Som
Sin efectos: NOFX em espanhol e em clima mariachi

Com nome zoando o de um conhecido traficante, a banda El Gordo Miguel y Su Banda Del Norte é responsável por uma pequena série de covers em formato mariachi da banda punk NOFX. Achar informações a respeito desses caras é que é bem complicado. O pouco que se sabe deles veio de uma entrevista dada à Noisey, no ano passado, pelo sujeito que achou a fita K7 deles. Apesar das suspeitas, ele garante que não é ele o autor das versões, “até porque meu espanhol é horrível”.
O disco ganhou o nome de Sin efectos (“no effects”, ou “sem efeitos”, que é o significado de NOFX) e o subtítulo de Hasta luego, y obrigado por las caguamas, uma zoação com o nome do disco do NOFX de 1998, So long and thanks for all the shoes. O repertório tem releituras em espanhol de Don’t call me white (No me llames gringo)…
… de Leave it alone, que virou Dejala ir...
… de Thanks God it’s monday, virada em Gracias a Dios es domingo...
… de Linoleum, que virou Linóleo mesmo…
… e de Olympia, WA, do Rancid, que virou Jalisco, MX.
O cara que divulgou as gravações no YouTube se chama Ian e é engenheiro de software e design gráfico em Los Angeles. E diz que seu primo achou a fita do grupo num mercado de pulgas no Arizona. “Coloquei as primeiras músicas só para ver se alguém se importaria. Eu pensei ter talvez algumas centenas de visualizações no máximo. Depois que eu acordei e vi que eu tinha 5.000 visualizações eu percebi que poderia ser realmente popular, e uma coisa divertida para continuar por um tempo”, contou à Noisey.
Lançamentos
Radar: Eleon, Communist Sex Magic, Acme, Zen Smith – e mais sons do Groover

O Pop Fantasma tá na Groover! Por lá, artistas independentes mandam seus sons pra uma rede de curadores – e a gente faz parte desse time. Fizemos hoje uma relação do que tem chegado de legal até a gente por lá – começando com a eletrônica pós-punk do Eleon.
O que tem chegado até nós? De tudo um pouco, mas, curiosamente (ou nem tanto), uma leva forte de bandas e projetos mergulhados no pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e afins.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Eleon):Divulgação
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ELEON, “SCREENS”. Com referências em grupos como Muse, Editors e Nothing But Thieves, esse grupo da Suíça faz o que chamam de “fusão sombria e cinematográfica de rock eletrônico e energia pós-punk”. Os solos de guitarra e os vocais têm também uma onda ligada ao metal e a hard rock – algo que surge, por exemplo, nesse single recente, Screens. O Eleon já tem um álbum, Terra incognita (2024), definido por eles como “uma jornada profunda rumo ao desconhecido”.
COMMUNIST SEX MAGIC, “ANOTHER MESS I HAVE SWALLOWED”. “Nosso som é para aqueles que se sentem deslocados, politicamente sem-teto, artisticamente esgotados — mas ainda seguem teimosamente aqui”, diz essa banda de Liverpool que fala sobre escalada do fascismo na Inglaterra, caos urbano e zoeira geral no sistema. O som, por sua vez, tem a ver com Slowdive, com os B-sides do Radiohead e com bandas recentes como Fontaines DC, unindo mumunhas do shoegaze, do grunge e de várias vertentes do rock ruidoso. Another mess…, single novo, volta o foco para o inferno pessoal de cada um, “aquele ciclo muito familiar de caos autoinfligido, aqueles momentos em que você percebe que é você quem continua criando sua própria bagunça”.
ACME, “MIDNIGHT CRISIS”. Essa banda pop-punk chilena existiu lá pelos anos 2000 e retorna quase duas décadas depois com um EP que está para sair. Midnight crisis, single que serve de batedor para o disco, fala sobre aquelas decisões que você tem o dia inteiro para tomar, mas só toma lá pela meia-noite, quando deveria estar dormindo ou indo dormir – ou aqueles decisões que você igualmente evita tomar.
A banda avisa que não se trata de uma reunião que vai durar pouco. “Estamos trabalhando em um novo material, explorando as temáticas de ficar adulto, os passos do tempo e as cicatrizes deixadas pela juventude”, contam.
ZEN SMITH, “YES YES YES”. Esse músico canadense produz todo seu material em casa, da execução à mixagem – e ainda faz clipes surrealistas para as músicas, como este de Yes yes yes, que usa “um bowl daqueles de leite com tinta e óleos”. O som, por sua vez, é psicodelia + pós-punk, uma curiosa mistura de Psychedelic Furs, Pink Floyd e – pode acreditar – Pixies. Zen se define como um “exército de um homem só de som e visão” e é por aí que ele equilibra sua carreira musical.
HIGHLAND, “BITS AND PIECES”. Uma espécie de bedroom synthpop, gravado de forma totalmente caseira, com clima confessional e influências de The Killers e Jeff Buckley. Elliot Alexander Lomas, o criador do Highland, diz fazer todas as músicas “à mão”, da composição à masterização, o que torna a aventura bastante experimental e diferente – rola um pouco de som ambiente em alguns momentos, como se tudo tivesse sido feito de maneira bem casual.
