Lançamentos
Radar: Marrakesh, Clayton Barros, Silas Niehaus, Alberto Continentino, Dia Eterno, Asterisma, Devotos de Nossa Senhora

Tem radar quase todo dia no Pop Fantasma – alternando nacional e internacional – e a ideia é reforçar um compromisso nosso de estar sempre divulgando música nova. Relançamentos também têm vez por aqui de vez em quando: além de novas de bandas como Marrakesh e Asterisma, tem também o anúncio de que o primeiro álbum do Devotos de Nossa Senhora Aparecida – banda do Luiz Thunderbird, lembra? – voltou em vinil. Ouça, leia, veja, comente e compartilhe tudo.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Gustavo Baez/Divulgação (Marrakesh)
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- Mais Radar aqui.
MARRAKESH, “TROQUEI”. Essa banda curitibana, que já tem dois álbuns em inglês, prepara o primeiro disco em português – a sair pela Balaclava Records. A sonoridade da nova faixa fica entre estilos como shoegaze e até hardcore (presente numa viradinha rítmica que rola lá pela metade da música, e nos vocais gritados). A letra, por sua vez, fala de uma pessoa que não some da memória. “É como se a pessoa continuasse ali, mesmo quando a gente tenta seguir em frente. O tropeço não é só literal, mas emocional”, comenta Truno, vocalista do Marrakesh. Antes de Troquei, saíram dois singles que adiantaram o próximo álbum, Talvez e Brincos.
CLAYTON BARROS feat JORGE DU PEIXE, “FLOR DE VULCÃO”. Clayton, violonista do Cordel do Fogo Encantado, abre os caminhos de seu novo álbum solo, Primitivo atemporal, com Flor de vulcão, que traz um feat de Jorge Du Peixe, da Nação Zumbi. Uma música que une sertão, mangue, ritmos levemente caribenhos e climas herdados do samba – o violão tem referências de João Bosco e a batida inclui emanações de Glorioso Santo Antonio, faixa da dupla baiana Antonio Carlos & Jocafi. Já a letra fala de recomeço, amor e coragem diante da escuridão. É o sertão revisto com lentes futuristas – como diz Clayton, “um vaqueiro montado numa moto elétrica”. O single saiu pelo selo Estelita e já está nas plataformas.
SILAS NIEHAUS fest GUIAS CEGOS, “PRES MENINES”. Cantor, compositor, multi-instrumentista, poeta, ator, artesão e artista drag queen da Bahia, Silas acaba de lançar o EP Màriwò – uma celebração da identidade preta, LGBTQI+ e periférica, marcada por composições autorais e diversidade musical. Pres menines, colaboração com a banda Guias Cegos, traz influências de samba, rap e trap, criando um manifesto que afirma corpos, vozes e vivências.
O EP integra a iniciativa Sons do Subúrbio, que impulsiona as trajetórias de artistas do Subúrbio Ferroviário de Salvador por meio da qualificação profissional e do apoio à produção artística.
ALBERTO CONTINENTINO, “MILKY WAY”. Baixista de nomes como Caetano Veloso, Ana Frango Elétrico, Bala Desejo e Adriana Calcanhotto, Alberto apronta seu terceiro álbum solo, Cabeça a mil e o corpo lento, para este mês, pelo selo RISCO. Com groove espacial e as mesmas emanações dos anos 1980 que volta e meia marcam o trabalho de Ana, Milky way traz Alberto cantando – com o auxílio de Leticia Pedroza – uma letra extremamente simplificada em inglês, feita por Tomás Cunha. A música foi feita a partir da letra, e Alberto decidiu fazer tudo em cima do groove, com direito a programações eletrônicas e dois baixos (!) que dão uma baita sustentação á melodia.
(e de lá para cá, saiu outro single de Alberto, Cerne)
DIA ETERNO, “ESSA CIDADE ACABOU”. Bastante influenciada pelo pós-punk (e por bandas como Violeta de Outono, cujo hit Dia eterno inspirou seu nome), essa banda paulistana passou recentemente pela tristeza da morte do baixista Jesum Biasin. O músico teve tempo de gravar o baixo em duas faixas do novo álbum do grupo, Diferentes direções, lançado em abril. Uma delas foi a balada dark Essa cidade acabou, de clima chuvoso e andamento lento. O Dia Eterno prossegue com Ivan Malta no baixo e no teclado, dividindo o grupo com Roberto Troccoli (voz, guitarra) e Leandro Alves (bateria).
