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Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol 4

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Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

Tranque no estúdio quatro ingleses broncos que fazem um som bastante pesado e sombrio. Diga a eles para colocarem todas as suas angústias e frustrações nas músicas. Aumente o suprimento de drogas e faça todos cheirarem igual a quatro tamanduás, para intensificar o clima caótico das músicas. Em resumo, a receita de Vol 4, quarto disco do Black Sabbath, lançado em 25 de setembro de 1972, é essa aí. Mas vale afirmar que discos fantásticos como esse não cabem em manuais ou livros de receita.

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

Após três primeiros discos feitos em meio a turnês e/ou com pouco tempo de estúdio, Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommi (guitarra), Terry “Geezer” Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) finalmente conseguiam fazer um álbum sem pressa, com controle artístico (o próprio Iommi produziu quase tudo, ao lado do resto da banda e do empresário Patrick Meehan) e com… De fato, se Vol 4 fosse feito por crowdfunding, uma das recompensas teria que envolver o desfrute, ao lado dos fãs, da montanha de substâncias ilícitas que a banda usou para elaborar faixas como Wheels of confusion, Supernaut, Tomorrow’s dream e outras.

>> Veja também no POP FANTASMA: 25 coisas que você já sabia sobre a estreia do Black Sabbath

Agora, Vol 4 foi devidamente encaixotado para os grandes fãs. Vol 4: Super deluxe edition sai em quatro CDs ou cinco LPs. Não apenas inclui a nova versão remasterizada do álbum original, como também vinte gravações inéditas de estúdio (incluindo versões alternativas de Wheels of confusion e outras faixas). Além de gravações ao vivo de 1973.
Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

O pacote ainda tem um livro com fotos raras e um pôster com a capa feita para Vol 4 quando a banda queria chamá-lo de Snowblind. Pela primeira vez, a capa exibe a foto real em que Ozzy aparece com os braços levantados, sem o efeito que a transformou num desenho laranja.

E tá aí nosso relatório sobre Black Sabbath Vol 4. Ouça lendo, leia ouvindo.

DROGAS

IMPOSSÍVEL falar sobre Black Sabbath Vol 4 e sobre tudo o que vinha acontecendo na vida do Black Sabbath sem falar de um assunto nada banal: drogas. Mesmo que tivessem passado a pegar mais pesado época, os quatro estavam longe de serem ingênuos no quesito entorpecentes. Bill Ward, por exemplo, conhecia speed e demais bolinhas desde a adolescência. Os outros não ficavam muito atrás. Mas com a fama, as drogas pesadas chegaram rapidamente, e o acesso a elas ficou cada vez mais fácil.

>> Veja também no POP FANTASMA: E aí, será que chegou a hora de reavaliar Live evil, do Black Sabbath?

OZZY cheirou pela primeira vez em 1971. Seu padrinho no pó foi Leslie West, guitarrista do Mountain, quando abriu para eles no Denver Coliseum. O cantor recusou de início, mas cheirou a noite toda. As drogas marcaram a gravação do terceiro disco da banda, Master of reality (1971). Mas também foram o combustível dos shows, dados para públicos cada vez maiores e ensandecidos.

O SABBATH atraía também muita gente bizarra. Além dos satanistas que perseguiam a banda, os Hell’s Angels visitaram o grupo num camarim de show. Avisaram que adoravam o grupo, e que o Sabbath podia contar com a segurança deles. Aliás, groupies invadiam camarins da banda e traficantes começavam a  ficar cada vez mais próximos do grupo. Num show, Ozzy assustou-se de ver “umas mil seringas no chão” da plateia. A banda também recebia cartas com sangue.

ALIÁS E A PROPÓSITO, as turnês do Sabbath eram repletas de drogas, a ponto de o material “ilícito” viajar com o quarteto nos shows, e de amigos procurarem a banda em busca de drogas. Tony Iommi chegou a afirmar que era como se os quatro fossem traficantes.

PESO PESADO

O TERCEIRO DISCO do Sabbath surgiu numa época em que, apesar do rock progressivo vender muitos LPs, a crítica e o público tinham mais com o que se preocupar: o mercado começou a ficar cheio de bandas de hard rock, e de cantores de voz-e-violão que falavam sobre temas introspectivos e focavam nas mazelas da vida.

