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Crítica

Ouvimos: Rosetta West, “Labyrinth”

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Ouvimos: Rosetta West, “Labyrinth”
  • Labyrinth é o novo disco do Rosetta West, uma banda de blues-rock de Illinois, Estados Unidos. O grupo foi fundado nos anos 1990 por Joseph Demagore (voz, guitarra, produção e teclados), que divide o trabalho com Jason X (baixo, teclados, co-produção e engenharia de som). Um sujeito misterioso chamado Nathan Q. Scratch toca bateria e percussão.
  • O grupo tem “muitos” discos independentes, que estão fora das plataformas digitais. “Confira Bandcamp, YouTube e outras plataformas para esses tesouros raros”, avisam. Eles definem seu som como algo que “mistura rock, blues, psicodélico e música tribal, em uma união inebriante e muitas vezes mística”.

Não se deixe enganar pela capa do álbum dessa banda de Illinois – que anda precisando caprichar mais nas artes gráficas. Labyrinth se apresenta como um disco de blues-rock, mas é um baita disco de stoner rock, e de psicodelia passada num filtro punk. O disco do Rosetta West parece armação de um só músico, mas se trata de uma dupla que toca guitarra, baixo e ocasionais teclados, além de um baterista/percussionista que “se recusa a ser fotografado”.

O Rosetta West fala de temas como “misticismo e espiritualidade” nas letras, e parece uma versão faça-você-mesmo do som daquelas bandas de hard rock e progressivo podre dos anos 1970 que todo mundo conheceu baixando discos do Rapidshare – Coven, Buffalo, May Blitz – além de coisas confusas e doidas da história do rock, como Captain Beefheart. É o som de faixas como Red rose Mary Bones, o country gótico e hipnótico de Roman mountains e Deeper than magic, o hard rock de Gimmy’s gone e Shine, a psicodélica e indianista The temple, o folk maldito e mântrico de Blue fog e outras músicas, registradas sem muitos enfeites.

E, bom, a falta de enfeites justamente é um calcanhar de aquiles em alguns momentos no disco: a gravação é de demo dos anos 1990, e com uns tratinhos num estúdio, a mixagem teria outra cara e o álbum teria mais peso. Faixas como o blues Elmore’s blues, com percussão, guitarra e dobro, sofrem menos disso e ganham ambiência. Na parte final, Labyrinth se aproxima mais do blues psicodélico, em faixas como Nightmare blues, Venous blue e a faixa-título, mas tem até um blues-rock à moda dos Black Crowes, Sanctuary, e uma lembrança do Led Zeppelin em Superior.

Nota: 7,5
Gravadora: Independente

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Ouvimos: Husker Dü – “1985: The miracle year” (box set)

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Em 1985, o Hüsker Dü vivia uma fase prolífica, com shows incendiários e transição do indie à Warner - uma época que ganha um registro bruto e emocionante na caixa 1985: The miracle year.

RESENHA: Em 1985, o Hüsker Dü vivia uma fase prolífica, com shows incendiários e transição do indie à Warner – uma época que ganha um registro bruto e emocionante na caixa 1985: The miracle year.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 10
Gravadora: Numero Group
Lançamento: 7 de novembro de 2025

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Parece até um trecho de Quadrophenia, a ópera-rock do The Who: havia quatro Hüsker Dü diferentes convivendo naquele trio punk de St Paul (Minnesotta) em 1985. Bob Mould (voz, guitarra), Grant Hart (bateria, voz) e Greg Norton (baixo) eram simultaneamente a banda indie do selo SST, a banda que no fim do ano seria contratada pela grandalhona Warner, a banda que lançou em janeiro o venturoso terceiro álbum, New day rising, e a banda que em setembro soltou o poderoso Flip your wig – um disco no qual pouco se percebe da lascação sonora do início do grupo, substituída por um rigor power pop desenvolvido ano após ano.

Havia milhões de outros universos convivendo naquele grupo há 40 anos: Bob, Grant e Greg eram ambiciosos o suficiente para entender que uma grande gravadora seria fundamental para espalhar o som do trio – ao mesmo tempo, havia a ligação umbilical com a cena indie (a banda chegou a recusar pagamentos do selo SST para não prejudicar a gravadora). Tinham feito uma ópera-rock ruidosa e sensível, o álbum duplo Zen arcade (1984), que mesmo sendo gravada em condições adversas e com qualidade de gravação sofrível, mudou vidas – inclusive as deles próprios.

Unindo todas essas facetas, havia uma cola fundamental, que era a obrigação que o Hüsker Dü se impunha a cada show: tocar de forma incendiária. Como fizeram no dia 30 de janeiro de 1985, lançando New day rising no palco da casa de shows First Avenue, lá mesmo em Minneapolis, epicentro punk do Minnesotta. Atacando os instrumentos, com Mould aos berros, a banda apresentou pérolas da emotividade e da sensibilidade punk-hardcore: Everything falls apart, It’s not funny anymore, Books about UFOs, Pink turns to blue. Além de versões para Helter skelter (Beatles), Eight miles high e até para Love is all around (Sonny Curtis), o tema da sitcom Mary Tyler Moore – que se passava em Minneapolis.

