Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre Pleased To Meet Me, dos Replacements

Pleased to meet me (1987) era o quinto disco dos Replacements, banda formada em Minneapolis (EUA) em 1979. Era também o segundo LP por uma gravadora grande, a Sire (que contrataria Lou Reed feliz da vida logo depois). Para o grupo, representou o primeiro movimento de uma fase bem problemática. Afundada nas drogas, a banda havia demitido o guitarrista e fundador Bob Stinson (ironicamente porque o músico perdia a linha no abuso de substâncias), tinha a obrigação de entregar à gravadora um disco que funcionasse no mercado e, mesmo contratada por uma major, brigava com a possibilidade de vender discos e estar nas paradas.
Paul Westerberg (voz, guitarra), Tommy Stinson (baixo, irmão de Bob e também co-fundador) e Chris Mars (bateria) estavam inspirados durante as gravações – em especial Westerberg, autor único de sete das onze canções do disco. A receita punk dos álbuns anteriores era substituída por canções grandiloquentes e existenciais (The ledge, sobre suicídio, com ar de U2 e Simple Minds), temas próximos do jazz e do rock estilo Roy Orbison (Can’t hardly wait, Nightclub jitters) e baladas simples de violão (Skyway), além de power pop festeiro e emotivo (o hit Alex Chilton e I don’t know) e de punk pop que influenciaria com folga o Green Day e o Nirvana (I.O.U.).
O resultado não levou a banda a vender milhões de cópias nem representou o sucesso que a Warner (que controlava a Sire) queria, mas rende fãs para a banda até hoje. E em especial, rende histórias: de brigas no estúdio, excesso de drogas, hesitações, momentos em que a banda sabotou a si própria, etc. E gera também lançamentos. Dia 9 de outubro chega às lojas uma versão box set de Pleased to meet me, com mais 29 músicas inéditas (incluindo demos, rough mixes e alguns outtakes). O disco original vem remasterizado e com lados-B.
E vai aí nosso humilde relatório sobre Pleased to meet me. Leia ouvindo o disco.
DE QUATRO. Pleased to meet me foi o primeiro e único disco que os Replacements gravaram como trio. Mas ao saírem do estúdio, já eram um quarteto de novo: convidaram Bob “Slim” Dunlap para tocar guitarra nos shows de lançamento. Bob, quase dez anos mais velho que os outros integrantes (e mais influenciado pelos riffs de Keith Richards), durou na banda até o fim e gravou depois dois discos solo, ainda nos anos 1990.
ERA BRABO. Lidar com os Replacements não era das coisas mais tranquilas do mundo. A começar porque a banda tinha certa rejeição a fazer muito sucesso e a que mexessem no seu som. Até Tim (1986), primeiro disco pela Sire, testemunhas afirmam que a banda mal sabia para que servia um produtor, e recusava todos os nomões (de Scott Litt, produtor do R.E.M. a Sandy Pearlman, do Clash e do Blue Öyster Cult) que a gravadora oferecia. Isso quando não recebia os candidatos com frases encorajadoras como “você só produziu discos de merda”.
EXPERIENTE. No caso de Pleased to meet me, a banda encontrou mais segurança (e parou de aporrinhar o saco por conta disso) no trabalho de Jim Dickinson, que produziu vários artistas do soul e também cuidou das gravações de Third (1974), terceiro disco do Big Star, banda adorada pelos Replacements, e liderada pelo homenageado do álbum, Alex Chilton. O fato de ter produzido o grupo de power pop serviu como credenciais para o grupo. A experiência de Dickinson com a turma do soul liberou Westerberg e seus amigos para incluir metais e algumas cordas em momentos estratégicos do disco.
GENTE MALUCA. Jim conquistou a banda pelo currículo e pelas histórias que contava, mas passou poucas e boas com a arrogância dos Replacements – de Paul em particular. Costumava evitar conflitos e saía do estúdio quando o bicho pegava. Filho de um alcoólatra, não demorou a perceber o que realmente estava acontecendo ali. “O problema é que não dá para fazer um disco punk sem punks. Acabei deixando eles fazerem o que queriam”, disse.
LOCAL CLÁSSICO. Pleased to meet me foi gravado no Ardent Studios, em Memphis – não por acaso, o mesmo estúdio do qual saíram os discos do Big Star. Jim começou a trabalhar lá em 1966 e adorava as salas e as máquinas, que eram da mais alta tecnologia por aqueles tempos, mas ainda dividiam espaço com gravadores Ampex de oito canais.
