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Um papo com Lucas Leão sobre vida pós-Beach Combers, estúdio novo e disco solo

Ex-baterista dos Beach Combers e do Fuzzcas, Lucas Leão muda-se em breve para a Serra das Araras, no planalto fluminense. Lá, vem montando devagar o Bambu, um estúdio “caseiro”, que criou ao lado do irmão, o também baterista Zozio Leão. A ideia é abrir o local para amigos que queiram fazer ensaios, gravar coisas, passar um tempo na bucólica região serrana do Rio. O músico já vem usando o local para fazer algumas gravações e vídeos, que estáo em suas redes sociais. Mas tem outro projeto vindo aí, e que já está sendo feito também há bastante tempo, que é o primeiro disco solo do músico, que vai aparecer tocando violão e convidando amigos e colegas guitarristas.
Batemos um papo com Lucas sobre a vida fora do Beach Combers (e sobre o pioneirismo da banda, que começou a fazer shows pelas ruas do Rio e defendeu até o fim a bandeira do “autoral”), disco solo, estúdio e outros assuntos. Lucas vem fazendo gigs como baterista da banda de Marcelo Gross, ex-Cachorro Grande (apresenta-se com ele neste na sexta no Café Muzik, em Juiz de Fora, e sábado no Circo Voador, abrindo para o Barão Vermelho) e também falamos disso.
Como tá sua vida de músico sem os Beach Combers e como ficou depois da pandemia? Você montou um estúdio, não foi?
No finalzinho do ano passado eu cheguei a fazer uma campanha, teve uma galera que fez doações, foi importante para aquela fase inicial, para eu conseguir levantar uma grana para comprar equipamentos… O estúdio está praticamente pronto pra funcionar O que falta agora é eu me mudar pra lá,. Vou pra roça agora! Tô prestes a me mudar e quando eu estiver lá aí sim eu vou conseguir usar o estúdio com toda a energia, fazer os projetos que eu quero. O meu disco mesmo, tô fazendo um disco solo… Comecei a fazer e foi algo que ficou esse ano todo parado.
Como é esse disco que você está fazendo?
É instrumental. Foi uma necessidade minha nesse período todo, juntando umas ideias, uns riffs que fiz no meu violãozinho. Vai ter participação do Edgard Scandurra, do Julico (Baggios). Para cada faixa eu pensei num guitarrista que eu gosto, que eu sou fã, e que eu ahava que se encaixava na vibe do tema. Eu não consegui ainda avançar nas graavações, na minha parte mesmo. Eu gravei todos os violões, mandei pros convidados, eles botaram guitarra em cima. Mas a parte da bateria mesmo, e olha que eu sou baterista (rindo), eu não consegui fazer nada ainda. Estou esperando me mudar para lá para conseguir organizar o estúdio e gravar da maneira que eu quero, naquela atmosfera ali.
Você começou fazendo o disco aqui na sua casa, no Rio?
Não, lá mesmo, junto com meu irmão. O nome é Bambu Estúdios e estou prestes a me mudar para lá, para começar a mexer nisso integralmente. E aí vou botar essas ideias pra fora e receber amigos e bandas amigas pra ensaiar, fazer uma pré-produção de disco, passar um fim de semana relax tocando no meio do mato. A ideia é essa. O estúdio é na Serra das Araras, um pouco ates de Piraí, a uma hora do Rio. Vou conseguir me deslocar facilmente para fazer show, o acesso também é fácil. Vou ficar mais escondido lá, mas sempre que tiver algo para fazer no Rio, eu venho. O estúdio é caseiro, não é nada super comercial, grandioso.
Com o fim dos Beach Combers, como você se reorganizou? Aquela coisa do: “Agora eu sou músico, vivo de música, não tenho mais a minha banda” e tal?
