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Cultura Pop

Lucio Mauro Filho num papo sobre música (Novos Baianos em especial) e TV

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Lucio Mauro Filho é ator e guitarrista. Aliás, tem se envolvido cada vez mais com a música, que sempre foi uma paixão, e de certa forma, uma segunda ocupação. Teve uma banda na adolescência “que tocava basicamente Jimi Hendrix, The Doors e Led Zeppelin”, como diz. Já fez trabalhos como DJ, participou da primeira edição da batalha musical de astros Popstar (Globo), aderiu às lives musicais até mesmo antes da pandemia.

Os fãs já estão acostumados à ver Lucio à frente da banda Lucio Mauro & Filhos, todo sábado no Caldeirão, comandado por Marcos Mion. No mesmo dia da semana, além disso, o ator pode ser visto também na Escolinha do Professor Raimundo, fazendo o personagem Aldemar Vigário (que durante vários anos foi interpretado por seu pai, Lucio Mauro) e na novela Quanto mais vida melhor, no papel do advogado Cardoso. Mas quem estiver pelo Rio, neste sábado (5), ainda pode ver Lucio ao lado de Pedro Baby, mais uma vez, como músico. Os dois fazem às 19h o show A lei natural dos encontros, no Bosque Bar (na Gávea, Zona Sul do Rio).

Lucio Mauro Filho num papo sobre música (Novos Baianos em especial) e TV

Divulgação/Nando Chagas

A apresentação é uma desculpa para os dois revisitarem o repertório dos Novos Baianos – e para quem não lembra, no espetáculo Novos Baianos, o musical, que chegou aos palcos em 2020, Lucio fazia o roteiro e Pedro (filho de Baby do Brasil e Pepeu Gomes, e guitarrista) fazia a direção musical. O show do Bosque teve uma estreia em dezembro  retorna agora quinzenalmente, para não atropelar as gravações – e Lucio diz ao Pop Fantasma que o show vai incluir também repertório de outros artistas que têm conexões com a música do grupo que há 50 anos lançava o clássico disco Acabou chorare. E quem quiser se encontrar com o lado DJ de Pedro, até que a situação da variante Ômicron melhore, tem as playlists que ele faz e divulga em seu instagram.

(foto lá de cima: João Cotta/Globo/Divulgação)

Como foi quando vocês estrearam o show e mostraram os sucessos dos Novos Baianos para a plateia?

Foi muito especial. A gente interrompeu a temporada do espetáculo dos Novos Baianos, onde começou nossa parceria, em pleno voo. A gente tinha acabado de fazer São Paulo e Rio, sucesso estrondoso. Depois íamos fazer festival de Curitiba, íamos para Salvador, as perspectivas eram lindas. Veio essa tragédia aí da pandemia. E pra nós foi muito frustrante, porque levantar um espetáculo desses, com essa quantidade de equipamentos, de artistas envolvidos… É tudo muito caro.

E foi tudo sem lei de incentivo (rindo), porque elas foram demonizadas. É carro e arriscado, se é um sucesso, maravilha. Se não é, é perigosíssimo. A gente estava num céu de brigadeiro, fazendo sucesso, lotando as casas. E veio a pandemia e com isso, uma ducha congelante, que bateu em toda a classe. Quando os espaços começaram a reabrir, pra peça voltar, não tem jeito. Tem que refazer o projeto, captar, tem que ter agenda, agenda de todo mundo, quem vai poder fazer, quem não vai pode fazer. Não é um espetáculo que “ah, dá pra levantar semana que vem”. E aí aquele gostinho de relembrar aquela alegria, e ao mesmo tempo, estando eu envolvido com a música por causa do meu trabalho no Caldeirão… E aí numa dessas conversas com Pedro, ele disse: “Vamos levar um som, então, nós mesmos?”.

Imagina, já seria algo pra me inspirar pra caramba. Nosso trabalho no musical foi muito intenso, mas lá eu era autor e ele era diretor musical. Ainda não tínhamos experimentado brincar de música os dois juntos. E como é que podia eu não estar levando um som com ele? (rindo) Falei então: “Vamos inventar logo um show, e aí a gente tem aquele motivo pra ensinar, se encontrar e tal”. Procuramos o Leo, que é amigo de todos nós e tem o Bosque. Nossa prerrogativa era que fosse um espaço ao ar livre, que não fosse um lugar fechado. Foi tudo em duas semanas no fim do ano, e foi um esforço coletivo.

E como tá sendo escolher o repertório, já que Novos Baianos é esse universo todo?

