Lançamentos
Schlop: lo-fi do eu sozinha, em álbum gravado no celular

“Faça você mesma/mesmo” é pouco para a paulistana Isabella Pontes. A cantora e compositora, criadora do projeto solo Schlop, acaba de lançar o álbum Canções de amor para o fim do mundo, gravado e produzido enquanto as ideias iam surgindo, com a ajuda de um aplicativo de gravação de música do celular. No disco, musicalmente próximo do rock lo-fi, ela compôs, tocou de tudo e até assobiou (imitando um barulho de trem na desencantada Trilho do trem, que abre o álbum, trazendo Isabela acompanhando a si própria na guitarra).
Algumas faixas, como Canção do fim do mundo, trazem baixo, guitarra e ruídos do ambiente (além do próprio eco do local). “Eu passei a tocar todos os instrumentos porque eu sou muito ansiosa e a partir do momento que começo a compor, eu não consigo ficar quieta até finalizar a música. Se eu pego para ajustar alguma coisa dias depois, parece que eu já perdi o espírito do que eu queria criar e não sai algo tão legal quanto se tivesse feito na hora”, diz Isabela.
Funny blades, outra música do Schlop, foi inspirada no vídeo de Britney Spears dançando com facas (“escrevi sobre esse sentimento de ser cortado de fora quando você percebe que uma pessoa precisa de ajuda, mas ela não consegue ainda pedir por um apoio”, diz). O álbum ainda traz a cantora soltando a voz em francês (em Cheveus blancs et noirs), e achados em títulos e letras como B-sides of musicians who committed suicide (lembrando Velvet Underground e Jesus & Mary Chain) e Quando vão parar de construir São Paulo?.
“Eu tenho aprendido bastante a usar guitarra, que tocava muito pouco ou quase nada, e mexer com pedais e efeitos, slides e outras coisas assim, e consegui explorar outros instrumentos que não sabia tocar, como a gaita”, conta ela, influenciada por Daniel Johnston, Guided by Voices, Silver Jews, Yo La Tengo e Cat Power. E começou a compor e a tocar vários instrumentos quando fez parte da banda Cabezza. “São pessoas extremamente musicais que escreveram músicas lindas. Acho que aquilo despertou uma vontade de poder colocar meus sentimentos para fora em músicas também”, conta (Foto: Alexandre Bazzan/Divulgação).
Crítica
Ouvimos: Arcade Fire, “Pink elephant”

O Arcade Fire sempre trafegou entre a empatia e a chatice pura e simples – uma zona nebulosa, na qual até Sting já patinou. Ao vivo, no entanto, a banda canadense é um dínamo, e sua discografia guarda obras poderosas, especialmente o trio inicial de álbuns, da estreia Funeral (2004) a The suburbs (2010). Mas o equilíbrio parece ter desandado com Pink elephant, primeiro trabalho após o chatinho We (2022) e as denúncias de má conduta sexual envolvendo o vocalista Win Butler.
Talvez como uma forma de responder a tudo que a banda viveu nos últimos tempos, Pink elephant, que é o sétimo álbum do Arcade Fire, vem com um ar estranho de natureza morta, como se deixasse no ar bem mais do que o que foi dito (e vale dizer que Butler não tem sequer dado entrevistas). Um clima de positividade tóxica invade a letra de Year of the snake, uma canção sobre mudanças forçadas, rupturas e coisas fora do controle. As duas vinhetas instrumentais do disco, com sonoridade perto do que se chamava antigamente de new age music (Beyond salvation e Open your heart or die trying) têm o mesmo clima – e causam o mesmo estranhamento.
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Mas isso não é nada perto do desespero de Circle of trust (“eu roubaria, eu mataria / eu mentiria por seu amor”). E é bem pouco perto de Alien nation, que consegue unir ódio e vibe gratiluz nos mesmos versos: “devolvo a meus inimigos toda a dor que eles gostariam ou poderiam ter, porque / eu devolvo esse mal a eles com amor, em nome da legião estrangeira”. Está tudo ali — torto, desajeitado, mas presente — como se Win Butler, mesmo negando as acusações, tentasse digerir publicamente o próprio cancelamento e as consequências pessoais que vieram com ele.
O Arcade Fire — e o casamento de Butler com Régine Chassagne, sua parceira na banda — sobreviveu a essa fase, mas não sem sequelas. Pink elephant parece um álbum feito a portas fechadas, praticamente um trabalho do casal, com participação crucial do co-produtor Daniel Lanois (cuja assinatura sonora é perceptível nas dez faixas). O resultado é um disco soturno, contido, sem explosão. Há uma dor evidente ali, mas é quase como se Butler quisesse que o ouvinte compartilhasse da penitência.
Entre as faixas bem resolvidas, tem o quase-shoegaze de Pink elephant e a música eletrônica de roqueiro de Alien nation, que lembra o single Witch, do The Cult, além do rock britânico do começo dos anos 1990. Stuck in my head, de sete minutos, é a única faixa exuberante no disco, com início lembrando New Order e Public Image Ltd e melodia crescente. O restante do disco é formado por músicas sombrias, que prometem algo, mas que no fim entregam pouca variedade e uma vibe que não avança, como no folk contemplativo Ride or die (que parece gravado no fundo de uma caverna), no synth pop texturizado e mal-humorado de Circle of trust e no tecnopop gélido e repetitivo de I love her shadow.
Havia uma expectativa — ainda que vaga — de que o Arcade Fire reencontrasse o frescor dos primeiros anos. Mas Pink elephant soa mais como uma sessão de terapia em forma de álbum do que como um abraço aos fãs de longa data.
Nota: 5,5
Gravadora: Columbia
Lançamento: 9 de maio de 2025.
Crítica
Ouvimos: Tennis, “Face down in the garden”

