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Cultura Pop

E nunca saiu um DVD de Belchior

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E nunca saiu um DVD de Belchior

Morto neste domingo (30), Belchior sumira do mapa no fim da década passada sem ver boa parte de sua discografia reeditada. E sem ter o respeito que merecia. Hoje ele é idolatrado, mas nos anos 1980 e 1990 não era nada cool gostar dele, e Belchior vinha sendo inserido no rol dos artistas “alienados” desde os anos 1970, sem dar margem para questionamentos. O artista também evadiu-se do show business sem ter nenhum DVD lançado. O último disco que contou com movimentação sua na divulgação foi a coletânea “Sempre”, lançada em 2008 pela Som Livre, numa época em que ele já estava voluntariamente retirado. Seu empresário da época suou para achá-lo e conseguiu que ele desse uma constrangedora entrevista para o “Programa do Jô”, marcada por piadas horrorosas do entrevistador (que trocadilhou “um analista me comeu” com o verso “um analista amigo meu” de “Divina comédia humana”) e pela timidez do entrevistado. O vídeo dessa entrevista já andou pelo YouTube mas desapareceu e nunca mais foi recolocado.

DVDs já eram (extremamente) comuns quando Belchior resolveu sumir e nem por isso o cantor, já batendo em retirada, lançou um – e hoje, caso você queira ver imagens de shows dele, só indo mesmo no YouTube para conferir o que tem lá. Uma fuçada distraída revela raridades, entrevistas e momentos em que, com dois minutos de atenção, é possível perceber a grandeza da obra de Belchior, e ver como ele tinha fãs. Confira alguns deles e tente não se emocionar.

BELCHIOR NOS TRAPALHÕES. Nos anos 1970, era de rigor qualquer artista nacional ir aos “Trapalhões” fazer um vídeo com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Em alguns momentos, o artista era imitado ou zoado, em outros apenas a canção era sacaneada de alguma forma. Belchior passou por lá para divulgar seu hit “Medo de avião” em 1979. Seu bigodão foi deixado em paz pelo quarteto, mas a música ganhou uma sátira bem bacana de Dedé e Mussum.

MPB ESPECIAL. Em 2 de outubro de 1974, o então cabeludo e barbudo Belchior ia à TV Cultura gravar o “MPB Especial” e tentar divulgar seu primeiro disco, epônimo, que encalhava nas lojas. Quem só conhece Belchior dos grandes hits, vai estranhar: o repertório dele nessa época, mesmo contando com canções como “Hora do almoço”, era bastante experimental e concretista. No final do vídeo, ele aparece falando de Hermeto Pascoal e tirando sons de garrafas. Também diz que “é preciso voltar a polemizar sobre música brasileira. Está acontecendo muita coisa mas as pessoas não estão vendo. Os compositores novos estão todos abertos à polêmica. Fala-se que depois de Caetano e Chico não apareceu mais ninguém”. E cita vários nomes novos da época, incluindo Raul Seixas e Luiz Melodia. “O resto pra mim é passado. Não tô interessado no passado”, completa, parecendo meio puto.

BELCHIOR NO RÁDIO EM 1979. Lançando o disco “Era uma vez o homem e seu tempo” (1979), que tinha o hit “Medo de avião”, o cantor batia um papo na Rádio Nacional. Alguém resgatou a entrevista, de 1h20.

HOMENAGEM. Uma das últimas aparições de Belchior na TV, quando ele já estava sumindo do mapa: Chico Anysio tenta cantar o hit “Galos, noites e quintais” em homenagem a Belchior no programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrin, na frente do autor.

FALA, GAROTO. Onze minutos de Belchior e sua Banda Radar no programa Matéria Prima, apresentado por Serginho Groisman em 1990. A banda Radar – cujos músicos foram recrutados por Belchior numa ex-banda de ninguem menos que Raul Seixas – até hoje faz shows relembrando o repertório do bigodudo.

EM FORTALEZA. Segundo o cara que postou esse vídeo, é “o único show de Belchior que existe na íntegra em toda a web”. Belchior comemora os 281 anos de Fortaleza em 2007 com uma apresentação repleta de hits, e ganha recepção de herói. De levar lágrimas aos olhos.

DESPLUGADO. Cinquenta minutos de um especial acústico de Belchior, com vários grandes hits, numa estação de TV de Fortaleza, abrindo com “Galos, noites e quintais” e seguindo com vários hits. Se a data postada no vídeo (24 de abril de 2009) estiver correta, deve ser uma das últimas apresentações de TV do cantor. Belíssimo e imperdível.

https://www.youtube.com/watch?v=1Umg6CiwGew

GAROTO CÓSMICO. Em 2007, Belchior foi convidado pelo diretor Alê Abreu para dublar o mágico Zás Trás no desenho animado “Garoto cósmico” – no desenho, o personagem cantava justamente o hit “Como nossos pais”. No trailer abaixo dá pra ver algumas (poucas) imagens do cantor no set de dublagem. Clique e vá direto na hora em que ele aparece.