Na verdade, o que acontece é o seguinte: a ideia é cada vez mais tocar de tudo. Os Novos Baianos foram estratégicos porque eram as músicas que a gente já estava trabalhando por causa do espetáculo. Eram um porto seguro para a gente começar um projeto musical com esse tempo exíguo, tão curto, e com os protocolos. A gente queria inventar um negócio que demandasse no máximo dois ensaios de estúdio para não ficar enfurnando todo mundo. Tem uma série de coisas que você tem que botar na balança na hora de estrear um projeto como esse. A gente quis ir dando um passo de cada vez, não estávamos com as condições ideais para iniciar um projeto já com um super repertório vasto, que todo mundo ia ter que ensaiar, estudar.

Nesse sentido, a gente sabia que as músicas vinham no automático. É uma homenagem ao que nos uniu. Mas também aproveitamos para fazer um set de Jorge Ben, já que nós somos discípulos dele. Tivemos a oportunidade de tocar um Tim Maia, e apontamos para novidades que a gente quer vir trazendo a cada show. Mas respeitando aquela proposta de uma festa, muito mais do que um show, de ficar de exibicionismo, queremos simular quase o DJ com a banda, no que diz respeito ao flow da pista. É uma coisa que a gente curte, eu tenho meu trabalho de DJ há muito tempo. Tenho essa cabeça do bpm, de você pensar na noite, num crescendo. Foi fundamental para pensar no show, que é uma festa-show, onde não tem tantas interrupções, tanto papo. A ideia é que as pessoas realmente dancem e curtam como numa festa.

Você falou do Jorge Ben, ele tem um ponto de ligação com Novos Baianos que é o Dadi, que foi baixista dele e da banda… Surge a ideia de juntar a música de um artista com a do outro, no show?

Sim, claro! E quando a gente está ensaiando, a gente fica muito atento a isso, aos tons, às canções que combinam, muitas combinam. Da mesma maneira, canções de Marisa Monte, Tribalistas… Se a gente for ver são artistas complementares. Todo mundo bebe um pouco no Jorge Ben, que foi um cara fundamental pra nossa história, ele começa a mistura do samba com o rock, que depois os Novos Baianos vão lá e dão um passo a frente, trazem o choro a bossa nova, João Gilberto. E Marisa Monte é discípula dos dois. Quando você vai fazer o que eu chamo de dramaturgia da noite (rindo) é uma história que se conta. A gente toca Barato total, de Gal Costa, e Pepeu Gomes foi guitarrista dela, aí casa com Baby e vai pros Novos Baianos. São universos complementares. Se o cara for mais leigo, vai dançar, curtir o show, mas o cara mais antenado em música tem outras possibilidades…

É toda uma história que está sendo contada ali, da música popular brasileira de verão, certo?

Exatamente. Tocamos inclusive coisas do repertório solo do Pepeu. Tocamos canções de Baby do Brasil. De uma certa maneira nada ali está desencaixado, ou é aleatório. É uma história a ser contada todas as noites.  A gente quer sempre diversificar, toda vez que tiver a festa, trazer uma novidade, e até músicas atuais que estejam antenadas com aquilo. Nada nos impede de trazer um arrocha, um piseiro… De certa maneira o que tá acontecendo, a eletrificação do forró é um fenômeno que você vai de Luiz Gonzaga a Barões da Pisadinha.

A música nordestina acaba tendo uma influência muito grande no nosso pensar musical. Ambos somos filhos de nordestinos. Minha mãe é baiana, meu pai é paraense. Pedro é filho de Pepeu e da Baby, que é a niteroiense mais baiana do planeta (rindo). Todo esse universo, de Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Daniela Mercury, Carlinhos Brown, a gente orbita. A gente vai pinçando, vendo como a pista reage.

E como tá sendo ter um espaço semanal pra mostrar seu trabalho como músico, no Caldeirão?

Cara, é um desafio absurdo, né? Eu sempre flertei com a música, acho que minha vida inteira. Ela sempre esteve ali presente, todo trabalho. Fiz musicais, fiz Mágico de Oz, participei do Popstar na televisão, cantando. Tenho meu show de bossa nova com Celso Fonseca, que é bossa nova e comédia. Fiz meu evento de bossa nova com o BossaCucaNova, no Copacabana Palace. A música estava sempre ali. Sempre fui metido a tocar meu violãozinho sarapinha (rindo), e de repente o que acontece é que isso ficou represado já lá da época do Popstar. Porque virou um grande treinamento pra mim, mesmo na correria que eu tava – eu estava fazendo a Escolinha e a Malhação.  Mesmo assim eu aprendi absurdamente, meu produtor no Popstar era Marcelo Sussekind. Cada dia de estúdio com ele era uma universidade.

