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Cultura Pop

Videoclipers: quando a produção de clipes vira estilo de vida

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Videoclipers: quando a produção de clipes vira estilo de vida

A ideia não é só fazer clipes: é criar um novo estilo de vida para a turma que trabalha com vídeos. O casal Diana Boccara e Leo Longo (que mantém a empresa Couple Of Things) já havia criado o programa Around the world in 80 music videos, que está sendo exibido pelo canal Bis e traz clipes realizados em vários países, com artistas locais. Dessa vez, com o projeto Videoclipers, Diana e Leo fizeram o mesmo durante três meses, só que no Brasil.

A trabalheira do casal resultou em 16 clipes feitos em plano sequência. Os primeiros da série já estão no canal da empresa. Trazem Alceu Valença pelas ruas do Centro Histórico de Olinda (PE) cantando a música Nas asas de um passarinho, o cantor Barro soltando a voz em Cavalo marinho, Dona Onete cantando Carimbó arrepiado e Felipe Cordeiro, com a própria Dona Onete, em Onde é que eu vou parar. O casal lança clipe novo toda quarta-feira, e o roteiro de Diana e Leo incluiu Recife, Belém, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Além do clipe, rola sempre um making of.

Os dois projetos envolveram muita coragem (a dupla vendeu tudo o que tinha para sair viajando pelo mundo e fazer clipes para o Around the world) e muito nomadismo. Leo e Diana também aprenderam que existem outras formas de captar recursos (e outros recursos, e maneiras de se pagar por eles, por que não?) e realizaram tudo de maneira bastante inovadora. Tanto no modo de trabalhar, quanto na maneira de encarar assuntos de suma importância como monetização.

Como aqui no POP FANTASMA a gente bate um papo com a turma que está tentando criar coisas novas para reportar e mostrar cultura pop (fora os eventuais novos negócios que surgem na área), batemos um papo com Leo Longo e ele contou para a gente o que está por trás do Videoclipers e o que vem por aí. Confira.

POP FANTASMA: Como surgiu a ideia de montar o Videoclipers? Vocês sentiam falta de um projeto de clipes que não estivesse necessariamente atrelado ao “lançamos uma música nova, vamos fazer um clipe” e trouxesse um conceito por trás? Qual foi a motivação?
LEO LONGO: Foi a saudade de poder vivenciar relações de trabalho e colaboração em torno da arte, sem serem norteadas ou promovidas pela presença do dinheiro, que nos fez criar o Videoclipers. Entre 2015 e 2016, filmamos Around the world in 80 music videos. Foi a primeira vez que uma equipe viajou o mundo pra filmar uma série de videoclipes oficiais – atualmente a série é exibida nos canais BIS e Multishow com o título em português, e está na íntegra em nosso canal.

Naquela oportunidade, por não termos tido sucesso na captação de recursos financeiros, acabamos bancando quase a totalidade do projeto, salvas algumas parcerias com marcas. Mas aquilo era suficiente para bancar nosso custo de vida, não mais do que isso. Não pra bancar a produção de 80 clipes pelo mundo. Nossa solução pra falta de investimento foi entender que nem tudo na vida é a troca baseada no dinheiro.

Nos voltamos então pro conceito da colaboração sem vínculo no dinheiro mas sim com vínculo na troca de experiências e na interconexão de habilidades e talentos. Tudo mundo tem ou sabe algo que pode oferecer e sempre tem alguém que precisa do que você tem pra dar. Descobrimos que existe um mundo paralelo, bastante maduro e sedimentado, ao mundo no qual tudo é pago. Então, finalizando a resposta, foi assim que vivenciamos as experiências colaborativas mais intensas que já havíamos vivido. E entre 2016 e 2018, começamos a sentir falta de poder vivenciar isso. E a solução foi voltar pra estrada.

Todos os clipes que filmamos em nossos projetos, inclusive Videoclipers, são de músicas inéditas e do atual álbum de trabalho dos artistas. A gente gosta de estar conectado com a cena atual e, de alguma forma, até ser um recorte do que está acontecendo da música brasileira neste momento. A única exceção foi com Alceu Valença, isso porque ele e sua equipe queriam muito dar um clipe à música Nas asas de um passarinho. Ela foi lançada em 2002 mas teve uma releitura em 2014, no álbum Amigo da arte, que a gente adora. E por isso, topamos.

Videoclipers: quando a produção de clipes vira estilo de vida
Na gravação do clipe de Alceu Valença (foto: Lumos Estúdio)

Cá pra nós, como fãs, qualquer oportunidade de trabalhar num set com Alceu já seria mágico por si só. Acho que tanto ele quanto nós sabíamos exatamente o que deveria ser feito neste clipe, sabe?! Então, bastaram 25 minutos pra pensar no que faríamos e filmar dois takes.

