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Cultura Pop

Lucio Mauro Filho num papo sobre música (Novos Baianos em especial) e TV

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Lucio Mauro Filho é ator e guitarrista. Aliás, tem se envolvido cada vez mais com a música, que sempre foi uma paixão, e de certa forma, uma segunda ocupação. Teve uma banda na adolescência “que tocava basicamente Jimi Hendrix, The Doors e Led Zeppelin”, como diz. Já fez trabalhos como DJ, participou da primeira edição da batalha musical de astros Popstar (Globo), aderiu às lives musicais até mesmo antes da pandemia.

Os fãs já estão acostumados à ver Lucio à frente da banda Lucio Mauro & Filhos, todo sábado no Caldeirão, comandado por Marcos Mion. No mesmo dia da semana, além disso, o ator pode ser visto também na Escolinha do Professor Raimundo, fazendo o personagem Aldemar Vigário (que durante vários anos foi interpretado por seu pai, Lucio Mauro) e na novela Quanto mais vida melhor, no papel do advogado Cardoso. Mas quem estiver pelo Rio, neste sábado (5), ainda pode ver Lucio ao lado de Pedro Baby, mais uma vez, como músico. Os dois fazem às 19h o show A lei natural dos encontros, no Bosque Bar (na Gávea, Zona Sul do Rio).

Lucio Mauro Filho num papo sobre música (Novos Baianos em especial) e TV

Divulgação/Nando Chagas

A apresentação é uma desculpa para os dois revisitarem o repertório dos Novos Baianos – e para quem não lembra, no espetáculo Novos Baianos, o musical, que chegou aos palcos em 2020, Lucio fazia o roteiro e Pedro (filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes, e guitarrista) fazia a direção musical. O show do Bosque teve uma estreia em dezembro  retorna agora quinzenalmente, para não atropelar as gravações – e Lucio diz ao Pop Fantasma que o show vai incluir também repertório de outros artistas que têm conexões com a música do grupo que há 50 anos lançava o clássico disco Acabou chorare. E quem quiser se encontrar com o lado DJ de Pedro, até que a situação da variante Ômicron melhore, tem as playlists que ele faz e divulga em seu instagram.

(foto lá de cima: João Cotta/Globo/Divulgação)

Como foi quando vocês estrearam o show e mostraram os sucessos dos Novos Baianos para a plateia?

Foi muito especial. A gente interrompeu a temporada do espetáculo dos Novos Baianos, onde começou nossa parceria, em pleno voo. A gente tinha acabado de fazer São Paulo e Rio, sucesso estrondoso. Depois íamos fazer festival de Curitiba, íamos para Salvador, as perspectivas eram lindas. Veio essa tragédia aí da pandemia. E pra nós foi muito frustrante, porque levantar um espetáculo desses, com essa quantidade de equipamentos, de artistas envolvidos… É tudo muito caro.

E foi tudo sem lei de incentivo (rindo), porque elas foram demonizadas. É carro e arriscado, se é um sucesso, maravilha. Se não é, é perigosíssimo. A gente estava num céu de brigadeiro, fazendo sucesso, lotando as casas. E veio a pandemia e com isso, uma ducha congelante, que bateu em toda a classe. Quando os espaços começaram a reabrir, pra peça voltar, não tem jeito. Tem que refazer o projeto, captar, tem que ter agenda, agenda de todo mundo, quem vai poder fazer, quem não vai pode fazer. Não é um espetáculo que “ah, dá pra levantar semana que vem”. E aí aquele gostinho de relembrar aquela alegria, e ao mesmo tempo, estando eu envolvido com a música por causa do meu trabalho no Caldeirão… E aí numa dessas conversas com Pedro, ele disse: “Vamos levar um som, então, nós mesmos?”.

Imagina, já seria algo pra me inspirar pra caramba. Nosso trabalho no musical foi muito intenso, mas lá eu era autor e ele era diretor musical. Ainda não tínhamos experimentado brincar de música os dois juntos. E como é que podia eu não estar levando um som com ele? (rindo) Falei então: “Vamos inventar logo um show, e aí a gente tem aquele motivo pra ensinar, se encontrar e tal”. Procuramos o Leo, que é amigo de todos nós e tem o Bosque. Nossa prerrogativa era que fosse um espaço ao ar livre, que não fosse um lugar fechado. Foi tudo em duas semanas no fim do ano, e foi um esforço coletivo.

E como tá sendo escolher o repertório, já que Novos Baianos é esse universo todo?