ERAM dois gêneros antagônicos e, a cada um, sobrava o seu devido escaninho. As bandas de rock pesado vendiam muitos discos e eram execradas pelos críticos. Dentre os cantores introvertidos, alguns eram um enorme sucesso de público, mas de modo geral o êxito de crítica do estilo folk urbano era bem maior. O New Musical Express pôs James Taylor em sua capa de 3 de julho de 1971 e escreveu num canto: “É ele o novo Messias?”.

CANTA BAIXINHO

FORA DESSES UNIVERSOS, o glam rock e derivados iam muito bem, ao menos na Inglaterra (T. Rex vendeu vários discos com Electric warrior, em 1971) e cantores de soul e de baladas de acento black ainda dominavam o mercado. Em 1972, ano de Black Sabbath Vol 4, o Jackson 5 comemorava a mudança de voz do adolescente Michael Jackson (que ganhava um registro menos grave) com o sexto disco, Lookin’ through the windows.

AINDA QUE A BANDA vendesse muitos discos, o Sabbath não era tratado da mesma forma que outros grupos de som pesado, como Led Zeppelin e Deep Purple, que latiam mais alto no mercado. Ozzy e seus amigos reclamavam do descuido das gravadoras (tanto a Vertigo, na Inglaterra, quanto a Warner, nos EUA, que lançavam os discos deles) e às vezes, eram comparados não com bandas de pré-metal, mas com grupos de protopunk, como Stooges. Se os jornalões e o alto escalão dos jornalistas detestavam o grupo, publicações underground volta e meia faziam resenhas positivas de seus discos.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o Black Sabbath foi aconselhado a agir um pouco como o Led Zeppelin e começar a recusar propostas de entrevistas. Num papo com a Rolling Stone em 1971 (um dos raros que agendaram para divulgar Master of reality), a banda zoou as perguntas, com direito a Ozzy dizendo que seria o primeiro integrante da banda a morrer. “Vou morrer antes dos quarenta, sei disso”, afirmou.

BONDE SINISTRO DO BLACK SABBATH

POUCO ANTES de Vol 4 ser gravado, o Black Sabbath encerrou uma turnê britânica, em fevereiro de 1972, e embicou em outro giro pelos EUA. E foi lá que se cristalizou uma ligação especial: Ozzy e Ward eram os mais sem-noção da banda no quesito drogas. A dupla virava noites tomando de tudo.

E COMO o baterista costumava ficar sempre mais louco que todo o mundo, a diversão dos colegas era (você deve saber) botar fogo em sua barba. Quando a banda ficou hospedada no Edgewater Inn, em Seattle – local onde se pescava à beira d’água e onde o Led Zeppelin havia protagonizado barbaridades envolvendo uma fã e pedaços de cação – Tony Iommi pescou um tubarão e o atirou pela janela, direto na cama de Ward.

OS VÁRIOS SHOWS e os abusos começaram a cobrar a conta do grupo, ainda que todos fossem ainda bem jovens. Bill Ward, mais bêbado que um gambá, chegou a ser internado com hepatite. Continuou bebendo e usando drogas depois da internação, no entanto. Ozzy não ficou muito atrás e Tony e Geezer, também não.

ENSAIOS

O SABBATH precisava seguir uma lei não-escrita na elaboração do Vol 4: era preciso fazer tudo com atenção. O disco deveria ter o mesmo sucesso dos anteriores, a banda teria mais tempo de estúdio (e poderia contar com uma qualidade de gravação melhor, além de toda a atenção de técnicos e produtores) e a situação era bem diferente dos dois anteriores, feitos em meio a turnês e à pressa da gravadora.

OS ENSAIOS foram num estúdio em Birmingham mesmo, com Tony trancafiado na sala de gravação tentando produzir riffs que tivessem a mesma qualidade dos de músicas como Paranoid e Black Sabbath. Os outros três passavam o dia enchendo a cara num pub nas redondezas e só apareciam por lá para conferir o que o guitarrista produzida. Tony começou a ficar puto.

GRANA. Elaborando o que seria o quarto disco, o Sabbath começou a perceber uma coisa básica: a banda fazia muito dinheiro e ainda deixava seus empresários milionários. Os quatro, que no começo do grupo mal tinham dinheiro para comer, agora podiam comprar carros, casas e tudo o que quisessem. Mesmo que Ozzy fosse casado e tivesse uma filha (Jessica, nascida em janeiro de 1972 e a única integrante do clã Osbourne a se recusar a aparecer na série The Osbournes, anos depois), a banda mudou-se para uma mansão em Bel Air para ficar mais próxima do estúdio onde gravariam o disco, em Los Angeles.

