Crítica
Ouvimos: Pearl Jam, “Dark matter”

- Dark matter é o décimo-segundo álbum de estúdio do Pearl Jam, que retorna com o quinteto habitual: Eddie Vedder (voz), Jeff Ament (baixo), Stone Gossard (guitarra), Mike McCready (guitarra solo) e Matt Cameron (bateria).
- Josh Klinghoffer (guitarra e teclados), que esteve numa das formações dos Red Hot Chili Peppers, e hoje é músico de tour do PJ, esta também no disco e até tem créditos de coautoria numa das faixas, Something special.
- Como você já deve ter visto por aí, Andrew Watt, que já cuidou de discos dos Rolling Stones, Miley Cyrus, Ozzy Osbourne, Post Malone e mais uma turma enorme, produziu o disco e surge como coautor (ao lado da banda) em todas as faixas. Andrew é fã do Pearl Jam, que considera sua banda preferida, e já vinha trabalhando na carreira solo de Vedder. “O disco é feito por um fã para os fãs, e espero que eles gostem”, diz à Spin.
Andrew Watt é um produtor daqueles bem metelões. Num papo com a Spin, contou que levou uma guitarra para participar de um reunião de composição com o Pearl Jam – e acabou com créditos de composição em todas as faixas do novo álbum, Dark matter, ao lado do grupo. Se um disco vai ganhar a produção dele, tem que ficar com a cara da banda, mas o filtro dele precisa ficar evidente. Justo. Ou sei lá.
No caso de Dark matter, funcionou: o Pearl Jam fez seu melhor disco em muitos anos. A discografia do grupo de Seattle sempre pareceu ensanduichada entre tentativas de se tornar um Pink Floyd dos anos 1990. E igualmente entre tentativas de produzir algo que fosse tão demolidor quanto Vs (1993) e Vitalogy (1994), respectivamente o segundo e o terceiro álbuns da banda, melhores que qualquer outra coisa que eles tenham feito.
O Pearl Jam, hoje uma banda “clássica” do rock, retorna guiado por Watt para as mesmas tendências sonoras que deram origem ao som do (olha que ironia) Nirvana. O começo do álbum, com as batidas e linhas de baixo vigorosas de Scared of fear e React, respond, lembram mais o pós-punk e o college rock dos anos 1980 que influenciaram o som dos anos 1990 – aqui, gerando um Sonic Youth sem experimentalismo, um Nirvana sem os gritos de Kurt Cobain, um Replacements menos rueiro. O mesmo rola lá pela segunda metade do álbum com Running, e de certa forma, até com a balada power pop Something special.
Wreckage, o mais novo single, vai para outro lado. É um rock com raízes folk, radiofônico como o Pearl Jam não tem sido há muito tempo (com letra fazendo referência a Donald Trump, segundo Eddie Vedder), capaz de conquistar fãs novos entre a galera que ouve pop calmo e reflexivo (quem sabe?) e de alegrar quem tem idade para lembrar de Jeremy e Last kiss tocando no rádio. Mesma coisa acontecendo com Won’t tell, uma balada de tom quase brit pop anos 1990 em alguns momentos.
Waiting for Stevie e Got to give trazem para o novo álbum a faceta (herdada do rock setentista) de banda compositora de hinos, repletos de solos de guitarra. Dark matter, a faixa-título, abre a cortina do lado funk-metal do grupo. No final, a reflexiva Setting sun traz Eddie Vedder alternando tons graves com seu vocal usual.
Os já citados Vs. e Vitalogy foram lançados sob um contexto dos mais esquisitos – a batalha perdida do grupo contra a empresa de ingressos Ticketmaster, que deu numa baita perda de grana para o Pearl Jam. Dark matter, nas letras, lida com os escombros do mundo, e com a transformação de praticamente tudo em um misto de lixo inorgânico e inteligência artificial.
Essa sensação de bancarrota volta e meia aparece na obra do grupo norte-americano, e surgia até na estreia Ten (1991). E define que o PJ não vai parar de ter assunto por um bom tempo.
Nota: 8,5
Gravadora: Monkeywrench/Republic
Crítica
Ouvimos: Ganser – “Animal hospital”

RESENHA: Em Animal hospital, o Ganser mistura pós-punk, ruído e psicodelia em climas sombrios e inquietos, entre Twin Peaks e Siouxsie and The Banshees.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Felte
Lançamento: 29 de agosto de 2025.
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O site Pitchfork, ao resenhar o novo álbum da banda de art-punk Ganser, Animal hospital, achou sons tirados direto da obra de David Lynch no disco – referiu-se em especial à trilha de Twin Peaks, feita por Angelo Badalamenti. Faz todo sentido, levando em conta que o trio majoritariamente feminino de Chicago valoriza sons misteriosos e climas que encantam ao mesmo tempo que dão certo medo.
As origens do Ganser parecem estar numa espécie de combinação sonora que une pós-punk e Black Sabbath, Garbage e synthpop, sons de bandas riot grrrl e noise rock tribal, Suicide e The Cure – o tipo de som que foi feito mais para incomodar do que para distrair, enfim. Animal hospital vai nessa onda em faixas como a pesada e distorcida Black sand, a leve e sinistra Stripe, a tipicamente pós-punk Ten miles tall (com baixo e bateria dialogando e vocal quase falado) e a fábula sonora surrealista de Dig until I reach the moon. Lounger, punk com vibração garageira dos anos 1960, é hino anti-coach, anti-performance, anti-verbos como “pivotar”, “escalar” e coisas do tipo: “não quero ser ninguém / não quero fazer nada (…) / outras pessoas compram minhas coisas / mas tudo que eu quero é tempo (…) / meu desempenho tem sido ruim e não consigo me importar”.
- Ouvimos: Goat Girl – Below the waste
Alicia Gaines, Brian Cundiff e Sophie Sputnik, os três da banda, têm um lado seriamente stoner e fantasmagórico explorado em músicas como a destrutiva Half plastic (“prendo a respiração até ver manchas”, diz a letra), Grounding exercises e a psicodélica e pesada Creature habits. Plato, com versos malucos como “Platão diz a ela: ‘venha, vamos dançar’ / e ela não quer / ela diz que não acredita em evolução”, a tribal Speaking of the future, Discount diamonds e Left to chance unem esse lado pesado a sons que lembram Siouxsie and The Banshees. E Left fecha o disco com uma boa massa ruidosa.
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Crítica
Ouvimos: Yellowcard – “Better days”