Na verdade, o que acontece é o seguinte: a ideia é cada vez mais tocar de tudo. Os Novos Baianos foram estratégicos porque eram as músicas que a gente já estava trabalhando por causa do espetáculo. Eram um porto seguro para a gente começar um projeto musical com esse tempo exíguo, tão curto, e com os protocolos. A gente queria inventar um negócio que demandasse no máximo dois ensaios de estúdio para não ficar enfurnando todo mundo. Tem uma série de coisas que você tem que botar na balança na hora de estrear um projeto como esse. A gente quis ir dando um passo de cada vez, não estávamos com as condições ideais para iniciar um projeto já com um super repertório vasto, que todo mundo ia ter que ensaiar, estudar.

Nesse sentido, a gente sabia que as músicas vinham no automático. É uma homenagem ao que nos uniu. Mas também aproveitamos para fazer um set de Jorge Ben, já que nós somos discípulos dele. Tivemos a oportunidade de tocar um Tim Maia, e apontamos para novidades que a gente quer vir trazendo a cada show. Mas respeitando aquela proposta de uma festa, muito mais do que um show, de ficar de exibicionismo, queremos simular quase o DJ com a banda, no que diz respeito ao flow da pista. É uma coisa que a gente curte, eu tenho meu trabalho de DJ há muito tempo. Tenho essa cabeça do bpm, de você pensar na noite, num crescendo. Foi fundamental para pensar no show, que é uma festa-show, onde não tem tantas interrupções, tanto papo. A ideia é que as pessoas realmente dancem e curtam como numa festa.

Você falou do Jorge Ben, ele tem um ponto de ligação com Novos Baianos que é o Dadi, que foi baixista dele e da banda… Surge a ideia de juntar a música de um artista com a do outro, no show?

Sim, claro! E quando a gente está ensaiando, a gente fica muito atento a isso, aos tons, às canções que combinam, muitas combinam. Da mesma maneira, canções de Marisa Monte, Tribalistas… Se a gente for ver são artistas complementares. Todo mundo bebe um pouco no Jorge Ben, que foi um cara fundamental pra nossa história, ele começa a mistura do samba com o rock, que depois os Novos Baianos vão lá e dão um passo a frente, trazem o choro a bossa nova, João Gilberto. E Marisa Monte é discípula dos dois. Quando você vai fazer o que eu chamo de dramaturgia da noite (rindo) é uma história que se conta. A gente toca Barato total, de Gal Costa, e Pepeu Gomes foi guitarrista dela, aí casa com Baby e vai pros Novos Baianos. São universos complementares. Se o cara for mais leigo, vai dançar, curtir o show, mas o cara mais antenado em música tem outras possibilidades…

É toda uma história que está sendo contada ali, da música popular brasileira de verão, certo?

Exatamente. Tocamos inclusive coisas do repertório solo do Pepeu. Tocamos canções de Baby do Brasil. De uma certa maneira nada ali está desencaixado, ou é aleatório. É uma história a ser contada todas as noites.  A gente quer sempre diversificar, toda vez que tiver a festa, trazer uma novidade, e até músicas atuais que estejam antenadas com aquilo. Nada nos impede de trazer um arrocha, um piseiro… De certa maneira o que tá acontecendo, a eletrificação do forró é um fenômeno que você vai de Luiz Gonzaga a Barões da Pisadinha.

A música nordestina acaba tendo uma influência muito grande no nosso pensar musical. Ambos somos filhos de nordestinos. Minha mãe é baiana, meu pai é paraense. Pedro é filho de Pepeu e da Baby, que é a niteroiense mais baiana do planeta (rindo). Todo esse universo, de Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Daniela Mercury, Carlinhos Brown, a gente orbita. A gente vai pinçando, vendo como a pista reage.

E como tá sendo ter um espaço semanal pra mostrar seu trabalho como músico, no Caldeirão?

Cara, é um desafio absurdo, né? Eu sempre flertei com a música, acho que minha vida inteira. Ela sempre esteve ali presente, todo trabalho. Fiz musicais, fiz Mágico de Oz, participei do Popstar na televisão, cantando. Tenho meu show de bossa nova com Celso Fonseca, que é bossa nova e comédia. Fiz meu evento de bossa nova com o BossaCucaNova, no Copacabana Palace. A música estava sempre ali. Sempre fui metido a tocar meu violãozinho sarapinha (rindo), e de repente o que acontece é que isso ficou represado já lá da época do Popstar. Porque virou um grande treinamento pra mim, mesmo na correria que eu tava – eu estava fazendo a Escolinha e a Malhação.  Mesmo assim eu aprendi absurdamente, meu produtor no Popstar era Marcelo Sussekind. Cada dia de estúdio com ele era uma universidade.

