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Um papo com Cris Braun sobre disco novo, novos tempos, Rita Lee e David Bowie

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Cris Braun sempre foi uma artista identificada com a atitude e o som do glam rock  – desde a época em que era uma das integrantes do Sex Beatles, que gravou dois discos nos anos 1990 e ganhou até documentário. E a música de seu ex-grupo surge em Quase erótica, o quarto disco solo de Cris – sem contar Filme, feito em dupla com Dinho Zampier (2017).

Bastante conciso (são só 25 minutos), o álbum, lançado pelo selo Lab 344, abre e fecha com regravações de canções da banda (Tudo que você queria saber sobre si mesmo e E seu namorado também). E passeia por músicas que estavam na gaveta há alguns anos. em parceria com amigos como Alvin L, George Israel e Luciana Pestano.

Cris, que mora há alguns anos em Maceió (AL),  bateu um papo com a gente sobre o novo disco, sobre os novos tempos (para os quais deseja “mais vida, menos morte, menos esse urubu, esse negócio que paira sobre nós e que eu desejo que vá embora!”), sobre os 25 anos de seu primeiro álbum solo (a serem comemorados em 2022) e sobre influências marcantes em seu trabalho, como Rita Lee e David Bowie (cujo disco The rise and fall of Ziggy Stardust and The Spiders From Mars é citado na canção Aprender).

A gente tá vivendo um tempo bem chato. Como é lançar um disco com o nome de Quase erótica, com o conteúdo que você botou nele, nessa época em que estamos vivendo, com essa turma estranha no poder? Você diria que o disco é um recado para algumas pessoas?

Nem eu sei! Bom, hoje eu sei… Sabe aquelas elaborações que você faz depois? Aí eu consegui chegar a uma frase sintética: “Mesmo que seja uma joke, uma brincadeira, mais eros e menos tanatos”. Acho que eu senti necessidade de ir lá no passado. Uma necessidade inconsciente, porque na coisa consciente é bem pensado mesmo. Era a coisa do “preciso revisitar minha carreira”. Fazendo uma coisa mais pop, procurando ali atrás, e eu também estava aprendendo a mexer no estúdio. Então tudo era mais lúdico, menos elaborado. E daí fui nessa, catei repertório do Sex Beatles, e algumas coisas minhas. Tudo ali é passado, menos Logado, que é uma música nova, fala até das relações dentro da internet, essas relações em que as pessoas estão separadas.

Ia até te perguntar a fonte das músicas, porque o disco abre e fecha com o Sex Beatles. Tem coisas ali que já fazem parte do seu trabalho, né?

Isso. Tem Logado, que é minha com Billy Brandão. Tem Invisíveis, que é minha com Luciana Pestano – lá do passado. E uma que fiz com George Israel, também lá do passado. Passado é isso mesmo, anos 1990 e poucos. Eu cheguei à conclusão que eu desejo mais eros, mas não no sentido erótico, convencional. É em todos os sentidos, mais vida, menos morte, menos esse urubu, esse negócio que paira sobre nós e que eu desejo que vá embora!

Aliás, o Marcelo Costa, do site Scream & Yell, disse que viu algo de Rita Lee no seu disco. Vi muito não só ela como também Ney Matogrosso. Invisíveis, imagino na voz dele. Tem uma onda sua de ter lembrado dele também?

Não, não, é tudo inconsciente. Mas com relação à Rita tem uma referência muito grande, porque o que eu busquei quando pensei em como iria soar… Eu não queria soar tão fechada nos anos 1980/1990. Eu queria abranger esses anos todos até agora mas principalmente nas psicodelias, nos anos 1970. Aí acho que a gente entra na onda da Rita, dos Mutantes, principalmente.

Sempre que eu sou pop – por mais que eu queira ser contemplativa, o que eu acho que até faço melhor do que pop – eu me lembro da Rita, como referência, como amor. Já cantei com ela, lembro que ela me convidou para cantar, olhou pra mim e disse: “Gente, é um filhote!” (rindo). Mas no Ney eu não pensei, agora que você falou eu vou escutar!

Aquela música Aprender fala do “lado B do Ziggy Stardust“. Qual a importância do David Bowie pro seu trabalho?

