Lançamentos
Radar: Shelly, Dark Archer, Ryan Lord, Attic Ocean, Splitsville, Bayla, Foo Fighters

Não esquecemos nem da volta dos Foo Fighters aqui no Radar internacional de hoje. Mas o principal para a gente é que todo mundo conheça bandas como Splitsville e Attic Ocean. E também adoramos o Shelly, a banda spin-off da Clairo, um projetinho de pandemia que acaba de voltar. Ouça tudo em alto volume, obrigue os vizinhos a ouvir, comente no bar com os amigos sobre bandas novas.
Texto: Ricardo Schott – Foto Shelly: Reprodução
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SHELLY, “CROSS YOUR MIND”/”HARTWELL”. Lembra do Shelly, a banda spin-off da Clairo (a própria), montada por ela e por uma turma de amigos na pandemia? Pois bem, Clairo, Claud, Josh Mehling e Noa Frances Getzug voltam com seu projeto indie-pop, após cinco anos de sumiço. O novo single, intitulado Shelly 2, tem duas faixas inéditas: Cross your mind, mergulho honesto em traumas e amores tortos da juventude, e Hartwell, que pega na memória afetiva com uma saudade boa da infância. Lançamento discreto, sem alarde, mas que cola fundo.
Dá pra ouvir como quem lê um diário de amigos que você não vê faz tempo, mas que ainda sabem falar direto com você. O som é sensível, despretensioso e tem aquela vibe de música confortável, que evoca soft rock, oitentices calmas, rock alternativo dos anos 1990 e aquele tipo de canção que você volta e meia vê nas trilhas dos filmes da Sessão da Tarde. E pra quê mais?
DARK ARCHER, “MIND OF WAR”. “Essa música explora a sensação de carregar uma tempestade dentro de você. É sobre tentar se manter de pé quando tudo em que você confiava começa a desmoronar”, conta o cantor e guitarrista norte-americano Jason McDonald, criador do Dark Archer. O som é próximo do grunge e do rock anos 1990, com dramaticidade de época (“vou só lutar mais um pouco / viciado na guerra dentro da minha cabeça / agarrar a vida que estou levando / ou surfar as ondas da despedida”, diz a letra).
RYAN LORD, “DEATH HOUSE LANDLADY”. A onda desse compositor dos Estados Unidos é som com referências ambient e um clima que, às vezes, se aproxima das paisagens sonoras do dream pop. Além de relançar um single de 2016, My reflection, ele lança o EP Dead and gone, que invade áreas mais pesadas e sombrias – como na eletrônica soturna de Death house landlady.
ATTIC OCEAN, “GLOW”. Essa banda vem de Dusseldorf, na Alemanha e faz… música eletrônica? De jeito nenhum: o lance deles é guitar rock, quanto mais distorcido melhor, e quanto mais próximo do punk, melhor ainda. O Attic Ocean tem dois discos gravados, toca como se tivesse vindo de algum beco na Inglaterra, e volta agora ao repertório de seu EP de 2024, Retriever, lançando o clipe da ótima Glow.
O som une guitarras belas e pesadas, climas etéreos e estridentes, e o vocal lindo da cantora Hannin Nasirat. E em termos de beleza, o clipe não fica atrás, propondo um passeio “pelas ruas cinematográficas de Paris enquanto Glow mistura calor analógico com melodias brilhantes e um desejo silencioso”, como eles próprios afirmam.
SPLITSVILLE, “BETH STEEL”. Em breve sai Mobtown, estreia dessa banda de power pop – que sai pelo selo Big Stir Records, bastante especializado nesse tipo de som. Beth Steel, single que antecede o álbum, é recomendadíssimo para fãs de XTC e R.E.M., e para admiradores de uma linhagem sonora que passa pelo power pop e pelo jangle-rock, com referências sessentistas e musicalidade ágil.
A música parece homenagem a uma mulher – a Beth Steel do título – mas só parece: é uma canção de protesto contra o fechamento da siderúrgica Bethlehem Steel, em Baltimore, que rendia empregos para vários trabalhadores e, ao fechar as portas, destruiu as vidas de muita gente. Brandt Huseman, um dos integrantes – e um dos dois gêmeos idênticos da banda – pegou um Uber certa vez e a motorista era ex-funcionária da empresa, o que inspirou a canção.
BAYLA, “ANXIOUS”. Tem algo de nostalgia disco na música nova dessa cantora vinda do Canadá. E tem bem mais que isso. Anxious é uma faixa que, apesar da musicalidade exuberante, fala seriamente sobre um problema enfrentando por várias pessoas.