Eu estava pronto para acabando o programa, sair em turnê, e inclusive com a banda pronta. Porque os meus parceiros da minha banda no programa eram figuras espetaculares, apaixonantes. Só cheguei na final porque tive a ajuda desses monstros: Serginho Melo, que é batera do Lulu Santos, Artur de Palla, que é baixista do Djavan… Você sair em turnê com esse pessoal, não tem universidade que te entregue isso. Mas eu estava fazendo a Malhação, e na segunda precisei voltar a minha vida normal de funcionário da TV Globo (rindo). E minha mulher estava grávida, foi uma gravidez temporã que a gente teve. Então tive que abrir mão de, naquele momento, continuar a brincadeira com a música. Aquilo ficou represado, guardado para algum momento. Não foi nada que eu falasse: “pô, perdi uma chance”, porque minha vida é muito dinâmica. Continuei trabalhando com música de um jeito ou de outro.

Mas aí aconteceu esse fenômeno das lives da quarentena. A princípio parecia uma coisa mais por diversão, até porque eu já fazia lives anteriormente à quarentena tocando uma viola, que eu chamava de “roda de violão virtual do Lucinho”.

Sim, eu lembro…

Eu chegava de madrugada, tocava um violão, os amigos pediam música. Com o advento do confinamento, essas lives começaram a ser mais regulares, virou algo terapêutico… Daqui a pouco a Teresa Cristina, de quem eu já era amigo, começou a fazer. Eu frequentava a live dela, ela frequentava a minha, um dia ela me chamou pra cantar. Daqui a pouco um dia ela fala: “Você não quer fazer uma live inteira comigo, a gente fazendo uma batalha de música?”. Daqui a pouco a gente tava fazendo batalha das décadas, batalha do rock (rindo). Toquei de Elba Ramalho a Total eclipse of the heart (Bonnie Tyler), porque os temas das batalhas faziam com que eu tivesse que ensaiar para não fazer feio na hora da live.

Isso foi me dando uma cancha muito grande e as pessoas foram vendo que eu tocava um pouco de tudo, me arriscava. E um dos frequentadores assíduos das lives era o Boninho, que estava sempre ali, fazia um comentário e outro. Aí o povo enlouquecia, pedia vaga no BBB (rindo). O Boninho, que foi o diretor geral do Popstar, acho que de alguma maneira ele ficou: “Pô, olha aí o Lucinho, hein?”. Ficou comigo na gaveta, uma bola quicando na cara do gol. Quando veio o projeto do Caldeirão, veio esse fenômeno que começou com a ida do Faustão para a Band, e essa dança das cadeiras, o Lu (Luciano Huck) querendo ir para domingo… Aí tudo bem, resolveu um problema, mas abriu outro que era sábado, e o Mion veio e resolveu o problema. Quando foram preparar o programa do Mion, tinha que ter uma banda. “Mas que banda vai ser?”. E falaram: “Vamos chamar o Lucinho pra essa brincadeira”. Porque eu estava um pouco com essa expertise não só de tocar, e de cantar, mas também de produzir, por causa do espetáculo dos Novos Baianos. Testamos mais de 300 artistas, selecionamos essas figuras, dirigimos.

Um dos grandes talentos do Boninho é enxergar o profissional que encaixa em cada lugar. Ao mesmo tempo é um cara do acolhimento, e descobriram que eu tinha uma relação de amizade com o Mion. E falaram: “Não, é o Lucinho que tem que estar ali!”. Porque o Mion merecia também ser acolhido, aquela estrela que vem de São Paulo, para aquele mundo da Globo. O Mion já era gigante independentemente disso. Mas ele chegou num lugar em que não tinha intimidade, e foi bacana ter um amigo para trocar, e eu já estou ali há vinte anos, trabalhei em todos os setores. E um programa de variedade trabalha com todos os setores: artistas, esportes… Já tinha essa expertise por ter trabalhado ali com teledramaturgia, comédia, variedades, com música, show. Foi o bom e velho estar certo, na hora certa. E preparado para um desafio, que é enorme!

Imagino…

Mesmo assim, estou tendo que correr muito atrás. Ali é programa, não pode parar. Eu tinha que estar preparado para me comunicar com a banda de uma forma muito dinâmica. Me comunicar com o Mion, ajudar, entender o projeto. De um lado a banda, do outro Boninho, a direção. É uma novidade. Mas isso é a síntese da minha carreira: eu estar desafiado, é uma coisa que eu procuro o tempo inteiro.

Eu passei 14 anos num lugar só, né, bicho? (faz referência à série A Grande Família) Isso é um perigo danado, você vai ficando numa zona de conforto perigosíssima. Enquanto dura é uma maravilha, mas quando acaba, pode te destroçar. Se você não estiver preparado psicologicamente e articulado para seguir em frente… Porque um sucesso desses não se repete. Tem gente que fica a vida inteira atrás de um sucesso desses e não experimenta uma vez sequer. E de repente você está ali experimentando aquilo e alimenta uma expectativa de que vai ser sempre assim, e não vai. Mas eu tinha um Marco Nanini, uma Marieta Severo, para alertar: “Isso que a gente tá vivendo é tipo um sonho, tá? Mas mantenhamos sempre o pé na realidade”. Esse meu pé na realidade é o tal do desafio.