ASTERISMA, “UMA ESTRELA E MEIA”. Influenciada pela cena do Midwest emo – o emo do Centro Oeste dos Estados Unidos, que ficou famosíssim a partir dos anos 1990 – essa banda gaúcha também une referências de indie rock, e um clima confessional que não fala só de pensamentos pessoais e introspecções afins. Temas sociais e políticos volta e meia aparecem nas letras do grupo, que prepara para breve o segundo álbum. Uma estrela e meia lida com os problemas da vida como se fossem filmes – o título é inspirado no sistema de avaliação do site Letterboxd, e a letra propõe superação no lugar dos traumas (“a intenção não é levar pra cova / alguma merda que vivi / é que as memórias / não usam interruptor pra apagar”). O clipe, filmado na mitológica Twin Video de Porto Alegre, é bem legal.
DEVOTOS DE NOSSA SENHORA APARECIDA, “GIBI, RAMONES E MOTÖRHEAD”. Formada nos anos 1980 pelo apresentador Luiz Thunderbird, o Devotos é uma banda de uma época em que até o punk rock era mais simples, mais voltado para os poucos acordes e para a adoração irrestrita a Ramones – e o primeiro álbum do grupo, Devotos a quem? (1994) acaba de voltar em vinil pelo selo Monstro Discos. O quase-hit do álbum foi Gibi, Ramones e Motörhead, uma declaração de princípios que na época ganhou clipe e (olha só!) fez parte até de uma trilha de novela (a hoje esquecida 74.5, Uma onda no ar, da Rede Manchete).
Crítica
Ouvimos: Justin Bieber – “Swag II”

RESENHA: Swag II, continuação de Swag – disco anterior – mostra Justin Bieber dividido entre fé, família e excesso criativo: poucos bons momentos de r&b e soul, mas também muita sobra esquecível.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
Tenho a ligeira impressão que, em algumas semanas, vai virar moda nas festas, bares e debates online defender Swag II, a continuação do Swag de Justin Bieber, que a gente resenhou aqui. Vale dizer que pela quantidade de músicas, e pela rapidez com que o material chegou às plataformas, não dá para não imaginar que pode haver algo de errado com esse excesso de produção. Justin Bieber não é um artista que sofre de incontinência criativa, nem sequer é um artista desligado da fruição que os fãs precisam ter de seu trabalho.
Dá para imaginar muita coisa sobre os bastidores de Swag II: 1) Justin está precisando focar em alguma coisa para distrair a mente; 2) Justin está levando bastante a sério a ideia de que em tempos de plataformas e algoritmos, é preciso sempre pensar em algo diferente para não sumir do Google e da IA; 3) Justin quis entregar um repertório no estilo “entendeu ou quer que eu desenhe?” em relação à sua fé em Cristo e seu amor pela esposa e pela família. O que dá para ter certeza: quem achava que o ótimo Swag seria um disco horrível pode ver agora boa parte de suas previsões se confirmarem.
Por acaso, Swag II começa com um r&b chamado Speed demon que parece um recado para as Candinhas de plantão, e para quem falava mal dele e acabou adorando o primeiro Swag: “eles tentam dizer que estou louco / mas agora eles estão cantando cada linha (das minhas músicas)”. É pop adulto, mas adulto para quem anda lá pelos 30 anos – e portanto, tinha uns 15 na época dos primeiros hits do cantor.
Nas letras do disco, Justin faz questão de mostrar que é um cara mudado, e que não vai fazer sua mulher sofrer (Better man), faz canções de redenção e autoestima (I think you’re special), louva seu filho (Mother in you) e homenageia toda sua família, dos pais aos cachorros, em Everything Hallelujah – teminha de violão que chega a lembrar Pais e filhos, da Legião Urbana, e ganha uma cara de soul gospel na sequência.