Já que você falou no Around the world…, o que essa experiência, que era mais complexa ainda do que o Videoclipers (que é realizado no Brasil) ensinou a vocês? Aprendemos que as dificuldades de realizar projetos como o nosso são as mesmas em quase todos os lugares. E também, que a alegria de produzir arte e colaborar com pessoas é a mesma em todo mundo. Ficamos muito amigos de pessoas que trabalharam com a gente em Portugal, Russia, Egito e México, por exemplo, igualmente como no Brasil. Mesmo com as dificuldades iniciais que o idioma ou a cultura local pode trazer, quando estivemos com pessoas dispostas, tudo aconteceu de maneira coesa, leve e feliz.

Também acho que ter feito nosso primeiro projeto autoral e independente pelo mundo, ao invés do Brasil, nos trouxe uma metodologia de trabalho muito dinâmica e eficiente. Obviamente, muitas destas técnicas a gente está aplicando agora nas filmagens de Videoclipers, como por exemplo como otimizar tempo na busca por uma locação, ou como conseguir convidar pessoas a participar das nossas gravações, etc. Ter trabalhado em tantas condições diferentes nos 22 países pelos quais passamos, trouxe essa versatilidade pro nosso processo.

E de onde tiraram coragem para realizar o Around the world? Qual foi o gatilho para isso? Que difícil essa pergunta! As vezes a gente acha mesmo que teve coragem, mas na época nos pareceu tão natural que lembro que parecia algo que precisava ser feito, sabe?! Mas pensa só, a gente ficou 7 meses gestando o projeto, pensando em todos os detalhes enquanto em paralelo a gente tentava grana pra fazer. Depois deste período, e sem os recursos que precisávamos, tomar a atitude de vender tudo o que tínhamos e investir todas nossas economias não foi um ato de coragem. Foi um ato de respeito e amor pelo que mais gostamos de fazer da vida, que é filmar histórias e fazer arte com nossas câmeras. O contrário disso seria negligenciar o que queríamos.

E o gatilho foi quando, ainda quando trabalhávamos na indústria da TV (eu estava dirigindo uma série para o History Channel e Diana produzindo uma série no Discovery Channel), decidimos passar as férias numa roadtrip pelo sul dos Estados Unidos. Fomos conhecer as cidades mais importantes pro nascimento dos estilos musicais mais populares do mundo, como jazz, rock, soul, folk, blues, etc. Visitamos Nashville, Memphis, Clarksdale, cidades nas margens do rio Mississippi, New Orleans, entre outras. Quando voltamos dessa viagem, estávamos carentes daquele movimento, de conhecer pessoas, de contar histórias e, principalmente, de fazer tudo isso em função da música. Foi assim que começamos a criar Around the world.

Videoclipers: quando a produção de clipes vira estilo de vida
Gravando com Barro (foto: Lumos Estúdio)

Aliás, o que aprenderam com a busca por patrocínio dos projetos? Repetiriam ou não repetiriam algo que fizeram? Aprendemos que ninguém vai confiar mais no seu projeto do que você mesmo. E se em algum momento você titubeia, todos titubeiam juntos. Ninguém vai levantar por você todos os dias e ninguém vai se arriscar por você. Se você acredita numa ideia que inventou, é só você que pode botá-la de pé. E tem sido assim nos últimos cinco anos, nos quatro projetos que já filmamos. Dois estão no ar e outros dois esperando um oportunidade. É assim que levamos nosso lifestyle com a Couple of Things. Nunca conseguimos recursos pra financiar um projeto antes de filmá-lo. Ou somos péssimos vendedores ou é muito azar (risos). Ao menos, depois de filmados a gente consegue algum retorno. Poderia dizer que é sorte, mas a gente se dedica muito pra fazer as coisas acontecerem.

O Videoclipers é “tentativa de causar rupturas e reflexões sobre a forma como trabalhamos e geramos conteúdo cultural”, como vocês dizem. No que vocês creem que o mercado de geração de conteúdo precisa ser modificado? Um grande problema é que, de modo geral, muita gente tem dificuldade de monetizar conteúdo gerado na web… Não só o mercado de geração de conteúdo, mas sinto que em qualquer tipo de trabalho ou produção laboral, o “monetizar” vem antes do “produzir”. E, pior do que isso, o “ter” vem antes do “ser”. Aí a gente já começa o jogo da vida perdendo de goleada.

No YouTube, a gente não monetiza os clipes e making ofs de Videoclipers. Preferimos abrir mão da monetização ali por uma série de razões. Mas já estamos negociando o licenciamento da série com um canal de TV. É assim que a gente espera ter o dinheiro que investimos de volta.

