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Crítica

Ouvimos: Melvin e os Inoxidáveis, “Copacético”

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Ouvimos: Melvin e os Inoxidáveis, "Copacético"
  • Copacético é o primeiro álbum da banda Melvin e os Inoxidáveis, super grupo indie carioca formado por Melvin (Carbona, Autoramas) na guitarra e na voz, Rodrigo Barba (Los Hermanos) na bateria, GugaBruno (Lasciva Lula) na guitarra e nos backings, e Marcelo de Sá no baixo.
  • O grupo tem um leque de influências que inclui Specials, Paralamas do Sucesso, Weezer, Neil Young e Neutral Milk Hotel. Melvin assina quase todas as músicas, em parceria com integrantes do grupo (Barba, que não compunha no Los Hermanos, surge como coautor em James Webb) e Álvaro Dutra (letrista do Dead Fish, em Devolva o futuro).
  • O título do disco vem de uma expressão inglesa, “copacetic”, que significa algo como “tudo bem” e não tem tradução em português (por acaso, a banda indie norte-americana Velocity Girl tem um disco de 1993 chamado Copacetic). “Tive vontade de escrever letras pela primeira vez e tinha esse conceito na cabeça, de tentar fazer algo que fosse mais pra cima, não exatamente celebratório, mas falando da importância de correr atrás para que tudo fique bem. Tentar ser mais otimista. E daí assistindo a séries esbarrei nessa palavra inglesa, Copacetic, e achei que tinha tudo a ver”, diz Melvin, autor de um livro sobre os mil shows que deu na vida.

Copacético, álbum de estreia de Melvin e os Inoxidáveis, parece ter sido feito para tocar no Ronca Ronca, o mitológico programa de rádio do não menos mitológico Mauricio Valladares – não por acaso, “inoxidável” é um elogio criado por Mau Val e usado a todo momento para definir amigos. discos e artistas. Mais do que um disco formado por músicas, canções, e com uma determinada sonoridade, é um disco de clima. Um clima que já surge na capa com visual anos 1950,  que passa pelas escolhas de músicos, de letras, de temas, de unidade sonora.

O álbum de estreia dos Inoxidáveis evoca não apenas um universo musical, como também uma visão de mundo existencial e venturosa, dividida em várias polaróides, compartilhada anteriormente por Paralamas do Sucesso, Djangos, Erasmo Carlos, Marcelo Yuka e outros nomes históricos do rock carioca. Faixas como Chá de fita, O outro, Meditações, Baixa a guarda (por acaso uma parceria de GugaBruno com Homobono, dos Djangos) reúnem pequenas reflexões, observações sobre o dia a dia na selva urbana, histórias (quase) descomplicadas. Mesmo quando o tema é um soco, físico ou psicológico, como na já citada Baixa a guarda.

O som de Copacético deve muito ao rock alternativo dos anos 1990: pós-grunge como era antes de virar padrão de rádio-rock (na boa Impropérios), ska-rock, power pop como o Weezer do começo (ambos em boa parte do álbum), folk rock indie com cara de Pixies. A faixa-título surge em duas versões: uma mais otimista, outra mais realista (pessimista?), essa em tempo punk. Inabalável, ironicamente um rock quase beatle, prega: “não há nada inabalável e o novo está por vir/ (…) os senhores do passado/os entraves do avanço/serão parte do passado/muito em breve vão sumir”.

Nota: 8
Gravadora: Independente

Foto: André Olive/Divulgação

Crítica

Ouvimos: Stefanie – “Bunmi”

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Ouvimos: Stefanie - "Bunmi"

RESENHA: Após 20 anos de carreira, Stefanie lança Bunmi, seu primeiro álbum: relatos pessoais, críticas sociais e colaborações potentes no universo hip hop.

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Considerada uma promessa do hip hop nacional há bastante tempo – e com uma carreira que já soma 20 anos – a paulistana Stefanie tinha apenas singles e alguns feats na discografia. Bunmi, cujo título é uma palavra em iorubá que significa “meu presente”, é seu primeiro álbum – e, justamente por sair após vários anos, surge como um relato carregado de experiências pessoais.

Algumas dessas experiências são bastante pesadas, como os vários pesadelos reais de Por um fio (com participação de Rodrigo Ogi), o racismo e a gordofobia infantis de Desconforto (“hoje eles querem calma / depois de me causarem vários traumas”) e o rap feminista e anti-coach de Outra realidade, com as vozes de Nega Gizza, Cris SNJ e Iza Sabino (“como pensar em progresso se a ordem é de despejo?”, pergunta a letra). Fugir não adianta fala olhando diretamente no olho do/da jovem vulnerável, com a participação vocal sensível de Mahmundi. Sem falar no encontro de vozes de Maat, com Rashid, Kamau, Emicida e Rincon Sapiência lado a lado com Stefanie.