RESENHA: Yellowcard volta após quase dez anos com Better days, disco que mistura punk-pop, emo e pós-grunge com energia, melodia e sinceridade.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Better Noise Music
Lançamento: 10 de outubro de 2025
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Para a surpresa de um total de zero pessoas, numa época em que estilos como emo, nu-metal e rock alternativo (na visão Billboard norte-americana de rock alternativo) tornam-se queridos de alguns críticos, e tambem numa época em que a geração Tik Tok vem abraçando bandas de punk pop, lá vem o Yellowcard com seu primeiro disco em quase dez anos.
Better days não decepciona: a mescla de punk-pop, emo e “pós-grunge” (muito entre aspas) feita pelo grupo volta com ótimas melodias, excelente produção (feita por Travis Barker, do Blink-182, e Andrew Goldstein) e aquela mistura de esperança com tristeza que os fãs adoram. A faixa-título, que abre o álbum, une tudo isso aí em poucos minutos. Take what you want, que chora pitangas sobre o fim de um relacionamento, soa como o som de uma boy band pesada e ágil. Love letters lost – com Matt Skiba, do Alkaline Trio – tem aquela mesma receita da qual o Charlie Brown Jr se alimentou: peso, vocal altamente cantarolável e guitarras que têm algo chupado do The Police.
- Ouvimos: Twenty One Pilots – Breach
A “persona” de Better days é um sujeito angustiado, que fez planos por conta própria mas esqueceu de consultar a realidade (o dramalhão Honestly, I), sofre por um relacionamento que se foi (o pop pesado, mágico e bem feito de You broke me too, com Avril Lavigne), deseja botar o passado em pratos limpos (City of Angels, com Ryan Key, cantor e guitarrista, nascido na Flórida, lembrando sua vida em Los Angeles) e se sente ansioso e inquieto (o punk-popzaço Bedroom posters, a melhor e mais bonita música do disco). Skin scraped e Barely alive, com titulos autoexplicativos e onda punk-emo, têm peso, tristeza e um certo clima herdado da banda do coprodutor.
Para aumentar essa onda “intensa” do disco, Travis pôs mais peso na bateria, arranjos de cordas surgem em algumas músicas e… Better days encerra com a vibração country-folk de Big blue eyes, música pra tocar em filme adolescente. O Yellowcard volta com um álbum rápido – pouco mais de meia hora – e sincero.
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Crítica
Ouvimos: Luna Gouveia – “Sara”

RESENHA: Em Sara, álbum de estreia, Luna Gouveia une pop, rock, jazz e psicodelia em faixas que soam entre Gal Costa indie e Rita Lee espacial.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 9
Gravadora: Independente
Lançamento: 23 de setembro de 2025
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Em seu primeiro álbum, concebido como uma jornada de cura e encerramento de ciclos – daí o título Sara, usado como verbo e não como nome próprio – a paulista Luna Gouveia entrega um trabalho de pop atravessado por ecos de rock, jazz e psicodelia.
Um detalhe é que nenhum desses gêneros surge de forma literal nas oito faixas do disco. Em nome do pop mutante, Sara passeia por todos esses estilos em faixas como Culpa e Diz que é amor, às vezes lembrando a MPB jazz, às vezes soando como uma Gal Costa texturizada e jogada no indie pop. No caso de Diz que é amor, rola ainda uma segunda parte exclusivamente psicodélica, lembrando Mutantes e Tame Impala da fase inicial, com guitarra fuzz.
- Ouvimos: Luapsy – I met the devil in a dream
Sara vai seguindo com Fora de moda, indie rock tropicalizado, com balanço herdado de Rita Lee, vibe de bossa espacial e ótimas guitarras-base (ficaria inclusive melhor com um solo). Mordida tem beat discreto, vocal com dissonâncias e surpresas e clima pop com cara de Rita Lee + Marina Lima indie. Voltar andar passa por várias camadas do pop – embicando num corredor boogie/pós-disco e numa atmosfera meio Physical. A faixa-título é pop oitentista transformado em música celestial, com vocal de sereia.
No final, a sintomática O fim, com mais surpresas escondidas na melodia e no vocal, além de um laço que une tudo em Sara. Um disco de estreia que abre caminhos enquanto fecha ciclos.
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