Achamos, e nosso estilo de vida prova isso, que muitas trocas e experiências não são vivenciadas quando colocamos muito peso sob o aspecto monetário. Criamos uma rede muito mais integrada, colaborativa e lúcida nos cinco anos fazendo projetos sem grana do que em 15 anos trabalhando em canais e produtoras como assalariados. O dinheiro nos trouxe muitas coisas. A falta dele nos trouxe liberdade pra decidir se precisamos dele e quando precisamos dele. Parece conversa de auto-ajuda, mas é que quando a gente se dá conta disso, começamos a entender que temos uma vida inflada. Aos poucos, a gente se acostuma a achar que precisamos ter sempre mais e que é necessário pagar por tudo que queremos e receber por tudo que produzimos. Isso não é verdade. Inclusive, o mundo tecnológico permite que seja justamente ao contrário.

Videoclipers: quando a produção de clipes vira estilo de vida
Com Dona Onete e equipe no estúdio (foto: Ju Vasconcelos)

É possível viver e trabalhar explorando muitas plataformas e metodologias colaborativas, aprendendo novas habilidades de graça e se conectando com pessoas certas. E quando se adota esse estilo de vida, tendo a consciência de que precisamos de muito menos, entendemos que nem tudo precisa ser monetizado e que é possível ser “pago” de mil e uma maneiras distintas.

Só pra dar um exemplo, todo mundo precisa comer. E comida, quando se mora numa cidade, você consegue no supermercado ou no restaurante. Durante o Videoclipers, trocamos refeição e compras por conteúdo. Reduzimos o custo de vida pagando com nosso trabalho e, o mais legal, nos conectamos com donos de restaurantes e mercados, criando relações afetivas com todos. Fizemos isso com moradia também. Então, o problema não é que as pessoas têm dificuldade de monetizar conteúdo, mas sim dificuldade de ser criativo pra não depender apenas da monetização de conteúdo.

Videoclipers: quando a produção de clipes vira estilo de vida
Com Felipe Cordeiro (foto: Ju Vasconcelos)

Pode citar um exemplo de como funcionou isso na prática? Durante as filmagens do Videoclipers, Recife foi a cidade que mais passamos tempo, por conta daquela esticada que demos pra conseguir filmar com o Alceu. Ao todo, foram 19 dias (o normal foi 10 dias por cidade pra filmar dois clipes). E como ficamos mais tempo lá, decidimos estabelecer três tipos de parceria: com o Airbnb pra ter acomodação, com um empório de comida que ficava no nosso bairro (Empório Pura Vida) e também com restaurantes (Motche Restô e Flô de Jambo). Entramos em contato com todos eles bem antes de ir pra Recife, oferecendo menção deles em nossas redes sociais e também produzindo fotos pra eles postarem em suas redes sociais. Dessa forma, o custo de vida nosso caiu cerca de 70%. Em nosso Instagram tem várias fotos dessas, referente a essas parcerias. Tentamos o mesmo com Uber e passagem aérea, mas não conseguimos.

E outro exemplo legal foi em Porto Alegre, a antepenúltima cidade que visitamos pelo Videoclipers. A gente queria muito filmar um dos clipes lá – com a banda Dingo Bells – no Vila Flores, um espaço cultural que é co-working, galeria e várias outras coisas. Era o lugar perfeito pra ideia que tivemos.

Só que o lugar tinha um custo de locação muito alto e jamais poderíamos pagar por ele, até mesmo porque nossa ideia é tentar filmar os clipes sem gastar nada. Faz parte do nosso desafio. E conversando com os proprietários do espaço, oferecemos a troca: a gente grava nosso clipe aí e em contra-partida fazemos uma palestra pra comunidade que frequenta o Vila Flores. E eles toparam. Como a gente tem algumas palestras já montadas (ja que ja participamos de TEDx, do SXSW, e de outros festivais de criatividade), e gostamos muito de dividir nossas experiências com outros, pra gente foi muito legal.

Então essas são provas de que, com criatividade e trabalho, tem muitas maneiras de estabelecer trocas e ganhos.

No que acham que os projetos de vocês podem inspirar pessoas? A ideia é de fato criar um mercado diferente para a turma de vídeo? O objetivo não é fazer com que as pessoas achem os clipes legais. A gente espera mesmo é que as pessoas possam hackear a forma como a gente vive, que permite viver fazendo o que gostamos. Mas não temos nenhuma pretensão de inspirar pessoas, só mesmo ser case de um estilo de vida que dá certo também, assim como muitos outros.

(foto destaque: Lumos Estudio)

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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