Eu estava pronto para acabando o programa, sair em turnê, e inclusive com a banda pronta. Porque os meus parceiros da minha banda no programa eram figuras espetaculares, apaixonantes. Só cheguei na final porque tive a ajuda desses monstros: Serginho Melo, que é batera do Lulu Santos, Artur de Palla, que é baixista do Djavan… Você sair em turnê com esse pessoal, não tem universidade que te entregue isso. Mas eu estava fazendo a Malhação, e na segunda precisei voltar a minha vida normal de funcionário da TV Globo (rindo). E minha mulher estava grávida, foi uma gravidez temporã que a gente teve. Então tive que abrir mão de, naquele momento, continuar a brincadeira com a música. Aquilo ficou represado, guardado para algum momento. Não foi nada que eu falasse: “pô, perdi uma chance”, porque minha vida é muito dinâmica. Continuei trabalhando com música de um jeito ou de outro.

Mas aí aconteceu esse fenômeno das lives da quarentena. A princípio parecia uma coisa mais por diversão, até porque eu já fazia lives anteriormente à quarentena tocando uma viola, que eu chamava de “roda de violão virtual do Lucinho”.

Sim, eu lembro…

Eu chegava de madrugada, tocava um violão, os amigos pediam música. Com o advento do confinamento, essas lives começaram a ser mais regulares, virou algo terapêutico… Daqui a pouco a Teresa Cristina, de quem eu já era amigo, começou a fazer. Eu frequentava a live dela, ela frequentava a minha, um dia ela me chamou pra cantar. Daqui a pouco um dia ela fala: “Você não quer fazer uma live inteira comigo, a gente fazendo uma batalha de música?”. Daqui a pouco a gente tava fazendo batalha das décadas, batalha do rock (rindo). Toquei de Elba Ramalho a Total eclipse of the heart (Bonnie Tyler), porque os temas das batalhas faziam com que eu tivesse que ensaiar para não fazer feio na hora da live.

Isso foi me dando uma cancha muito grande e as pessoas foram vendo que eu tocava um pouco de tudo, me arriscava. E um dos frequentadores assíduos das lives era o Boninho, que estava sempre ali, fazia um comentário e outro. Aí o povo enlouquecia, pedia vaga no BBB (rindo). O Boninho, que foi o diretor geral do Popstar, acho que de alguma maneira ele ficou: “Pô, olha aí o Lucinho, hein?”. Ficou comigo na gaveta, uma bola quicando na cara do gol. Quando veio o projeto do Caldeirão, veio esse fenômeno que começou com a ida do Faustão para a Band, e essa dança das cadeiras, o Lu (Luciano Huck) querendo ir para domingo… Aí tudo bem, resolveu um problema, mas abriu outro que era sábado, e o Mion veio e resolveu o problema. Quando foram preparar o programa do Mion, tinha que ter uma banda. “Mas que banda vai ser?”. E falaram: “Vamos chamar o Lucinho pra essa brincadeira”. Porque eu estava um pouco com essa expertise não só de tocar, e de cantar, mas também de produzir, por causa do espetáculo dos Novos Baianos. Testamos mais de 300 artistas, selecionamos essas figuras, dirigimos.

Um dos grandes talentos do Boninho é enxergar o profissional que encaixa em cada lugar. Ao mesmo tempo é um cara do acolhimento, e descobriram que eu tinha uma relação de amizade com o Mion. E falaram: “Não, é o Lucinho que tem que estar ali!”. Porque o Mion merecia também ser acolhido, aquela estrela que vem de São Paulo, para aquele mundo da Globo. O Mion já era gigante independentemente disso. Mas ele chegou num lugar em que não tinha intimidade, e foi bacana ter um amigo para trocar, e eu já estou ali há vinte anos, trabalhei em todos os setores. E um programa de variedade trabalha com todos os setores: artistas, esportes… Já tinha essa expertise por ter trabalhado ali com teledramaturgia, comédia, variedades, com música, show. Foi o bom e velho estar certo, na hora certa. E preparado para um desafio, que é enorme!

Imagino…

Mesmo assim, estou tendo que correr muito atrás. Ali é programa, não pode parar. Eu tinha que estar preparado para me comunicar com a banda de uma forma muito dinâmica. Me comunicar com o Mion, ajudar, entender o projeto. De um lado a banda, do outro Boninho, a direção. É uma novidade. Mas isso é a síntese da minha carreira: eu estar desafiado, é uma coisa que eu procuro o tempo inteiro.

Eu passei 14 anos num lugar só, né, bicho? (faz referência à série A Grande Família) Isso é um perigo danado, você vai ficando numa zona de conforto perigosíssima. Enquanto dura é uma maravilha, mas quando acaba, pode te destroçar. Se você não estiver preparado psicologicamente e articulado para seguir em frente… Porque um sucesso desses não se repete. Tem gente que fica a vida inteira atrás de um sucesso desses e não experimenta uma vez sequer. E de repente você está ali experimentando aquilo e alimenta uma expectativa de que vai ser sempre assim, e não vai. Mas eu tinha um Marco Nanini, uma Marieta Severo, para alertar: “Isso que a gente tá vivendo é tipo um sonho, tá? Mas mantenhamos sempre o pé na realidade”. Esse meu pé na realidade é o tal do desafio.