GLASS COFFIN CLUB, “WILLOW”. Esse grupo de darkwave do Kentucky tem influências bem clássicas: The Chameleons, Gun Club e Christian Death estão entre as referências de Willow, música que parece ter sido gravada nos anos 1980 num clube escuro e esfumaçado – não apenas pela instrumentação de época, mas pela qualidade de gravação que lembra as bandas do período. Música curtinha (menos de um minuto), gutural e sombria.
THE CAPTAINS SYNDROME, “TRAPPED”. Essa banda da Suécia faz punk como antigamente, com direito a lembranças de Iggy Pop nas letras, nas melodias e em especial, nos vocais. Trapped, single novo, fala de um tema que todo mundo já viveu: “Ela é inspirada nos desafios mentais e emocionais que enfrentei após perder meu emprego. Por meio de imagens vívidas e irônicas, ela captura a sensação de estar deslocado, mas ainda assim seguir em frente”.
ORPHAN PRODIGY, “TRAITOR”. Projeto criado pelos músicos Ian Keller e Danielle Hope (que são casados), o Orphan Prodigy une música eletrônica e punk pop – e pelo visto, tenta não soar parecido com a turma do nu-metal. Tanto que seu novo single, Traitor, traz uma mescla de teclados de house music, beats vindos do pós-punk e clima musical que alude tanto a Offspring quanto a Radiohead, No mínimo, inusitado – e pesado.
DREAM BODIES, “DEAD AIR” / “LIMERENCE”. Esse projeto musical de Los Angeles lança muita coisa – este ano já saíram alguns singles. O som é quase sempre entre o darkwave e o synthpop, com um clima desértico nas letras. Dead air, um dos singles mais recentes, tem esse clima esparso em letra, melodia e solos de guitarra. Limerence, outro single, une elementos de New Order e The Cure para falar de um relacionamento romântico mal-sucedido – e de todo o clima de pé na bunda que se segue depois, além das tentativas de superação.
PANKOW__77c, “MAD RAW MAX (CYBERPUNK INSANE FURY) V 1.1”. Esse projeto italiano costuma lançar temas ruidosos, na onda cyberpunk, acompanhado de clipes que mais parecem remixes de vídeo – mais até do que remixes de áudio. Dessa vez, a fúria cyber deles mexe com a franquia Mad Max e com sons pesados e eletrônicos, cheios de glitch.
Crítica
Ouvimos: Tame Impala – “Deadbeat”

RESENHA: Em Deadbeat, Kevin Parker tenta entrar na onda do charme do desleixo, mas entrega um Tame Impala irregular, entre boas ideias e faixas que precisavam de uma boa guaribada.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6
Gravadora: Columbia
Lançamento: 17 de outubro de 2025.
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A sempre implicante Pitchfork não quis nem saber e tascou logo um risível 4.8 no novo disco do Tame Impala, Deadbeat. Quem escreveu a resenha, aparentemente, não curte a ideia do ex-revisionista da psicodelia Kevin Parker, criador do grupo, ter se transformado num coach de música dançante, num músico com cara de “diretor criativo”, num cara que pôs sua assinatura em discos de música pop bem diferentes das expectativas roquistas dos seus fãs de primeira hora.
Mas vá lá: os erros apontados por Sam Goldner (autor do texto) em Deadbeat não são exatamente coisa de quem agarrou um ódio em Kevin apenas por causa da mudança de direcionamento de carreira. Na real, com outras palavras, apontam algo que já era perceptível em Currents (2015) e The slow rush (2020), marcados por um achegamento maior do músico em relação aos sons eletrônicos: o mais legal do Tame Impala era que Kevin até parecia ter dado uma olhada no manual da cópula rock + música eletrônica, mas não se entusiasmou muito e jogou o livrinho no lixo.
Traduzindo mais ou menos: músicas como Let it happen, Lost in yesterday e One more hour tinham sua dose enorme de coolzice, como aliás o próprio repertório inicial do grupo já tinha. Mas eram o som de alguém que estava experimentando, criando coisas e misturando referências. Por isso deu tão certo, e por isso Kevin ficou com uma baita fama de “grande criador do rock e da música eletrônica”. Ainda que, na prática, ele só estivesse dando uma cara dançante para seu som psicodélico e manipulando uma nuvem de referências que ia dos anos 1960 aos 2000, parando com folga nos anos 1980 para curtir a onda acid house, os desdobramentos do pós-punk e as invencionices do synthpop.
- Ouvimos: AFI – Silver bleeds the black sun…
Só essa combinação de três estilos aí já responde pelo clima hipnótico de Let it happen, pelo baixo estalado de The less I know the better (herdado igualmente de Love is a drug, do Roxy Music) e por mais duas faixas de Currents: a declaração de princípios Yes I’m changing e a climática The moment, duas músicas nas quais parecia que Kevin tinha desistindo de fuçar nas fontes em que todo mundo procura e decidiu mexer em discos empoeirados. Na primeira, parecia que ele tinha descoberto Angra dos Reis, da Legião Urbana – já a segunda parecia ter sido inspirada em alguma MPB synth dos anos 1980 (Gonzaguinha, Fagner, Vinicius Cantuária, Djavan, etc) só que combinada com mumunhas trance.