TODO MUNDO DOIDÃO

DROGAS. No tal casarão, o empresário Patrick Meeham também se instalou, para controlar mais de perto os negócios da banda. A mansão logo virou um mocó onde se consumia drogas variadas, além de enormes quantidades de cocaína entregues em caixas seladas. Às festas da banda, compareciam montes de traficantes, groupies, músicos atrás de drogas e uma renca de aproveitadores. Um cão doberman que ficava na mansão quase morreu, ao comer cocaína misturada com xarope infantil.

NUMA dessas noites de chapação, Ozzy viu um botão e achou que fosse do sistema de ar condicionado. Foi ligar, mas logo descobriu que não era: era um botão de alarme que chamava a polícia. E a banda estava reunida em torno de uma montanha de drogas, numa mesa. Assim que os policiais chegaram, a banda e seus camaradas começaram a jogar toneladas de drogas privada abaixo, achando que se tratava de alguma denúncia. Depois, passaram um bom tempo tentando recuperar as drogas perdidas.

ALIÁS E A PROPÓSITO, a primeira opção de título que a banda deu para Vol. 4 foi Snowblind, mas a Vertigo odiou a ideia, porque a referência às drogas era bem clara no nome. O título persistiu até os masters serem enviados à empresa. “Na época a cocaína era um grande negócio e a gravadora não queria encrencas”, entregou Ozzy. Ainda assim, era o nome da primeira faixa do lado B do álbum. A heroína começava também a surgir nos ensaios, mas os músicos não se injetavam. Apenas cheiravam a droga.

O ESTÚDIO

O SABBATH iniciou os trabalhos no Marquee Studios, construído na garagem atrás do clube de mesmo nome, em Londres. O local havia sido usado anteriormente por bandas clássicas como Beatles e Rolling Stones. Lá a banda trabalhou em Snowblind, a música mais cara de pau a respeito do uso de cocaína. Aliás, foi de lá que saiu também FX, vinheta gravada por um Tony Iommi doidão, pelado no estúdio, apenas com o barulho de seus crucifixos batendo na guitarra. O músico reconhece que era uma ideia estúpida, mas alguém perguntou “por que não colocamos isso no disco?”. E aí…

COM A IDA PARA LOS ANGELES, a banda instalou-se no Record Plant, um dos maiores estúdios da região, com mais canais e mais espaço para todos. O local havia sido aberto em 1969 e já tinha máquina de 24 canais quando isso era luxo. O restante do disco foi gravado lá, com a banda quase sempre virada das noites na mansão de Bel Air (e não é por acaso que o disco tem um agradecimento à “grande indústria da Coca de Los Angeles” no encarte).

INFLUÊNCIA INIMAGINÁVEL. Tomorrow’s dream, a suingada e pesadíssima segunda música do disco, tem raiz numa banda que, a princípio, nada tinha a ver com o Black Sabbath: T. Rex. Geezer Butler diz ter escrito a letra ao observar a situação de Marc Bolan, o líder. “Sempre que eu o via, lembrava do quão frágeis as coisas são. Ele era um popstar na Inglaterra, mas não era conhecido fora de lá. A música falava sobre como delicado era ser um rock star. Num dia você é sucesso de massa, no outro ninguém conhece você”, contou.

>> Veja também no POP FANTASMA: Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath

ALIÁS E A PROPÓSITO, apesar de o disco trazer uma balada romântica bastante comercial, Changes, o Sabbath preferiu lançar como single justamente Tomorrow’s dream, com o instrumental Laguna sunrise no lado B. Esse compacto saiu até no Brasil. Mas nas Filipinas, Changes virou single, e na Austrália, saiu um EP com a capa de Vol 4, só que com o nome de Paranoid, e as faixas Paranoid, Black Sabbath, Changes e Tomorrow’s dream.

