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Crítica

Ouvimos: Nikki Nair – “Violence is the answer” (EP)

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Nikki Nair funde soul, eletropunk e caos pop em Violence is the answer, EP provocador que mistura crítica social e pistas dançantes.

RESENHA: Nikki Nair funde soul, eletropunk e caos pop em Violence is the answer, EP provocador que mistura crítica social e pistas dançantes.

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“Só preciso de alguém para pagar minhas contas enquanto a violência continua”, diz Nikki Nair, DJ e produtor de Atlanta, Georgia, numa das faixas desse EP Violence is the answer, o mais novo de uma discografia que existe desde 2018 e é tomada por quase três dezenas (!) de lançamentos.

Essa frase da faixa Smooth (que resume 2025 e suas guerras, mortes e sangueiras) surge num interlúdio soul de música, em meio a sons eletrônicos e frases perdidas e distorcidas como “meu cérebro fica tranquilo quando penso em você” – uma mostra do quanto Nikki, mesmo quando busca fazer dance music, tenta soar perturbador, fora dos padrões.

Ainda que nem tudo em Violence seja realmente “audível” (quase tudo é super bacana apenas para DJs e para gente muito ligada em sons estranhos), vale citar o empenho de Nikki em derreter seu próprio som, fundir as próprias noções comuns de pop, e partir para o eletropunk. Somebody, na abertura, tem até um vocal afinadinho e doce – cortesia da cantora irlandesa Yunè Pinku, convidada – e um piano. Mas é marcada pela busca de novas texturas e pela percussão com som de videogame.

  • Ouvimos: Stereolab – Instant holograms on metal film
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IRS love abre com uma voz meio Alvin & os esquilos – deve ser uma mania de Nikki, que chegou a parodiar a capa do inacreditável Chipmunk punk, o disco punk da série infantil (falamos dele aqui) na do EP Set the remixes, do ano passado. O som vai ficando mais distorcido, como um pop que vai esgotando todas as suas possibilidades de parecer um pop comum.

The button é pula-pula eletrônico com ruídos de arma sendo engatilhada e a artista Uffie, de Los Angeles, mandando “puxar o botão da esquerda”. Just wanna know é quase a musicalização de luzes piscando na pista. Juliette encerra o EP como a única “canção” formal de Violence is the answer. Um eletrônico que tem algo de folk, com vocais quase pastorais (de Nair, Harmony e Blaketheman1000) e violões em meio à batida eletrônica.

Juliette é a faixa que mais reúne provocação, eletronices e musicalidade em Violence is the answer e, vale dizer, é a música que melhor conversa com os ouvintes no EP. E provavelmente é a que você vai colocar em alguma playlist. Violence is the answer tem mais atitude do que coesão — mas rende bons momentos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 7
Gravadora: Future Classic
Lançamento: 6 de junho de 2025

Crítica

Ouvimos: Frankie Cosmos – “Different talking”

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Frankie Cosmos vira banda em Different talking, disco que fala sobre amadurecimento e envelhecimento, entre inseguranças, celulares e punk-pop confessional.

RESENHA: Frankie Cosmos vira banda em Different talking, disco que fala sobre amadurecimento e envelhecimento, entre inseguranças, celulares e punk-pop confessional.

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Greta Kline, a cantora e atriz novaiorquina que usa o codinome Frankie Cosmos, fez 31 anos em março. A chegada aos 30 fez com que seu sexto disco, Different talking, soasse tanto como uma volta ao passado quanto um assombro com o futuro. O disco foi lançado pela Sub Pop, mas parece um álbum lançado por algum selo bem menor, acostumado a trabalhar com artistas altamente ensimesmados e chegados ao lo-fi. O álbum tem 17 músicas em menos de 40 minutos – o que significa que boa parte delas é bem curtinha. Em alguns casos, parece que Greta e sua turma mandaram subir as demos e não tiveram muito saco para ficar lambendo as faixas.

