Cultura Pop
Várias coisas que você já sabia sobre a primeira vez de David Bowie no Brasil

Em 1990, no Brasil, tinha muita coisa esquisita. Entre elas: inflação, um novo e polêmico presidente (Fernando Collor) que criou um plano econômico que ninguém entendia, falta de grana e apatia geral – nada muito diferente de 2020. Mas tinha também David Bowie.
Pela primeira vez, a bordo da turnê Sound + vision – que repassava sucessos antigos – o cantor vinha à América Latina, e faria quatro shows no Brasil. O primeiro deles na Praça da Apoteose (Rio), no dia 20 de setembro, mais dois no Allianz Parque (SP, por aqueles tempos conhecido como Palestra Itália) nos dias 22 e 23. E encerrando com uma apresentação para poucos e endinheirados fãs no Olympia, em São Paulo, com ingressos estupidamente caros (uma média de dez mil cruzeiros, que em dinheiro da época, dava uns bons 120 dólares, contra os 25 dólares dos shows norte-americanos).
Marcado pela inauguração da MTV Brasil, o ano de 1990 não foi nada pobre para os brasileiros em termos de apresentações internacionais. Eric Clapton veio para uma pequena turnê. Bandas como Yes e Jethro Tull também tocaram aqui. Os Stray Cats tocaram em São Paulo. Paul McCartney se tornou o primeiro ex-beatle tocar no país. Chegou a anunciar que apareceria de surpresa na casa de uma família qualquer para almoçar. Entrevistada sobre o assunto para O Globo, Dona Zica, viúva de Cartola, avisou que prepararia um vatapá para a visita ilustre se fosse a escolhida, mas não sabia quem era Paul.
A capital paulista recebeu um festival de blues no qual tocaram nomes como Koko Taylor, Bo Diddley e Magic Slim (que deu entrevista até para a Hebe Camargo). Teve mais: logo no começo do ano, o Hollywood Rock trouxe ninguém menos que Bob Dylan, além de Tears For Fears, Marillion, Bon Jovi, Eurythmics e o então popstar Terence Trent D’arby.
Não custa lembrar que a vinda de Bowie não parecia nada fora de contexto. Isso porque muita gente vinha sendo apresentada à sua música todos os dias no rádio por causa de O astronauta de mármore, versão do hit Starman feita pela banda gaúcha Nenhum de Nós. Apesar da conexão ótima entre artistas gringos e o circuito de shows brasileiro (mesmo em tempos de crise), Bowie, que vinha fazendo turnês bastante criticadas fora do Brasil, chegou aqui sob o fantasma do velho ditado “se veio ao Brasil, é porque está decadente”. Respondeu até perguntas sobre isso nas entrevistas que deu aos jornais brasileiros (“é triste que pensem isso de seu próprio país”, lamentou ao Estadão em 18 de setembro, um dia antes de desembarcar no Aeroporto do Galeão, no Rio).
E em homenagem aos trinta anos da primeira vez de David Bowie no Brasil, pega aí nosso relatório sobre o assunto.
TAVA INDO BEM. Assim como aconteceu com os colegas Lou Reed, Mick Jagger e Iggy Pop, David Bowie tinha se reinventado nos anos 1980. Let’s dance (1983) vendeu uma imagem mais moderna e new-wavizada do cantor e emplacou hits como a faixa-título e Modern love. A turnê Serious moonlight (1983) havia sido a mais bem sucedida de Bowie até então, com hordas de fãs comparecendo às apresentações.
NO CINEMA TAVA MAIS OU MENOS. Labirinto (1986), incursão do cantor no universo dos filmes de fantasia, teve direção do criador dos Muppets Jim Henson e produção executiva de George Lucas, emplacou um rosto perfeito e mais ou menos novo nas telonas (Jennifer Connely, uma ex-modelo infantil que antes fizera dois filmes mal sucedidos). E, mais que isso, apresentou Bowie para a criançada no papel do vilão Jareth. Foi bom para a imagem do camaleão, ainda que nem tenha sido um grande campeão de bilheteria (arrecadou pouco mais que a metade dos 25 milhões de dólares investidos).
SÓ QUE… A verdade é que as coisas estavam um pouco mais complicadas do que pareciam. O tal “rejuvenescimento artístico” era uma tarefa dura para Bowie, que gravou dois discos subsequentes, Tonight (1984) e Never let me down (1986) que crítica e público consideraram decepcionantes. Em 1988, inspirado por uma salada de art rock, hard rock e indie punk a la Pixies, Bowie montou o Tin Machine com o guitarrista Reeves Gabrels e a seção rítmica do disco Lust for life, de Iggy Pop (1977), os irmãos Tony (baixo) e Hunt Sales (bateria). O grupo gravou dois discos, não emplacou hits e teve muita gente boa achando que Bowie pagava o maior mico se aproveitando da recente onda de rock pesado de FM (Guns N Roses, etc).