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

MUDANÇAS

O CLÁSSICO INESPERADO Changes surgiu quando Tony Iommi viu um piano no hall da mansão. Nem sabia tocar o instrumento, mas fez algumas notas e compôs toda a música. Ozzy fez a letra inspirado no clima bizarro da vida amorosa de alguns integrantes (Tony tinha acabado de terminar um relacionamento, Bill estava se divorciando). Aliás, se você não sabia, Geezer Butler faz o som “de orquestra” num mellotron.

JÁ O INSTRUMENTAL Laguna sunrise chegou a assustar os fãs pela beleza sombria. O que você ouve no disco é Tony Iommi tocando violão acompanhado por uma orquestra. A música foi inspirada pelas idas da banda à casa de uma amiga em Laguna Beach, Orange County, e pelas viagens de drogas diversas no local. Algumas dessas viagens foram bem mal-sucedidas, com Geezer Butler vendo esqueletos e um funcionário da banda se acidentando seriamente após saltar de um trampolim. Iommi diz que a música inteira foi inspirada pelo nascer no sol na praia.

(NÃO) FAÇA VOCÊ MESMO. Iommi teve uma ideia: por que não colocar uma orquestra em Laguna sunrise? Aliás, melhor ainda: por que não tocavam eles mesmos os instrumentos? Ele e Butler compraram violinos e violoncelos e foram tentar. “Mas foi um desastre, absolutamente. O som parecia um gato morrendo. Comprei o violino mas não fazia ideia de como tocar aquilo direito. A gente via orquestras e pensava: ‘Ué, eu toco guitarra, baixo, será que é difícil tocar violoncelo?'”, explicou. A banda refez tudo com músicos contratados.

MAIS MÚSICAS

UM DETALHE que hoje é revelado pela caixa Vol 4 de luxo: quando o grupo foi gravar Wheels of confusion, houve uma primeira parte em que o técnico de som perguntou a Ozzy Osbourne como a música se chamava. Só que Ozzy responde: “Bollocks!” (merda). Mas foi só uma brincadeira idiota. “Nunca a chamaríamos assim. Tenho feito merda de lá para cá, mas…”, brinca o cantor.

GEEZER BUTLER, assim como nos primeiros discos, era o autor da maioria das letras. Aliás, contou que seu estado de espírito na época vazou para cada uma delas. Cornucopia, por exemplo, tem o verso: “As pessoas dizem que eu sou durão/Não sabem o que eu escondo”.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o baixista contou que lidava com uma depressão, só que não sabia disso. “A maioria das letras é bem pra baixo. Porque não havia pílulas ou algo parecido com o qual você pudesse ser tratado. Você ia ao médico e eles diziam para você sair, tomar alguns drinques no pub, levar seu cachorro para passear, pensando que era apenas uma coisa passageira. Então, a maneira de expressar meus sentimentos era escrever as letras”, afirmou.

>> Veja também no POP FANTASMA: Fizeram uma versão do Black Sabbath em alemão, com letra falando do romance O cão dos Baskerville.

MÚSICAS EXTRAS?. A edição americana de 1973 de Vol 4, lançada pela Warner, trazia duas faixas listadas na contracapa que até hoje soam estranhas para os fãs da banda: The straightener e Every day comes and goes. A primeira era a coda instrumental de Wheels of confusion e a segunda era a parte final, também sem vocais, de Under the sun. O livro Black Sabbath, de Mick Wall, afirma que esse tipo de medida – tomada pela Warner americana também nos discos anteriores do grupo – servia para tornar os álbuns do Sabbath mais “palatáveis” para rádio, mostrando quais eram partes das canções que poderiam ser cortadas pelos DJs. Aliás, esses nomes perduraram e apareceram nas edições em CD.

CAPA

COMO VOCÊ DEVE SABER, aquilo que você vê na capa (em laranja) e na contracapa (em branco) de Vol 4 é o próprio Ozzy Osboune. Aliás, a imagem não foi feita com exclusividade para a capa. A foto foi clicada por Keith Macmillian (o popular Keef, que também fez as fotos dos dois primeiros álbuns) em 24 de janeiro de 1972, durante um show do grupo no Birmingham’s Town Hall, em meio a uma curta tour europeia.

NA FOTO, Ozzy aparece fazendo o sinal de paz e amor – em pleno 1972, quando gestos hippies, além de já estarem fora de moda, não tinham nada a ver com a temática do grupo. “Todo mundo estava fazendo isso, então eu simplesmente fiz. Não era minha praia. Eu estava longe de ser um cara pacífico”, reconhece o cantor. Nesse mesmo show em sua cidade natal, a banda estreou Tommorow’s dream.