Bom, a letra é do Alvin L, mas acho que qualquer ser humano ligado ao rock, ao glam rock, ao teatro, ao visual – eu sou muito ligada nisso – e à música, tem ligação com Bowie. É como Rita, é pra onde eu olhava quando era mais nova, e o que me impressionava, musicalmente. Mas essa coisa da expressão, das vocação diversificada, essa coisa plural do Bowie… Isso tudo sempre me encantou. E a gente, no Sex Beatles, cantava alguma coisa dele. Fizemos uma versão de Heroes, que depois entrava em Roberto Carlos, uma coisa bem louca.

Era uma importância de informação, de intenção, de “ah, eu gosto dessa pessoa porque eu gosto do que ela veste, da maneira como ela aparece no palco, de como o palco aparece para ela, por fornecer essa quantidade de informações”. Os passeios musicais do Bowie! Semana passada eu estava ouvindo um dos marcos dele dos anos 1980, aquele disco com a capa colorida, florida, o Tonight (1987). Bicho, que isso? Isso é pop pra caralho (canta Tonight).

O seu disco novo é bem conciso, pouco mais de vinte minutos. O primeiro disco, o Cuidado com pessoas como eu, também já era, eram oito músicas. Como é investir num formato menor pra um LP? As pessoas têm a tendência de ver um disco com vinte e poucos minutos e falar que é um EP, mas não é, é um LP pequeno!

Eu sou muito sintética. Até em show! Começa a não fazer sentido. Mas como eu sou um ser humano que ainda gosta de fazer álbum, que faça um sentido, que as músicas tenham uma relação auditiva, melódica, de arranjo, de tudo… Um roteiro, mas não necessariamente de letras, pode ser de música. Eu tenho muita dificuldade de aumentar,. inclusive agora eu tenho novamente um problema na mão, já que preciso fazer um show e tenho 23 minutos (de disco). Vou ter que ser coerente com esse repertório e jogar lá para o show. Vai ser um show legal porque dá para fazer até num calçada, e plugar as coisas. Só uma metáfora para ilustrar a liberdade que eu tenho com o pop rock. Não preciso de luzes, de muito cenário, posso tocar em qualquer lugar.

Como ele foi gravado? Você disse que estava começando a usar o estúdio. Foi na sua casa?

Na minha casa, 98%, eu e Dinho Zampier que tem me acompanhado. Eu e ele só mandamos as faixas pro Jam da Silva (percussão) e pro Billy Brandão (guitarra e violão), que mandaram de volta. Bateria é tudo eletrônico. O Jair Donato mixou tudo perfeitamente. Foi tudo gravado no quarto da minha mãe! Ela nunca vem para cá e acabei ocupando o quarto. Montei o equipamento e usei a velha fórmula de botar colchão nas portas e cantar.

Você é daí de Alagoas e veio para o Rio? Qual sua relação com Alagoas?

Eu nasci em Porto Alegre, mas com 9 anos vim para Alagoas com minha família porque meu pai se mudou para cá para abrir um negócio. Eu fiquei aqui dos 9 aos 18. Aos 18 fui para o Rio, fiquei uns 26 anos aí. Meu pai teve problemas de saúde, que culminaram na sua partida. E fiquei por aqui. Sou filha única, fiquei por aqui. Minha residência fixa é aqui, onde estão meus cachorros. Quando dá, vou três, quatro, cinco vezes por ano pro Rio. Mas não tenho mais casa aí.

E como foi voltar a Alagoas e experimentar uma cena nova? Você mantinha contato com músicos daí?

Não, nada, nada. Cheguei e fui descobrindo, Um amigo jornalista, Fernando Coelho. que também é baterista, e sugeriu de montar uma banda aqui. E aqui tinha o Wado, também. A formação musical dele é aqui. Fui me juntando com essa galera. Agora tem uma cena bacana, os jovens tão fazendo coisa pra caramba. Essa geração entre 20 e 35 anos… Eles têm uma produção bem legal. Quando eu cheguei era um pouco menor. Parece que teve uma cena muito boa aqui durante os anos 1980, mas nessa época eu estava aí (no Rio). Então essa galera dos anos 1980, que as bandas foram se desfazendo, eu fui juntando e é minha tchurma daqui. Mas sempre tem meus queridinhos, que eu chamo para os discos. Reúno, faço ponte aérea.