Por sinal, boa parte de Swag II aponta para uma espécie de gospel que não ousa dizer seu nome – até que Justin decide encerrar o disco com Story of god, uma narração de oito minutos sobre a história bíblica de Adão e Eva no Jardim do Éden. Fui dar uma olhada no que andam falando dessa faixa e Rob Shefield, da Rolling Stone, fez a melhor comparação: “Se você ouvir esta música neste fim de semana, significa que ficou tempo demais na festa e o anfitrião está apelando para táticas nucleares para expulsar os convidados da casa”. Na real, é só Justin esfregando na cara do/da ouvinte o que já havia em canções como Believe e Purpose – e vale recordar que o Swag I terminava com um gospel cantado por Marvin Winans.
Musicalmente, o que tem de imperdível em Swag II? Bom, Love song é um r&b com cara meio jazz, que vai crescendo na cara de quem ouve. Witchya é um soul com clima de doo wop atualizado, com beat abafado e textura que dá para pegar. Don’t wanna, com baixo estilingando, tem um ritmo que parece abraçar o ouvinte. Tem All the way, balada soul com cara anos 80, em que Justin tenta cantar igual a Michael Jackson (sem a menor competência, claro), além do clima psicodélico de araque de Safe space.
Não perfaz metade do disco, que é repleto de faixas que soam como pontes e deixam a impressão de algo mal colado, com sons que parecem desandar – como rola em faixas como Bad honey, Poppin’ my s**t e a bossinha tocada na guitarra Petting zoo, além de Dotted line, tentativa de soar lo-fi e despojado como no primeiro Swag, mas que acaba soando apenas como uma música chatinha, mesmo.
As letras, por sua vez, continuam o grande problema de Justin: sem ter a vivência, a autoridade e a capacidade para contar histórias de arrepiar, ele recorre a metáforas nada-a-ver, tentativas de parecer mauzão e machão (como em Petting zoo, na qual ele parece narrar uma briga com a esposa e chama a oponente de “cadela”), e a poemas de amor sem muita graça. Você precisa ser muito fã ou muito curioso/curiosa para encarar Swag II.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 5,5
Gravadora: Def Jam/Universal Music
Lançamento: 5 de setembro de 2025.
Crítica
Ouvimos: Wisp – “If not winter”

RESENHA: Wisp (codinome de Natalie Yu) estreia com If not winter: shoegaze doce e distorcido, entre Cocteau Twins, partículas de metal e detalhes de produção pop.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
Depois do samba-canção, do choro-canção e do samba-rock, vem aí outro estilo musical de duas palavras: a balada shoegaze. Vem aí, aliás, não: já veio. If not winter, primeiro álbum de Wisp – codinome usado pela compositora Natalie Yu, norte-americana de origem tailandesa e taiwanesa – é formado basicamente pela união desses dois elementos, em canções com vocais doces, distorções, guitarras que ora parecem um paredão, ora soam como se desaparecessem no ar. E letras que passeiam pelo romantismo, pela saudade, pelo desespero, pela frieza – vários tipos de sentimentos.
O estilo ao qual Natalie se dedica, na verdade, já existe há um tempinho: lá pelo começo do século 21, algumas bandas que faziam sons lentos, com vocais doces e design musical perturbador e distorcido, começaram a usar o termo “nu-gaze” para definir seu trabalho. Não é exatamente uma denominação de longo alcance, mas ela existe. Wisp tem muito desse ferramental nu-gaze, mas não custa lembrar que If not winter é um disco repleto de produtores e co-autores, e que o conceito do disco foi bastante trabalhado, como se costuma fazer com discos pop.
A própria Natalie disse numa entrevista à newsletter Last Donut Of The Night que aprendeu bastante com os artistas com os quais vem trabalhando, “porque muitas dessas pessoas não fazem shoegaze ou rock alternativo” (o canadense Stint, um dos produtores de If not winter, tem no currículo trabalhos com Demi Lovato e Kesha, por exemplo). Acaba que faixas tranquilas e celestiais como Sword, Save me now, Breathe onto me, Black swan e Mesmerized dão uma boa mostra da maneira como as paredes de guitarra e os climas etéreos vêm sendo absorvidos pelo mercadão. É o que rola também no caso do Sunday (1994), um Cocteau Twins-Mazzy Star baixos teores que foi lançado recentemente pela Arista.
