Crítica
Ouvimos: Bleachers, “Bleachers”

- Vinda de Nova Jersey, Bleachers é uma banda criada pelo produtor Jack Antonoff, que como músico, já passou por bandas como Fun e Steel Train.
- O grupo surgiu em 2013 e desenvolveu boa parte de sua carreira numa grande gravadora, a RCA, com direito a três discos de estúdio e até a um MTV Unplugged (2017).
- Já este Bleachers é o quarto álbum e o primeiro a sair por uma joint venture entre o selo indie Dirty Hit e a própria gravadora da banda, Bleachers Band Recordings.
- A atual formação inclui Jack (voz, guitarra, teclados, samplings) ao lado de músicos como Zem Audu (teclados, sax) e Mikey Freedom Hart (teclados, guitarra).
Bleachers, o projeto liderado pelo produtor Jack Antonoff, tem muitas qualidades, e todas elas são encontráveis nesse Bleachers, o quarto álbum da banda. Vamos começar por uma delas: Jack e sua turma proporcionam ao ouvinte quase uma colagem de momentos interessantes do rock e do pop – em especial dos anos 1980.
Em Bleachers, o disco, você acha pelo menos um power pop no capricho, lembrando um misto de Electric Light Orchestra e Replacements – e é justamente o single Modern girl. Músicas que poderiam ter sido produzidas por Brian Eno e estarem num disco do U2 surgem aqui e ali, como I am right on time e Ordinary heaven. Tem Jesus is dead, um rock simples, com batida motorik e arranjo lembrando um Strokes mais introvertido. O disco novo é bem melancólico, até mesmo em momentos dançantes.
Já Tiny moves seria considerado um som estranho se fosse lançado lá por 1986, com a tecnologia da época: um synth pop “pra baixo”, com coral típico de pop de AM e rock brega. Uma curiosidade é Me before you, cuja intro soa como o 14 Bis de 1985. Dá a impressão que o Flavio Venturini vai soltar a voz a qualquer momento, mas depois o clima se torna bem outro.
Qualquer pessoa que conheça mais ou menos a carreira de Jack sabe que Bruce Springsteen é sua maior referência, em vocais, composição e experimentações de timbres. A musicalidade do cantor norte-americano paira em quase todo o disco – especialmente em faixas como Hey Joe e Call me after midnight, ou no tom “hino” de Woke up today, ou até na já citada Modern girl.
Nenhuma delas “é” Bruce no sentido de que você escuta o Greta Van Fleet e reconhece o quanto aquilo é chupado do Led Zeppelin, mas tons e referências aparecem aqui e ali. Da turma de Jack, tem Lana Del Rey co-escrevendo e fazendo vocais em Alma mater, Clairo soltando a voz em três faixas e Matty Healy (The 1975) tocando piano em Call me after midnight.
Bom, isso tudo aí é apenas uma descrição (bem) pessoal de boa parte do você vai encontrar no novo disco dos Bleachers. A parte chata é que tudo soa como uma espécie de coletânea de sobras, em que faixas que não foram necessariamente pensadas para ser destaques, foram reunidas num disco.
Bleachers é o tipo de álbum que rende algumas alegrias na hora de ouvir uma canção ou outra, mas faltou a direção e a concisão que o próprio Antonoff deu a discos de Lorde e Taylor Swift. No fim do álbum, The waiter chega a irritar: uma canção chatinha, com vocal lavado e passado no auto tune. Essa, pode até pular. O resto você pode distribuir em várias playlists.
Nota: 6,5
Gravadora: Dirty Hit/Bleachers Band Recordings
Crítica
Ouvimos: John Fogerty – “Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version)”

RESENHA: John Fogerty, aos 80 anos, recupera direitos das músicas de sua ex-banda Creedence Clearwater Revival e relança vinte clássicos em versões idênticas às originais.
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Aos 80 anos, John Fogerty, ex-vocalista, guitarrista, compositor e déspota do Creedence Clearwater Revival, conseguiu ganhar finalmente todos os direitos sobre suas composições da época do grupo – sim, porque todos os hits autorais da banda foram compostos por ele. Para comemorar, o músico decidiu regravar 20 canções do CCR na base da “versão do John”.
Na prática, são substituições, e não versões. Em Legacy: The Creedence Clearwater Revival years (John’s version) Fogerty revisitou canções como Have you ever seen the rain, Born on the bayou, Proud Mary, Lodi, Who’ll stop the rain, Green river e Fortunate son em leituras quase 100% iguais aos originais – em timbres, arranjos, detalhes e até gritos e uivos. Facilita o fato da voz de John estar igualzinha a antigamente. Detalhe: até no Bandcamp as músicas novas estão – visão, o cara tem.
- Ouvimos: The Doobie Brothers – Walk this road
- Ouvimos: Faces – Faces at the BBC: Complete BBC concert and session recordings 1970-1973
Alguma diferença do original? Bom, Long as I can see the light teve uma pequena mudança de tom, Have you ever seen the rain teve mudanças discretas nas linhas vocais do refrão, e de modo geral todas as músicas ganharam mais peso na bateria e nas guitarras – mas praticamente tudo soa como os originais dos anos 1960 e 1970 remixados ou remasterizados.
De modo geral, não é um lançamento dos mais úteis para fãs antigos – serve mais como um demarcador de independência, já que John oferece aos fãs as versões gravadas por ele. O complicado é entender como se comportar diante de um lançamento que reembala o material oldies e apenas isso. Acaba tendo mais graça ouvir os antigos álbuns do Creedence.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 7
Gravadora: Concord
Lançamento: 22 de agosto de 2025
Crítica
Ouvimos: Thistle. – “It’s nice to see you, stranger” (EP)