O lado relax do disco ganha força no respiro de Não pirar – com baixo forte, clima de soul das antigas e a voz da chilena Ana Tijoux. E também na beleza de Mundo dual, rap com clima jazzístico dado pelo piano de Jonathan Ferr, com teclas, voz e guitarra em pleno diálogo, e vibe intimista na letra. Além dos altos astrais do r&b introspectivo Nada pessoal, da romântica Puro love (com Luedji Luna) e do fechamento de ciclo de Plenitude, soul tranquilo sobre felicidade e fé.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: JAMBOX
Lançamento: 25 de abril de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Raquel – “Não incendiei a casa por milagre”

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Ouvimos: Raquel - "Não incendiei a casa por milagre"

RESENHA: Raquel estreia solo com Não incendiei a casa por milagre, disco direto que mistura rock, blues e jazz, com ecos de Gal Costa Rita Lee e Ney Matogrosso.

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Raquel Virgínia, revelada na banda As Bahias, mudou o nome artístico e hoje assina só Raquel – e estreia com o álbum solo Não incendiei a casa por milagre. Um disco direto, curto (passa por EP, com menos de meia hora e sete faixas) e que, mesmo tendo sido inspirado por Recanto, álbum primordialmente eletrônico de Gal Costa (produzido por Caetano e Moreno Veloso em 2011), é basicamente um disco de rock com pés no blues e no jazz.

Há outras referências também: o cineasta Pedro Almodovar inspirou a capa do disco, e é citado numa faixa. É Jogador de futebol, indie pop blues com herança de Ney Matogrosso, que cita “beijos almodovarianos”, numa letra que narra um caso escondido, adornada por uma boa guitarra e por um programação de bateria lo-fi, rudimentar. A faixa-título, destacando o vocal rouco de Raquel, é um blues rock com design sonoro perturbador, com baixo à frente, guitarra ágil, alguns ruídos, e lembranças tanto de Rita Lee quanto de Secos & Molhados.

Com produção justamente de Moreno Veloso e participações de Pedro Sá (guitarra), Eduardo Manso (programações), Bruno Di Lullo (baixo) e Domenico Lancellotti (bateria) – os dois últimos presentes na ficha técnica de Recanto, assim como Moreno – a estreia de Raquel traz outras duas referências fortes a Gal Costa. Monopólio, com guitarra estilingando, soa como se tivesse sido feita para a cantora de Baby, mas vem com perspectiva lo-fi. E ela também relê Autotune autoerótico, canção de psicodelia eletrônica feita por Caetano e gravada por Gal em Recanto.

Ao vivo, por sua vez, é um bolero que lembra Sergio Sampaio, tem referências a programas de auditório dos anos 1990 e fala sobre relacionamentos secretos e carregados de preconceitos (“os beijos nas travestis são dados nos esconderijos becos”). Carne dos meus versos é um blues que traz lembranças de infância e de desprotção, e Vidinha, musica pouco conhecida de Rita Lee e Roberto de Carvalho, encerra o disco com ar meio grunge, mais pesado e tribal.

Texto: Ricardo Schott.

Nota: 9
Gravadora: Almaviva Music
Lançamento: 30 de maio de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Amy Millan – “I went to find you”

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Ouvimos: Amy Millan - "I went to find you"

RESENHA: Após 16 anos, Amy Millan retorna com I went to find you, um disco de etéreo, introspectivo e com ecos de americana, soft rock e pop progressivo.

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I went to find you, terceiro álbum da canadense Amy Millan, sai 16 anos após seu último disco, Masters of burial (2009 – um disco que mesclava country, clima indie e uma certa melancolia sinistra. O novo disco, por sua vez, une o conforto do estilo musical conhecido como americana (a união de várias sonoridades e vibrações em torno do country) com a elevação da música espacial, dos teclados que cintilam em meio a melodias pop.

Em I went to find you, Amy retorna com um novo parceiro, Jay McCarrol, e explora temas como confiança, amizade, autoaceitação e memórias do passado (o “você”, do título, segundo ela, são pessoas que passam pela vida da gente e criam laços, modificam nossa vida). Em vários momentos, deixa a impressão de estar construindo um soft rock texturizado, como se o Fleetwood Mac fosse contratado pela 4AD.

É o que surge na abertura, com Untethered – uma canção tranquila sobre relacionamentos duradouros, erros, acertos e continuidades. E também no clima introspectivo e melancólico de The overpass, canção com tom contemplativo de rádio AM antiga, modernizada pelos teclados. Ou no neo soul angelical de Wire walks, um chamamento à voz interior (“em volta dessa ferida teimosa / o futuro pode ser o passado também / você pode precisar se inclinar / para o que você sempre foi”). Don valley, por sua vez, é um folk beatle – cujos vocais relacionam-se com Let it be, dos Beatles, enfim. Uma canção bonita, mas que parece deslocada num disco tão focado em encontrar sua própria identidade sonora.

Em alguns momentos, Amy Millan chega perto do rock progressivo – ou de uma noção progressiva de música pop. Como no tom quase post rock de Borderline, no pop elegante de Kiss that summer e Make way for waves, e na vibração épica de Murmurations, que fecha o álbum trazendo um pouco de clima lo-fi.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Last Gang Records Inc
Lançamento: 30 de maio de 2025.

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