SAI FORA! Já Joe Hardy, técnico de som do estúdio, era responsável por três serviços importantes para a elaboração do LP: gravar, mixar e dar esporros trágicos no arrogante Paul Westerberg quando o músico dava uma de moleque mimado. Nesses momentos, Hardy lançava mão de frases edificantes como “quantas porras de discos você já gravou na vida? Já gravei uns mil discos, e você?”.
CHILTON. Criador do Big Star, Alex Chilton já conhecia os Replacements de outros carnavais. Em 1985, o grupo deu um malfadado show no campus da Universidade de Houston em que Westerberg estava bêbado demais para conseguir cantar. A banda foi vaiada e o vocalista chegou a distribuir notas de dinheiro para o público. Chilton era um dos convidados da apresentação. Um ano antes, Westerberg encontrou Chilton no camarim do CBGB’s e, sem saber o que falar para quebrar o gelo, soltou a frase: “Eu amo aquela sua canção, qual o nome mesmo?”.
CHILTON 2. A frase veio na cabeça do compositor quando começou a pensar numa canção para homenagear Alex, e acabou incluída no refrão. Mars e Stinson pressionaram Paul para fechar a canção, e ganharam parceria. A ideia era que Chilton tocasse guitarra na faixa, mas ele acabou tocando em Can’t hardly wait.
ALIÁS E A PROPÓSITO, os Replacements nunca tocaram a canção para ele durante a gravação do disco, com medo de que o amigo interpretasse mal a letra. Chilton só ouviu a canção em sua homenagem quando Pleased to meet me já estava nas lojas e ele abriu shows do grupo.
E AÍ, CURTIU? Fica a pergunta: Alex Chilton gostou da música que leva seu nome? Bom, parece que sim. “Não consegui entender a letra, nem quando ouvi no show, nem quando ouvi o disco. Mas é uma boa canção, me senti um fora da lei quando li a letra, algo como John Wesley Harding”, contou.
BIG STAR NA (ER) MODA. O grupo de power pop dos anos 1970, que teve discos lançados e ignorados no comecinho da década, começava a ser bastante falado naquele período. As Bangles haviam gravado September gurls no disco Different light (1985), que vendeu bastante. Volta e meia algum artista famoso falava do grupo. Alex Chilton continuava gravando solo e fazendo turnês ocasionais. Em 1986, gravou o EP No sex, cuja faixa-título falava de maneira tragicômica sobre a paranoia da aids, com versos como “venha, baby, me foda e morra” e “nada de sexo, nunca mais” (você já leu sobre isso no POP FANTASMA).
GAROTO DA CAPA. O conceito da capa de Pleased foi mostrar o encontro do lado classe-operária do grupo com uma certa faceta “bem sucedida”, de artistas contratados por uma major. O próprio Westerberg aparece na capa, com uma roupa social puída (à direita).
NASCEU! Pleased saiu em 27 de abril de 1987 e chegou ao 131º posto da Billboard. Biógrafos dão conta de que vendeu 300 mil cópias. Saiu no Brasil em LP e K7. A banda encarou vários shows e uma série de entrevistas em rádio e TV para divulgá-lo.
BEBAÇOS NA RÁDIO. Quem lidava com os Replacements já sabia: entrevistas ao vivo em rádio com a banda poderiam representar muito sucesso ou muito fracasso, não havia meio-termo. A banda foi divulgar Pleased no New American Rock, programa de grande audiência da rádio de Los Angeles KROQ FM, uma das forças-motrizes por trás do sucesso de bandas como Duran Duran e Depeche Mode na Costa Oeste americana. Tommy e Paul passaram o dia da maldita entrevista enchendo a cara com dois jornalistas da revista Creem, Bill Holdship e John Kordosh. Doidões, acabaram levando os dois amigos de copo para o estúdio, o que já não foi uma ideia das melhores.
BEBAÇOS NA RÁDIO E FAZENDO MERDA. A entrevista dos Replacements para a KROQ acabou virando um circo dos horrores, com Paul, Tommy e Chris trocando as pernas e agindo como descerebrados. Passaram a maior parte do tempo sacaneando o forte sotaque escandinavo do apresentador, Egil Aalvik. Westerberg disse no ar que “fazia canções porque queria fazer Tommy e Chris ficarem mal… não, é porque eu sou gay” e respondeu com um “o prazer é todo seu” ao agradecimento do DJ pela visita. Os ouvintes aproveitavam o clima de pastelão para fazer do programa um A praça é nossa do demo, telefonando à emissora para falar frases como “eu quero xoxota” no ar.
