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Crítica

Ouvimos: Pet Shop Boys, “Nonetheless”

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Ouvimos: Pet Shop Boys, "Nonetheless"
  • Nonetheless é o décimo-quarto disco da dupla britânica Pet Shop Boys (formada por, você deve saber, Neil Tennant e Chris Lowe). O álbum marca a volta da dupla para a Parlophone, e foi lançado em parceria com a gravadora e o próprio selo de Neil e Chris, x2. A produção é de James Ford (Arctic Monkeys, Foals, Depeche Mode).
  • “Queríamos que este álbum fosse uma celebração das emoções únicas e diversas que nos tornam humanos. Das faixas mais dançantes à pungência crua das baladas introspectivas, com seus belos arranjos de cordas, cada faixa conta uma história e contribui para a narrativa geral do álbum”, definem o disco. Num papo com o New Musical Express, Neil Tennant diz que se trata do disco queer da dupla.

Não tem como escutar Nonetheless, disco novo dos Pet Shop Boys, sem imaginar que as dez faixas do disco perfazem um encontro imaginário entre Giorgio Moroder (devidamente reverenciado no clima hi-NGR e na cascata de sintetizadores que faz lembrar I feel love, da Donna Summer, em faixas como Why am I dancing?) e toda a constelação glam que a dupla curtia quando os jovens da Inglaterra pregavam os olhos no paradão britânico do Top of the pops. Nomes como Marc Bolan e David Bowie entram aqui mais como ideia, como paraíso inalcançado, do que como verdadeira influência, diga-se de passagem.

No caso do novo disco, os dois garotos que um dia sonharam com a vida glamourosa enquanto ouviam Bowie e Roxy Music, relembram o passado numa canção dançante com cara de anos 1990, New London boy. Uma das maiores pérolas do novo álbum, e uma canção para guardar e recordar o próprio passado não apenas da dupla (boa parte desse Nonetheless relaciona-se direto com eles mesmos entre 1985 e 1991), como também para lembrar daquela época em que, do pop mais radiofônico ao rock pauleira, toda música tinha que ter um rapzinho lá pela metade. Ainda que o cantor não tivesse o menor cacoete de rapper (bom, é o que acontece aqui, mas a música é boa).

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Nonetheless tem duas candidatas sérias a “sétima faixa de Introspective” (1988), terceiro disco e obra prima de Chris Lowe e Neil Tennant. Dancing star consegue comprimir em três minutos uma biografia do popstar do balé Rudolf Nureyev, em meio a uma melodia que tem algo de I’m not scared, a música que eles fizeram para a hoje esquecida banda pop Eighth Wonder, e que eles gravaram no Introspective. Já Why am I dancing? é quase uma oração pop, a pérola disco que provavelmente Neil e Chris gostariam de ter ouvido quando adolescentes, feita pelos dois como se fosse uma encomenda secreta a Giorgio Moroder e Pete Bellotte. O single Loneliness vai nessa mesma linha.

O começo do “lado B” de Nonetheless pode dar uma espantada em quem esperava um álbum alegre dos Pet Shop Boys. Eles soam como um Sparks sem ironia e falando sério em A new bohemia, uma balada quase britpop (e meio sem graça, vale dizer) sobre o dia a dia da pessoa que já viu o passado passar e está em busca de novidades – no caso, de um ponto de vista queer, predominante no disco, como a própria dupla esclarece. Ameaçam deixar cair um ABBA no início da razoável The schlager hit parade (a “parada de sucessos do schlager“, uma referência àquelas canções alemãs grudentas e pop que fazem a alegria de festivais como o Eurovisão) mas voltam ao normal.

