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Crítica

Ouvimos: Blues Pills, “Birthday”

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Ouvimos: Blues Pills, "Birthday"
  • Birthday é o quarto disco da banda sueca Blues Pills. O grupo é formado por Elin Larsson (voz), Zack Anderson (guitarra), Kristoffer Schander (baixo) e André Kvarnström (bateria). O disco foi produzido por Freddy Alexander, e levou apenas dez dias para ser gravado.
  • Zack conta no texto de lançamento que vê o Blues Pills como uma banda que cruza fronteiras. “Em muito pouco tempo passamos de uma banda que ninguém conhecia para tocar em grandes festivais e shows maiores do que poderíamos imaginar. Éramos bastante jovens, então isso veio com muita pressão. Agora que estamos mais velhos, é mais fácil ver que você deve fazer música para si mesmo”, diz.
  • Elin descobriu que estava grávida no decorrer da gravação do disco. “Não foi planejado, então fiquei um pouco sobrecarregada, mas isso realmente facilitou para mim escrever para este álbum. Deveria ser natural ser tanto mãe quanto artista”, conta.

Daqui a uns vinte anos, possivelmente vai ter uma turma enorme descobrindo o Blues Pills e pensando “poxa, essa banda era bem legal, olha só esse disco!”. Mais ou menos como acontece hoje em dia com uma série de bandas (algumas delas brasileiras) que faziam sucesso moderado nos anos 2000 e hoje, com uma ajudinha bem vinda do departamento de marketing – e da nostalgia, esse motor de vendas – atraem multidões.

Falando assim, parece que o Blues Pills é uma banda vazia, tola, ruim, e que o tempo irá ajudá-la numa melhor compreensão – essas coisas.  Nem tanto, mas falta algo. Em Birthday, o que se escuta é uma banda entre o punk pop e as heranças de rock clássico, com uma vocalista de longo alcance (Elin) que tem lá seus traços musicais herdados do Heart e de Janis Joplin.

O álbum tem algumas músicas que funcionam mais do que as outras, tipo Bad choices tentando soar parecida com Motown (embora lembre mais um desvio ultrapop do indie rock mauricinho dos anos 2000) e Top of the sky, uma balada meio Pretenders. São características bacanas, e algumas coisas do álbum novo valem para a playlist da sua próxima viagem de carro. E fica a impressão de que a banda deve descer bastante bem ao vivo. Mas muita coisa é um belo “já ouvi isso antes”.

Continuando o disco, Like a drug é uma mescla (chatinha) do lado mais acessível do Nine Inch Nails com pop-rock grudento de FM dos anos 1970 (a introdução lembra Baby, I love your way, de Peter Frampton). Já Piggyback rider vale a audição: rock alternativo com origem blues e boas linhas de baixo sustentando a melodia. E What has this life done to you é uma boa balada hard, com herança sonora dos anos 1950 e do blues antigo.

Mesmo com “blues” no nome e um apego às raízes roqueiras e analógicas, o Blues Pills soa melhor em Birthday, mais até do que em seus álbuns anteriores, quando soa mais pop. E menos interessante quando quer mostrar que sabe dos paranauês do rock – porque aí soa (apenas) como banda concebida para caber no gosto de um determinado público.

Nota: 6,5
Gravadora: BMG

Crítica

Ouvimos: Kerub – “Aphantasia”

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Kerub funde trance, ambient e experimentações em Aphantasia, disco hipnótico e existencial que ecoa Bowie, Ultravox e o apocalipse dançante.

RESENHA: Kerub funde trance, ambient e experimentações em Aphantasia, disco hipnótico e existencial que ecoa Bowie, Ultravox e o apocalipse dançante.

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“Sonhos são para aqueles que não os deixam de lado”, afirma o artista canadense Kerub em Dreams, canção eletrônica e hipnótica desse Aphantasia, seu segundo álbum. Um disco em que o envolvimento trance serve quase como um subtexto sonoro, com faixas que soam como fantasias musicais, repletas de efeitos, ecos, ambientações, experimentalismos.

Com raízes no conceito de Eterno Retorno de Nietzsche, e em sensações pessoais experimentadas quando mudou-se para Toronto, Kerub fez de Aphantasia um disco cujos lados mais acessíveis apontam para as fases mais vanguardistas de artistas conhecidos. O David Bowie da fase Berlim e o dos anos 1990 pairam sobre quase todo o disco, que ainda faz lembrar a primeira fase do Ultravox em faixas como Ankle monitor, Bottles (repleta de psicodelia nos vocais e teclados) e Calm. Essa última, um relato de depressões, perdas e constatações (“resiliência é um mito feito por nós / estaria eu com medo da mudança?”, se pergunta), em meio a noites mal-dormidas e tentativas de juntar os pedaços.

  • Ouvimos: Ethel Cain – Willoughby Tucker, I’ll always love you
  • Ouvimos: Lutalo – The academy (versão deluxe)
  • Ouvimos: Alex G – Headlights

Marathon é um ambient que chega a dar nervoso – o barulho de alguém respirando forte após correr uma maratona – note o título, enfim – é o “som de fundo” em alguns momentos). Cicadas é drum’n bass com interferências nos vocais e climas perturbadores. Acid rain soa como um time-lapse do fim do mundo – ganha uma cara dançante depois, mas é um baile no apocalipse. Atavism tem algo que não encaixa totalmente – seria a delicadeza da melodia ou o peso da batida? Ou a combinação de ambos?

