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Cinema

Richard Peterson: jogaram no YouTube o documentário sobre o músico de rua de Seattle

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Richard Peterson: jogaram no YouTube o documentário sobre o músico de rua de Seattle

Jogaram no YouTube, infelizmente sem legendas, Big city dick: Richard Peterson’s first movie. Produzido e dirigido em 2004 por Scott Milam, Ken Harder e Todd Pottinger, o documentário conta a história de uma das figuras mais populares e excêntricas da música de Seattle: o trompetista das ruas da cidade, Richard Peterson.

Richard Peterson, desde meados dos anos 1970, circulava por Seattle tocando trompete. Gerações e gerações de moradores da cidade cresceram vendo Peterson pelas ruas, sempre tocando clássicos de artistas como Burt Bacharach, Olivia Newton-John, Barry Manilow e Johnny Mathis, além de seu material autoral. A história dele não foi fácil. Peterson foi considerado um adolescente “não educável” pelo ensino público da cidade e passou a ter educação especial desde essa época. É filho de um músico, que o renegou, e foi criado apenas por sua mãe.

Peterson, não custa citar, está bem longe de ser uma nulidade como músico. Suas habilidades ao piano e aos metais costumam ser elogiadas, e ele já gravou discos em que toca todos os instrumentos. Entre as obsessões dele, está tudo relativo a trilhas sonoras de programas de TV dos anos 1950 e 1960. Os temas de abertura da série Sea hunt, protagonizada por Lloyd Bridges e levada ao ar na televisão norte-americana entre 1957 e 1961, estão entre as devoções do trompetista. Outro traço notável da personalidade de Peterson é sua memória quase fotográfica para prédios e datas históricas de Seattle. Há quem o chame de “rain man” de Seattle, numa referência ao filme protagonizado por Dustin Hoffmann.

Entre alguns dos clássicos autorais de Peterson estão Love on the golf course (“amor no campo de golfe”, isso mesmo), easy listening que apareceu em seu terceiro disco, intitulado Richard Peterson’s Third Album, de 1993. Nesse disco, como em todos os outros que publicou, Peterson toca todos os instrumentos e solta a voz. Não que a obra de Peterson seja a curiosidade que você não pode perder: dá para perceber claramente que tem algo fora da ordem na música do compositor, seja no tom meio caricatural dos arranjos, seja na qualidade de gravação rudimentar de algumas faixas.

E se você tá achando que conhece a história de Peterson de algum lugar, é porque possivelmente está se lembrando de Purple, segundo disco dos Stone Temple Pilots (1994). O álbum terminava com a “faixa secreta” The second album, música-título do… segundo disco de Peterson, também lançado à própria custa em 1985. E a gravação que aparecia no disco dos STP era o mesmo fonograma que abria o LP de Peterson: se é que você não sabia, não era o grupo tocando naquela música. Dean DeLeo, guitarrista do grupo, dá depoimento para o filme e recorda como conheceu Peterson.

Richard, além de ser uma figura conhecida nas ruas de Seattle, acabou ficando, hum, amigo de muita gente famosa. O ator Jeff Bridges, quando esteve em Seattle filmando Coração americano, acabou conhecendo Peterson e ficando próximo dele. Perguntado numa entrevista sobre de onde havia acabado de voltar, o ator disse que vinha de umas gigs com sua banda em Seattle e que lá havia encontrado o trompetista, “que geralmente abre shows para minha banda. Ele é um cara muito excêntrico”. No filme, Bridges fala das primeiras impressões que teve do som de Richard, diz que o considera um grande músico e até imita seu trompete.

Vale dizer que a enorme obsessão de Richard é por ninguém menos que o veterano cantor Johnny Mathis. A capa do Second album, por exemplo, é cópia do visual de uma coletânea de Mathis lançada em 1962, e o cantor é inclusive citado na letra. E Peterson tem uma música chamada… Mathisization.