É um baque, né? Eu já vinha de algumas coisas pessoais complicadas e aí veio pandemia, e durante a pandemia minha banda acabou. Foi um turbilhão de coisas ao mesmo tempo. É uma cicatriz que vai ficar para sempre, os Beach Combers foram a minha banda do coração, posso chamar de “a banda de verdade” que eu tive. Porque gig é uma coisa, você faz uma gig ali, outra aqui, nunca deixei de fazer. Mas a banda principal, que eu me dediquei com mais intensidade, foram dez anos de banda… Foram os Beach Combers. A gente decidiu pelo fim das atividades da banda, foi consensual, não teve uma treta…
Melhor assim.
Foi natural, é que nem casamento, um dia a gente viu que não estava mais rolando e a gente decidiu acabar, não estava mais com aquele pique, não estava mais fazendo tanto sentido. Mas mesmo todo mundo tomando essa decisão em comum, eu sinto muito. Foi a banda que eu posso te dizer: “Tive uma banda de verdade”. A gente viajava, passava muito tempo junto…
Eu estava meio perdido, mesmo durante a pandemia o que fiz foi gravar em estúdio coisas por encomenda. Então nao tinha mais essa coisa de “a banda”. Eu não sabia como ia ser a minha retomada, estava inseguro nesse sentido: “Quando eu vou voltar a tocar de verdade, com quem?”. E acabei tendo algumas surpresas boas. Eu segurei o máximo também o que eu pude, o que considerei que dava pra fazer.
Sobre fazer show ao vivo: recebi convites e recusei quando via que a coisa não tinha cuidado (na pandemia). Meu primeiro show presencial foi um convite que pintou pra mim, de um artista novo, Laren. O produtor dele me convidou. Foi muito maneiro de se fazer. Mas eu ainda estou tomando todos os cuidados, estou chatão com essa parada (rindo). Fico de máscara o tempo todo, a maior parte da galera já tá lambendo corrimão. Eu estou nessa retomada mas estou bem devagar ainda e bem cuidadoso.
E em seguida veio o convite do Gross, que foi uma outra surpresa que me deixou muio feliz porque sou fã do cara há muito tempo. Lembro que conheci Cachorro Grande vendo clipe na MTV de Lunático (hit da banda). Me deu um choque, eu era bem moleque e nem sabia muito bem porque eu estava gostando tanto daquilo mas estava gostando. Você se identifica muitas vezes sem nem saber explicar o motivo. Aliás, vai aí um agradecimento especial para Stephanie F, que está produzindo a vinda do Gross para esses lados…
Tenho uma memória bem marcante do Família MTV, que mostrava eles na estrada, de um show para o outro, auela correria. Eu acho que nem tocava ainda na época, estava começando mesmo. Na época não tinha nem essa coisa de rede social, você via pela TV. A MTV era um canal muito maneiro… Lembro que eu via isso e meu olho brilhava: “Quero fazer isso aí também!”
O Gross tem feito os shows num esquema meio Chuck Berry, em cada lugar ele toca com uma banda local. A gente vai fazer Juiz de Fora e Rio, ele vem com um baixista e me convidou para fazer esses shows. Mesmo sendo uma coisa pontual fiquei bem feliz.
Voltando aos Beach Combers, a banda acabou abrindo caminho pra muita gente, para pensar em maneiras diferentes de mostrar o trabalho: “Vou tocar na rua, vou comercializar meu trabalho de outra maneira”. Como você vê isso, de ter aberto possibilidades para tanta gente?
Eu acho que nós, junto com outras bandas também, ajudamos outras. Uma vai vendo a outra e aquilo influencia de alguma forma. No nosso caso, foi isso. Você tem que ter um pouco de cara de pau e fazer acontecer. Não dá para ficar esperando muito não. Ainda mais no Rio de Janeiro. Se você pensar “Rio de Janeiro”, “rock” e “autoral”, é um pacote que dificilmente vai fechar. E eu falo isso até para bandas que estão num patamar maior de publico. O Rio é complicado das coisas acontecerem. Cada um tem um caminho e tem que ir tentando fazer.