ALIÁS E A PROPÓSITO, existe um piratinha dessa noite.

CAPAS?

O VISUAL de Black Sabbath Vol 4 não foi muito estragado ao redor do mundo, não. Só que em algumas edições, acontecia de as letras brancas ganharem uma coloração creme (aconteceu na edição alemã). Aliás, o disco ganhou uma edição em K7 nos EUA em que as cores apareciam invertidas: fundo laranja, Ozzy preto.

EM 1976, a reedição do selo NEMS tingiu de laranja o letreiro que anunciava os nomes da banda e do disco. No ano de 1990, um selo independente chamado SNC lançou o álbum pela primeira vez na União Soviética – com mudanças na capa para que o título aparecesse em duas versões, a original e a do idioma local. Mas até mesmo a capa dupla da edição original foi lançada em vários países. Inclusive no Brasil, onde o álbum aportou em 1972, lançado pela Philips.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o selo NEMS, que reeditou os discos do Sabbath a partir de 1976, era aquela mesma gravadora/loja comandada por Brian Epstein, ex-empresário dos Beatles, nos anos 1960. Por causa da morte de Brian em 1967, a gravadora faliu. Só que o material do selo voltou em 1972, quando a empresa foi comprada pela Hemdale, dos empresários David Hemmings e John Daly.

A HEMDALE fez uma parceria com a Worldwide Artists Management, que empresariava o Sabbath (na figura de Patrick Meehan) e os álbuns do Sabbath começaram a aparecer com selos como WWA e NEMS. Inicialmente, os LPs do grupo seriam comercializados pela Phonogram, mas o selo ainda trocou de mãos. Essas edições seriam lançadas aqui no Brasil pela RGE nos anos 1970 e 1980, só que na maioria das vezes com capas mal-cheirosas, vinis mal prensados e sem encartes.

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

E DEPOIS?

EM JUNHO DE 1972, o Sabbath saiu da casa de Bel Air e foi mixar o disco no Island Studios, em Londres – Tony, produtor de fato do álbum, tomou conta de todo o processo. Os outros músicos já haviam voltado para suas famílias. Mas Ward, separado, lembra que estava levando uma vida junkie com a namorada. E que, além de viver todo o tempo chapado, não concordava com a linha mais classuda que o Sabbath estava levando no novo disco. Isso levou a banda a olhar atravessado para o baterista.

TONY IOMMI chegou a temer que Vol 4 fosse um fracasso. Mas não aconteceu nada disso: o disco de ouro chegou rápido e um milhão de pessoas comparam o álbum nos EUA. Lester Bangs, feroz crítico musical, até elogiou o álbum na Creem, comparando as letras do grupo com as de Bob Dylan (!). Só que, mesmo assim, tanto a Vertigo e a Warner quanto a banda preocuparam-se quando o álbum estacionou no 13º lugar nos EUA e no 8º na Inglaterra.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o Sabbath continuou embicando nas drogas, permaneceu sendo visitado por satanistas no camarim e sendo acusado de dar mau exemplo por religiosos. Num dos encontros com satanistas, o grupo viu montes deles portando velas pretas – a banda soprou as velas e se mandou (!).

Com material dos livros Eu sou Ozzy (Ozzy Osbourne) e Black Sabbath (Mick Wall), e da Rolling Stone e do Discogs.

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Relembrando: Grace Jones, “Nightclubbing” (1981)

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Relembrando: Grace Jones, "Nightclubbing" (1981)

Grace Jones é uma personalidade bem difícil de ser colocada numa caixinha. Nascida na Jamaica, filha de um pastor pentecostal, ela se mudou aos 12 anos para Syracuse, em Nova York. Depois, mandou-se para a capital novaiorquina para tentar, mais do que qualquer outra coisa, virar “estrela”. Mas até entrar no estúdio para gravar os primeiros singles, fez testes para peças e filmes. E conseguiu se dar bem como modelo, a ponto de desfilar em Paris.

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  • Mais Grace Jones no Pop Fantasma aqui.