NO URUGUAI. No período em que Belchior morou/se escondeu no Uruguai, ele tocou com o pianista gaúcho João Tavares Filho. Uma das gravações dos dois ganhou vídeo e foi liberada neste semana no Facebook: traz Belchior e João – este, ao piano – interpretando o hit “Velha roupa colorida”, no Centro Cultural do Consulado do Brasil em Artigas, Uruguai, em 2011. O próprio Belchior teria sugerido a filmagem com a ideia de iniciar um novo projeto (aqui tem mais detalhes sobre esse vídeo).

RIP Belchior.

Cultura Pop

No nosso podcast, os últimos dois anos do Nirvana (e de Kurt Cobain)

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Não é uma história fácil de ouvir – já avisamos. O final é triste, as atitudes foram impensadas, o entorno era completamente tóxico. Em seus últimos dois anos, o Nirvana teve mais “acontecimentos” em sua carreira e nas vidas pessoais de seus integrantes do que em dez anos de várias bandas. Foi uma banda que vendeu quase tanto jornal quanto disco e ingresso para show -não houve ser humano vivo que não acompanhasse de perto a vida do vocalista Kurt Cobain. No meio do caminho, um disco que se tornou um sonho e um pesadelo para todos os envolvidos, In utero (1993), o último do grupo.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast. a gente dá uma olhada em como andavam as coisas com Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl entre 1992 e 1994. E aproveita para dar uma olhada no mundo no rock alternativo, no fim da “onda grunge” e em como bandas como Nirvana e Sonic Youth foram criando uma nova onda de interesse pelo rock, a partir dos sons do submundo.

Século 21 no podcast: Mannequin Pussy e Morcegula.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Cultura Pop

No nosso podcast, o R.E.M. de “Automatic for the people” e “Monster”

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No nosso podcast, o R.E.M. de "Automatic for the people" e "Monster"

Já pensou que legal vender milhões e milhões de cópias de um disco? Tem gente que depois de alcançar números muito altos,  entra numa onda de “preciso vender mais que isso”. E tem gente que simplesmente finge que não liga – afinal, depois de conseguir tanta fama e grana, pra que se preocupar? E tem gente que pira. O R.E.M., por sua vez, depois de vender 9 milhões de cópias – que depois evoluíram para 18 milhões – de Out of time (1991), simplesmente já se enfiou num estúdio para preparar outro disco. E permaneceu sumido do universo das turnês, focando apenas em aparições na TV e shows ocasionais.

No episódio de hoje do Pop Fantasma Documento, nosso podcast, a gente dá uma olhada nos bastidores dos discos Automatic for the people (1992) e Monster (1994) e observa tudo o que estava acontecendo com uma das maiores bandas de rock do mundo, numa época em que parecia que Peter Buck, Michael Stipe, Bill Berry e Mike Mills eram ouvidos até por gente que nem tinha o hábito de ouvir música.

Século 21 no podcast: Dolly e The Parking Lots.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas!

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Crítica

Ouvimos: Pavement, “Cautionary tales: Jukebox classiques”

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Ouvimos: Pavement, "Cautionary tales: Jukebox classiques"
  • Cautionary tales: Jukebox classiques é o novo box retrospectivo do Pavement, com músicas dos lançamentos da banda em 7 polegadas, além de algumas outras coisas, como as versões alternativas das faixas Black out e Extradition, lançadas em 2006 para quem fez a pré-encomenda da nova versão do disco Wowee zowee (1995).
  • A caixa já está disponível nas plataformas – mas em formato físico, Cautionary tales sai apenas no dia 12 de julho. O pacote inclui reproduções dos singles originais de 7″ e um livreto de 24 páginas.

Blur, Cate Le Bon, Parquet Courts, Nirvana, Weezer, Super Furry Animals, The Coral e até o R.E.M. Todas essas bandas/artistas, em algum momento da carreira, foram comparadíssimas a um verdadeiro gigante do indie rock, o Pavement. Ou se deixaram deliberadamente influenciar pela banda criada pelos guitarristas e vocalistas Stephen Malkmus e Scott Kannberg. Um grupo que, vindo da Califórnia, estava mais para projetinho lo-fi e barulhento vindo de Nova York ou de algum canto ensimesmado de Seattle, embora fizesse sentido no cenário de um estado norte-americano bastante diversificado.