“É uma faixa crua e tocante que explora a montanha-russa emocional de viver com ansiedade – um assunto que conheço intimamente e queria abordar com honestidade e empoderamento. É sobre não ter vergonha da sua saúde mental. Ela faz parte de quem somos”, conta Bayla, que fez questão que a música não soasse de jeito algum como uma tragédia. “Mesmo quando é difícil, não estamos sozinhos”, conta.
FOO FIGHTERS, “TODAY’S SONG”/”I DON’T WANNA HEAR IT”. Passou batido para muita gente, mas os Foo Fighters, em meio ao sucesso e ao estabelecimento da imagem de Dave Grohl como o gente-fina oficial do rock, embarcaram em montes de pilhas erradas nos últimos 20 e poucos anos. Demissões de músicos, decisões cagadas do líder Grohl, o apoio dado a entidades negacionistas da aids e do vírus hiv (rolou no começo dos anos 2000 e rapidamente foi jogado pra debaixo do tapete), shows dados em clima de A praça é nossa e esse bilhete azul pra lá de estranho dado ao batera Josh Freeze – que substituiu o saudoso Taylor Hawkins.
Agora, comemorando 30 anos do excelente disco de estreia, e vivendo uma crise pessoal na vida íntima, Grohl promove dois lançamentos dos FF que chegaram de surpresa às plataformas nos últimos dias. A balada pesada Today’s song fala dos caminhos duvidosos da vida e foi lançada com uma carta de Grohl em que ele diz que “com o passar dos anos, tivemos momentos de alegria desenfreada e momentos de dor devastadora. Momentos de belas vitórias e de derrotas dolorosas. Já curamos ossos quebrados e corações partidos”. Não se sabe quem tocou bateria na faixa.
Já I don’t wanna hear it, cover da banda punk e ultraindie Minor Threat, saiu poucos dias antes, e é uma gravação “nova”: o instrumental foi gravado originalmente em 1995 pela banda (leia-se: Grohl tocou todos os instrumentos) e a voz foi feita agora. Duas aparições num momento de quietude dos FF – a banda só volta aos palcos em outubro.
Crítica
Ouvimos: The Stargazer Lilies – “Love pedals”

RESENHA: Shoegaze lisérgico e groovy: em Love pedals, o The Stargazer Lilies entrega guitarras densas, psicodelia e experimentos brilhantes.
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Provavelmente nenhum site vai escolher Love pedals, sexto disco da banda novaiorquina The Stargazer Lilies, como disco do ano. Azar de quem não ouvir e de quem não reconhecer neles uma banda mais do que excepcional. Criada pelo casal John Cep e Kim Field, essa banda – que surgiu de um quinteto de dream pop chamado Soundpool – faz um som que parece vir de dentro do/da ouvinte, tamanha a intensidade das guitarras e dos baixos. Tudo gravado como paredões de som e, mais do que isso, como vendavais sonoros que carregam os sentidos de quem ouve o disco para todos os lados.
The Stargazer Lilies costuma ser definido como shoegaze, por aí. Não exatamente: trata-se de uma banda que faz psicodelia e som groovy na base das guitarras altas e distorcidas. Em Love pedals, eles unem peso, lisergia e distorções na guitarra e no baixo em Ambient light, quase um nevoeiro sonoro. A faixa-título é soul + psicodelia + shoegaze, num efeito fantástico. Parece realmente um hit de rádio AM jogado num triturador junto com guitarras, pedais de distorção e pastilhas de LSD.
O grupo vai dosando sabedoria musical e experimentações em faixas como Perfect world, um tema de girl group, com violão, eco, distorções e obnubilações. By your side é uma balada com um paredão de ruídos que afina e desafina à medida que a música segue – chega a parecer uma transmissão sonora. Shining yellow é uma balada que até poderia ser uma canção do Swing Out Sister – mas é uma porradaria psicodélica e dissonante, aquele tipo de beleza no qual se vê algo estranho e talvez, tenebroso. Heaven knows poderia ter saído nos anos 1970 caso não fosse uma barulheira groovy.