BOCA SUJA. O clima de bizarrice vazou para outra aparição da banda no rádio, na emissora WBRU, de Rhode Island. Fã da banda havia tempos, o apresentador Kurt Hirsch incomodou-se com o fato de Westerberg parecer estar ali só de corpo presente, sem fazer contato visual. O compositor sugeriu que os ouvintes que quisessem ganhar convites para um show da banda deveriam participar de um campeonato de sexo por telefone ao vivo. A entrevista do grupo acabou cortada no ar, por causa do excesso de palavrões.
QUANTO PALAVRÃO! Já num bate-papo com a WXRT, de Chicago, a birita rolou no estúdio. O apresentador Johnny Mars quis ser agradável e presenteou os rapazes com uma caixa de Heineken – não precisava, os Replacements já tinham levado seu arsenal de champanhe para a emissora. Westerberg bateu o olho na coleção de LPs de blues da emissora e, ao ouvir do DJ que poderia escolher uma música, não teve dúvidas: pediu Little village, clássico casca-grossa do bluesman Sonny Boy Williamson, cuja letra repete várias vezes a expressão “filho da puta”. Por sinal, a canção era tão banida da rádio que o LP tinha anotado na capa: “Proibida a execução”. Tanto tentou que conseguiu, mas a emissora não esqueceu a afronta (e epa, alguém gravou a entrevista do grupo e subiu no YouTube).
AUTOSSABOTAGEM. Uma reportagem do Village Voice na época de Pleased mostrava Paul sincerão, admitindo que o problema ali era que a banda tinha realizado o sonho de todos os grupos da época e estava numa gravadora grande. “A gravadora quer que sejamos big stars e não estamos confortáveis com isso. Não queremos dar tudo a eles. Quando faz isso, não sobra nada para você”, afirmou.
A NOVELA DO CLIPE. A MTV tinha lá suas expectativas em relação a Pleased to meet me, até porque o disco havia sido tocado para alguns executivos. A emissora achou que a imponente The ledge, terceiro single do LP, tinha jeitão de música de rádio, e sugeriu a produção de um clipe, que a banda fez de extrema má vontade. Recusaram-se a atuar ou dublar, e apareceram na tela, literalmente, fazendo nada: ficavam fumando, comendo, conversando ou olhando para o vazio com cara de leseira (Paul, em especial).
A NOVELA DO CLIPE (2). O vídeo de The ledge foi enviado à MTV – que seguia uma política mais ou menos rigorosa de não deixar aparecer imagens ofensivas. Não havia imagens complexas no clipe, mas ao assisti-lo, a emissora ficou assustada com a possibilidade (não percebida até então) de colocar no ar uma canção sobre suicídio. O resultado foi que The ledge acabou sendo um dos raros clipes inteiramente vetados pela emissora, numa época em que os caciques da empresa tinham o maior trabalho com o conteúdo lascivo de clipes de bandas como Mötley Crue. Mas ele está no YouTube.
MAIS NOVELA DO CLIPE E MAIS ENCRENCA NO RÁDIO. O sinal fechado da MTV enterrou a disposição da Warner de seguir com a divulgação do single The ledge, porque as rádios souberam da proibição e não quiseram tocar a música. A gravadora substituiu a canção por Alex Chilton e não se falou mais do assunto. E para divulgar o novo single na emissora de TV? Muito simples: a banda aproveitou as mesmas imagens entediantes de The ledge para fazer o clipe de Alex Chilton. Nenhum dos clipes marcou época. E representaram mais desgaste no relacionamento com a Warner. Recentemente, a banda reaproveitou as imagens para um clipe novo do outro single do disco, Can’t hardly wait.
ENFIM. O êxito de uma certa banda ensinou muito aos Replacements sobre como eles estavam agindo de maneira equivocada. O R.E.M. tinha conseguido bastante sucesso com o disco Document, de 1987, produzido por um cara que quase pegou Pleased to meet me para criar, mas foi rejeitado: Scott Litt, um ex-técnico do estúdio Power Station que tinha fama de levar nomes alternativos ao mainstream, e que definitivamente faria com que Michael Stipe e cia virassem uma das maiores bandas do mundo.