ENCAIXOTANDO BOWIE. “Uma caixa de três CDs revisa a fase de ouro de David Bowie”, anunciava Carlos Albuquerque no Rio Fanzine, do Globo, em 3 de dezembro de 1989. Sound + vision, a caixa, era lançamento de Natal da recém-criada gravadora Rykodisc, introduzia Bowie no rol de artistas que revisavam sua obra com box sets (como Eric Clapton e Bruce Springsteen) e se utilizava do mais recente sonho de consumo da yupparada (o CD), acrescentando ao pacote também um hoje obsoleto CD-vídeo com gravações ao vivo de 1972. Vendeu horrores e foi o pontapé para o relançamento de toda a obra de Bowie na RCA e na Philips pela Rykodisc, em vinis com novo tratamento gráfico e CDs com faixas-bônus.
PRA MIM CHEGA. Bowie adorava um drama: em 1972, anunciou em pleno palco que o encerramento da turnê do disco The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars era “também o último que farei”, e pegou até seus músicos de surpresa. O lançamento da Ryko foi o pretexto para Bowie dar um tempo na turnê do Tin Machine e anunciar, em uma coletiva de imprensa em fevereiro de 1990, que faria uma turnê da caixa, tocando seus grandes hits dos anos 1970 “pela última vez”. “É hora de colocar cerca de 30 ou 40 músicas para dormir”, avisou, dizendo que fecharia um ciclo e entraria em nova fase. Caiu quem quis.
QUE TAL MAIS UM DISQUINHO? Além dos discos relançados, a nova tour também tinha mais uns produtinhos. A EMI lançava a coletânea Changesbowie, com faixas pinçadas de todo o catálogo do cantor, e o single Fame ’90, remix feito pelo DJ Jon Gass de Fame, parceria entre Bowie e John Lennon (e Carlos Alomar) lançada no disco Young americans, de 1975. Não conseguiu achar o compactinho? Sem problemas: a faixa foi incluída tanto na coletânea quanto na trilha da comédia romântica Uma linda mulher, com Julia Roberts.
LIGUE DJÁ. Correndo atrás dos fãs antigos (vários deles sentiam-se mais por fora do que umbigo de vedete por causa da fase Let’s dance do cantor, e de projetos como o Tin Machine), Bowie teve uma ideia: criou uma linha telefônica (1-900-2-BOWIE-90) para os admiradores ligarem e escolherem músicas para o set list. O dinheiro arrecadado com as ligações iria para instituições de caridade. Músicas como a recente Let’s dance e a antiga Changes foram lembradas nos EUA. Os fãs da Europa preferiram Fame e Heroes.
FANTASMA DO PASSADO. O semanário New Musical Express fez uma campanha sacana para David Bowie incluir uma de suas primeiras músicas, The laughing gnome, no set list. Era só zoação, já que Bowie sempre detestou essa música. Só que o cantor chegou a achar que a campanha fosse de verdade e quase pôs a canção no repertório.
SOM E VISÃO. No comecinho de 1990, Bowie começou a ensaiar com uma banda que incluía o baixista Erdal Kizilkay, o guitarrista Adrian Belew (com quem ele já tocara há anos), o baterista Michael Hodges e o tecladista Rick Fox. Édouard Lock, fundador do grupo de dança canadense La La La Human Steps, foi chamado para fazer a direção artística, e criou um sistema de projeções a partir de um telão transparente de doze por vinte metros que permitia que Bowie contracenasse com sua própria imagem.
QUE NEM ANTIGAMENTE. Para abalar os coraçõezinhos dos fãs da antiga, os shows da turnê começavam e terminavam da mesma forma que os da tour Ziggy Stardust. Abertura com a versão sintetizada da Nona Sinfonia de Beethoven, término com Rock n’ roll suicide.
CHEGOU! No dia 19 de setembro de 1990, às 5h55 da manhã, não tinha mais jeito: Bowie estava no Brasil, sob os auspícios da Poladian Produções. O cantor chegou com uma comitiva de 80 pessoas, foi recepcionado por poucos fãs (um deles o gaúcho Jefferson Guedes, com o rosto pintado como na capa do disco Aladdin Sane) e, numa coletiva no Hotel Rio Palace, contou que não tinha dormido direito, por causa de um voo turbulento que pegou entre Zurique (Suíça) e Rio.
COLETIVA. Quem estava lá, recorda que ele respondeu com bom humor até perguntas meio capciosas, como os questionamentos sobre as supostas saudações nazistas que fez em 1976 (“Tudo o que eu não sabia na época era que cocaína fazia mal”, disse). À tarde, durante mais uma sessão de papo, perguntou aos jornalistas se os Titãs, que abririam seu show, eram “um exemplo típico” do rock brasileiro.