Seu primeiro disco, Cuidado com pessoas como eu, faz 25 anos em 2022. Quais são suas lembranças daquela época?

25 anos? Gente, eu preciso que esse disco saia de novo! Eu não sabia disso. Eu preciso que ele vá pro Spotify, vou fazer isso. Ele se perdeu, só saiu em CD. Só dá para reproduzir a partir disso. Uma coisa meio louca, que ficou lá dentro daquelas fitas de rolo da Universal.

Foi uma época de transição interessante, porque eu saí do Sex Beatles e a Marina Lima me ligou e falou: “Quero que você seja a pessoa que vai inaugurar meu selo”. Era o Fullgás, que era o selo da Marina, que acabou sendo mais fugaz do que fullgás, já que só teve esse disco… Se não me engano foi uma coisa contratual dela com a Universal, de querer ter um selo, mas os tempos não permitiram que a coisa continuasse. Uma pena, porque a Marina é fantástica. Me deu muita força, não só por ser ela e por ter me abraçado ali. Me ensinou muita coisa naquele momento.

O que você aprendeu com ela?

Aprendi a me apropriar. Ela e o (produtor e músico) Nilo Romero me ensinaram isso, a me apropriar, a me aprofundar. Mesmo eu não sendo uma instrumentista da categoria altíssima da Marina, a não ficar ali só de diva que canta. Entender de tudo, entender de mim, entender o que está acontecendo, dar minha cara para as coisas. A colocar personalidade em tudo, principalmente isso. Ela me ensinou muito isso, a estar presente. Porque naquele momento era tudo glamour: “ah, Sex Beatles, e agora Cuidado com pessoas como eu, uma gravadora!”. Não, minha filha, é trabalho! Vai aprender a trabalhar! Enfim, me ensinaram a trabalhar (rindo).

E o que você tem ouvido ultimamente? Às vezes fico fuçando o que você ouve no Spotify e tem muita coisa de clássico, muita coisa experimental…

Bastante coisa experimental, clássica… Ricardo, isso me acalma. Eu sou uma pessoa nervosa. Eu posso estar no palco cantando rock, mas o tempo todo eu fico nervosa. Escuto muito música erudita, já tive um programa de rádio sobre isso… Tenho ouvido um cara chamado César Lacerda, que toca música brasileira, o cara é mineiro, tem umas harmonias lindas.

Nunca fui disso e não é birra minha, mas é difícil que uma unanimidade pop me agrade tanto quanto essa menina Marina Sena. Estou amando o som dela. Gosto do Helio Flanders, do Vanguart, da Letrux… Eu gosto de um cara muito louco chamado Madblush, ele é completamente Bowie. É gaúcho, até falo no nome dele no masculino porque perguntei para ele sobre isso. As letras são ótimas, os clipes, uma pérola pop. É meu pop mais louco ultimamente.

Cinema

Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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Lançamentos

Urgente!: Car Seat Headrest e Laura Carbone em clima místico

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Urgente!: Car Seat Headrest e Laura Carbone em clima místico

Se a moda pegar, é provável que vejamos uma febre mística, religiosa e de healing music tomando conta do indie rock e do alt-pop. Para começar, um tema que já vem circulando há alguns dias é o novo single “espiritual” do Car Seat Headrest, uma de nossas bandas preferidas, que aborda nascimento, vida, morte e o contato com aqueles que já partiram.

Gethsemane, a música, é excelente, tem onze minutos, e a letra se passa no campus universitário fictício da Parnassus University (sim, o nome remete ao monte Parnaso, lar de Apolo e suas musas na mitologia grega). Inspirada pelas experiências do grupo na época da pandemia, a faixa segue o dia a dia de uma estudante de medicina, Rosa, que traz de volta à vida um paciente morto, e tem poderes de cura desde a infância.

“Toda noite, em vez de sonhos, ela encontra a dor crua e as histórias das almas que ela toca ao longo do dia. A realidade se confunde, e ela se vê levada para as profundezas de instalações secretas enterradas sob a faculdade de medicina, onde seres antigos que secretamente reinam sobre a faculdade trazem à tona seus planos sombrios”, diz a banda.