  • A fase final do Hüsker Dü no podcast do Pop Fantasma
  • Relembramos: Warehouse: songs and stories, do Hüsker Dü?
  • Ouvimos: Bob Mould – Here we go crazy

É justamente esse show que abre 1985: The miracle year, caixa de LPs ou CDs recém-lançada (e já esgotada) pelo selo Numero Group. Quem não conseguir adquirir um exemplar físico pode ouvir tudo nas plataformas digitais – o primeiro disco, que traz o show, pega o/a ouvinte pela mão e exibe um pedaço da história do rock alternativo norte-americano e do punk local, passando pelo estranhamento hardcore, pela porradaria melódica, pelas referências de anos 1960 que Mould e Hart, os compositores da banda, eternos rivais, inseriam no som do HD.

Esse material foi gravado pela própria banda, de forma independentaça, usando equipamento de outro grande selo local, Twin/Tone – a ideia era lançar um disco ao vivo, que nunca foi publicado e só sai agora em The miracle year. Não para por aí: as demais 20 faixas de The miracle year passeiam por outros shows feitos ao longo de 1985, já adiantando o que seria Candy apple grey, primeiro disco da banda na Warner (1986). Era o álbum que parecia dar a vitória a Hart na disputa de quem-compõe-melhor: as excepcionais Sorry somehow e Don’t want to know if you’re lonely, ambas do baterista, estão lá. Só que Mould contrapunha I don’t know for sure, Eiffel Tower High e outras pérolas que também estão no disco ao vivo.

Há mais surpresas: Miracle year recupera, ao vivo, o lado B do single Don’t want to know if you’re lonely, que é All work and no play – e cujo refrão é aquela mesma frase do filme O iluminado, de Stanley Kubrick (“all work and no play makes Jack a dull boy”). A canção ganha sete minutos, com Bob descendo até a plateia para cantar com o público. O Hüsker faz bastante barulho com uma faixa de Flip your wig, que é The wit and the wisdom, e apresenta o out-take Misty modern days – cujo título parece uma paródia de Misty mountain hop, do Led Zeppelin, e cuja estrutura soa como uma refação punk na introdução de War pigs, do Black Sabbath. Ruído, melodia, confissões e emoções à mostra, para mudar vidas.

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Ouvimos: Piri & Tommy – “Magic” (EP)

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Piri & Tommy, no EP Magic, unem UK garage, pop e ecos de Prince, com texturas leves entre boogie, acid house e um clima dançante cheio de liberdade sonora.

RESENHA: Piri & Tommy, no EP Magic, unem UK garage, pop e ecos de Prince, com texturas leves entre boogie, acid house e um clima dançante cheio de liberdade sonora.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Believe UK
Lançamento: 7 de novembro de 2025.

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Muito da era de ouro do UK garage – estilo britânico dançante com beats marcantes e vocais extremamente melódico – surge no novo EP de Piri & Tommy, uma dupla britânica mais conhecida pela sua afiliação ao drum’n bass, mas que mostra bem mais que isso em Magic.

A faixa de abertura Someone é Prince + Michael Jackson texturizado, com cara indie pop. Miss provocative também é Prince pra cacete, mas tem um violão dando o ritmo que é justamente a cara da dance music britânica. E tem uma cara boogie, no sentido Lincoln Olivetti + Robson Jorge, encartada em músicas como Venus e Locked up – esta, aberta em clima de acid house e emendando numa vibe pós-disco,com vocal lembrando MJ.

O lado mais “dance music” do EP surge com forças em faixas como Tom & Zendaya – pop texturizado e leve, com algo latino na melodia no refrão – e na faixa-título, igualmente com peso leve, mas com textura que deixa tudo parecido com um jungle tranquilo. Pop, mas com liberdade autoconcedida para explorar estranhezas.

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Ouvimos: Ark Identity – “Deluxe nightmare” (EP)

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Ark Identity mistura dream pop, psicodelia e yacht rock em um EP, Deluxe nightmare, com ecos de Roxy Music, The Cars e acid house, brilhando nos momentos mais viajantes.

RESENHA: Ark Identity mistura dream pop, psicodelia e yacht rock em um EP, Deluxe nightmare, com ecos de Roxy Music, The Cars e acid house, brilhando nos momentos mais viajantes.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Dream Haze Music
Lançamento: 24 de outubro de 2025

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Noah Mroueh, o canadense que criou o projeto Ark Identity, une dream pop e psicodelia. Um pouco mais que isso, aliás: no EP Deluxe nightmare rola até yacht rock derretido e psicodélico – chegando a lembrar a banda brasileira Tagua Tagua – e referências de acid house. A ideia do Ark Identity parece ser criar um universo fora de tempo e espaço, como na faixa de abertura Still in love, rock romântico e dreampopizado que parece realmente o desenho da capa do disco – uma imagem ernvelhecida, com uma cláusula de tempo que você não sabe bem qual é.

Ousadia musical, pois. E os momentos mais brilhantes de Deluxe nightmare são quando Noah deixa baixar algo parecido com Roxy Music e The Cars – aquela receita de rock elegante, herdado do pós-punk, que essa turma fazia entre os anos 1970 e 1980. Isso surge na sombria faixa-título (cujos vocais remetem também a Prince e cuja letra fala de pesadelos reais da infância) e em Take me to Tokyo. Oh my god soa como house music transformada em yacht rock ou soft rock, e é uma das faixas mais diferentonas do disco.

Deluxe nightmare tem também a legalzinha e existencial I’m still the same, uma balada folk tranquila em que Noah fala de um papo telefônico que bateu com a mãe – tem também a balada triste Can’t stop loving you, lembrando o pós-brit-pop, menos interessante que o resto do EP. Quando Ark Identity tenta soar como se viesse de outro planeta, soa bem melhor.

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