Não dá para esperar muita coisa, não, tem que arranjar sua maneira de fazer. Para a gente funcionou bem, a gente conseguiu nesse formato compacto de banda tocar em tudo quanto era tipo de evento. A gente tocava um dia na rua, outro dia no Circo Voador, outro dia num evento privado… Foram muitos caminhos, mas isso veio a partir da rua mesmo.
Você falou do “autoral” e lembrei de quando você estava no Fuzzcas, e a banda participou do SuperStar (batalha de bandas da Rede Globo). O Fabio Jr era um dos jurados e ele sempre falava do “autoral”, que as bandas tinham que tocar material próprio…
Esse negócio do Fabio Jr é engraçado porque foi o que rolou com o Fuzzcas. A gente se destacou no programa por isso, porque a gente foi a única banda naquela edição a tocar material só autoral. Para a gente era o que fazia mais sentido, mas a gente acabou saindo depois de uma disputa com uma banda que tocou uma música do Bob Marley! Cada um escolhe um caminho. Um caminho pode ser mais digerível, mais fácil, e outro não. O Fuzzcas sempre foi uma banda de músicas autorais e a gente queria fazer aquilo mesmo.
Mas autoral sempre foi um pacote difícil de fechar aqui no Rio, ainda mais depois da pandemia. Aliás, depois não, ainda estamos nela… Muitas casas fecharam nesse período e o que já era escasso, complicou. Ou você tem uma casa de grande porte ou tem uma casa pequena, que é pra bandas cover. Basicamente isso.
Como músico, o que o SuperStar representou pra você?
Foi mais uma etapa, mais uma coisa que aconteceu ali no meu caminho, e que foi muito legal. Foi algo tão relevante quanto outras coisas que aconteceram. Eu encarei isso na época dessa forma, lembro que tinha gente que estava chorando pelos corredores quando era eliminado. Foi mais uma oportunidade que apareceu e que foi legal pra caramba: conhecer gente nova, ver como funciona as coisas de perto na televisão… Na época lembro de sair para ir na padaria e as pessoas me reconhecerem. E olha que se você for parar pra pensar, eu sou o baterista, o que menos aparecia. Mas aqueles segundos ali faziam com que as pessoas me reconhecessem na rua.
Teve aquela vez em que o Zak Starkey (filho de Ringo Starr, baterista do Who) viu os Beach Combers tocando na praia e tocou com vocês. Vocês continuaram amigos? Como ficou depois daquilo?
Não temos um contato de eu falar toda hora com ele, mas tivemos contato depois daquilo. Ele é muito maneiro, gentil, receptivo, muito verdadeiro. A gente se encontrou depois num evento dois anos depois daquilo. Fomos fazer um show com o BNegão, e aí eu e o Bernard (Gomma, ex-guitarrista do Beach Combers) descemos pela ladeira, saindo da casa de shows, na Glória. Teve um momento em que o Zak estava chegando para o show de carro, subindo a ladeira. Ele viu a gente descendo a ladeira a pé, deu ré no carro para falar com a gente, para perguntar se estava tudo bem, se a gente tinha conseguido entrar… A gente falou: “Não, tá tudo bem, a gente só vai ali comprar cigarro e já volta”.
Depois a gente trocou ideia no camarim, ele comentou do nosso disco – porque na ocasião em que ele tocou com a gente na praia, dei para ele o primeiro disco, Ninguém segura os Beach Combers. Não tínhamos lançado ainda o Beach attack (segundo disco). Ele disse que adorou, perguntou sobre pedal de guitarra para o Bernar. Foi um encontro… Bom, foi demais, ele realmente curtiu a gente. E foi uma parada recíproca. Ele comentou isso em entrevistas que ele deu para rádio e para TV.
Eu acho que vi tanto aquele vídeo dele tocando na minha bateria que eu até peguei algumas coisas ali dele. Inconscientemente, eu botei algumas coisas que ele faz na minha linguagem também. Foi algo bem improvável de acontecer e foi com um cara que a gente é muito fã também.
E esse disco seu já tem título, nomes das músicas?