Eu disse “Greta e sua turma?”. Sim, porque dessa vez, Frankie Cosmos virou uma banda, com Alex Bailey, Hugo Stanley e Katie Von Schleicher ajudando mais intensamente em arranjos e na produção. Não por acaso, é o disco dela que tem mais “cara de banda” – mesmo com o desleixo estudado do indie, faixas como a docinha Pressed flower, o soft indie rock One of each e a noventista Against the grain, que abrem o álbum, soam bastante seguras.

Different talking é um disco sobre envelhecimento – e vá lá, sobre envelhecimento da perspectiva de quem chega aos 30. Ou seja: qualquer cabelo branco assusta (como na punk One! Grey! Hair!). Por outro lado, Greta já começa a ver que a cidade em que ela vive não é mais aquele ambiente não-gentrificado que ela conheceu (o easy listening distorcido Porcelain fala exatamente disso) e nota que nem sequer conheceu o mundo sem a existência do celular – em Bitch heart, canção tristinha lembrando Pixies, ela diz sentir “falta de quem eu era / apenas porque não posso passar um dia / sem botar a mão nesta porra de telefone”.

Já em Vanity, indie pop que soa tão melancólico quanto fora de controle, o assunto é um relacionamento cagado que não é amor, é cilada – mas aparentemente ela sai por cima, no verso “você ligou de novo para ouvir / que tudo acabou?”. A musicalidade de Different talking abarca também muita coisa ligada aos 60’s, como o folk rock denso e minimalista de Life back, o clima meio Kinks de Margareta e a vibe espacial de You become.

Perto do fim, Wonderland é um indie rock funkeado e com clima quase infantil, em que Greta nota que às vezes, envelhecer é mandar um foda-se geral: “estou mais velha agora do que antes / eu me conheço ainda mais / encontro maneiras de me achar bonita / endureço e sigo meus rituais”. E é isso aí.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Sub Pop
Lançamento: 27 de junho de 2025

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Crítica

Ouvimos: Girlpuppy – “Sweetness”

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Com raízes que vão de Fleetwood Mac a Avril Lavigne, Girlpuppy mistura indie rock e dreampop em Sweetness, disco doce e sombrio sobre amores e ciladas.

RESENHA: Com raízes que vão de Fleetwood Mac a Avril Lavigne, Girlpuppy mistura indie rock e dreampop em Sweetness, disco doce e sombrio sobre amores e ciladas.

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“Minha mãe gosta de Fleetwood Mac, The Beatles, ela ouvia Shania Twain. Meu pai era o completo oposto, um grande fã de country no rádio – Brad Paisley, toda aquela turma. Meu irmão do meio, no entanto, é o grande culpado por todo o meu gosto musical. Foi ele que me apresentou a Avril Lavigne e Hilary Duff”.

O trecho acima foi tirado de uma entrevista de Becca Harvey, a popular Girlpuppy, ao site Under The Radar. Pelas raizes musicais da cantora, que acaba de lançar o segundo disco com o nome artístico, Sweetness, dá para entender um terço da missa, e só isso. Girlpuppy equlibra-se entre estilos como indie rock e dreampop, e faz um som tão onírico, doce e vaporoso quanto a imagem da capa de Sweetness (“doçura” em inglês).

Daria para dizer que é indie rock e dreampop de FM, se houvesse FMs realmente interessadas nesse tipo de estética, pelo menos aqui no Brasil. I just do! volta ao rock “alternativo” dos anos 1990 e ganha guitarras crescentes, que formam uma bela parede lá pelas tantas. Champ é som indie de época, com charme sonoro lembrando bandas como Cardigans e guitarras distorcidas fazendo a costura. In my eyes une desencantos dos anos 1980 e 1990, enquanto Since april tem estileira entre dreampop e grunge.