RESENHA: Thistle., da Inglaterra, une grunge e shoegaze em It’s nice to see you, stranger, EP coeso que ecoa Nirvana, Dinosaur Jr e My Bloody Valentine.
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Vindo de Northhampton, Inglaterra, o Thistle. (sim, existe um ponto após o nome do grupo) tem uma onda grunge + shoegaze séria no seu som – a ponto de, numa audição inicial, ser possível imaginar que a banda vem dos cafundós dos Estados Unidos. Num papo com a newsletter First Revival, eles citam o Nirvana como sua banda grunge favorita, e um dos integrantes diz não ter se entusiasmado especialmente com o shoegaze quando descobriu o estilo.
Um outro detalhe sobre o EP It’s nice to see you, stranger é que o grupo precisou de quase um ano para gravá-lo, já que cada integrante tem seu trabalho e ninguém pediu folgas. “Por isso é que ele é um EP, e não um álbum”, afirmam. Soa estranho descobrir isso, já que as cinco faixas do disco têm peso, coesão e emanações que vão de Nirvana e Dinosaur Jr a Idlewild e The Cure. Cobble/mind funde barulho, melodia e vocais doces, enterrados na música. A faixa-título volta aos anos 1990 e faz lembrar My Bloody Valentine e Sonic Youth. Fleur rouge abusa da beleza triste, com guitarras melódicas e passagens bem ruidosas, do meio para o fim.
No final, o Thistle. adere a um punk repleto de guitarras emparedadas e sensações turvas, em Holy hill, e faz a melhor fusão grungegaze do EP, com Wishing coin. Ouça.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Venn Records
Lançamento: 4 de julho de 2025.
- Ouvimos: Water From Your Eyes – It’s a beautiful place
- Ouvimos: Superchunk – Songs in the key of yikes
Crítica
Ouvimos: Camaelônica – “Eletrotropical”

RESENHA: Camaleônica mistura samba, rock, macumba e psicodelia em Eletrotropical, disco pesado e cheio de invocações.
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“Rock, macumba e samba”, trio de referências que embandeira o som do Camaleônica, pode querer dizer muita coisa – pode afirmar inclusive que a banda apenas revisita sons dos anos 1990 (Planet Hemp, Chico Science, O Rappa) e mais nada. Eletrotropical, primeiro disco de Felipe Dantas e Fernando Reis – os dois do grupo-dupla – faz qualquer ideia preconcebida cair por terra quando se percebe que a vocação do grupo é para um experimentalismo que faz tudo soar bem palpável e pesado no som deles.
A música de Felipe e Fernando soa mais como um retropicalismo pesado e turbinado, que une samba, umbanda e rock psicodélico na faixa-título, além de jazz, rock e afrosambas em Capoeira. Rola uma mescla de samba, reggae e grunge em Maravilhoso e Caprichoso. Nessa última, a percussão é forte e os tambores são tocados com raiva. E falando nisso, Língua e revolta é axé, MPB e ódio pulsando contra apagamentos históricos (“quem é você pra me dizer aqui / que eu não sou ninguém?”).
Muito de Eletrotropical são invocações – canções em que melodia, letra, percussão e indignação (e guitarras) unem-se quase numa mesma massa. No samba psicodélico e pesado de Boa noite, por exemplo, coaches, big techs e exploradores do trabalho alheio são cozidos no mesmo caldeirão a partir de raízes e histórias (“toda malandragem será perdoada/ tudo que delira, toda vadiagem”). Geral abre com vocal solitário pedindo “muita luz, saúde e axé pra geral”, e vai seguindo com tristeza herdada do blues, guitarras e percussões.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Fliperama Lab
Lançamento: 27 de junho de 2025.
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