ENFIM 2. Comparando Replacements e R.E.M., olhando da figura A para a figura B, já se sabia quem iria realmente alcançar o sucesso. O R.E.M. era uma banda preparada para isso desde os tempos das rádios universitárias, e tinha um público enorme. E, enfim, o quarteto de The one I love, em especial, não tinha os péssimos hábitos dos Replacements, como o de sabotar as próprias entrevistas em rádio ou o de tratar por cima dos ombros pessoas-chave do mercado fonográfico.
DETALHES TÃO PEQUENOS. Litt, que pessoalmente gostava dos Replacements e encarava a banda como rivais do R.E.M. (“no sentido que os Rolling Stones eram rivais dos Beatles”, como falava), resumiu com uma observação lapidar a pouca disposição da banda de Minneapolis para estourar sucessos. “Se Alex Chilton se chamasse Buddy Holly, seria um hit do Weezer”, contou. “Uma coisa bem pequena, mas que pode representar a diferença entre vender 300 mil discos e vender um milhão”.
DEPRÊ. Pleased to meet you fez Westerberg sofrer bastante. O cantor e compositor dos Replacements encerrou a turnê do disco no fim de 1987, afundado em drogas e arrasado emocionalmente. Passou o ano de 1988 trancado em casa, sem ver ninguém, gravando demos – algumas das músicas novas seriam aproveitadas nos dois últimos discos da banda, Don’t tell a soul (1989) e All shook up (1990).
QUASE SOLO. All shook up começou como disco solo de Westerberg, mas virou um álbum da banda a pedido do empresário. Neste último disco, finalmente, Paul aceitava Scott Litt como produtor, mas as coisas estavam já no final. Os Replacements durariam em turnê até 1991, e conseguiriam até mesmo tocar no Madison Square Garden, abrindo para Elvis Costello, então em ótima fase de público e crítica.
POR ONDE ANDARAM. Westerberg iniciou uma ótima carreira solo depois de All shook up, iniciando com o essencial 14 songs, de 1993. Bob Stinson, infelizmente, morreu em 1995 após vários anos de abusos com drogas e bebida. O irmão Tommy teve um destino bem maluco: após vagar por várias bandas de curta duração, virou baixista do Guns N Roses (!) de 1998 a 2016. Stinson é co-autor de várias faixas de Chinese democracy (2008), o sexto disco que o Guns demorou dez anos gravando, e toca baixo em quase todo o disco, além de ter feito os arranjos de Riad n’ the bedouins.
O RETORNO. Os Replacements nunca foram esquecidos por quem realmente interessa: os fãs. De 2012 a 2015 foram várias “voltas” do grupo, além de turnês relembrando sucessos e acrescentando uma ou outra coisa nova – nessa época, os Replacements eram formados por Paul, Tommy, Dave Minehan (guitarra) e Josh Freese (bateria). Em 2012, saiu Color me obsessed, documentário sobre a banda, dirigido por Gorman Bechard, que conta a história dos Replacements por intermédio de seus grandes fãs.
NEM TANTO. Mesmo com o sucesso da turnê, Westerberg e Stinson, que inicialmente disseram que poderia sair até um disco novo e que faixas novas estavam sendo gravadas, preferiram deixar as coisas como estavam. O compositor dos Replacements até montou uma outra banda chamada The I Don’t Cares, ao lado de Julianna Hatfield, que lançou um disco em 2016, Wild stab.
Já que você chegou até aqui, pega aí o traler de Mal posso esperar, comédia típica da Sessão da tarde dirigida por Deborah Kaplan e Harry Elfont e lançada em 1998, com nomes como Ethan Embry e Jennifer Love Hewitt no elenco. O título do filme foi inspirado em Can’t hardly wait, sucesso dos Replacements. E a música aparecia no rolar de créditos no final.
Pesquisamos em vários sites, como o Houston Press. E no livro Trouble boys: The true story of the Replacements, de Bob Mehr.
Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, e a London calling (Clash). E a Fun house (Stooges). E a New York (Lou Reed). E aos primeiros shows de David Bowie no Brasil. E a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Replacements no POP FANTASMA aqui.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.
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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.
Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.
E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.
Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.
De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.
Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.
O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.
O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.
Já Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.
Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.
Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025
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