Quando vem uma coisa que me tira da zona de conforto que me tira pra estudar. Sempre fui aquele estudante preguiçoso, precisava estar na recuperação, ou precisando da nota pra estudar… Aí eu brilhava (rindo).

Sei bem o que é isso…

Não é? Isso já era um indicativo na minha vida de que eu precisava de desafios, para me manter ativo, não subir no salto, achar que tá tudo ganho e não está. O próprio Boninho me colocou isso de forma muito clara: “Maninho, você tem todo o direito de dizer sim ou não para esse projeto, mas uma vez que você disse sim, já saiba: vai ser ralação!” (rindo). E eu disse sim de olho fechado, nem deixei ele terminar de dizer a frase. E você trabalhar numa equipe que você confia, que você admira as pessoas, é fundamental.

E lá tem uma equipe de profissionais com os quais eu venho trabalhando há vinte anos em diferentes produtos. Quando ele falou “a equipe é essa, é essa, essa”, eu: “eita, tá louco, tô em casa!”. É a importância das boas relações que a gente faz na vida, a vida vai lá e devolve, e te junta de novo com aquelas pessoas. E agora tem essa lua de mel linda com o Mion, já tínhamos trabalhado em projetos com participações pequenas e havia uma afinidade muito grande. Passamos agora cinco meses de muito afeto e profissionalismo. Já era fã dele, mas agora eu assisto de camarote. Fico ali naquele palquinho pensando em tudo, trabalhando em tudo, e ao mesmo tempo assistindo, e ele é um artista com muita ferramenta.

E sobre A Grande Família, como foi fazer parte de um programa de TV que as pessoas já tinham como garantido? Para muita gente, não havia semana sem A Grande Família

É um fenômeno. Quando a gente decidiu terminar A Grande Família, mesmo assim teve que durar dois anos. Você tem que avisar pro mercado, tem que preparar o mercado. Você tá tirando um produto que agrega patrocinadores, tem os melhores patrocinadores. E que querem botar dinheiro naquilo, porque é um retorno garantido. É um assunto universal, que é família… Aí junta um assunto que gera um manancial de histórias praticamente inesgotável, grandes artistas da televisão, um nível de qualidade acima da média, grandes diretores, grandes produtores, grandes figurinistas… Todo mundo que passava por ali era top, de primeira.

É um momento raríssimo. Uma sorte também. Claro que não é só sorte, quanto mais a gente trabalha mais sortudo a gente fica. Mas eu acho que é o sonho de qualquer artista, profissional, em qualquer área, formar uma baita de uma equipe e passar um tempão no topo. Uma coisa é chegar ao topo, outra coisa é manter. É um troço delicado, que demanda muita conversa, muita luta, muito equilíbrio. Foi muito especial.

E ainda demos a sorte de viver aqueles anos pré-rede social. Nem sei como seria hoje em dia uma Grande Família com rede social, poderia ser um sucesso também, não dá para garantir. Mas digo isso porque quando as pessoas perguntam “o que você creditaria como um dos pilares do sucesso da Grande Família?”, eu acho que um dos pilares era o fato de que ninguém se expunha na mídia. A gente tinha um elenco em que não tinha ninguém que aparecia na Caras, que ficava mostrando a vida pessoal. A gente sempre foi muito preservado nesse lugar.

A gente não teve isso. Poderia ter, nem é uma crítica, mas o fato é que não tinha. No meu modo de enxergar, quanto mais a gente se interessa pelos personagens e menos pelo artista, mais longevidade vai ter um projeto de teledramaturgia. Quando a gente começa a se interessar mais pelo artista, ele fica mais interessante que o personagem. Então você não está querendo saber da obra, dos projetos dramatúrgicos. Quer saber mais o que o cara faz por fora. Como a gente não tinha isso, fica mais fácil preservar uma magia em torno dos personagens.

Só que mais uma vez, repito, não é uma crítica a quem gosta de se divulgar, de divulgar a vida. Hoje em dia isso é uma coisa que é dramaturgia também, já até mudou. Mas para aquela época em que A Grande Família aconteceu, a discrição daquele grupo foi com certeza um pilar para manter a magia durante tanto tempo.

Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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Cultura Pop

Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

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Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação

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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.

No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.

Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.

***

Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.

O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.

***

E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.

“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela

***

Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.

“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.

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