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Crítica

Ouvimos: The Blessed Madonna, “Godspeed”

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Ouvimos: The Blessed Madonna, “Godspeed”
  • Godspeed é o primeiro álbum da DJ norte-americana Marea Stamper, que usa o nome artístico de The Blessed Madonna. Após passar anos lançando remixes e singles por selos pequenos (inclusive seu selo próprio, We Still Believe), ela assinou com a Warner para lançar o disco. O material do álbum foi selecionado entre mais de cem horas de música.
  • O disco tem um time de convidados, que ela chama de “o esquadrão de deus” – Marea é realmente católica, inclusive. “Eu sinto que a maioria dos discos de dança não tem nada do criador neles. Eles são meio que projetados em laboratório”, disse à Billboard.
  • O pai de The Blessed Madonna morreu durante a pandemia – justamente de covid-19. Ela estava confinada, e precisou reconhecer o corpo por e-mail. Ele é homenageado em Godspeed na faixa Somebody’s daughter, que tem um sampler da voz de seu pai dizendo que o sucesso da filha enche seu coração de alegria.

O disco de estreia da DJ norte-americana The Blessed Madonna é extenso (24 músicas em 73 minutos), e segue uma ideia típica da era do vinil, que é a do álbum grande (duplo, triplo) que vai crescendo na cara dos ouvintes. Como aquelas obras que começam com uma casa sendo demolida, um terreno esvaziado, e quando você se distrai por umas semanas, já tem um prédio de 20 andares, e você até já se acostumou com ele.

O álbum abre com os beats energéticos de Somebody’s daughter e Nowhere fast, e do batidão de Serotonin moonbeams (com linhas vocais interpolando o tema Tom’s diner, de Suzanne Vega). Quando você pisca o olho, a partir da entrada da convidada Kylie Minogue em Edge of saturday night, Godspeed fica mais pop, convencional, ligado a house music e ao pós-disco. Daí abre-se espaço para o tom “as melhores da Pan” de Blessed already (com Ric Wilson e Marby), a alta energia herdada de Giorgio Moroder de We still believe (com Jamie Principle), a pianeira soul de Count on my love (com Daniel Wilson e Kon) e vai por aí.

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É meio a cara de Blessed Madonna, uma DJ que frequentava o meio underground da dance music, e depois trabalhou com uma lista amedrontadora de artistas (Dua Lipa, Ariana Grande, Elton John, Kylie Minogue). O repertório de Godspeed – ela mesma contou à revista Billboard – veio do estudo pandêmico de uma série de canções, incluindo hits de Fleetwood Mac e Bruce Springsteen.

Como resultado, o álbum tem uma cara própria, carregada de influências de soul e de gospel, e quase sempre apontando para a dance music dos anos 1990, mais até do que para qualquer coisa que possa ser considerado “indie dance”. Essas referências aparecem bastante em faixas como Edge of saturday night, Godspeed, Count on my love e no final, com uma dance track de pé na bunda e desilusão, Happier. Um disco de mais de uma hora, e que passa voando.

Nota: 8,5
Gravadora: Warner.

Crítica

Ouvimos: Smut – “Tomorrow comes crashing”

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No terceiro disco, o Smut funde grunge, pós-punk e dream pop com letras angustiadas e distorções, alternando urgência e climas melódicos.

RESENHA: No terceiro disco, o Smut funde grunge, pós-punk e dream pop com letras angustiadas e distorções, alternando urgência e climas melódicos.

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O Smut veio de Cincinatti, Ohio, e radicou-se em Chicago. Desde End of Sam-Soon (2017), dedicam-se a uma curiosa mescla de rock pauleira, guitar rock e pós-punk – mistura de gêneros que nos anos 1990 era simplesmente chamada de “rock alternativo”. Após mudanças de formação, afiaram a receita e ganharam mais peso no terceiro disco, Tomorrow comes crashing. Um álbum de distorções aparentes, letras angustiadas e climas sombrios mesmo quando as melodias têm climas solares – como na abertura, com o indie rock funkeado e pesado Godhead.

A poética de Tay Roebuck, cantora do grupo, é bem crua – os vocais dela volta e meia lembram uma versão grunge de Dana Margolin, do Porridge Radio. Syd Sweeney, pesada, ágil e distorcida como uma canção do Hüsker Dü, é punk anos 1990, com letra apontando para relacionamentos tóxicos e falidos. “Construída com fardo pesado e selada com lições aprendidas / fui feita para durar, selar as rachaduras e vencer, pelo que valer a pena (…) / você me desnuda para me sentir bem, nega meu discurso de vendas perfeito”, diz a letra, encerrada com 30 segundos de desespero vocal.