O amor pela obra de Mathis, vale afirmar, não fica só na audição de discos em casa, já que Peterson costuma viajar pelos EUA atrás das turnês do cantor. E revela um lado, er, sombrio da personalidade do pianista. Até 1993, de acordo com essa reportagem aqui, Peterson havia encontrado com Mathis 118 (!) vezes em bastidores de shows. Mantinha até um gráfico em que incluía as vezes em que encontrou o astro, o número de apertos de mão (!!) e a grana gasta nas viagens.

Mathis, que não tem muito saco para repórteres, dá um depoimento para o documentário e diz que vai tudo bem entre ele e Peterson. Que, por sinal, esteve no radar da equipe do cantor vezes o suficiente para pular da categoria de fã dedicado para a de stalker ameaçador. Mathis revela ter ficado assustado quando esteve com Peterson pela primeira vez (“ele parecia muito excitado em me conhecer”, recorda), e se lembra de pelo menos uma ocasião em que teve que botar o fã para fora de uma casa de shows ali mesmo, em Seattle.

O motivo da expulsão: Peterson insistia em conversar com Mathis enquanto ele estava cantando no palco. Saiu arrastado pelos seguranças enquanto gritava: “Quero um aperto de mão. Ele está na minha cidade!”. “Foi bastante desagradável, mas sem ressentimentos”, recorda o veterano, detalhando que Peterson perturbava os fãs na plateia durante o show.

A história de Peterson continua até hoje. O músico recentemente precisou adiar uns shows por causa da pandemia do coronavírus e teve seu sétimo disco (cujo nome é simplesmente Seven), lançado no ano passado. Rolou recentemente até essa entrevista aqui.

E pega aí o filme.

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Ouvimos: Raveonettes – “PE’AHI II”

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Ouvimos: Raveonettes - "PE'AHI II"

RESENHA: Os Raveonettes mergulham de vez no lo-fi e shoegaze em PE’AHI II, disco que soa mais próximo de uma transição do que de uma realização.

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Raveonettes, aquela dupla que misturava distorções a la Jesus and Mary Chain, clima melodioso herdado dos anos 1950 e estética do filme Juventude transviada, lembra? Pois bem, eles guiaram o timão de vez para gêneros como shoegaze e lo-fi. Não é algo estranho ao som deles, vale falar. Climas “serra elétrica” sempre tiveram lugar nos discos de Sune Rose Wagner e Sharin Foo. PE’AHI II, novo disco, é a continuação de PE’AHI, disco de 2014 que já promovia suas invasões nessas áreas. Sem falar que 2016 atomized – disco anterior de inéditas da banda, 2017 – surfava essa onda.

Só que o Raveonettes de 2025 chega a soar experimental, mesmo quando abre o novo disco com uma balada nostálgica e melancólica, Strange. E na sequência, o ruído programado de Blackest soa como uma curiosa mescla de blackgaze e pop de câmara. Já Killer é uma nuvem de microfonias que lembra bandas como Drop Nineteens, só que com mais cuidado na melodia.

Entre as outras curiosidades do disco, estão o noise rock programado de Dissonant, a viagem sonora e distorcida de Sunday school e a onda sonora de microfonia (alternada com toques dream pop) de Ulrikke. O resultado final deixa um ar de EP, de mixtape, mais do que de um álbum completo e realizado dos Raveonettes. Ainda que PE’AHI II tenha momentos ótimos, soa mais como uma transição para o que vem por aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Beat Dies Records
Lançamento: 25 de abril de 2025

  • Ouvimos: The Raveonettes – Sing…
  • Ouvimos: Drop Nineteens – 1991
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Urgente!: Cinema pop – “Onda nova” de volta, Milton na telona

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Urgente!: Cinema pop – "Onda nova" de volta, Milton na telona

Por muito tempo, Onda nova (1983), filme dirigido por Ícaro Martins e José Antonio Garcia – e censurado pelo governo militar –, foi jogado no balaio das pornochanchadas e produções de sacanagem.