- Ouvimos: Florence Road – Fall back (EP)
- Ouvimos: Thistle – It’s nice to see you, stranger (EP)
- Ouvimos: Idos de Março – Unfamiliar (EP)
Vamos ao que interessa: as músicas de If not winter são boas? São, mas é um primeiro álbum, que mexe num conceito que possivelmente ainda está em desenvolvimento – parece haver apego a uma fórmula que se repete em várias músicas, por exemplo. Natalie comanda uma sonoridade que parece vir do céu, e que soa aparentada tanto de Cocteau Twins quanto de Evanescence e Deftones. Fica a curiosidade por uma “versão da diretora” de seu próprio álbum: o quanto canções como Get back to me e o folk triste da faixa-título soariam mais perturbadoras sem tantos cozinheiros mexendo o caldo?
Complementando a vibe do álbum, Wisp oferece pelo menos uma canção em tom mais abertamente trevoso: a sombria e funérea Guide light, fechada com guitarras misteriosas e cheias de efeitos. E investe no ruído puramente noventista em Serpentine, canção com peso e beleza, e uma batida idêntica à de Perfeição, da Legião Urbana (e, epa, Natalie tem fãs à beça no Brasil, segundo ela própria disse no tal papo com o Last Donut).
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7,5
Gravadora: Music Soup/Interscope
Lançamento: 1 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Kerub – “Aphantasia”

RESENHA: Kerub funde trance, ambient e experimentações em Aphantasia, disco hipnótico e existencial que ecoa Bowie, Ultravox e o apocalipse dançante.
- Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.
- E assine a newsletter do Pop Fantasma para receber todos os nossos posts por e-mail e não perder nada.
“Sonhos são para aqueles que não os deixam de lado”, afirma o artista canadense Kerub em Dreams, canção eletrônica e hipnótica desse Aphantasia, seu segundo álbum. Um disco em que o envolvimento trance serve quase como um subtexto sonoro, com faixas que soam como fantasias musicais, repletas de efeitos, ecos, ambientações, experimentalismos.
Com raízes no conceito de Eterno Retorno de Nietzsche, e em sensações pessoais experimentadas quando mudou-se para Toronto, Kerub fez de Aphantasia um disco cujos lados mais acessíveis apontam para as fases mais vanguardistas de artistas conhecidos. O David Bowie da fase Berlim e o dos anos 1990 pairam sobre quase todo o disco, que ainda faz lembrar a primeira fase do Ultravox em faixas como Ankle monitor, Bottles (repleta de psicodelia nos vocais e teclados) e Calm. Essa última, um relato de depressões, perdas e constatações (“resiliência é um mito feito por nós / estaria eu com medo da mudança?”, se pergunta), em meio a noites mal-dormidas e tentativas de juntar os pedaços.
- Ouvimos: Ethel Cain – Willoughby Tucker, I’ll always love you
- Ouvimos: Lutalo – The academy (versão deluxe)
- Ouvimos: Alex G – Headlights
Marathon é um ambient que chega a dar nervoso – o barulho de alguém respirando forte após correr uma maratona – note o título, enfim – é o “som de fundo” em alguns momentos). Cicadas é drum’n bass com interferências nos vocais e climas perturbadores. Acid rain soa como um time-lapse do fim do mundo – ganha uma cara dançante depois, mas é um baile no apocalipse. Atavism tem algo que não encaixa totalmente – seria a delicadeza da melodia ou o peso da batida? Ou a combinação de ambos?
No final, Salivary glands e Airport traffic trazem mais sons hipnóticos. A primeira, funcionando como um tema dance; a última soando como uma brincadeira sonora etérea, quase um som de videogame, que até traz leveza para um disco em que eletrônica e existência andam de mãos dadas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Kopi Records
Lançamento: 24 de julho de 2025.
- Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 8: Setealém
- Cultura Pop5 anos ago
Lendas urbanas históricas 2: Teletubbies
- Notícias8 anos ago
Saiba como foi a Feira da Foda, em Portugal
- Cinema8 anos ago
Will Reeve: o filho de Christopher Reeve é o super-herói de muita gente
- Videos8 anos ago
Um médico tá ensinando como rejuvenescer dez anos
- Cultura Pop9 anos ago
Barra pesada: treze fatos sobre Sid Vicious
- Cultura Pop7 anos ago
Aquela vez em que Wagner Montes sofreu um acidente de triciclo e ganhou homenagem
- Cultura Pop8 anos ago
Fórum da Ele Ela: afinal aquilo era verdade ou mentira?