Aliás, não havia nada parecido com Grace na época em que ela apareceu, diga-se de passagem. Enfim, uma modelo negra, cujos primeiros hits foram na área da disco music – mas cujo visual andrógino, punk e futurista criava outras conexões, bem mais modernas e underground. Em 1979, dois anos antes de Nightclubbing, a revista Ebony (dedicada ao público afro-americano) colocava a cantora em sua capa, na qual ela era chamada de “a ultrajante Grace Jones”.

Os paradoxos em torno da cantora eram bastante explorados pela revista, que afirmava que Grace era “frequentemente chamada de a Rainha da disco music”. Mas colocava que ela era “um ponto de interrogação seguido por um ponto de exclamação”, por causa de sua aparência andrógina (“será que ela não é um homem?” perguntava o texto) e por causa das escolhas que fazia para sua carreira.

“Sou dos anos 1980. Não quero me comercializar nem baixar o nível do meu trabalho por causa de ninguém. É como eu já fazia como modelo. Não fazia catálogos de jeito nenhum. Fodam-se os catálogos”, afirmava a cantora, em meio a fotos nas quais ela aparecia treinando boxe e pulando corda (o texto original está no Google Books e é bem legal – curta aqui).

E a musicalidade de Nightclubbing, o quinto disco de Grace, vinha até mais nessa linha “ponto de interrogação” do que nos discos anteriores. Aliás, o curioso é que Grace precisou da ajuda de ninguém menos que Chris Blackwell, dono de sua gravadora Island, para chegar até essa fluidez musical. Tom Moulton, um nomão da disco music e criador dos remixes (e dos LPs de som contínuo, que viraram mania em todo o mundo), havia cuidado de seus primeiros discos. Mas dessa vez, Chris, usando como modelo o disco Sinsemilla, da banda de reggae Black Uhuru, assumiu a produção. E cismou que levaria o som de Grace de volta para seu país de origem, a Jamaica.

Blackwell montou uma banda fenomenal que incluía a cozinha maravilhosa de Sly Dunbar (bateria) e Robbie Shakespeare (baixo). Além do tecladista francês Wally Badarou, os guitarristas Mikey Chung e Barry Reynolds e o percussionista Uziah Thompson. A onda de Nightclubbing era new wave sem ser exatamente new wave. Tinha reggae como ferramenta de comunicação, sim. Mas a origem na disco music e nas passarelas parisienses vinham como subtexto.

O repertório era bem pouco autoral (Grace Jones aparece como compositora apenas em três faixas). Mas era “autoral” mesmo assim, já que quase tudo ali eram recriações pessoais. Fosse em Nightclubbing, de Iggy Pop e David Bowie. Ou em Demolition man (uma sobra do The Police, escrita por Sting, enviada para a cantora). Ou em Libertango, de Astor Piazzolla, com letra em inglês e francês.

Já a capa do disco, uma imagem retocada pelo designer e fotógrafo Jean-Paul Goude, era quase uma imagem de clipe, feita de encomenda para deixar felizes os caciques da MTV (que iniciava seus trabalhos naquele ano). E soava como uma feliz mescla de afrofuturismo, David Bowie e Marlene Dietrich (Grace deixava tudo o que cantava com ar de cabaré alemão).

Nightclubbing está nas plataformas digitais com outra capa, e com um disco extra, trazendo remixes e músicas do baú de Grace – incluindo a versão dela para Me! I disconnect from you, de Gary Numan. O álbum faz aniversário no dia 11 de maio e é uma ótima oportunidade para descobri-lo.

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No nosso podcast, Donna Summer e a era de “I feel love” e “Bad girls”

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No nosso podcast, Donna Summer e seus hits entre 1977 e 1979

Tem uma rainha do pop vindo ao Brasil, como todo mundo já sabe. Mas o pop é tão amplo (e tão repleto de súditos) que tem um reinado beeem grande, no qual cabem vários reis e rainhas. E a nossa rainha do pop é aquela que, acompanhada de seu time preferido de parceiros, ajudou a construir a música do futuro em 1977. Foi quando Donna Summer lançou I feel love, uma peça disco que, dizem várias testemunhas, mudou a maneira como as pessoas ouvem música.

Hoje no nosso podcast, o Pop Fantasma Documento, o assunto é aquela época em que Donna Summer, que já era “a rainha do amor” graças a hits como Love to love you baby, foi além do estilo musical e da imagem que a consagraram. Lançou álbuns conceituais, promoveu uma viagem no tempo (no álbum I remember yesterday, de 1977) e promoveu flertes entre disco e new wave (no duplo Bad girls, de 1979).