Fácil entender o motivo: recheado de cenas de sexo e nudez, o longa funciona como uma espécie de Malhação Múltipla Escolha subversivo, acompanhando o dia a dia de uma turma jovem e nada comportada – o Gayvotas Futebol Clube, time de futebol formado só por garotas, e que promovia eventos bem avançadinhos, como o jogo entre mulheres e homens vestidos de mulher. Por acaso, Onda nova foi financiado por uma produtora da Boca do Lixo (meca da pornochanchada paulistana) e acabou atropelado pela nova onda (sem trocadilho) de filmes extremamente explícitos.

O elenco é um espetáculo à parte. Além de Carla Camuratti, Tânia Alves, Vera Zimmermann e Regina Casé, aparecem figuras como Osmar Santos, Casagrande e até Caetano Veloso – que protagoniza uma cena soft porn tão bizarra quanto hilária. Durante anos, o filme sobreviveu em sessões televisivas da madrugada, mas agora ressurge restaurado e remasterizado em 4K, estreando pela primeira vez no circuito comercial brasileiro nesta quinta-feira (27).

Meu conselho? Esqueça tudo o que você já ouviu sobre Onda nova (ou qualquer lembrança de sessões anteriores). Entre de cabeça nessa comédia pop carregada de referências roqueiras da época, um cruzamento entre provocação punk e ressaca hippie. O filme abre com Carla Camuratti e Vera Zimmermann empunhando sprays de tinta para pixar os créditos, mostra Tânia Alves cantando na noite com visual sadomasoquista, segue com momentos dignos de um musical glam – cortesia da cantora Cida Moreyra, que brilha em várias cenas – e trata com surpreendente modernidade temas como maconha, cultura queer, relacionamentos sáficos, mulheres no poder, amores fluidos e, claro, futebol feminino.

Se fosse um disco, Onda nova seria daqueles para ouvir no volume máximo, prestando atenção em cada detalhe e referência. A trilha sonora passeia entre o boogie oitentista e o synthpop, com faixas de Michael Jackson e Rita Lee brotando em alguns momentos. E o que já era provocação nos anos 1980 agora ressurge como registro de uma juventude que chutava o balde sem medo. Vá assistir correndo.

*****

Milton Bituca Nascimento, de Flavia Moraes, que estreou na última semana, segue outro caminho: o da reverência, mesmo que seja um filme documental. Durante dois anos, Flavia seguiu Milton de perto e produziu um retrato que, mais do que um relato biográfico, é uma celebração. E uma hagiografia, aquela coisa das produções que parecem falar de santos encarnados.

A narração de Fernanda Montenegro dá um tom solene – e, enfim, logo no começo, fica a impressão de um enorme comercial narrado por ela, como os daquele famoso banco que não patrocina o Pop Fantasma. Aos poucos, vemos cenas da última turnê, reações de fãs, amigos contando histórias. Marcio Borges lê matérias do New York Times sobre Milton, para ele. Wagner Tiso chora. Quincy Jones sorri ao falar dele. Mano Brown solta uma pérola: Milton o ensinou a escutar. E Chico Buarque assiste ao famigerado momento do programa Chico & Caetano em que se emociona ao vê-lo cantar O que será – um vídeo que virou meme recentemente.

Isso tudo é bastante emocionante, assim como as cenas em que a letra da canção Morro velho é recitada por Djavan, Criolo e Mano Brown – reforçando a carga revolucionária da música, que usava a imagem das antigas fazendas mineiras para falar de racismo e capitalismo. Mas, no fim, o que fica de Milton Bituca Nascimento é a certeza de que Milton precisava ser menos mitificado e mais contado em detalhes. Vale ver, e a música dele é mito por si só, mas a sensação é a de que faltou algo.

Por acaso, recentemente, Luiz Melodia – No coração do Brasil, de Alessandra Dorgan, investiu fundo em imagens raras do cantor, em que a história é contada através da música, sem nenhum detalhe do tipo “quem produziu o disco tal”. Mas o homem Luiz Melodia está ali, exposto em entrevistas, músicas, escolhas pessoais e atitudes no palco e fora dele. Quem não viu, veja correndo –  caso ainda esteja em cartaz.

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Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

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Urgente!: Filme "Máquina do tempo" leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.

As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.

E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.

Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.

O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).

Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.

A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.

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