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Will Toledo, vocalista do Car Seat Headrest, já abordou temas religiosos com ironia em discos como Teens of denial (2016). No entanto, ele afirma que sua visão sobre espiritualidade mudou ao longo do tempo e que determinadas práticas influenciaram diretamente a concepção do novo trabalho. O próximo álbum da banda, The scholars, será uma ópera-rock de nove faixas e está previsto para 2 de maio pelo selo Matador. Segundo o grupo, o disco marca “uma nova era espiritual” para o projeto.

Outro exemplo de como essa vertente está ganhando espaço vem da cantora alemã Laura Carbone. Conhecida por sua trajetória que transita entre o pós-punk, o power pop e sonoridades mais próximas do post-rock e do progressivo (The cycle, seu disco mais recente, foi resenhado aqui), ela agora explora um caminho diferente em Strength • 5 (Sound Healing). O novo single, com trinta minutos de duração, traz vocalizes e o som etéreo de um sino tibetano – um instrumento de percussão em forma de tigela, tradicionalmente utilizado para meditação e equilíbrio energético.

A música foi gravada ao vivo e “em um take só” por ela – e Laura pretende que a música tenha um objetivo bem mais nobre que a pura fruição pop. “Meu chamado para criar esta canalização foi para nos apoiar a todos na conexão com nossa paixão e força sinceras — a coragem necessária para incorporar e seguir as verdades dentro de nossos corações em nome da justiça e da libertação. Também a paciência que saber que isso pode exigir”, escreve no release. “Sinto que, coletivamente, precisamos nos tornar mais fortes, mais presentes e persistentes em entrar no que defendemos e em defender leis universais para um mundo de cura”, continua ela.

Dois singles, enfim, não configuram uma “onda” – mas, no caos nosso de cada dia, é interessante ver que até a turma indie vem buscando algum tipo de conexão com forças menos terrenas.

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Lançamentos

Radar: novidades de Apeles, Klitoria, Meu Funeral e EP de 1972 de Gal Costa

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Radar: novidades de Apeles, Klitoria, Meu Funeral e EP de 1972 de Gal Costa

Mais um dia de novidades nacionais no Pop Fantasma – novidades essas que incluem até mesmo um EP nunca lançado de Gal Costa, que simplesmente brotou nas plataformas digitais, além de um single que anuncia um álbum duplo do projeto musical Apeles.. Ouça tudo e ponha nas suas playlists!

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APELES, “MANDRIÃO (VIDA E OBRA) – DEMO 2”. Lançado no ano passado, Estasis consolidou o Apeles – projeto de Eduardo Praça – como uma das vozes mais ousadas da cena independente, com um som repleto de detalhes inquietantes e colaborações internacionais. A experimentação continua com 2015-2022: The complete demos and early recordings, um álbum triplo recém-lançado, puxado pelo single Mandrião. A faixa, um pós-punk funkeado, se abre com uma guitarra que soa como um cruzamento de David Gilmour e Johnny Marr. Originalmente uma demo que não entrou em Estasis, a música já soa completamente realizada (foto Apeles: André Dip/Divulgação).

GAL COSTA, “O DENGO QUE A NEGA TEM”. Sem aviso prévio ou qualquer explicação, a Universal decidiu soltar nas plataformas digitais o “compacto de 1972” de Gal Costa, mas sequer o incluiu entre os lançamentos recentes da cantora – para encontrar no Spotify, por exemplo, é preciso rolar até os discos antigos. As três faixas inéditas trazem alguns dos vocais mais intensos da artista, com destaque para a emocionante releitura de O dengo que a nega tem (Dorival Caymmi). Com mais de sete minutos de duração, a gravação viaja por uma toada jazz-rock-soul arrebatadora.

KLITORIA, “INTENÇÕES E REAÇÕES”. Pouco antes de subir ao palco para abrir o show do Amyl & The Sniffers, a banda garage punk de Niterói (RJ) lançou o EP Entre o chão e o assoalho, com quatro faixas intensas – lideradas pelo single Intenções e reações. Quem ouve com atenção percebe nuances assumidas de metal e até de krautrock, criando uma atmosfera inquietante, reforçada por letras e riffs de guitarra carregados de tensão.

