversão por aqui.
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Crítica
Ouvimos: Danny Brown – “Stardust”

RESENHA: Stardust marca Danny Brown sóbrio, mergulhando no hyperpop para criar paisagens sonoras intensas, misturando rap outsider, pós-punk e experimentação.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Warp
Lançamento: 7 de novembro de 2025
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Com uma carreira discográfica que surgiu nos anos 2000 (sua primeira mixtape, Hot soup, é de 2008), o rapper norte-americano Danny Brown geralmente é elogiado por sua disposição em inovar – que muitas vezes o coloca numa trincheira mais psicodélica e alternativa do rap, habitada também por Earl Sweatshirt e Tyler The Creator, e que igualmente já teve Kanye West como expoente.
Danny tem um álbum chamado Atrocity exhibition (o terceiro, de 2016), mesmo nome de uma música do Joy Division – e não por acaso, volta e meia detalhes do pós-punk emergem de seu som. Outro detalhe é que muitas vezes seus raps focam mais no lado outsider, da vida no desvio, do que propriamente em gangues, brigas ou pura ostentação. Distopias e papos de ficção científica também volta e meia aparecem nas letras dele – sempre com uma trilha sonora no mesmo clima.
E daí que Stardust, primeiro disco que Danny faz totalmente sóbrio – ele passou por um rehab em 2023 – traz o rapper cada vez mais comprometido com a construção de paisagens musicais, todas filtradas pela variedade do hyperpop. Ao lado dele, artistas de procedência bem curiosa, como o grupo experimental pop Frost Children, o criador de dubstep Underscores, o rapper-folktrônico Quadreca e gente inseparável do estilo hyperpop, como Jane Remover.
- Ouvimos: Tyler The Creator – Don’t tap the glass
- Ouvimos: Earl Sweatshirt – Live laugh love
- Ouvimos: Chiedu Oraka – Undeniable (EP)
Stardust quase sempre é tão dançante quanto Brat, de Charli XCX, mas é mais alternativo ainda, construindo pontes com gospel e soft rock (Book of Daniel, que parece construída em cima de uma música do 14 Bis ou do Roupa Nova), emo (Green light), house music (Flowers, um manifesto sobre o quanto ele se sente marginalizado pelo mercado fonográfico) e algo que parece ter sido construído em cima de um sample antigo de dance music, só que aceleradíssimo (Baby, responsável pelo lado mais romântico e sacaninha do disco).
O hyperpop geralmente é formado por referências quase cara de pau à música do passado – que muitas vezes soam distorcidas e encaixadas à força – e por climas “derretidos” em vocais (com autotune) e teclados. Um daqueles sons que só poderiam ter saído da mente de gente que passa o dia pensando em produções e mixagens. Danny começou a ficar mais próximo do estilo há algum tempo, e em Stardust, o hyperpop e seu primo digicore transformam músicas como Copycats, Whatever, Whatever the case e Starburst em experiências sonoras – com riffs de videogame, batidas quebradiças que lembram mais o pós-hardcore e sons de fita rodando rápido ao contrário como “melodia” para os beats. 1L0v3myL1f3! é quase um electrohardcore rap, com sons que desmancham no ouvido e vibe metálica.
As lembranças das experiências amargas ainda estão muito frescas – surgem em várias letras de Stardust e encerram o disco com a épica e intensa The end (de oito minutos) e All4U, cuja letra é um misto de declaração de amor ao rap e história de redenção após abusos e perdas. No geral, Stardust consegue soar curioso e interessante mesmo nos momentos em que você ouve e tem vontade de falar “oi?”.
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Crítica
Ouvimos: Vanna Blue – “JoyCry” (EP)

RESENHA: JoyCry, EP de Vanna Blue, mistura dream pop e pós-punk em faixas hipnóticas que alternam luz e sombra, com texturas cintilantes e certa agressividade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Noon Records
Lançamento: 13 de novembro de 2025
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Com composição de repertório iniciada em 2019 – e com as trevas da pandemia, que rolou em 2020, ajudando a balizar músicas e letras – JoyCry, o EP de estreia da norte-americana Vanna Blue surge marcado pelo encontro entre dream pop e pós-punk. Mas surge também como o resultado do encontro entre alegrias e tristezas diárias, entre memórias ruins e boas, entre realidade e imaginação. Esse clima é absorvido por algumas faixas, como o pop vaporoso de Back and forth, que lembra o começo da fase eletrônica do Tame Impala – lembra também Angra dos Reis, sucesso da Legião Urbana.
- Ouvimos: Evvvie – How to swallow a lie (EP)
Tudo que surge no disco é filtrado por um clima meio hipnótico, até meio típico do dream pop, mas com uma certa agressividade que vem lá do fundo, como na mescla de The Cure e Cranberries de Pheromones (com guitarra bonita e melódica e vocal cheio de texturas) e FMHU, ou em Black and blue, cujos teclados e guitarras têm vibe mágica. Tides é dream pop com batida meio funkeada, numa estrutura musical que parece voar.
O disco tem também um momento ruidoso em Closer, faixa na qual algo meio sombrio vai surgindo aos poucos. Mas o principal de Vanna Blue e JoyCry é valorizar a cintilação sonora, em todas as faixas.
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Crítica
Ouvimos: Pipa – “Funk é matemática”

RESENHA: Funk é matemática vê Pipa explorar o funk à distância, misturando ambient, beats experimentais e viagens eletrônicas em movimentos cheios de atmosfera.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 1 de dezembro de 2025.
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Produtor e compositor, Pipa lançou seu disco Funk é matemática com a ideia de fazer uma declaração de amor ao estilo musical. “Ele é surpreendentemente complexo e desafiador de criar”, afirmou num texto publicado em seu Xwitter, afirmando também que logo percebeu o enorme espaço que teria para criar coisas novas, sem se prender a padrões.
- Ouvimos: MC Taya – Histeria agressiva 100% neurótica vol. 2 – Muito mais neurótico (EP)
O resultado é que Funk é matemática é basicamente um disco de ambient – um álbum que propõe uma visão à distância do funk, do que pode caber nele, do que existe entre uma batida e outra. Dividido quase todo em “movimentos”, ele insere climas voadores e viajantes como respiro para os beats (Primeiro movimento, Segundo movimento), cria representações gráficas em que beats, samples de voz e vibes lembrando o Azymuth chegam na frente (Terceiro movimento) e une batidões a climas misteriosos que lembram ArtHur Verocai e Toninho Horta (Quarto movimento).
O disco encerra com a viagem quase post-funk da faixa-título, que vai ganhando beats e clima de celebração tribal-tecnológica. Até lá, surgem momentos de beat forte e experimentação eletrônica (Quinto movimento), gravações de rua e vibes meditativas (Sexto movimento) e um jungle-funk leve (Sétimo movimento).
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