  • Ouvimos: Porridge Radio, Clouds in the sky they will always be there for me
  • Ouvimos: Deradoorian – Ready for heaven

Nem só de urgência vive o disco. O clima muda na melodiosa Dead air, dream pop com peso e clima misterioso, e se mantém relativamente tranquilo no pós-punk Waste me e na vibe mágica e semi-acústica de Ghosts (Cataclysm, cover me). Mas Tomorrow comes crashing apresenta também heranças do grunge nas ferozes Spit e Burn like violet, une blues, folk e balanço em Touch & go, e invade a área do jangle rock em Crashing in the coil. Já Sunset hymnal, no fim, é som com guitarra batida e andamento estradeiro e urbano – até que uma guitarra distorcida entra e leva o Smut para seu terreno familiar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Bayonet Records
Lançamento: 27 de junho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Miçanga – “Velhos rabugentos não falarão sobre Malk Espanca em 2099”

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RESENHA: Rapper com flow perturbador e irônico, Miçanga toca no nervo exposto das lutas diárias em Velhos rabugentos não falarão sobre Malk Espanca em 2099, álbum que une hip hop e experimentalismos.

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Um dos convidados do álbum Cybertrópico, da banda Disstantes (que resenhamos aqui), o rapper Miçanga – nome artístico de Tiago Malta – destaca-se com um álbum solo de inéditas, com título enigmático: Velhos rabugentos não falarão sobre Malk Espanca em 2099. O repertório do álbum segue o ritmo perturbador e irônico de De noite poeta de dia operário, parceria de Miçanga com o Disstantes, que narra o dia a dia de quem vive entre a ralação e a criação de versos, e usa as horas perdidas no transporte público para escrever.

Por acaso, são justamente o tempo e os jogos diários de azar ligados a ele, que dão o tom no começo do álbum, com Teu futuro é meu passado. Um rap que mistura synthpop, distorção e provocação em doses iguais. “Voltando ao tópico do aqui agora / acho prudente você se focar nele / pois toda angústia vem de uma viagem do tempo mal planejada”, dispara. Viagens no universo cyber tomam conta do rap forró A lenda leiteira enferrujada do burrico espacial, com som de videogame.

Levante para um amigo é samba-rap com união de drum’n bass e samples de narração de futebol. Experimento para se criar + um anti-herói é prosa-poesia falada, com programação simples, batidão com “foda-se” repetido várias vezes, e letra demolindo sebastianismos. “Acreditar num heroísmo é um fascismo disfarçado, esperando a ser pregado, para que você homem comum, não tenha nenhum plano a superar ou a repensar os problemas”, diz.

Malk Espanca tem uma parte 2, predominantemente experimental e instrumental, que funciona a golpes de baile funk (Satélites, cicatrizes, lousa, acrílico), eletrohardcore (a bizarra Remoção de cola do braquete sem broca e espancamento, que põe BPM acelerado num motorzinho de dentista) e ruído punk (os 14 segundos de Lá embaixo).

A experimental e falada Ode ao papa está mais para “ódio (com zoeira) ao Papa” (“Papa, você é um cara legal / Papa, você é sensacional / Papa, será que você papou criancinhas?”) e Maracatu de cyborg põe mangue-bit robótico e marcial na história. Já Power juice forever (Brazilian cyber funk) é uma colagem perturbadora e pornô no estilo dos Residents. Uma viagem delirante e crítica pelo futuro – ou pelo presente mal disfarçado e mal embrulhado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 30 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Pedro Palma – “Emocional”

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Ouvimos: Pedro Palma - "Emocional"

RESENHA: Em Emocional, Pedro Palma mistura pop, rock e ironia para narrar dores afetivas e identitárias com intensidade e lirismo.

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Talvez Pedro Palma seja o primeiro artista brasileiro a se dizer influenciado pelo popstar britânico Yungblud. E de fato, o clima existencial e dramático dos discos do inglês, oscilando entre o emo e o metal, paira bastante sobre as 14 faixas de Emocional, sua estreia solo. Pedro insere boas doses de ironia na equação, como no single P.Q.P., que gira em torno dos tropeços sentimentais de quem se joga de cabeça num relacionamento… e se arrebenta logo depois (“já me falaram que a expectativa é a mãe da merda / mas eu insisto em me entregar sem nem pensar na queda”).

Emocional é dividido em duas partes: a primeira é mais rock do que sofrência, a segunda é de sofrência pura com elementos roqueiros. O repertório, a exemplo de P.Q.P., é mais voltado para feridas emocionais expostas, como no emo pós-pós-adolescente de 27 (“vejo meus ídolos olhando bem pra mim / como um convite que não dá pra recusar / muito estranha essa sensação / de que eu não fui feito pra durar”) e o som pesado e afirmativo de Emocional e Eu quero me explodir – esta, de versos reveladores e graves: “dizem que eu faço tudo ser mais complicado / que o mundo me odeia só porque eu sou viado / e minha ansiedade não passa de uma invenção / você é um péssimo exemplo pro seu irmão”.

O tom começa a ficar mais baixo em músicas como a balada O que você fez comigo não se faz, o post-rock de FM Queda livre e a tristonha Se eu te disser. No final, o Pedro do passado e o do presente encontram-se na balada épica Para Pedro: “Tudo que eles falam, e os dedos que apontam, não podem te perfurar assim / não há nada de errado em ti”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: Deck
Lançamento: 20 de junho de 2025

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