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Ouvimos: Shape, “A way out” (EP)

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Ouvimos: Shape, “A way out” (EP)

Banda francesa com design sonoro pós-punk, o Shape interessa bastante a quem tem saudades do rock britânico do fim dos anos 1970, e do começo dos anos 1980. A way out, EP de estreia, é basicamente uma carta de amor a bandas como Smiths, Buzzcocks, The Cure e The Sound, com o acréscimo de um baixo “gordo” à frente, disputando espaço com os vocais, em faixas como Paranoia e Hangover, marcadas por um vocal que oscila entre a gravidade de Ian Curtis (Joy Division) e a melancolia de Michael Stipe (R.E.M.).

A way out chega perto da darkwave, por causa da ambiência de Guts, e dos teclados de Inner me e Recovery. Também lança mão de um pós-punk sombrio e nostálgico em Urban theater – basicamente uma música sobre passear, sair por aí, e se distrair dos problemas, mas que mesmo assim, não abre mão do lado sorumbático que marca o EP da banda.

Nota: 8
Gravadora: Independente.
Lançamento: 14 de março de 2025.

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Ouvimos: Panchiko, “Ginkgo”

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Ouvimos: Panchiko, “Ginkgo”

O 4chan, fórum polêmico repleto de disseminações de ódio, foi responsável pela carreira do grupo inglês Panchiko – um sujeito que frequentava o fórum descobriu em 2020 uma demo descartada deles, que havia sido feita 20 anos antes, e mobilizou uma turma enorme a descobrir quem se tratava daquela turma. Não há relações entre a banda e gente que dissemina discursos escrotos na internet, mas aparentemente a estética quase vaporwave daquelas músicas chamou a atenção da turma.

O grupo já estava fora de atividade há tempos, e os integrantes nem sequer imaginavam que um projeto abandonado (e repleto de estranhices eletrônicas) fosse ser reativado e fazer sucesso. Mas o Panchiko voltou, passou a gravar discos e excursionar, e Ginkgo, o segundo disco feito em tempo real, sai tendo lá suas expectativas. Em especial a expectativa de soar mais uma vez como um disco que poderia soar como uma mensagem na garrafa, jogada no mar há tempos, e que brotou agora (enfim, a graça da coisa).

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Ginkgo, de certa forma, mantém essa mística, unindo eletrônica viajante e um “pé no chão”, às vezes, quase grunge. Logo no começo, tem o pop “antigo” e ambient, com voz tranquila, de Florida; o som celestial e quase ternário da faixa-título; e um soul-lounge com fitas ao contrário em Shandy in the graveyard.

Honeycomb é rock dream pop, com teclados cintilando (piscando quase como se fosse um videogame musical) e clima doído de tão “feliz”. Shelled and cooked tem guitarra e bateria surgindo como lufadas de vento – é uma balada quase anos 80, mas um 80’s com cara 60’s, vamos dizer assim. O mesmo clima toma conta de Rise and fall, um trip hop de quarto, que tem algo da psicodelia beatle.

Vinegar é slacker rock arrumadinho, e Macs omelette sugere um encontro entre Pink Floyd e Pavement. Tons eletrônicos e quebrados, além de um ou outro elemento de city pop, dão as caras em faixas como Lifestyle trainers (que depois vira um quase shoegaze), Formula e Innocent, enquanto Chapel of salt parece um Jesus and Mary Chain luminoso e explosivo.

O Panchiko às vezes ameaça parecer com mais um projeto maluco de Thom Yorke, ou com a senha musical psicodélica de bandas como Pond. Mas tem uma cara própria que faz todo mundo ouvir o som experimental do grupo como se fosse uma grande novidade – mesmo que artistas juntando guitarras, teclados, programações e paisagens sonoras não sejam novidade desde os anos 1970. Dá até para usar clichês batidos como “música do futuro” para se referir a eles, mas Ginkgo é só uma boa surpresa.

Nota: 9
Gravadora: Nettwerk Music Group
Lançamento: 4 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: La 126, “Te enteras?” (EP)

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Ouvimos: La 126, “Te enteras?”

