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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol 4

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Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

Tranque no estúdio quatro ingleses broncos que fazem um som bastante pesado e sombrio. Diga a eles para colocarem todas as suas angústias e frustrações nas músicas. Aumente o suprimento de drogas e faça todos cheirarem igual a quatro tamanduás, para intensificar o clima caótico das músicas. Em resumo, a receita de Vol 4, quarto disco do Black Sabbath, lançado em 25 de setembro de 1972, é essa aí. Mas vale afirmar que discos fantásticos como esse não cabem em manuais ou livros de receita.

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

Após três primeiros discos feitos em meio a turnês e/ou com pouco tempo de estúdio, Ozzy Osbourne (voz), Tony Iommi (guitarra), Terry “Geezer” Butler (baixo) e Bill Ward (bateria) finalmente conseguiam fazer um álbum sem pressa, com controle artístico (o próprio Iommi produziu quase tudo, ao lado do resto da banda e do empresário Patrick Meehan) e com… De fato, se Vol 4 fosse feito por crowdfunding, uma das recompensas teria que envolver o desfrute, ao lado dos fãs, da montanha de substâncias ilícitas que a banda usou para elaborar faixas como Wheels of confusion, Supernaut, Tomorrow’s dream e outras.

>> Veja também no POP FANTASMA: 25 coisas que você já sabia sobre a estreia do Black Sabbath

Agora, Vol 4 foi devidamente encaixotado para os grandes fãs. Vol 4: Super deluxe edition sai em quatro CDs ou cinco LPs. Não apenas inclui a nova versão remasterizada do álbum original, como também vinte gravações inéditas de estúdio (incluindo versões alternativas de Wheels of confusion e outras faixas). Além de gravações ao vivo de 1973.
Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

O pacote ainda tem um livro com fotos raras e um pôster com a capa feita para Vol 4 quando a banda queria chamá-lo de Snowblind. Pela primeira vez, a capa exibe a foto real em que Ozzy aparece com os braços levantados, sem o efeito que a transformou num desenho laranja.

E tá aí nosso relatório sobre Black Sabbath Vol 4. Ouça lendo, leia ouvindo.

DROGAS

IMPOSSÍVEL falar sobre Black Sabbath Vol 4 e sobre tudo o que vinha acontecendo na vida do Black Sabbath sem falar de um assunto nada banal: drogas. Mesmo que tivessem passado a pegar mais pesado época, os quatro estavam longe de serem ingênuos no quesito entorpecentes. Bill Ward, por exemplo, conhecia speed e demais bolinhas desde a adolescência. Os outros não ficavam muito atrás. Mas com a fama, as drogas pesadas chegaram rapidamente, e o acesso a elas ficou cada vez mais fácil.

>> Veja também no POP FANTASMA: E aí, será que chegou a hora de reavaliar Live evil, do Black Sabbath?

OZZY cheirou pela primeira vez em 1971. Seu padrinho no pó foi Leslie West, guitarrista do Mountain, quando abriu para eles no Denver Coliseum. O cantor recusou de início, mas cheirou a noite toda. As drogas marcaram a gravação do terceiro disco da banda, Master of reality (1971). Mas também foram o combustível dos shows, dados para públicos cada vez maiores e ensandecidos.

O SABBATH atraía também muita gente bizarra. Além dos satanistas que perseguiam a banda, os Hell’s Angels visitaram o grupo num camarim de show. Avisaram que adoravam o grupo, e que o Sabbath podia contar com a segurança deles. Aliás, groupies invadiam camarins da banda e traficantes começavam a  ficar cada vez mais próximos do grupo. Num show, Ozzy assustou-se de ver “umas mil seringas no chão” da plateia. A banda também recebia cartas com sangue.

ALIÁS E A PROPÓSITO, as turnês do Sabbath eram repletas de drogas, a ponto de o material “ilícito” viajar com o quarteto nos shows, e de amigos procurarem a banda em busca de drogas. Tony Iommi chegou a afirmar que era como se os quatro fossem traficantes.

PESO PESADO

O TERCEIRO DISCO do Sabbath surgiu numa época em que, apesar do rock progressivo vender muitos LPs, a crítica e o público tinham mais com o que se preocupar: o mercado começou a ficar cheio de bandas de hard rock, e de cantores de voz-e-violão que falavam sobre temas introspectivos e focavam nas mazelas da vida.