Vai se chamar Fragmento. Diria que já está 50% pronto. Achei que ia lançar esse ano, mas o ano passou e não consegui. Eu nem estou mais botando uma previsão, mas pretendo finalizar e lançar até o meio do ano que vem.
E você está tocando violão? Vai tocar outros instrumentos além da bateria?
Só violão mesmo. E bateria. E o baixo eu chamei o Paulo, que foi dos Beach Combers, e guitarra, em cada faixa, tem alguém de quem eu sou fã e com quem eu não havia trabalhado ainda. Tem o Scandurra, o Julico, o Jack Rubens do Mustache E Os Apaches, o Johnny da banda Moondogs… Quero fazer uns arranjos de metais, trompete, trombone, Quero ver ainda quem vai fazer isso. É uma coisa bem despretensiosa, mesmo. Vou fazer por necessidade, para botar para fora. Nunca tinha pensado nisso, mas foi uma necessidade que veio na pandemia.
E essa coisa com o Gross, eu estava pensando aqui que ele mesmo tem muitos paralelos comigo. Às vezes a gente se identifica e nem sabe o motivo. Você vai pesquisando e vai encontrando mais coisas que você se identifica…
Fala mais disso.
Bom, ele também saiu da Cachorro Grande, a banda acabou, Beach Combers acabou… Cada um na sua proporção. Esse disco dele também veio num momento turbulento, pessoal. Eles foram abençoados pelos Rolling Stones, abriram para eles. E a gente foi abençoado pelo Zak Starkey do Who, tem muitos paralelos aí (rindo). O Beach Combers chegou a abrir um show da Cachorro Grande no Circo Voador, mas acho que nem falamos com eles.
Tem uma história engraçada desse show, que a gente abriu. Quando começou o show deles, fiquei vendo o show dos caras, em pé, na pista, quase embaixo daquela parte de cima em que a galera fica sentada de perna para fora. Teve uma hora no meio do show em que o Beto Bruno estava com um copo descartável, acho que de uísque, e jogou para cima, naquela empolgação do show. A visão que eu tenho é do copo em câmera lenta: fiquei olhando mas jamais pensei que fosse cair perto de mim. Só que caiu na minha cabeça e eu tomei um banho! Na hora deu aquela raivinha mas acho que foi um tipo de bênção (rindo).
Lançamentos
Radar: Dingo, Fernanda Coelho, Júca, Supercombo, Pablo Lanzoni, Fuz Aka, Maria Esmeralda

Sei lá o que os algoritmos andam falando por aí – o Pop Fantasma está a fim, na maior parte do tempo, de música nova. E de gente que está fazendo coisas novas com a música. O Radar nacional de hoje parte do groove reflexivo do Dingo, passa por uniões de piseiro e metal (!) e até pelo forró percussivo e eletrônico. Ouça em alto volume.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Vargas/Divulgação (Dingo)
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DINGO, “DÚVIDAS”. O quarteto gaúcho Dingo (ex-Dingo Bells) voltou a lançar material inédito após três anos com Dúvidas, um single de indie pop que mergulha na fonte da disco music setentista – mais um exemplo das vibes retrô que surgem no pop alternativo. A faixa tem brilho, groove e reflexão: fala sobre o caos de escolhas e estímulos do presente, tudo isso com batida pulsante. A música antecipa as comemorações de dez anos do disco Maravilhas da vida moderna e ganhou clipe dirigido por Gustavo Vargas.
FERNANDA COELHO, “CLAREIA”. Fernanda transforma em música e imagem a ponte entre São Paulo e Tóquio em Clareia, faixa de seu álbum 5 minutos. O clipe da faixa foi gravado no Japão, após um convite inesperado do dono de um estúdio durante uma viagem em 2014, que acabou rendendo também a gravação de um álbum. A música nasce do olhar curioso da artista sobre os espaços escondidos e históricos de São Paulo, enquanto o vídeo mostra as ruas geladas de Tóquio.
