Lançamentos
Skipp is Dead: indie rock sideral do Amapá em novos singles

O cantor amapaense Skipp is Dead, definido como “indie rock sideral” (e que já foi recomendação do nosso podcast Pop Fantasma Documento), volta com dois singles unindo chiptune (música eletrônica tirada de chips de som de computador e videogames) a ritmos do Amapá e do Caribe. Endless nights, com participação da cantora YMA (por sinal outra recomendação do nosso podcast), e Mars já estão nas plataformas.
“Os novos singles exploram uma nova sonoridade pro projeto, buscando ritmos nas minhas raízes regionais. Endless nights, com a participação da multiartista YMA, traz uma mistura de gêneros musicais da fronteira do Amapá atrelados a uma estética sintética pop temperada com a nostalgia do chiptune. Já Mars une referências como o Daft Punk, Julian Casablancas e Gorillaz para um encontro com as guitarras e sonoridades nortistas de influência caribenha”, define Skipp. Os singles embora separados, trazem juntos as aventuras do pirata cósmico Skipp, persona que acompanha o cantor desde o EP de estreia, Blast off! (2020).
A sonoridade de Skipp traz fortes influências do indie rock dos anos 2000, e a linguagem chip tune. Sem esquecer suas raízes amapaenses, o músico acrescenta o batuque e o marabaixo, tendo como influências tanto o universo de Ziggy Stardust, personagem de David Bowie, quanto Koji Kondo, um dos maiores compositores da Nintendo, além de trilhas de games como Super Mario Bros e Zelda. Nos singles, Skipp canta e toca guitarra, acompanhado de Marco Trintinalha (bateria), Colinz (guitarra, produção), Leon Sanchez (sintetizadores), Bruno Mont’Alverne e Vinícius Scarpa (baixo).
Ouça os dois singles abaixo.
Crítica
Ouvimos: Deerhoof – “Noble and godlike in ruin”

RESENHA: Deerhoof lança Noble and godlike in ruin: um Frankenstein sonoro com jazz, prog e crítica social. Barulho pessoal e político dos bons.
O “nobre e divino em ruínas” do título do 19º (uau!) disco da banda norte-americana Deerhood vem do romance Frankenstein, de Mary Shelley – aliás, vem de um trecho em que o ser humano é visto como alguém vil, capaz das maiores mesquinhezas, e simultaneamente alguém nobre e virtuoso. A banda vê o disco como um Frankenstein sonoro, “de baixo orçamento”, cuja capa no estilo “vergonhosamente apresenta” não deixa mentir, com colagens dos rostos dos integrantes feitas com mão de onça.
Seja como for, se você esperava que alguém conseguisse unir referências de Captain Beefheart e Beach Boys fase Pet sounds num mesmo disco, seus problemas acabaram. Em Noble and godlike in ruin, o Deerhoof faz Overrated species anyhow soar como um gospel relaxante, cria um ritmo pseudo-latino desencontrado em Sparrow sparrow, faz uma espécie de jazz rock invertido em Kingtoe, soa jazzístico e ritmicamente pitoresco em Return. Por aí.
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Isso só para ficar na primeira parte do álbum, que ainda apresenta lá pelas tantas uma colagem sonora e rítmica digna de Mutantes em Ha, ha, ha, ha, haaa, espécie de progressivo assustador. Under rats é uma das faixas que poderiam ser chamadas de “progressivas”, mas um progressivo à moda de grupos como Primus, com invocações math rock, vocal que chega perto do rap, experimentações rítmicas – lá pelas tantas cabe até, como se fosse totalmente por acaso, um pedaço de Nessun dorma, ária da ópera Turandot, de Puccini.
O baú de referências do Deerhoof parece fazer Captain Beefheart e Mutantes se encontrarem com o Soft Machine (!) em Disobedience, cobre A body of mirrors com cordas misteriosas e uma erupção sonora e une vibes meditativas e ruidosas nos sete minutos de Immigrant songs. Dando atenção às letras, você percebe que a opção do Deerhoof pelo diferente não é só musical: temas como hostilidade, preconceito e maus tratos a imigrantes surgem em vários momentos das letras. Pode parecer um disco louco demais pra muita gente, mas é barulho pessoal e político dos melhores.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Joyful Noise.
Lançamento: 25 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Ator Carioca – “Nada a esconder”

RESENHA: Ator Carioca estreia com Nada a esconder, disco de MPB indie-rock com pós-punk, math rock e ecos de Gil, Titãs e Arctic Monkeys.
Com uma filiação “carioca” séria, tanto no nome quanto na sonoridade, a banda Ator Carioca vem, na verdade, do Maranhão. E se dedica, em seu disco de estreia Nada a esconder, a uma MPB solar, ainda que as letras sobre dúvidas existenciais dominem o álbum – e ainda que estilos como pós-punk e math rock apareçam volta e meia como referências para os arranjos.
O duo de Hugo Rangel e Orlando Ezom – acompanhados por um time de músicos – também remete bastante a nomes como Luiz Melodia, Titãs, Beto Guedes e Gilberto Gil, mas sempre com uma pegada indie-rocker, que soa assemelhada também a bandas como Arctic Monkeys em faixas como Nada a esconder, Outra vez, Praia de Boa Viagem (com boas guitarras que lembram a produção de Beto e Lô Borges nos anos 1970/1980) e Novo de novo.
Matéria escura e O sonho do aviador são pós-punk emepebístico e adulto, Baby do coração de carpete manda bala na fusão blues-samba-rock e faixas como Balanço do dia e A dor é a graça chegam mais próximo de um pop adulto, referenciado tanto em Nando Reis quanto em seu ex-grupo Titãs. No final, a surpresa é o instrumental Ao mestre Lincoln, que homenageia Lincoln Olivetti e Robson Jorge com metais, referências de jazz e boogie, e violão solado e cantado, como Robson, influenciadíssimo por George Benson, costumava fazer.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Brisa Records
Lançamento: 11 de maio de 2025.
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Crítica
Ouvimos: Elétricos – “Elétricos” (EP)

RESENHA: Elétricos lança EP surf punk com zoeiras sérias e climas psicodélicos pela Baratos Afins.
Elétricos, uma banda surf punk de São Paulo, vem com novidade: um EP epônimo com três faixas, lançado (olha só!) pela Baratos Afins – gravadora que documentou bastante o underground paulistano dos anos 1980.
O material do disco, como bem convém a uma banda do estilo, é bastante provocativo, com zoeiras sérias como a de CHMC?, punk com letra praticamente falada (“coca, heroína, maconha e cola / seu pastor também gosta”) e riff espacial como o de Holiday in Cambodja, dos Dead Kennedys.
Completando, tem o tom surfístico e punk-quase-psicodélico da guitarra de Não vamos perder os dentes e a classe de Homem ao mar, com riff quase oriental. Uma boa estreia.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Baratos Afins
Lançamento: 15 de maio de 2025.
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