ERAM dois gêneros antagônicos e, a cada um, sobrava o seu devido escaninho. As bandas de rock pesado vendiam muitos discos e eram execradas pelos críticos. Dentre os cantores introvertidos, alguns eram um enorme sucesso de público, mas de modo geral o êxito de crítica do estilo folk urbano era bem maior. O New Musical Express pôs James Taylor em sua capa de 3 de julho de 1971 e escreveu num canto: “É ele o novo Messias?”.

CANTA BAIXINHO

FORA DESSES UNIVERSOS, o glam rock e derivados iam muito bem, ao menos na Inglaterra (T. Rex vendeu vários discos com Electric warrior, em 1971) e cantores de soul e de baladas de acento black ainda dominavam o mercado. Em 1972, ano de Black Sabbath Vol 4, o Jackson 5 comemorava a mudança de voz do adolescente Michael Jackson (que ganhava um registro menos grave) com o sexto disco, Lookin’ through the windows.

AINDA QUE A BANDA vendesse muitos discos, o Sabbath não era tratado da mesma forma que outros grupos de som pesado, como Led Zeppelin e Deep Purple, que latiam mais alto no mercado. Ozzy e seus amigos reclamavam do descuido das gravadoras (tanto a Vertigo, na Inglaterra, quanto a Warner, nos EUA, que lançavam os discos deles) e às vezes, eram comparados não com bandas de pré-metal, mas com grupos de protopunk, como Stooges. Se os jornalões e o alto escalão dos jornalistas detestavam o grupo, publicações underground volta e meia faziam resenhas positivas de seus discos.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o Black Sabbath foi aconselhado a agir um pouco como o Led Zeppelin e começar a recusar propostas de entrevistas. Num papo com a Rolling Stone em 1971 (um dos raros que agendaram para divulgar Master of reality), a banda zoou as perguntas, com direito a Ozzy dizendo que seria o primeiro integrante da banda a morrer. “Vou morrer antes dos quarenta, sei disso”, afirmou.

BONDE SINISTRO DO BLACK SABBATH

POUCO ANTES de Vol 4 ser gravado, o Black Sabbath encerrou uma turnê britânica, em fevereiro de 1972, e embicou em outro giro pelos EUA. E foi lá que se cristalizou uma ligação especial: Ozzy e Ward eram os mais sem-noção da banda no quesito drogas. A dupla virava noites tomando de tudo.

E COMO o baterista costumava ficar sempre mais louco que todo o mundo, a diversão dos colegas era (você deve saber) botar fogo em sua barba. Quando a banda ficou hospedada no Edgewater Inn, em Seattle – local onde se pescava à beira d’água e onde o Led Zeppelin havia protagonizado barbaridades envolvendo uma fã e pedaços de cação – Tony Iommi pescou um tubarão e o atirou pela janela, direto na cama de Ward.

OS VÁRIOS SHOWS e os abusos começaram a cobrar a conta do grupo, ainda que todos fossem ainda bem jovens. Bill Ward, mais bêbado que um gambá, chegou a ser internado com hepatite. Continuou bebendo e usando drogas depois da internação, no entanto. Ozzy não ficou muito atrás e Tony e Geezer, também não.

ENSAIOS

O SABBATH precisava seguir uma lei não-escrita na elaboração do Vol 4: era preciso fazer tudo com atenção. O disco deveria ter o mesmo sucesso dos anteriores, a banda teria mais tempo de estúdio (e poderia contar com uma qualidade de gravação melhor, além de toda a atenção de técnicos e produtores) e a situação era bem diferente dos dois anteriores, feitos em meio a turnês e à pressa da gravadora.

OS ENSAIOS foram num estúdio em Birmingham mesmo, com Tony trancafiado na sala de gravação tentando produzir riffs que tivessem a mesma qualidade dos de músicas como Paranoid e Black Sabbath. Os outros três passavam o dia enchendo a cara num pub nas redondezas e só apareciam por lá para conferir o que o guitarrista produzida. Tony começou a ficar puto.