TEM QUE DAR CERTO. Uma pergunta vinha à cabeça de todos os fãs naquele momento: Bowie, cantando antigos hits, teria condição de lotar estádios, como acontecera com Sting e Tina Turner anos antes? Seja como for, a produção se armou. O show do Rio seria gravado para exibição pela Rede Globo. Duas emissoras de rádio (uma de SP, uma do Rio) inventaram um “fone Bowie” idêntico ao que foi feito fora do país, para os fãs escolherem músicas (pediram hits recentes como Absolute beginners e outros). Só esqueceram de avisar aos ouvintes que o repertório já estava fechado havia meses.
O RIO NÃO MERECEU. O show de Bowie na Apoteose foi prejudicado por duas coisas: som ruim e público apático. Os Titãs, na abertura, estavam inaudíveis. Se alguém imaginou que as coisas melhorariam quando a atração principal subisse no palco, pode esquecer. O som continuou cagado, e a turba que estava acostumada apenas com os novos hits do cantor passava a maior parte do tempo dispersa. Bowie fez o que pôde: cantou, dançou, tentou interagir com a plateia e até pediu o boné rosa de uma fã, com o qual cantou Changes, Modern love, The Jean Genie e Gloria (Van Morrison).
ALIÁS E A PROPÓSITO. Starman foi aberta com um “acho que vocês conhecem essa em português”. Naquele mesmo ano, num papo com a Bizz, o Nenhum de Nós cravou: “Quando o Bowie vier ao Brasil, ele vai ser obrigado a tocar Starman“.
MAS E O TELÃO? Lembra do tal telão enooorme que ajudava David Bowie a contracenar com ele mesmo? Não teve no Brasil. Rolaram várias histórias a respeito desse telão: que tinha dado algum bug, que havia acontecido um acidente com ele no transporte, que a tela havia se rasgado. A verdade é que a tela custava US$ 25 mil dólares de aluguel por dia e ninguém estava rasgando dinheiro. A parte “vision” do show ficou por conta de duas telas bem menores, com as quais Bowie “interagia” (muito entre aspas) em alguns momentos.
EM SÃO PAULO. Todo mundo que foi a todas as apresentações conta que Bowie foi se soltando à medida que os shows foram se sucedendo. Em SP, no Palestra Itália, o público correspondeu mais e o cantor se soltou. O primeiro show, do dia 22, foi um pouco menor que o do Rio (18 canções, uma a menos) porque, ao que consta, Bowie tomou um choque do microfone. O do dia 23 teve até o cantor voltando aos tempos de mímico e fingindo que arrancava o próprio coração, para jogá-lo à plateia. Modern love foi substituída, nessa segunda apresentação, por White light/White heat, do Velvet Underground, para a surpresa dos antigos fãs.
SURPRESA. Os fãs que foram ao show do Olympia, por sua vez, viram Bowie completamente solto no palco. O cantor estendia os braços para os fãs, olhava nos olhos deles, perguntava os nomes do que estavam mais à frente e até recebia flores de alguns admiradores – que jogava de volta na plateia. O show, privilégio para poucos e abonados fãs (um deles foi a atriz Daryl Hannah, que estava por aqui filmando Brincando nos campos do Senhor, de Hector Babenco), foi tido pelo próprio cantor como o melhor da estadia no Brasil. Rita Lee o encontrou nos bastidores desse show, tirou uma foto com ele e o presenteou com um cristal.

NADA ALEGRE. Depois do Brasil, Sound + vision seguiria para Chile e Argentina e encerraria. E os estresses de Bowie também. Testemunhas dizem que o cantor não parecia nada feliz durante a turnê, talvez por estar revisitando seu próprio passado. Erdal Kizilkay, o baixista, lembra de broncas do cantor no grupo. O Melody Maker publicou que Bowie foi visto chorando no camarim do River Plate, na Argentina, após o último show.
E DEPOIS? Você sabia que a banda de David Bowie, Tin Machine, lançou um disco ao vivo? Pois é: Oy vey, baby saiu em 1992, foi gravado em cinco shows diferentes e é tido como o segundo pior fracasso do cantor (o primeiro foi sua estreia, de 1967). Muitos fãs do artista mal sabem que esse disco saiu. Bowie resolveu largar a ideia de ser mais uma da banda e voltou para a carreira solo. Antes, em 20 de abril de 1992, participou do tributo a Freddie Mercury no Wembley Stadium e reencontrou seu velho parceiro guitarrista Mick Ronson no palco. Um reencontro e tanto, já que Mick morreria em 1993.
E já que você chegou até aqui, pega aí o especial que a Globo levou ao ar com o show de David Bowie no Rio em 1990.
Aliás, aproveite e pegue aí as vezes em que David Bowie, por intermédio de O astronauta de mármore, virou forró e pagode.
Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, e a London calling (Clash). E a Fun house (Stooges). E a New York (Lou Reed).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais David Bowie no POP FANTASMA aqui.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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