O Tennis é uma dupla bem fora dos padrões, em todos os sentidos. Alaina Moore e Patrick Riley, que são casados, parecem fisicamente terem saído de algum filme romântico dos anos 1970 – ou da capa de algum volume daquelas séries de livrinhos românticos, Júlia, Sabrina, Bianca, que vendiam a rodo nas bancas de jornal nos anos 1970 e 1980. O clima A lagoa azul dos dois está garantido pelo fato do Tennis ser formado por um casal de velejadores – Cape Dory (2011), o primeiro álbum, surgiu de uma vivência de oito meses no mar, velejando e compondo.
A música dos dois é ousada, um indie-pop quase espacial, nebuloso, que lembra às vezes o curto namoro dos Carpenters com temas interplanetários – com direito a umas modernidades típicas de quem produz pop de olho nos sons da música eletrônica e do hip hop. Dessa vez, o novo disco dos dois, Face down in the garden, vem com um condimento mais louco ainda para os fãs do Tennis: a dupla anuncia que se trata de seu último disco, e que estão abertos para “novos projetos”.
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O fim, segundo um comunicado do grupo, vem por causa dos estresses de sua turnê anterior – teve de tudo: pneus furados, um assalto em alto mar, uma doença crônica desenvolvida por Alaina, prejuízo financeiro. As demos do disco novo, para manter o hábito, foram gravadas em meio a um mês de aventuras marítimas – mas os problemas adiaram bastante todo o projeto.
Pelo menos no clima do repertório, as crises não interferiram – e o Tennis, mesmo não apresentando novidades, continua uma banda celestial, quase dream pop. Principalmente quando investe num trip hop bossanovista (At the apartment), num som que lembra uma Sade intergaláctica e cavernosa (Weight of desire) e uma baladinha que lembra de leve o hit You make me feel mighty real, de Sylvester (a doce At the wedding). Tem algo de boogie oitentista em I can only describe you, e um clima meditativo (e dispensável, vá lá) na curta In love (Release the doves).
Resta saber se a separação dos dois é só musical ou se é também conjugal: a balada celestial 12 blown tires fala sobre os tais pneus furados e insere uns versos bem amargos na história (“dando desculpas, olhando para trás”, “você é rápido mas o tempo passa mais rápido / o amor é como um desastre natural”, “vejo nossos destinos colidindo”). O que vem por aí pode ser uma banda nova com os dois, projetos separados, colaborações com outros artistas, e sei lá o que mais. Se for mesmo o fim, que seja com o som das ondas, dos sintetizadores e dos corações partidos.
Nota: 8
Gravadora: Mutually Detrimental
Lançamento: 25 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Himalayas, “Bad star”

Num papo com a revista Kerrang!, o vocalista da banda galesa Himalayas, Joe Williams, disse que se preocupa bastante com o fato de que, hoje em dia no rock, “as pessoas evitem ousar”. Vá lá que, ouvido do começo ao fim, o som dos Himalayas não é exatamente ousado – pelo menos no que eu considero como ousadia, que pode não ser o seu padrão, queridx leitxr, etc.
A maior qualidade dos Himalayas é achar uma saída em 2025 para o rock de arena herdado do punk e do power pop – uma receita que já foi levada adiante com classe pelos Foo Fighters durante vários anos. Joe (voz, guitarra), Mike Griffiths (guitarra solo, backing vocals), Louis Heaps (baixo) e James Goulbourn (bateria) trabalham na busca do acorde poderoso, do riff bacana e do refrão que pega, e fazem aquele tipo de rock que pode bombar na FM mais próxima a qualquer momento.
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Daí, Bad star, o segundo álbum, está mais próximo do rock clássico “chique”, de bandas como Royal Blood. Boa parte do repertório é dedicada a um hard rock de grife, como numa mescla de heavy metal, Duran Duran e Depeche Mode (se é que isso é possível). Quase sempre dá certo: Beneath the barrel tem vocal com clima glam e recordações dos anos 1980; Cave paintings soa como um Led Zeppelin new wave (mais uma vez: se é que isso é possível); Heavy weather é uma balada metal rock com vibe britpop, vai por aí.
Um lado que (aí sim) soa bem diferenciado no Himalayas é que eles parecem ter certa obsessão pela fase Notorious/Big thing do Duran Duran, e por inserir alguns quilos de peso na leitura que fazem desse período. Só assim dá para entender músicas como A brand new god, Twisted reflections e o pós-grunge tecno de Nothing higher. Por esse lado, vale bastante conhecer o Himalayas.
Nota: 7,5
Gravadora: Nettwerk Music Group
Lançamento: 25 de abril de 2025
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