Quando vem uma coisa que me tira da zona de conforto que me tira pra estudar. Sempre fui aquele estudante preguiçoso, precisava estar na recuperação, ou precisando da nota pra estudar… Aí eu brilhava (rindo).

Sei bem o que é isso…

Não é? Isso já era um indicativo na minha vida de que eu precisava de desafios, para me manter ativo, não subir no salto, achar que tá tudo ganho e não está. O próprio Boninho me colocou isso de forma muito clara: “Maninho, você tem todo o direito de dizer sim ou não para esse projeto, mas uma vez que você disse sim, já saiba: vai ser ralação!” (rindo). E eu disse sim de olho fechado, nem deixei ele terminar de dizer a frase. E você trabalhar numa equipe que você confia, que você admira as pessoas, é fundamental.

E lá tem uma equipe de profissionais com os quais eu venho trabalhando há vinte anos em diferentes produtos. Quando ele falou “a equipe é essa, é essa, essa”, eu: “eita, tá louco, tô em casa!”. É a importância das boas relações que a gente faz na vida, a vida vai lá e devolve, e te junta de novo com aquelas pessoas. E agora tem essa lua de mel linda com o Mion, já tínhamos trabalhado em projetos com participações pequenas e havia uma afinidade muito grande. Passamos agora cinco meses de muito afeto e profissionalismo. Já era fã dele, mas agora eu assisto de camarote. Fico ali naquele palquinho pensando em tudo, trabalhando em tudo, e ao mesmo tempo assistindo, e ele é um artista com muita ferramenta.

E sobre A Grande Família, como foi fazer parte de um programa de TV que as pessoas já tinham como garantido? Para muita gente, não havia semana sem A Grande Família

É um fenômeno. Quando a gente decidiu terminar A Grande Família, mesmo assim teve que durar dois anos. Você tem que avisar pro mercado, tem que preparar o mercado. Você tá tirando um produto que agrega patrocinadores, tem os melhores patrocinadores. E que querem botar dinheiro naquilo, porque é um retorno garantido. É um assunto universal, que é família… Aí junta um assunto que gera um manancial de histórias praticamente inesgotável, grandes artistas da televisão, um nível de qualidade acima da média, grandes diretores, grandes produtores, grandes figurinistas… Todo mundo que passava por ali era top, de primeira.

É um momento raríssimo. Uma sorte também. Claro que não é só sorte, quanto mais a gente trabalha mais sortudo a gente fica. Mas eu acho que é o sonho de qualquer artista, profissional, em qualquer área, formar uma baita de uma equipe e passar um tempão no topo. Uma coisa é chegar ao topo, outra coisa é manter. É um troço delicado, que demanda muita conversa, muita luta, muito equilíbrio. Foi muito especial.

E ainda demos a sorte de viver aqueles anos pré-rede social. Nem sei como seria hoje em dia uma Grande Família com rede social, poderia ser um sucesso também, não dá para garantir. Mas digo isso porque quando as pessoas perguntam “o que você creditaria como um dos pilares do sucesso da Grande Família?”, eu acho que um dos pilares era o fato de que ninguém se expunha na mídia. A gente tinha um elenco em que não tinha ninguém que aparecia na Caras, que ficava mostrando a vida pessoal. A gente sempre foi muito preservado nesse lugar.

A gente não teve isso. Poderia ter, nem é uma crítica, mas o fato é que não tinha. No meu modo de enxergar, quanto mais a gente se interessa pelos personagens e menos pelo artista, mais longevidade vai ter um projeto de teledramaturgia. Quando a gente começa a se interessar mais pelo artista, ele fica mais interessante que o personagem. Então você não está querendo saber da obra, dos projetos dramatúrgicos. Quer saber mais o que o cara faz por fora. Como a gente não tinha isso, fica mais fácil preservar uma magia em torno dos personagens.

Só que mais uma vez, repito, não é uma crítica a quem gosta de se divulgar, de divulgar a vida. Hoje em dia isso é uma coisa que é dramaturgia também, já até mudou. Mas para aquela época em que A Grande Família aconteceu, a discrição daquele grupo foi com certeza um pilar para manter a magia durante tanto tempo.

4 discos

4 discos: Ace Frehley

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Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.

Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.

Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.

Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução

“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.

Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…

“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).

O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.

“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.

“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.

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Cultura Pop

Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

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O Radiohead (Foto: Tom Sheehan/Divulgação).

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada

A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.

O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.

“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).

Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.

Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.

O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação

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Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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