“Era inverno e em alguns momentos a minha roupa não segurava muito o frio. E como gravamos com esse efeito de imagens aceleradas, eu tinha que ficar imóvel por muitas horas… aí teve um momento em que eu estava congelando mesmo”, brinca. Mas sem estresse: clipe belo e música igualmente bela e tranquila.
JÚCA, “FOGO”. Single lançado no ano passado, Fogo chega agora ao YouTube no formato clipe, valorizando a sonoridade introvertida da música. Dirigido por Yasmin Sanches e pelo próprio Júca, o vídeo foi feito no Arpoador (Ipanema, Rio de Janeiro) nas primeiras horas do dia, e utiliza várias performances de dança para trabalhar com a ideia de resistência e reinvenção. O próprio “fogo” da letra, diz Júca, tem a ver com os rituais de transformação. “Essa tensão entre continuar e transformar é o que move a música”, explica ele, que prepara um álbum para este ano.
SUPERCOMBO, “PISEIRO BLACK SABBATH”. A Supercombo abre os caminhos para seu disco novo com esse single, um cruzamento inusitado (e bem-humorado) entre rock pauleira e piseiro. Com clima de jam ao vivo e letra sobre metaleiros que curtem uma praia e um bailão, a faixa mostra o espírito livre do novo álbum do grupo, que sai em 15 de agosto. O som é intenso, divertido e cheio de referências brasileiras – prova de que a banda está mais aberta do que nunca a experimentar e brincar com seu próprio universo sonoro. E já tem clipe, com a banda de preto curtindo uma praia em p&b, até que…
PABLO LANZONI, “PORTO”. “Salve a cidade! Minha gente vive aí”, diz Pablo em sua nova música, uma balada climática falando da urbanidade e da paisagem de Porto Alegre, sem deixar de observar os problemas vividos recentemente pela capital gaúcha.
Porto foi uma das últimas faixas compostas para Aviso de não lugar, novo álbum que está programado para agosto. E foi escrita enquanto Pablo acompanhava “as notícias sobre uma disputa judicial envolvendo a proposta de construção de um prédio de cerca de quarenta andares ao lado de um importante museu da cidade — projeto que avançava sem estudo de impacto de vizinhança e sem manifestação dos órgãos de proteção do patrimônio histórico”, conta.
FUZ AKA feat EDGAR, “SAIDERA”. Com uma sonoridade marcada pelo forró eletrônico, a dupla formada por Ricardo Mingardi (Kazvmba) e Fernando Barroso merece ser olhada e ouvida com calma – o som nordestino e eletrônico deles une forró e estilos como afrobeat, dancehall, trap, funk e hip hop, e soa como uma renovação de sons como o mangue beat. Saidera, o single mais recente, saiu em fevereiro com participação de Edgar. Entre rabecas e beats, a ideia da dupla é falar sobre “identidade, memória e futuro traduzido em som, corpo e imagem”.
MARIA ESMERALDA (Thalin, Cravinhos, VCR Slim, Pirlo e iloveyoulangelo) feat DONCESÃO, “POLIESPORTIVA”. A turma que fez o disco Maria Esmeralda, lançado no ano passado, voltou ao material para fazer e lançar o clipe de Poliesportiva, uma das melhores faixas. A direção de VCR Slim aposta na estética de tela dividida em quatro, inspirada no filme indie Timecode (2000), de ampliando as camadas da história. A faixa mistura observações do dia a dia, poesia e reflexões, tudo ampliado pela participação de Doncesão. E se você não ouviu Maria Esmeralda, ouça hoje – falamos dele aqui.