  • Ouvimos: Lola Kirke – Trailblazer
  • Ouvimos: Amy Millan – I went to find you

Num disco desses, claro, não podiam faltar sons mais tranquilos e concessões à popular esquina entre indie rock e soft rock – daí tem baladinhas com I was her too e Windows, e o quase folk Beaches. No final, I think I did põe magia sonora lembrando Beach Boys e Queen em Sweetness.

As letras de Sweetness, por sua vez, lembram uma fase de pouca doçura na vida de Becca, já que o disco começou a surgir após o fim de um relacionamento que, pelo que dá pra ver no disco, era a mais completa cilada. Versos como “eu simplesmente não pensei que você pudesse fazer isso comigo / dormir com ela enquanto minhas roupas cobriam seu chão” (de I was her too) e “acho que sou masoquista / eu sei que você pode me machucar / e eu estou deixando / porque eu gosto de você” (de I just do!) já mostram a zona e a lona da época. Nem tudo no dreampop de Girlpuppy foi feito para sonhar, enfim.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Captured Tracks
Lançamento: 28 de março de 2025

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Crítica

Ouvimos: Kesha – . (Period)

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Period marca a libertação de Kesha de Dr. Luke e resgata o pop debochado dos velhos tempos. Zoeira, libertação e hits prontos pro Tik Tok.

RESENHA: Period marca a libertação de Kesha de Dr. Luke e resgata o pop debochado dos velhos tempos. Zoeira, libertação e hits prontos pro Tik Tok.

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Kesha passou a maior parte de sua carreira presa ao produtor Dr. Luke – que acusou de agressão sexual, e com o qual passou um bom tempo brigando nos tribunais, ainda que estivesse ligada a ele sob contrato. Um acordo entre os dois livrou a cantora de ter que lançar seus discos pelo selo de Luke, ainda que ele não fosse o único produtor dos álbuns, e este Period (cujo título, na verdade, é um ponto final) é o primeiro lançamento independente de Kesha, lançado por um selo com o nome dela.

O disco é um ponto final (não é só um título, enfim) numa história que deu muita dor de cabeça para a cantora – e que vazou para álbuns mal-humorados ou tristes, como High road (2020) e Gag order (2023). Na real, é igualmente uma volta ao passado: já que Lady Gaga descobriu que seus fãs preferem suas criações mais pop, Kesha não pensou duas vezes e retornou à falta de limites dos primeiros tempos.

A Kesha de Period nem é tão diferente da Charli XCX de Brat, pelo menos na nota zero em comportamento – o disco tem uma dance music em que ela admite que adora se envolver em relações perigosas (Red flag), uma new wave selvagem sobre fazer sexo com todo mundo (Boy crazy) e temas dance punk sobre diversão até o fim do mundo (Freedom e Joyride).

Tem também as dancinhas de Tik Tok de Glow, que fala de uma garota que mandou o namorado encostado passear, a tecladeira quase (eu disse quase) experimental de Delusional, e a dance music texturizada de Love forever – esta, uma canção meio breguinha em que ela diz que quer mesmo é um amor que dure pra sempre, e que soa até meio ingênua comparada ao todo do disco.

Dá pra fazer analogias entre Period e Brat mas para por aí: o disco de Kesha provavelmente não vai nem chegar perto de ser considerado o disco do ano, nem tem a pretensão de se tornar um manifesto pop – nem de longe. É mais zoeira e diversão do que arte, e basicamente é Kesha fazendo de tudo para mostrar que ela sempre foi a mesma pessoa, com e sem o tal do Dr. Luke ao lado.

De presente para os fãs, tem o pop de grito de torcida Yippee-ki-yay, o soft rock + tecnopop Too hard e o clima quase hispânico das palmas intermitentes de Trashman – música na qual Kesha fala grosso com quem merece: “eu não preciso de nenhum homem para me dizer como estou, como estou me sentindo / jogue suas opiniões no saco de lixo, canalha (…) /o patriarcado está tremendo, eu e as vadias não temos medo de você / não seja tão egocêntrico”.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Kesha Records
Lançamento: 8 de julho de 2025

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