Século 21 no podcast: Girl Ray e Dani Vallejo.

Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts. 

Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.

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Relembrando: Johnny Thunders, “Stations of the cross” (1982/1987)

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Relembrando: Johnny Thunders, "Stations of the cross"

Até mesmo um sujeito com uma vida bem louca como Johnny Thunders (1952-1991) tinha direito a momentos de (suposta) calmaria. O ex-guitarrista dos New York Dolls não teve uma carreira solo das mais constantes – ressurgiu em 1978 no mercado com So alone, um disco entre o punk e o rock básico, com produção de Steve Lillywhite. Entre vícios, retornos e situações de baixa, chegou a morar na Suécia com esposa e filha.

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Foi depois desse período de (vamos dizer assim) calma que surgiu o álbum duplo Stations of the cross, gravado em 1982 durante duas noites no Mudd Club, em Nova York, mas que só chegou às lojas em 1987 – e inicialmente apenas em K7, como parte da série de lançamentos em fitinhas pelo mitológico selo ROIR. Só depois de um tempo, o disco foi lançado em LP e CD (em vinil, saiu uma edição dupla na França em 1991). O disco na verdade traz mesmo é um show de sua banda punk pós-Dolls, os Heartbreakers – já que tem Thunders (voz e guitarra), Walter Lure (guitarra) e Jerry Nolan (bateria), além de um tal de Talarico no baixo.

Stations of the cross quase foi um filme, ou pelo menos a trilha sonora de um. Lech Kowalski, diretor do documentário punk DOA – A rite of passage, e que depois faria Born to lose: The last rock and roll movie sobre a vida do próprio Thunders, queria ter incluído as músicas como trilha do seu filme Gringo – História de um viciado (1987), do qual Johnny teria participado, fazendo o papel nada ambicioso de Jesus Cristo.

Num textinho publicado justamente no encarte de Stations, Lech relatou o quanto foi complicado trabalhar com Johnny. O diretor foi procurar o músico em sua casa e deparou com um apartamento que vivia com a porta permanentemente aberta, com Johnny em estado permanente de torpor. Ao propor o papel a ele, ouviu de Thunders que o único script do qual precisava era uma Bíblia.

Johnny ainda era viciado em drogas – com as filmagens iniciadas, chegou a sair em busca de cocaína e desapareceu por alguns dias do set. Numa ocasião, recusou-se a tocar uma música duas vezes. Ao gravar ao vivo o material que geraria este Stations of the cross, não quis seguir a ordem estabelecida ao lado de Lech. “De fato, ele nunca nem chegou a gravar as canções que eu precisava para o filme”, reclamou o diretor.

A aventura terminou com Thunders, drogado e semi-nu, sendo atendido por paramédicos. A Lech, só restou lamentar: Gringo saiu, mas o diretor desistiu de incluir as passagens de Thunders e decidiu reservá-las para um filme que nunca foi lançado, Stations of the cross. O disco em questão – produzido pelo próprio cineasta – fica então mais ou menos a trilha sonora de um filme que nunca foi lançado, e como uma trilha alternativa de Gringo.

O som de Stations of the cross é básico, formado por uma mescla de clássicos do próprio Thunders, com regravações como (I’m not your) Stepping stone (Paul Revere & The Raiders), Pipeline (The Chantays), Do you love me (Dave Clark Five). Tem também Chinese rocks, canção dividida entre Ramones e The Heartbreakers, cuja autoria costuma ser reclamada pelas duas bandas, e que surge aqui cantada com uma desafinação considerável. O material é complementado por conversas de bastidores e o que parecem ser trechos falados das filmagens.

Nesse papo aqui, Lech detalha um pouco sobre como foi trabalhar com Johnny, um sujeito que ele teve como fonte por alguns anos, e um personagem pelo qual se interessava, mas de quem pessoalmente ele não gostava de jeito nenhum. Quando decidiu fazer Born to lose, sobre Thunders, havia tido um contato rápido com uma das esposas do músico, e conheceu um dos filhos do artista – o garoto estava preso, na ocasião. O lado escroto e babacão de Thunders fica claro em atitudes, imagens e até em letras de músicas (inclusive nesse Stations of the cross, vale informar). Quando acerta, é um clássico do rock.

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