Lançamentos
Radar: Stina Marie Claire, King Princess, Mèr, Esteves Sem Metafísica, Suede, Mantra Of The Cosmos, Rosetta West

Ouça no último volume: em comum, as músicas do Radar internacional de hoje têm a inquietação – seja a inquietação existencial, a inquietação criativa, ou aquele estado que tira a gente da letargia e obriga a fazer alguma coisa urgentemente. A lista começa com Stina Marie Claire dando um trato no arranjo de sua própria música, e prossegue até a psicodelia dançante do Mantra Of The Cosmos.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Bandcamp (Stina Marie Claire)
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STINA MARIE CLARIE, “THE HUMAN CONDITION (MEMENTO VERSION)”. Stina Tweeddale é mais conhecida por liderar a banda Honeyblood, que gravou álbuns excelentes unindo emo, power pop (com mais ênfase no “power”), sons misteriosos e um certo clima grunge. O Honeyblood tá meio sumido desde o single You’re standing on my neck (2019) e após a pandemia, Stina tem se dedicado a seu projeto solo, assinado com seu nome quase completo (que é Christina Marie Claire Tweeddale).
Na real, o Honeyblood já vinha funcionando como um projeto de uma mulher só. A diferença é que Stina Marie Claire dedica-se a uma sonoridade mais próxima do dream pop e do som-de-quarto. O EP A souvenir of a terrible year, repleto de lembranças do isolamento pandêmico, saiu em 2021, e agora sai a versão “memento” das faixas, reimaginadas com arranjos de cordas. A de The human condition humaniza tudo aquilo que era eletrônico e quase chiptune no original. Ficou bonito.
KING PRINCESS, “RIP KP”. No dia 12 de setembro sai Girl violence, novo álbum de Mikaela Strauss, ou King Princess, produzido por ela ao lado de Jake Portrait (Alex G, Unknown Mortal Orchestra) e Aire Atlantica (SZA). O disco marca a volta da artista a Nova Iorque e a um som mais cru e direto, após rompimentos pessoais e profissionais. O single RIP KP, que anuncia o álbum, mistura desejo feminino, melancolia e autossabotagem com batidas pulsantes e guitarras viscerais.
“É é sobre o lado sexy da violência feminina – quando o amor toma conta do seu cérebro e, de repente, você está sendo fodida pela casa toda, agindo como uma idiota. É a maneira perfeita de abrir o disco: dramática, desequilibrada e um pouco irônica”, conta ela, que no clipe, encara um clube de strip tease bem estranho. “É um hino safado para as lésbicas. Precisamos de devassidão neste verão”.
MÈR, “LET’S FIGHT”. A dupla formada pelas cantoras e compositoras francesas Cindy Doire e Sarah Burton uniu-se ao Chorus of Courage – um coletivo que amplifica as vozes de sobreviventes da violência. Do trabalho em conjunto saiu a delicada e etérea Let’s fight, uma canção em inglês e francês, que põe em versos a convivência com pessoas narcisistas e tóxicas. Aliás, a faixa é a estreia da dupla: Sarah e Cindy conhecem-se há duas décadas e mantém carreiras solo, mas só agora gravam juntas.
“Você já teve um amigo ou amante que sempre queria começar uma briga? É um ciclo exaustivo de manipulação e mágoa”, diz Sarah, localizando o sentido da letra. “A música é interpretada com ironia e calma, como se a pessoa dissesse: ‘Não vou mais brigar'”. A gravação foi feita durante uma nevasca na casa de Cindy, e o Mèr misturou sons acústicos e eletrônicos, lançando mão de sintetizadores vintage.
ESTEVES SEM METAFÍSICA, “SÓBRIA”. Com nome inspirado num verso do poema Tabacaria, de Álvaro de Campos (heterônimo do poeta Fernando Pessoa), o Esteves Sem Metafísica é uma banda de uma mulher só – a escritora portuguesa Teresa Esteves da Fonseca, que acaba de lançar com seu projeto o álbum de.bu.te. Não é um pop fácil: é um dream pop com referências de folk, música clássica, sons de Portugal e a fase mais elaborada dos Beatles. Nas letras, há espaço para crônicas pessoais e comentários existenciais: a bela e contemplativa Sóbria, single que antecedeu o álbum, é definido por Teresa como “um hino à juventude inconsequente”.