GRANA. Elaborando o que seria o quarto disco, o Sabbath começou a perceber uma coisa básica: a banda fazia muito dinheiro e ainda deixava seus empresários milionários. Os quatro, que no começo do grupo mal tinham dinheiro para comer, agora podiam comprar carros, casas e tudo o que quisessem. Mesmo que Ozzy fosse casado e tivesse uma filha (Jessica, nascida em janeiro de 1972 e a única integrante do clã Osbourne a se recusar a aparecer na série The Osbournes, anos depois), a banda mudou-se para uma mansão em Bel Air para ficar mais próxima do estúdio onde gravariam o disco, em Los Angeles.

TODO MUNDO DOIDÃO

DROGAS. No tal casarão, o empresário Patrick Meeham também se instalou, para controlar mais de perto os negócios da banda. A mansão logo virou um mocó onde se consumia drogas variadas, além de enormes quantidades de cocaína entregues em caixas seladas. Às festas da banda, compareciam montes de traficantes, groupies, músicos atrás de drogas e uma renca de aproveitadores. Um cão doberman que ficava na mansão quase morreu, ao comer cocaína misturada com xarope infantil.

NUMA dessas noites de chapação, Ozzy viu um botão e achou que fosse do sistema de ar condicionado. Foi ligar, mas logo descobriu que não era: era um botão de alarme que chamava a polícia. E a banda estava reunida em torno de uma montanha de drogas, numa mesa. Assim que os policiais chegaram, a banda e seus camaradas começaram a jogar toneladas de drogas privada abaixo, achando que se tratava de alguma denúncia. Depois, passaram um bom tempo tentando recuperar as drogas perdidas.

ALIÁS E A PROPÓSITO, a primeira opção de título que a banda deu para Vol. 4 foi Snowblind, mas a Vertigo odiou a ideia, porque a referência às drogas era bem clara no nome. O título persistiu até os masters serem enviados à empresa. “Na época a cocaína era um grande negócio e a gravadora não queria encrencas”, entregou Ozzy. Ainda assim, era o nome da primeira faixa do lado B do álbum. A heroína começava também a surgir nos ensaios, mas os músicos não se injetavam. Apenas cheiravam a droga.

O ESTÚDIO

O SABBATH iniciou os trabalhos no Marquee Studios, construído na garagem atrás do clube de mesmo nome, em Londres. O local havia sido usado anteriormente por bandas clássicas como Beatles e Rolling Stones. Lá a banda trabalhou em Snowblind, a música mais cara de pau a respeito do uso de cocaína. Aliás, foi de lá que saiu também FX, vinheta gravada por um Tony Iommi doidão, pelado no estúdio, apenas com o barulho de seus crucifixos batendo na guitarra. O músico reconhece que era uma ideia estúpida, mas alguém perguntou “por que não colocamos isso no disco?”. E aí…

COM A IDA PARA LOS ANGELES, a banda instalou-se no Record Plant, um dos maiores estúdios da região, com mais canais e mais espaço para todos. O local havia sido aberto em 1969 e já tinha máquina de 24 canais quando isso era luxo. O restante do disco foi gravado lá, com a banda quase sempre virada das noites na mansão de Bel Air (e não é por acaso que o disco tem um agradecimento à “grande indústria da Coca de Los Angeles” no encarte).

INFLUÊNCIA INIMAGINÁVEL. Tomorrow’s dream, a suingada e pesadíssima segunda música do disco, tem raiz numa banda que, a princípio, nada tinha a ver com o Black Sabbath: T. Rex. Geezer Butler diz ter escrito a letra ao observar a situação de Marc Bolan, o líder. “Sempre que eu o via, lembrava do quão frágeis as coisas são. Ele era um popstar na Inglaterra, mas não era conhecido fora de lá. A música falava sobre como delicado era ser um rock star. Num dia você é sucesso de massa, no outro ninguém conhece você”, contou.

>> Veja também no POP FANTASMA: Várias coisas que você já sabia sobre Paranoid, do Black Sabbath

ALIÁS E A PROPÓSITO, apesar de o disco trazer uma balada romântica bastante comercial, Changes, o Sabbath preferiu lançar como single justamente Tomorrow’s dream, com o instrumental Laguna sunrise no lado B. Esse compacto saiu até no Brasil. Mas nas Filipinas, Changes virou single, e na Austrália, saiu um EP com a capa de Vol 4, só que com o nome de Paranoid, e as faixas Paranoid, Black Sabbath, Changes e Tomorrow’s dream.