Indo para o final, duas músicas chamam a atenção por se relacionarem de verdade com o passado dos PSB: o bolero bossa orquestral The secret of happiness, de beleza quase cinematográfica, ameaça lembrar a introdução de Left to my own devices. Não fosse pelo arranjo de cordas, Bullet for Narcissus, e sua letra repleta de tiradas sobre egolatria e fama, soariam como uma faixa perdida do Electronic, a brincadeira synth pop de Bernard Sumner (New Order) e Johnny Marr (Smiths). No final, a tranquila e elegante Love is the law fala umas verdades sobre amor, desejo e temas afins. O carro dos Pet Shop Boys passa na porta do ouvinte com boas novidades.

Nota: 8,5
Gravadora: x2/Parlophone

Crítica

Ouvimos: Davido – “5ive”

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Com clima de verão, 5ive mostra Davido misturando tendências do afropop em um disco ambicioso e cheio de possíveis hits - mas precisava mesmo fazer um feat com Chris Brown?

RESENHA: Com clima de verão, 5ive mostra Davido misturando tendências do afropop em um disco ambicioso e cheio de possíveis hits – mas precisava mesmo fazer um feat com Chris Brown?

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Aquele clima de praia, azaração (ainda se diz isso?), gente bonita e você, portando um drinque com guarda-chuvinha e usando uma camisa de botão no estilo do Magnum. Provavelmente é o que vai ficar na sua mente enquanto você ouve 5ive, quinto disco do popstar norte-americano de ascendência nigeriana David Adedeji Adeleke, ou simplesmente Davido.

Com um número enorme de convidados e um passeio por uma gama de estilos que pode ser definida como afropop (mas abarca reggaeton, trap, kuduro, pop latino, o africano highlife, etc), Davido é um cara cascudo e autoconfiante – a ponto de abrir seu álbum novo com uma vinheta orquestrada e narrada na qual se compara ao Davi da batalha bíblica com o gigante Golias. O repertório de 5ive mistura gastação de onda típica do trap, vibes afrolatinas e, volta e meia, temas de amor, sexo e territórios dominados.

É o que rola em faixas como Anything, Offa me (com Victoria Monet), R&B (que une o estilo ao trap) e Awuke – essa última, uma parceria com YG Marley, o filho de Lauryn Hill e Rohan Marley, e neto de Bob Marley, e uma das músicas em que Davido mostra influências do amapiano, um combinado de estilos e misturas musicais vindo da África do Sul. Essas mesclas dominam também faixas como Lover boy (com os franceses Tayc e Dadju) e With you (com Omah Lay), duas músicas que surgem no finalzinho do disco, e que dariam bons hits no Brasil.

Isso porque algumas coisas de 5ive são, digamos, análogas a muita coisa já testada e aprovada por aqui – só que vêm com uma cara bem diferente. A ótima Lately poderia ser gravada pela Shakira, e Tek (com Becky G), ganha um ar de lambada, e é aberta por um riff de sax que parece um corte feito a gilete no saxofone de Careless whispers, de George Michael. Indica que Davido, provavelmente, em algum momento, pode acabar estourando por aqui. E esse número enorme de convidados, claro, já é um esforço para chegar nos fandoms mais variados, o que também indica que, em algum momento, pode rolar um feat com algum nome brasileiro (Ivete Sangalo, não, pelo amor de deus).

A vontade de variar os feats acabou fazendo alguém da produção de 5ive, talvez o próprio Davido, viajar feio na maionese. O canceladaço Chris Brown surge soltando (mal) a voz em Titanium, uma música nota 2 do disco, e faz vir à mente a pergunta: “quem pediu isso?”. Em compensação, no animado afropop Funds, Davido dá espaço a dois nomes do pop nigeriano, Odumodublvck e Chike, e ele mesmo acaba servindo de ponte para que o afropop surja no mercado norte-americano diretíssimo da fonte. Mesmo com a irregularidade típica dos enormes discos pop de hoje em dia, 5ive vem com cara de território dominado.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7,5
Gravadora: DMW/Columbia
Lançamento: 18 de abril de 2025.