No caso do Nirvana, passou para a história o quanto a música do Pavement inspirou a composição de In utero (1993), último álbum do trio liderado por Kurt Cobain. Dando uma ouvida nas primeiras faixas desse Cautionary tales: Jukebox classiques, caixa (por enquanto apenas virtual) reunindo todo o material de 7 polegadas lançado pelo grupo, fica evidente que sem o ruído berrado dos dois primeiros EPs do Pavement, Slay tracks: 1933 – 1969 (1989) e Demolition plot J-7 (1990), porradas do álbum do Nirvana como Scentless apprentice não teriam sido feitas.

As onze faixas desses dois EPs (incluindo pérolas como Box elder e You’re killing me!) perfazem a primeiríssima fase da carreira do Pavement, uma banda que, por ter vindo de uma cidade pequena na Califórnia (Stockton), parecia se sentir mais à vontade para zoar tudo o que via de longe, e ainda falar do dia a dia de seus conterrâneos nas letras. O próprio grupo não parecia perceber o quanto seu som, apesar de focar no ruído, era sociável – caíram até nas graças do DJ inglês John Peel, que descobriu a banda e passou a divulgá-la.

Slanted and enchanted, álbum de estreia (1992), provocou inveja em boa parte dos grandes nomes do rock da época, Kurt Cobain incluso: era porrada musical elaborada, com uma ou outra canção com tendência a grudar no ouvido – Summer babe, incluída no box, era desse disco, e Cautionary tales resgata também lados B como Baptist blackstick e raridades como Sue me Jack, rock suingado e elegante para os padrões do grupo na época.

De Crooked rain, crooked rain (1994, o segundo disco) em diante, o Pavement ficaria mais elegante, inclusive. Traria barulhos incluídos de modo dosado, em meio a canções mais formais, influenciadas por country, power pop, Beach Boys, Neil Young. A banda juvenil dos primeiros EPs estava se tornando um The Cure bem mais indie, um Television dos anos 1990 ou quem sabe um Grateful Dead da mesma década – misterioso, cultuado e com um séquito de fãs.

Essa história é contada por intermédio de músicas que fizeram o grupo ganhar um número bem grande de fãs no Brasil, como Cut your hair e a bela e quase radiofônica Gold soundz. Ou Range life, canção que, em sua letra, espalhava brasa para Smashing Pumpkins (“eles não têm nenhuma função, e eu não entendo uma palavra do que eles dizem”) e Stone Temple Pilots (“eles não merecem nada mais do que eu”). Billy Corgan, dos Pumpkins, agarrou ódio do Pavement por causa disso – já se recusou a dividir palco com eles em festivais.

Lados B dessa época, como a vinheta instrumental Kneeling bus, com bateria desencontrada e tom dado por riffs de guitarra e solos de piano elétrico, são as boas descobertas da caixa. Daí para diante, o Pavement já fazia parte do cenário indie oscilando entre canções contemplativas e melodias que sequestravam a atenção – além de letras que os fãs, antes de tudo, gostavam de discutir. I love Perth, referência à maior cidade da Austrália Ocidental, faz os fãs australianos da banda debaterem em fóruns na internet até hoje.

A referência irônica à psicodelia californiana de Gangsters and pranksters também despertou a atenção de muita gente. Unseen power of the picket fence, feita pela banda para aparecer na coletânea No alternative (1993), é cara de pau: a música pinta um retrato bem estranho do R.E.M., a ponto de muita gente se perguntar até hoje se ninguém da banda ficou ofendido ou grilado com versos como “o cantor tinha cabelo comprido/o baterista sabia como se restringir/o cara do baixo tinha os movimentos certos/o guitarrista não era nenhum santo”, em meio a referências a discos e músicas do quarteto (“Time after time era a música que eu tinha como menos favorita”, cantam).

O slacker rock (sinônimo de rock blasé e garageiro) do Pavement foi se tornando cada vez mais palatável e de longo alcance à medida que novos álbuns surgiam: Wowee zowee (1995), o ultra-trabalhado Brighten the corners (1997) e finalmente o controverso Terror twilight (1999) – este, produzido por Nigel Godrich (Radiohead), que tentou colocar o espírito livre do Pavement numa redoma, embora a banda tenha soado fora de tempo e espaço como sempre, em Spit on a stranger e Carrot rope, além do B side Harness your hopes, tudo isso presente em Cautionary tales. Uma história bem legal de ouvir, e de contar.

Nota: 10
Gravadora: Matador.

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