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

MUDANÇAS

O CLÁSSICO INESPERADO Changes surgiu quando Tony Iommi viu um piano no hall da mansão. Nem sabia tocar o instrumento, mas fez algumas notas e compôs toda a música. Ozzy fez a letra inspirado no clima bizarro da vida amorosa de alguns integrantes (Tony tinha acabado de terminar um relacionamento, Bill estava se divorciando). Aliás, se você não sabia, Geezer Butler faz o som “de orquestra” num mellotron.

JÁ O INSTRUMENTAL Laguna sunrise chegou a assustar os fãs pela beleza sombria. O que você ouve no disco é Tony Iommi tocando violão acompanhado por uma orquestra. A música foi inspirada pelas idas da banda à casa de uma amiga em Laguna Beach, Orange County, e pelas viagens de drogas diversas no local. Algumas dessas viagens foram bem mal-sucedidas, com Geezer Butler vendo esqueletos e um funcionário da banda se acidentando seriamente após saltar de um trampolim. Iommi diz que a música inteira foi inspirada pelo nascer no sol na praia.

(NÃO) FAÇA VOCÊ MESMO. Iommi teve uma ideia: por que não colocar uma orquestra em Laguna sunrise? Aliás, melhor ainda: por que não tocavam eles mesmos os instrumentos? Ele e Butler compraram violinos e violoncelos e foram tentar. “Mas foi um desastre, absolutamente. O som parecia um gato morrendo. Comprei o violino mas não fazia ideia de como tocar aquilo direito. A gente via orquestras e pensava: ‘Ué, eu toco guitarra, baixo, será que é difícil tocar violoncelo?'”, explicou. A banda refez tudo com músicos contratados.

MAIS MÚSICAS

UM DETALHE que hoje é revelado pela caixa Vol 4 de luxo: quando o grupo foi gravar Wheels of confusion, houve uma primeira parte em que o técnico de som perguntou a Ozzy Osbourne como a música se chamava. Só que Ozzy responde: “Bollocks!” (merda). Mas foi só uma brincadeira idiota. “Nunca a chamaríamos assim. Tenho feito merda de lá para cá, mas…”, brinca o cantor.

GEEZER BUTLER, assim como nos primeiros discos, era o autor da maioria das letras. Aliás, contou que seu estado de espírito na época vazou para cada uma delas. Cornucopia, por exemplo, tem o verso: “As pessoas dizem que eu sou durão/Não sabem o que eu escondo”.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o baixista contou que lidava com uma depressão, só que não sabia disso. “A maioria das letras é bem pra baixo. Porque não havia pílulas ou algo parecido com o qual você pudesse ser tratado. Você ia ao médico e eles diziam para você sair, tomar alguns drinques no pub, levar seu cachorro para passear, pensando que era apenas uma coisa passageira. Então, a maneira de expressar meus sentimentos era escrever as letras”, afirmou.

>> Veja também no POP FANTASMA: Fizeram uma versão do Black Sabbath em alemão, com letra falando do romance O cão dos Baskerville.

MÚSICAS EXTRAS?. A edição americana de 1973 de Vol 4, lançada pela Warner, trazia duas faixas listadas na contracapa que até hoje soam estranhas para os fãs da banda: The straightener e Every day comes and goes. A primeira era a coda instrumental de Wheels of confusion e a segunda era a parte final, também sem vocais, de Under the sun. O livro Black Sabbath, de Mick Wall, afirma que esse tipo de medida – tomada pela Warner americana também nos discos anteriores do grupo – servia para tornar os álbuns do Sabbath mais “palatáveis” para rádio, mostrando quais eram partes das canções que poderiam ser cortadas pelos DJs. Aliás, esses nomes perduraram e apareceram nas edições em CD.