SUEDE, “TRANCE STATE”. No dia 5 de setembro, os reis do glam rock dos anos 1990 voltam às plataformas e prateleiras: o Suede lança o novo álbum Antidepressants (BMG). Produzido por Ed Buller, parceiro de longa data da banda, o disco promete um mergulho no pós-punk, segundo o vocalista Brett Anderson. Depois do ótimo primeiro single, Disintegrate, agora é a vez de Trance state, um rock dramático e elegante sobre perder o controle (entrar em estado de transe, enfim) ao ver alguém. Nada de trance eletrônico, como o nome da canção sugere, mas o clima hipnótico está garantido: é Suede puro, com clima de arena e direção de vídeo feita por Chris Turner.
(e falamos de Disintegrate aqui).
MANTRA OF THE COSMOS feat NOEL GALLAGHER, “DOMINO BONES (GETS DANGEROUS)”. O tira-casaco-bota-casaco envolvendo Zak Starkey na formação do The Who manteve o nome do baterista na mídia. Aliás, no caso, pior para a veterana banda britânica, que agiu de maneira bem estranha na demissão do músico.
Zak permanece aparecendo: seu supergrupo Mantra Of The Cosmos – que também tem na formação Shaun Ryder e Bez, do Happy Mondays, e o guitarrista do Ride, Andy Bell – volta com o terceiro single, um dance-rock lisérgico que lembra os próprios Mondays e o Black Grape (a “outra banda” de Shaun e Bez), e que tem participação de Noel Gallagher, do Oasis. Starkey, provavelmente o único filho de beatle que dispensa tal aposto ao lado no nome, usou os brinquedos do filho no clipe da faixa.
ROSETTA WEST, “DORA LEE”. Lembra do Rosetta West, banda que chegou até nós pelo nosso perfil no Groover e da qual já falamos diversas vezes? Eles estão de volta com o ótimo EP Gravity sessions, com músicas antigas do grupo gravadas numa sessão no estúdio Gravity, de Chicago. Dora Lee, uma das mais legais do álbum Night’s cross (resenhado aqui), era um blues acústico no original, e virou punk-blues com herança de Jimi Hendrix e Tad.
“A música conta a história de um homem assombrado por uma visita breve e apaixonada de uma figura feminina aparentemente sobrenatural. No clipe, o narrador assume o papel de um endurecido comandante de tanque, ainda perturbado por essa aparição mesmo em meio aos combates”, avisa o grupo, chegadíssimo nos climas sombrios.
Lançamentos
Radar: Julião e o Forró do Suco Elétrico, Swave, Lupino, Vi Drumus – e mais

Tem um restinho da farra de junho abrindo essa edição nacional do Radar – com o som nordestino e psicodélico de Julião e O Forró do Suco Elétrico (foto). Entre sons herdados do punk, como Swave e Lupino, também tem muita brasilidade aqui hoje, inclusive com a presença de um dos maiores e mais longevos nomes da MPB entre os novos lançamentos. Ouça tudo no volume máximo.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
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- Mais Radar aqui.
JULIÃO E O FORRÓ DO SUCO ELÉTRICO, “A MURIÇOÇA”. Criado pelo músico pernambucano Feiticeiro Julião, o Forró do Suco Elétrico (que estreia agora em EP epônimo) é uma brincadeira séria com a tradição zoeira e alegre do forró, só que turbinada pelas guitarras e pela psicodelia – como também é tradicional na MPB nordestina dos anos 1970 para cá, via Alceu Valença, Robertinho de Recife e vários outros nomes. Julião une-se a Ju Menezes, Alexandre Baros, Drica Ayub, Juvenil Silva e Tomé, e liga forró, frevo e sons afins na tomada, sem esquecer das raízes. A muriçoca, de Julião, une forró, folk, reggae, sofrência e picardia em doses quase iguais. Pra tocar na sua festa!