O Stargazer Lilies deixou os momentos mais declaradamente rocker do disco para o final. Trans med é blues psicodélico, o som mais eminentemente sixties do álbum. Hold tight soa como um shoegaze hendrixiano – tem a dramaticidade de uma canção de Jimi Hendrix, mas tem a cabeça ligada em outras esferas. Um caleidoscópio sonoro de primeira.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 10
Gravadora: Shore Dive Records
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
Crítica
Ouvimos: Goo Goo Dolls – “Summer anthem” (EP)

RESENHA: EP Summer anthem mostra Goo Goo Dolls entre boas faixas power pop e tropeços bregas, mas sem apagar a nostalgia dos álbuns antigos.
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Aquele velho papo (chato, admitimos) de “ah, como a banda tal era boa nos anos 1980 e 1990” faz todo sentido quando a banda em questão é o Goo Goo Dolls. Compreensível que um grupo que começou se dizendo “uma banda punk para a geração do skate” e que já foi comparado aos Replacements – no excelente disco A boy named Goo (1995) – tenha resolvido embarcar num caminho mais comercial assim que a porta se abriu. Fazer música não é fácil, ganhar grana com ela é complicado e vai por aí. Mas que depois do álbum Dizzy up the girl (1998) e do hit Iris a paciência de muitos fãs vem sendo testada… Ah, isso vem rolando sim.
O EP Summer anthem, na verdade, é pouco mais do que um souvenir para os fãs – recentemente o Goo Goo Dolls teve seu hit Iris incluído na trilha de Deadpool & Volverine e a música não apenas voltou a ficar falada, como tem sido bastante aplaudida e esperada nos shows. Como estão estreando uma turnê chamada Summer anthem, aproveitaram o nome para o disquinho, que beira uma espécie de emo-soul em Ocean e dá aquele susto nos fãs quando lembra um Maroon 5 indie em Nothing lasts forever.
No geral, o número de momentos bacanas de Summer anthem não apagam a vontade de parar o disco no meio e ouvir os álbuns antigos dos Goo Goo Dolls. A energia power pop do grupo ressurge em Slightly broken, Misery e Such a mystery. Já Run all night dá uma crescida no ouvido mas é um som meio brega – no pior dos sentidos em que a palavra “brega” pode ser usada. Not goodbye (Close my eyes) encerra o disco com uma nota triste – e não que isso tenha a ver com o funéreo “feche meus olhos” do título. É que o Goo Goo Dolls, nesta faixa, surge fazendo aquele mesmo rock arenístico-gratiluz do Coldplay. Caraca…
Texto: Ricardo Schott
Nota: 6
Gravadora: Warner Music
Lançamento: 22 de agosto de 2025.
- Relembrando: Goo Goo Dolls – A boy named Goo (1995)
- Ouvimos: Replacements – Tim (Let it bleed edition)
Crítica
Ouvimos: Desu Taem – “Molasses fighter jet”

RESENHA: Desu Taem volta com Molasses fighter jet, mergulhando no metal caótico, cheio de clichês, zoeira e boas ideias entre punk e metal.
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Rapaz, mas não é que lá vem o Desu Taem de novo? Essa banda norte-americana lança vários discos por ano – sabe-se lá se recorrem a IA, ou se têm um vasto acervo de composições, mas o resultado sempre tem a tendência de sair interessante e bem louco.
Molasses fighter jet é o (já nem me atrevo a contar)º disco do grupo – e um grande índice de que o universo do metal, ou pelo menos a brincadeira com os clichês dele, tomam conta da musicalidade da banda, agora. Molasses abre com Forgotten chaos, metal cromado e palhetado que envolve mundo acabando, memórias chegando ao fim. E prossegue com as guitarradas oitentistas de Insufficient salt e a vibe Ministry de Why?! Além de um namoro com o som de bandas como Testament e Sepultura na bizarra Alarm clock masturbator – que ainda por cima ganha uns uivos vocais que parecem coisa do Charlie Brown Jr.
Boa parte do material de Molasses foi gravado com som de demo, com um cozidão de guitarras, baixo e bateria – que surge em I will not be assimilated (soando como uma demo do Judas Priest gravada em 1991), no blues-funk-metal de I will not break e de Cyanide Soul Sister, e na onda meio punk pop de Victimized, but content e It hurts to be cool. Caindo numa mescla de punk e metal em You’re a dick e Yet toboggan run, o Desu Taem ainda prega a teologia da brutalidade em Mosh pit theology e manda bala na mordacidade em Crucifix vendors fair e You can’t unseen that.
Aparentemente a zona dessa turma não tem fim (se bobear já estão gravando o próximo disco de 2025). Mas quando o Desu Taem faz mais zoeira e menos pastiche musical, se torna bem mais interessante.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 6 de agosto de 2025.
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