No final, Salivary glands e Airport traffic trazem mais sons hipnóticos. A primeira, funcionando como um tema dance; a última soando como uma brincadeira sonora etérea, quase um som de videogame, que até traz leveza para um disco em que eletrônica e existência andam de mãos dadas.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Kopi Records
Lançamento: 24 de julho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Astrofella – “Love ever young”

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Astrofella estreia com Love ever young: eletrônica gelada, krautrock sensível e pop espacial vindo de Istambul via Berlim.

RESENHA: Astrofella estreia com Love ever young: eletrônica gelada, krautrock sensível e pop espacial vindo de Istambul via Berlim.

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O Astrofella é uma banda secretíssima que vem de Istambul, mas que se baseou em Berlim. O som deles é autodefinido como “a personificação de um astronauta melodramático, falando consigo próprio em órbita”. Love ever young, primeiro disco deles, é uma surpresa bem curiosa, misturando tecladeira gélida, guitarras climáticas econômicas e ocasionalmente, percussões e beats variados – sempre apostando na viagem sonora eletrônica.

A Berlin vacation, faixa de abertura, vai subindo para o espaço com órgão, ruídos eletrônicos e guitarra com um só acorde. Segue com uma vibe de pop francês em Modern wedding, com guitarra e bateria patinantes, sintetizador kraftweriano e argamassa de krautrock sensível – e os vocais de Danae Palaka. For Charlotte tem batida afropop e sonoridade minimalista, com um teclado que cresce aos poucos. She just wants to disappear, com vocal feminino que remete a Nina Hagen, vai do meditativo ao tenso.

  • Ouvimos: Plonki – Kicking ate my heels (EP)
  • Ouvimos: Lau e Eu – Feroz comum silêncio entre nós…

Love ever young ainda tem climas mais apocalípticos e sombrios em Old times’ sake (canção de ritmo torto, quase jazzístico, e clima oriental) e na sintetizada Time. No Bandcamp, além das músicas, há ainda um vídeo mostrando como a capa de Love ever young, realizada de modo artesanal, foi feita.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Independente
Lançamento: 8 de agosto de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Dana and Alden – “Speedo”

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Speedo, estreia dos irmãos Dana e Alden McWayne, mistura jazz, psicodelia, política e grooves diversos em 18 faixas luminosas e surpreendentes.

RESENHA: Speedo, estreia dos irmãos Dana e Alden McWayne, mistura jazz, psicodelia, política e grooves diversos em 18 faixas luminosas e surpreendentes.

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Demoramos um pouco para resenhar esse disco, lançado em junho. Vindos do Oregon, os irmãos Dana (sax) e Alden McWayne (bateria) fazem em Speedo, seu primeiro álbum, uma espécie de jazz mágico, que não cabe em quase nenhuma definição comum, porque as faixas trazem às vezes várias referências. Norm, a faixa de abertura, parece uma espécie de easy listening espiritualista, como as músicas de Todd Rundgren, e evolui para um jazz voador e bombástico, com beats eletrônicos e tímpanos dando o ritmo. Lisbon in rain ameaça um jazz-fusion na abertura, mas o que vem na sequência são sons que se alternam e brilham como luzes. Já a curta Wyckoff Deli Chicken over rice leva o idioma do jungle para o som da dupla.

Vibes psicodélicas e quase lo-fi, comuns em todo o álbum, vão surgindo aos poucos em faixas como Melange, o funk de garagem Don’t run, a bossa floydiana Fisherman’s dream, o jazz ruidoso e luminoso Charif’s Place, os temas de séries imaginárias Childhood crush e Super Beaver full moon love song, e o soul-reggae de faroeste Obsidian. Além disso, o material de Speedo une música, política e anti-imperialismo, com duas faixas, a já citada Norm e o jazz psicodélico e elegante Leila, feitas em homenagem a ativistas pró-Palestina (Norman Finkelstein e Leila Khaled, respectivamente).

  • Ouvimos: Yves Jarvis – All cylinders
  • Ouvimos: Portugal. The Man – uLu selects vol. #2

Disco extenso – dezoito faixas, 50 minutos – e cheio de recantos musicais, Speedo invade também as áreas da guitarrada hispânica (Rick Pablo), do dream pop solar (Who do you even talk to me, Daydrinking in Springfield), do easy listening clássico e elegante (Kelp Forest Place) e do jazz-soul latino (Cacio e Pepe, cheia de detalhes psicodélicos e sons que rangem). A faixa-título, melódica, sinuosa e romântica, tem algo do som esparso do Khruangbin, só que reduzido a saxofone, baixo e bateria. No fim, o som voador e luminoso de Babe, you’re gonna miss that plane. Uma ótima surpresa.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 9
Gravadora: Concord Jazz
Lançamento: 27 de junho de 2025

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