CAPA

COMO VOCÊ DEVE SABER, aquilo que você vê na capa (em laranja) e na contracapa (em branco) de Vol 4 é o próprio Ozzy Osboune. Aliás, a imagem não foi feita com exclusividade para a capa. A foto foi clicada por Keith Macmillian (o popular Keef, que também fez as fotos dos dois primeiros álbuns) em 24 de janeiro de 1972, durante um show do grupo no Birmingham’s Town Hall, em meio a uma curta tour europeia.

NA FOTO, Ozzy aparece fazendo o sinal de paz e amor – em pleno 1972, quando gestos hippies, além de já estarem fora de moda, não tinham nada a ver com a temática do grupo. “Todo mundo estava fazendo isso, então eu simplesmente fiz. Não era minha praia. Eu estava longe de ser um cara pacífico”, reconhece o cantor. Nesse mesmo show em sua cidade natal, a banda estreou Tommorow’s dream.

ALIÁS E A PROPÓSITO, existe um piratinha dessa noite.

CAPAS?

O VISUAL de Black Sabbath Vol 4 não foi muito estragado ao redor do mundo, não. Só que em algumas edições, acontecia de as letras brancas ganharem uma coloração creme (aconteceu na edição alemã). Aliás, o disco ganhou uma edição em K7 nos EUA em que as cores apareciam invertidas: fundo laranja, Ozzy preto.

EM 1976, a reedição do selo NEMS tingiu de laranja o letreiro que anunciava os nomes da banda e do disco. No ano de 1990, um selo independente chamado SNC lançou o álbum pela primeira vez na União Soviética – com mudanças na capa para que o título aparecesse em duas versões, a original e a do idioma local. Mas até mesmo a capa dupla da edição original foi lançada em vários países. Inclusive no Brasil, onde o álbum aportou em 1972, lançado pela Philips.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o selo NEMS, que reeditou os discos do Sabbath a partir de 1976, era aquela mesma gravadora/loja comandada por Brian Epstein, ex-empresário dos Beatles, nos anos 1960. Por causa da morte de Brian em 1967, a gravadora faliu. Só que o material do selo voltou em 1972, quando a empresa foi comprada pela Hemdale, dos empresários David Hemmings e John Daly.

A HEMDALE fez uma parceria com a Worldwide Artists Management, que empresariava o Sabbath (na figura de Patrick Meehan) e os álbuns do Sabbath começaram a aparecer com selos como WWA e NEMS. Inicialmente, os LPs do grupo seriam comercializados pela Phonogram, mas o selo ainda trocou de mãos. Essas edições seriam lançadas aqui no Brasil pela RGE nos anos 1970 e 1980, só que na maioria das vezes com capas mal-cheirosas, vinis mal prensados e sem encartes.

Várias coisas que você já sabia sobre Black Sabbath Vol. 4

E DEPOIS?

EM JUNHO DE 1972, o Sabbath saiu da casa de Bel Air e foi mixar o disco no Island Studios, em Londres – Tony, produtor de fato do álbum, tomou conta de todo o processo. Os outros músicos já haviam voltado para suas famílias. Mas Ward, separado, lembra que estava levando uma vida junkie com a namorada. E que, além de viver todo o tempo chapado, não concordava com a linha mais classuda que o Sabbath estava levando no novo disco. Isso levou a banda a olhar atravessado para o baterista.

TONY IOMMI chegou a temer que Vol 4 fosse um fracasso. Mas não aconteceu nada disso: o disco de ouro chegou rápido e um milhão de pessoas comparam o álbum nos EUA. Lester Bangs, feroz crítico musical, até elogiou o álbum na Creem, comparando as letras do grupo com as de Bob Dylan (!). Só que, mesmo assim, tanto a Vertigo e a Warner quanto a banda preocuparam-se quando o álbum estacionou no 13º lugar nos EUA e no 8º na Inglaterra.

ALIÁS E A PROPÓSITO, o Sabbath continuou embicando nas drogas, permaneceu sendo visitado por satanistas no camarim e sendo acusado de dar mau exemplo por religiosos. Num dos encontros com satanistas, o grupo viu montes deles portando velas pretas – a banda soprou as velas e se mandou (!).

Com material dos livros Eu sou Ozzy (Ozzy Osbourne) e Black Sabbath (Mick Wall), e da Rolling Stone e do Discogs.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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