Corta pra Deadbeat, disco lançado sob bem mais do que expectativas cool: é o primeiro disco do Tame Impala em cinco anos, e foi lançado um mês após Kevin brotar no estúdio da rádio online de música eletrônica The Lot, e atuar como DJ convidado. Não é de jeito nenhum o disco horroroso que fez o resenhista da Pitchfork perder a paciência. Até porque discos ruins não abrem com uma pérola house como My old ways, com ótimo riff de piano e infusão dance-psicodélica, muito menos têm faixas como Dracula, dance music de terror na qual Kevin se torna o Bee Gees de uma pessoa só.
OK, são apenas duas faixas num universo de doze músicas e 56 minutos – você pode argumentar. Se tem um problema meio grave aqui é o fato de que, ao contrário de discos que são lo-fi e crus por opção e por estética, muita coisa em Deadbeat parece tosca e descuidada de propósito, como se Kevin tivesse resolvido por conta própria que os ensaios e as demos são melhores que o material finalizado, sem nem pensar direito. Ouvir o beat de chão de Ethereal connection equivale a escutar a gravação malfeita de um set de DJ de Kevin, e o mesmo se aplica aos sete minutos do single End of summer.
Provavelmente muita gente ouviu essas duas faixas achando que havia um certo desnível na equação da qualidade: ideias legais sustentadas por beats perdidos e mal arquitetados, e acabamento ruim. Mas a maionese desanda de verdade quando a música não funciona – o ritmo troncho de No reply, por exemplo, segue sem graça, até iniciar uma vinheta de piano que parece chupada da Gymnopédie, de Erik Satie. Piece of heaven é outra faixa na qual nada faz sentido e tudo parece colado à moda caralha: pop oitentista e outra vinhetinha de piano. See you on monday (You’re lost) soa como uma volta ao passado – tem algo de progressivo no som, mas tudo na base do já-ouvi-isso-antes.
O que é bom no disco acaba sofrendo com a opção pelo rascunho: a boazinha Loser traz Kevin aderindo à mania atual de yacht rock, Oblivion é um estranho raggamuffin psicodélico – o tipo da música que você vai pensar bastante se gostou ou não –, a desolada e hipnótica Not my world leva a dança ambient pro disco. Já a boa Obsolete é dance music gelada, refletindo o clima da letra (“me diga por que estou sem dormir / você quer meu amor ou sou obsoleto?”).
Falando nas letras, Kevin volta preferindo falar com os sofredores e desencantados da vida. Deadbeat fala de gente que pode até levar uma vida normal, mas segue agendas meio estranhas – como o rapaz apaixonado de Oblivion, que avisa à amada que “se eu não tiver você, meu amor / escolho o esquecimento”. Fala também de quem dá muita cabeçada na vida por causa das demandas tóxicas do mundo (Not my world) e das almas perdedoras (Loser). Se o Tame Impala volta buscando o charme do desleixo (e erra a mão para mais), o dia a dia dos personagens de Deadbeat não é nada cool.
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Crítica
Ouvimos: Anvil FX – “Celebração da aberração” (EP)

RESENHA: Anvil FX volta com o EP Celebração da aberração, três faixas que misturam pós-punk, eletrônica e crítica aos tempos digitais.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Palatável Records
Lançamento: 24 de outubro de 2025
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Criado nos anos 1990 pelo músico Paulo Beto e radicado em São Paulo, o Anvil FX sempre foi um projeto de criação musical e de pesquisa musical. Dá pra ver pelo blog O Estranho Mundo de PB, que Paulo manteve até 2012, e no qual era possível entrar num mundo de descobertas na música eletrônica, no experimentalismo, no pós-punk, na MPB marginal e todos os estilos possíveis.
Mas dá também para ver pelo som do Anvil, que volta com Beto (sintetizadores, programações), Bibiana Graeff (vocal principal, efeitos eletrônicos), Apolônia Alexandrina (vocais, percussão eletrônica, sintetizadores), Tatiana Meyer (vocais, sintetizadores), Silvia Tape (vocais, guitarra) e Mari Crestani (baixo, sax alto). Celebração da aberração, estreia da nova turma do Anvil, tem alma pós-punk e estética que passa pelos teclados e beats minimalistas, pelo eletropunk kraftwerkiano e até pela memória do pop mais desencanado.
- Ouvimos: YMA – Sentimental palace
São apenas três faixas num EP que fala do clima de destruição/construção dos dias de hoje. AI IA é uma poesia concreta bem breve sobre merdificação patrocinada pela inteligência artificial (a letra da faixa se resume ao título). Celebração da aberração, com baixo forte e beats intermitentes – soa como uma mistura de Gang Of Four e Kraftwerk – põe a recusa aos padrões em versos diretos e duros. A surpresa é A minha voz na sua cabeça, que abre em clima de oração krautpop e vira disco music psicodélica, com citação de um lado-Z de Rita Lee & Tutti-Frutti, Círculo vicioso.
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