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Ouvimos: 43duo – “Sã verdade” (EP)

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O 43duo mistura pós-punk e psicodelia com naturalidade no EP Sã verdade, unindo grooves, ecos 60s/80s e letras poéticas e instintivas.

RESENHA: O 43duo mistura pós-punk e psicodelia com naturalidade no EP Sã verdade, unindo grooves, ecos 60s/80s e letras poéticas e instintivas.

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O 43duo é uma dupla-banda de Paranavaí (PR) que toca de maneira bem peculiar: enquanto Hugo Ubaldo faz guitarras circulares, assemelhadas a loops de fita, Luana Santana toca teclados – inclusive synth bass – e bateria ao mesmo tempo (haja coordenação motora!). E os dois dividem os vocais. Com influências assumidas de Tame Impala, Boogarins, The White Stripes e Pink Floyd, mostram no EP Sã verdade uma mescla quase natural de pós-punk e psicodelia, buscando climas e timbres que aludam tanto a The Who, Kinks e Beatles quanto a Echo and The Bunnymen.

A faixa-título abre com um ataque de guitarra e bateria bastante sessentista, mas que logo vai buscando lugar no lado mais garageiro e profundo do rock britânico oitentista – com psicodelia vaporosa e delicada, algum peso, uma guitarra meio The Edge, meio blues-rock e final viajante. Sal e sina tem base forte, som que ocupa espaços e união de sons cavalares e brasilidades. Navio de sonhos une mod rock e vibrações sombrias num espaço repleto de eco e trevas – muito embora as letras do 43duo sejam poéticas e até naturalistas.

Essa sonoridade ganha contornos mágicos na voadora Guabiruba pt. II, um dream pop sobre as mutações do mundo e a força da natureza, unindo punk garageiro e ritmos nacionais. A balançada Cabeça vazia (Chuva cinza) lembra uma versão groovada dos Mutantes e do Som Imaginário. Concreto, aberta por clima desértico, soa quase stoner, lascada, lisérgica no arranjo, punk na execução, enquanto Lispector é um pós-punk com discreta cara beatle.

Uma das principais características do 43duo é que o som deles não parece vir de uma enorme esquentação de mufa. A sonoridade e o clima das letras parecem vir de uma mistura natural, e de uma voz pessoal como compositores e músicos adquirida em ensaios e reuniões de criação. Sã verdade – uma brincadeira poética com a “pós-verdade”, como se fosse o oposto dela – consegue parecer confortável e desafiador ao mesmo tempo, e conquista os ouvidos por causa disso.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 12 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Beto – “Matriz infinita do sonho”

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Ouvimos: Beto - "Matriz infinita do sonho"

RESENHA: Em Matriz infinita do sonho, Beto cria uma MPB psicodélica e cinematográfica, misturando rock, ritmos afro-brasileiros e espiritualidade vivida.

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Beto, músico e cantor pernambucano, impressiona pelas texturas e pelo clima quase cinematográfico que imprime às faixas de Matriz infinita do sonho – sempre apontando para os lados da negritude, da espiritualidade e dos conhecimentos que só aparecem com a vivência pessoal. Coração preto, na abertura, é um rock abolerado com metais, guitarra com várias distorções no solo, e melodia com certo ar beatle – uma MPB com clima de rock que evoca Lanny Gordin. Pedra verde traz cordas rangendo, dando um som mágico e forte a uma música cujo violão tem emanações de Gilberto Gil.

Beto também apresenta em Matriz canções marítimas (Never die, Yara do mar), pequenos ritos musicados (Peixa), um tema jazzístico, experimental e percussivo (Marx Mellow, com Vitor Araújo no piano) e um reggae com células rítmicas alteradas pelo piano, que vai se aproximando de um dub (Brinquedo). Dandara é som com cara de Gal Costa e João Donato, e Valsinha, surpresa no disco, é uma valsa selvagem, com bastante percussão no começo e psicodelia injetada pela guitarra.

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 8
Gravadora: YB Music
Lançamento: 6 de junho de 2025.

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