SWAVE, “VAI CAIR”. Esse supergrupo indie paulistano lançou recentemente o disco Foi o que deu pra fazer (resenhado pela gente aqui) e une sua estética musical grunge a um clima de gravação de vídeo antiga no novo clipe, Vai cair. Parece um VHS guardado por décadas, uma videoarte antiga, ou um vídeo dos primórdios das câmeras digitais – você escolhe – mas tudo cheio de estilo e som alto. Detalhe: com esse vídeo, a banda fechou a rodada, porque agora todas as onze faixas do álbum (!) têm clipes. Música para ver e ouvir.
LUPINO, “MUROS”. Unindo rock, variações rítmicas e música eletrônica, o Lupino, de Florianópolis (SC), fecha seu primeiro ciclo de gravações com Muros – que vem após outros quatro single lançados. Uma música especial para a banda, por ter sido a primeira vez em que a banda compôs em conjunto, “unindo elementos de rock e música eletrônica para criar uma experiência dançante e introspectiva”.
Na faixa, os vocais de Taissa Bordalo cantam uma relação bem complicada, em que uma pessoa entra sem pedir licença e as coisas fica beeem bagunçadas – tanto que em algum momento, a outra parte do relacionamento tem que construir muros em volta de si. Lá pela metade, a canção muda de ares e ganha um clima mais tecnológico, com teclados e programações.
JOÃO MERIN, YAAN, LAIÔ, “FILHOS DE ÁFRICA”. Esse trio vem da Bahia, une afrobeats, pagotrap e r&b, e mescla talentos – João é cantor e rapper, Yaan é músico e produtor, Laiô tem 20 anos de carreira como cantora, compositora e gestora cultural. O EP Olhos de sol tem música pra dançar, mas tem protesto e vitória, como no balanço de Filhos de África. Uma música em que Laiô canta que “tá ficando preto, tá ficando bom / cês tão vendo só o começo, vamo dominar”, e João entra citando o jogador Vinicius Jr e o rei do afrobeat Fela Kuti. “Cantando o amor até mesmo no fim /precioso na lama feito rubi”, diz, unindo amor e resistência.
CAMALEÔNICA, “GERAL”. Banda formada em Barcelona por dois amigos de infância do Brasil (Felipe Dantas e Fernando Reis), o Camaleônica encontra na mistura musical a sua razão de existir – samba, bossa nova, rock, rap, eletrônicos, tudo isso encontra lugar no som deles. Geral, um dos singles que puxam o disco Eletrotropical, une guitarras ligadas ao blues e ao rock, e batuque vindo do axé. Seria um axé-blues, então? Talvez. Felipe explica que o principal da faixa é que apesar das diversidades, o personagem da música tem orgulho de sua história – e é esse amor próprio que “pulsa forte nos batuques e conduz sua trajetória”, completa o músico.
VI DRUMUS, “O SONHO ANESTESIA”. “Quero que quem ouça esse som se sinta visto, mesmo nas suas sombras”, diz Vi Drumus, que acaba de lançar o álbum Medor. O sonho anestesia é uma música que une metais, beats e referências que vão do hip hop ao soul brasileiro, para falar de “uma realidade em que o corpo é explorado e a mente busca refúgio na poesia e na fuga onírica”. Som pra dançar e encarar a luta do dia a dia com outra mentalidade, já que um dos grandes temas dos quais Vi fala em seu álbum, é como um monte de coisas que a gente faz e pensa são mediadas pela dor.
NEY MATOGROSSO, “PÁSSARO BRANCO”. Canção meditativa composta por Paula Raia, Pássaro branco é a faixa-título do novo EP de Ney – que traz quatro faixas feitas para a trilha do balé Entre a pele e a alma, espetáculo encenado pela Focus Cia de Dança sob direção de Alex Neoral. O disco é um dos projetos que envolvem o nome de Ney perto de seu aniversário de 84 anos – ele chega à nova idade em 1º de agosto. Tivemos também o filme Homem com H – que fez sucesso nos cinemas e está agora na Netflix – e o ótimo disco Canções para um novo mundo, um dos destaques do começo do ano, gravado com a banda Hecto (e resenhado pela gente aqui). Algo nos diz que vem mais aí.
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