MEU FUNERAL feat THE MÖNIC, “A FRAGILIDADE DE SER UM MACHÃO”. O grupo fluminense acaba de lançar o EP O que sobrou do Rio (Mará Music), puxado por essa faixa que poderia ser descrita como uma “punk balada” sobre um casal, digamos, perfeito – e, como costuma rolar com o Meu Funeral, a letra é tão boa e tão provocadora que vale a pena descobrir por conta própria. Em entrevista, a banda revelou que o clipe terá um clima de baile de debutante dos anos 60, mas as coisas esquentam quando o The Mönic entra em cena.

AQUITAQUENTE, “BARBARIZE”. Vem aí Manifexxta, o novo álbum do Aquitaquente, projeto do bairro do Pina, em Recife (PE). No single Barbarize, a banda funde frevo, hardcore e afropop em um batidão explosivo – ou frevocore, como eles próprios definem. O som é pura catarse, e a vocalista Bárbara Vitória, que divide o duo com YuriLumin, avisa: “Nosso som é um convite para as pessoas expressarem suas potências.” Ouça no volume máximo – e não perca o clipe.

JOHANN HEYSS, “SPARKLING CASTLES”. Músico, tradutor e escritor brasileiro radicado no Uruguai, Johann Heyss prepara um novo disco para maio e acaba de lançar Sparkling castles, uma faixa eletrônica experimental e distorcida – que já começa com um sample de cuíca (!). Produzida por ele e Luz Renato, a música vem acompanhada de uma letra provocadora: “Eu quebrei seus castelos brilhantes / eu destruí suas ilusões / e eu faria isso de novo / de novo, de novo e de novo / sem arrependimentos”. Um álbum inteiro sai em maio.

ODAYA, “PRO AR”. R&B fluidificado e voador de tão “psicodélico”, com leves toques de boogie oitentista e de lounge, graças às batidas e aos teclados. O clipe, diz Odaya, é uma imersão sonora e visual, “sobre sentimentos universais de libertação e reconexão à natureza e às forças elementais da terra. A música evoca cenas surreais da relação afetiva de duas pessoas”, conta. Os rolos diários de um relacionamento são representados por uma criatura “misteriosa”, que ocupa boa parte do vídeo – Oscar Rodriguez, dançarino que participou de musicais da Broadway, faz também uma intensa performance no clipe. Vale ver, ouvir e submergir.

LUIZA CARMO, “DEJÀ VÚ”. O indie pop de Luiza Carmo ganha corpo – e coreografia – no novo clipe Déjà vu, inspirado no contato da cantora com dança e expressão corporal em 2024. Gravado em uma sala espelhada ao estilo das academias de balé, o vídeo traz dançarinos e movimentos bem ensaiados, reforçando a estética sofisticada da faixa. A música estará no EP Seco seu gelo, previsto para abril, um trabalho que explora as dores e descobertas da chegada à vida adulta.

ATALHOS, “ONDAS DE CALOR”. Com uma luz bizarra de tão forte, e figurinos pesados, a banda Atalhos parece ter sofrido de verdade para gravar o clipe de Ondas de calor, lançado no fim de fevereiro. O grupo, formado por Gabriel Soares, Conrado Passarelli, Fabiano Boldo e Nico Paoliello, prepara seu quinto álbum em meio a apresentações nos Estados Unidos, passando por Nova York e Boston. O novo single traz um shoegaze suave, menos afeito a paredes de guitarras, mas ainda imerso em atmosferas etéreas.

GODOFREDO, “GUARDA-ROUPAS”. Banda mineira que volta em nova formação, o Godofredo faz lembrar grupos como Pink Floyd (na fase inicial), Radiohead, Beat Happening e o lado mais viajante do britpop em seu novo single. O clipe de Guarda-roupas é bem inusitado: em alguns momentos, a banda usou um cachorro como câmera – ou melhor, pôs uma câmera go-pro numa coleira no doguinho. Já a história da letra é baseada na falta de móveis e no excesso de roupas pelo chão na casa-estúdio de um dos integrantes. A faixa é o primeiro single do álbum Tutorial, que sai em breve.

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