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Stiv Bators: o “outro nome” do punk em documentário

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Stiv Bators: o "outro nome" do punk em documentário

O americano Stiv Bators foi um dos nomes importantes na passagem do pré-punk para o punk e outros estilos musicais posteriores. Nascido em Ohio em 1949, migrou para Nova York, tocou no CBGB’s e marcou época com os Dead Boys. Uma banda de curta duração cuja trajetória foi marcada pelo abuso de drogas, pela união entre glam rock e punk, e por ter encerrado carreira com We have come for your children (1978), um segundo disco problemático, estranhamente produzido por Felix Pappalardi, da banda de hard rock Mountain (!).

Se houvesse um álbum de figurinhas do punk, Stiv seria uma figurinha difícil e rara. Nos EUA, os Dead Boys fizeram sucesso, mas Stiv não é tão lembrado ou cultuado quanto Iggy Pop, Lou Reed, Sid Vicious e outros nomes importantes. Logo após o fim da banda, Bators tentou migrar para uma sonoridade mais viável (como Lou Reed e Iggy Pop fariam), adicionou elementos de power pop, partiu para o punk gótico com o Lords Of The New Church. Caiu nas drogas, desfez bandas, namoros e terminou seus dias em Paris, com a namorada.

Na capital francesa, Stiv teve uma morte tão coberta de mistérios quanto a de seu ídolo Jim Morrison (Doors), que também saiu de cena por lá. O cantor foi atropelado, não buscou ajuda imediata (foi apenas mal examinado por um médico) e morreu horas depois, durante o sono, de traumatismo craniano. O excesso de drogas deixa suspeitas sobre se o cantor morreu de overdose ou não. Seja como for, uma grande perda: Stiv morria em meio à busca pelo sucesso, às frustrações com o show business e à necessidade constante de modificar seu som.

E agora tem um documentário sobre a vida e a obra de Stiv, Stiv Bators: no compromise, no regrets, dirigido pelo espanhol Danny García, que já havia feito Looking for Johnny: The legend of Johnny Thunders, sobre a vida do ex-integrante dos New York Dolls. O filme de Stiv é rico em imagens e entrevistas (com ex-parceiros, amigos de infância, ex-namoradas).

O documentário de Stiv está no festival In-Edit e tem exibição até hoje, às 18h (atenção!), por R$ 3. Depois, só procurando por aí para assistir, ou esperando uma edição em DVD. Batemos um papo com Danny García e ele contou um pouco sobre o filme. E sobre Rolling Stone: Life and death of Brian Jones, seu documentário sobre o stone morto em 1969, que estreou ano passado.

POP FANTASMA: Como você decidiu fazer o filme sobre Stiv Bators? O que você achou mais fascinante sobre o personagem?
DANNY GARCÍA: Depois de fazer o documentário sobre Johnny Thunders, muitas pessoas me pediram para fazer um filme sobre Stiv. Depois de alguns anos, comecei a considerar seriamente o assunto e decidi fazê-lo. Stiv era um cara muito louco, muito legal, muito brincalhão e música era tudo em sua vida. Ele também era um cara muito ambicioso e muito carismático. Tive a sorte de conhecê-lo brevemente quando era criança e ele é um dos caras mais humildes que já conheci na indústria da música.

Que perguntas sobre ele você acha que não tiveram resposta? Houve algo nele que te surpreendeu? Sua morte sempre será envolta em mistério, apesar da versão oficial do acidente. Não consegui obter documentos oficiais do médico forense, então tive que seguir o que seus amigos me disseram. Mas sempre haverá a questão de se ele realmente morreu de um acidente ou de overdose, como algumas pessoas próximas a ele apontam. O que me surpreendeu nele foi que ele era mais louco do que eu imaginava.

Dos grandes nomes que uniram o pré-punk ao punk (Iggy Pop, Lou Reed, entre outros) talvez Stiv seja o menos cultuado e conhecido. O tempo fez justiça a ele? Na Europa nem tanto, mas nos Estados Unidos ele é mais conhecido e considerado uma lenda, por seu trabalho com os Dead Boys especialmente. Stiv sempre foi um artista underground, mas conseguiu se reinventar nos anos 1980 e ter mais sucesso comercial com Lords of The New Church. Stiv continua sendo um artista underground como Johnny Thunders e muitos outros que não tiveram o apoio de selos multinacionais como Iggy ou Alice Cooper, que eram seus ídolos.

Musicalmente, qual dos projetos do Stiv você mais recomenda para quem não conhece o seu trabalho? Depende. Para os amantes do punk rock, óbvio, recomendo Dead Boys. Mas para os fãs do power pop, seu primeiro álbum solo Disconnected é definitivamente uma joia. Meu disco favorito de Stiv é The last race, o álbum em que ele estava trabalhando em Paris quando morreu.

Bebe Buell, que era namorada de Stiv, não aparece no filme. O que aconteceu? Ela mora em Nashville e não pudemos entrevistá-la. Enfim, Bebe passou muito pouco tempo com ele. No documentário temos Cynthia Ross, que era noiva de Stiv, conhecia seus pais e toda a sua história.

https://www.instagram.com/p/BU7uqa3gU7Y/?utm_source=ig_embed

Como vai seu filme de Brian Jones? Já estreou? Qual é a expectativa de que circule nos festivais? Muito bem, estreamos em dezembro do ano passado em Londres com a presença de muitos amigos de Brian. Um de seus netos até compareceu à estreia. E, desde então, foi exibido em cerca de trinta cidades ao redor do mundo antes do lançamento do DVD e da trilha sonora. Estamos abertos a festivais, no próximo mês será apresentado num festival na Eslovénia. Vamos falando com outros festivais para incluí-lo na programação.

O que o atraiu na história de Brian Jones, que é cheia de mistérios? O que você acha que trouxe de novo com o filme? Brian era o membro mais interessante dos Stones. Ele não era apenas o mais bonito, mas também o melhor músico da banda e o que tinha mais carisma. Mick Jagger e Keith Richards aprenderam a se vestir com Brian. Eles roubaram o estilo, a namorada e a banda de Brian. Além dos detalhes sobre sua morte, há muitas coisas no filme que muitas pessoas não sabem. Por exemplo, foi Brian quem começou os Rolling Stones.

Mais algum projeto de filme vindo aí? Estou trabalhando em um documentário sobre os últimos shows de Sid Vicious em Nova York antes de morrer. Conseguimos a única filmagem de Sid tocando no Max’s Kansas City e é espetacular. Durante décadas, falou-se sobre o quão ruins aqueles shows foram e que Sid era um desastre no palco. Este vídeo prova o contrário.

Foto lá de cima: Dave Treat/Divulgação

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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”
  • Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
  • Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.

Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.

A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.

O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.

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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.

De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.

Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.

Nota: 7
Gravadora: Interscope.

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