“Nunca tenho clareza sobre nada, vamos ver como explico”, dizem Elia Sempere (bateria e vocal); Laura Giner (guitarra e vocal); e Lucía De Bunder (vocal principal e guitarra), as três espanholas do La 126. Te enteras?, EP novo delas, investe num punk pop que faz lembrar tanto de Spice Girls e Shakira quanto de Blondie, No Doubt e Green Day. Segundo o release do EP, a ideia do “você entende?”, do título, vem da ideia de “colocar em palavras o que às vezes nem mesmo a gente entende, reviver um turbilhão emocional tendo o tempo como única bússola”.

Entre guitarras e batidas rápidas, as três enfiam o dedo nas caras de pessoas falsas em geral, e machos escrotos em particular, nas faixas No va contigo, QTHCQE (“¿Quién te has creído que eres?”, em português: “quem você pensa que é?”) e Mis amigas te odian, uma carta de ódio a algum sujeito falso. Te vas, pop punk do final, é que fala sobre a dor da despedida, quase no clima dramático de uma canção que George Shadow Morton faria para as Shangri-Las.

Nota: 7
Gravadora: Pink Flamingos
Lançamento: 14 de março de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Julien Baker e Torres, “Send a prayer my way”

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Julien Baker e Torres, “Send a prayer my way”

Do clima confessional, indie e quase sempre ruidoso das carreiras solo de Julien Baker e Torres, só sobrou o confessional nesse disco em dupla, Send a prayer my way, voltado para o country. E surgido de algo que parece o “vamos marcar” típico do Rio de Janeiro, com as duas virando-se uma para a outra após um show em 2016, e dizendo “vamos fazer um disco juntas?” (três anos depois, numa mensagem de texto, o lance evoluiu para “vamos fazer um disco country?”, ideia que ainda levaria um tempo para se concretizar).

O começo de Send a prayer my way até engana e dá a entender que as duas resolveram seguir fielmente tal proposta. Dirt une violão, guitarra e cordas numa música que fala sobre relacionamento enrolado e abusivo, The only marble I’ve got left é uma balada country sobre gente encrenqueira (“está é uma musiquinha sobre ser maluca e um pouco estranha”, andaram dizendo as duas). Daí para a frente, Julien e Torres entregam-se a um metacountry que soa mais como country de roqueiro, ou como as experiências soft rock que Julien fez no disco do Boygenius. E a graça do disco é justamente essa: é o country delas, com a cara delas, sem estatuto.

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O som fica mais urbano na canção de amor-até-o-fim Sugar in the tank, na música para beber e brigar Bottom of a bottle, e daí para diante muito do som de Rumours, do Fleetwood Mac, bate em faixas como Downhill both ways e No desert flower, duas músicas em clima montanhês. Tape runs out e Off the wagon, por sua vez, são duas canções com ar pinkfloydiano, enquanto Showdown é uma balada de violão que tem até algo de Dear Prudence, dos Beatles, na abertura.

Send a prayer my way é um disco country que se conecta com o rock – não o oposto, vale dizer. E que usa o storytelling do country para bater fundo no imaginário queer. Tuesday, uma canção que fala sobre um namoro que naufragou por causa de pressão familiar, culpa religiosa e homofobia, é um dos melhores exemplos disso. Torres e Julien contam a história da perspectiva de quem sofreu mas tudo é passado (“por uma década deixei você viver na minha cabeça / mas com esse exorcismo, coloquei nossa história para dormir / e mais uma coisa: se você ouvir essa música / diga pra sua mãe ir chupar um ovo”, um recado malcriado para a Tuesday, a garota do título).

Goodbye baby, por sua vez, encerra o disco respondendo a todas as canções de Send… com amor tranquilo e felicidade (“o mundo não parou de girar / porque ela está indo embora por um tempinho / graças a deus, hoje à noite, aquela mulher / ela está voltando para casa, para mim”). Um disco que cruza fronteiras musicais, e reorganiza tudo.

Nota: 9
Gravadora: Matador Records
Lançamento: 18 de abril de 2025.

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