Destaque
Já ouviu falar da Parayba Records?

Se você buscar em sites de música, vai achar várias matérias que tentam responder à seguinte pergunta: como é ser um dono de selo independente em 2019? E como driblar a crise e a falta de interesse das pessoas por produtos físicos? (em tempo: adoramos essa matéria do New Musical Express sobre o assunto)
Daí o POP FANTASMA decidiu, nessas entrevistas que estamos fazendo às sextas-feiras, bater papo também com a galera que mantém selos independentes e que vai driblando as crises. O Michael Meneses comanda há quase duas décadas o selo Parayba Records, que deu um tempinho nos lançamentos não apenas por causa da falta generalizada de grana, como também pelo trabalho diário de seu dono – Michael vende LPs numa banca que monta em feiras e em locais como o Circo Voador e é professor de fotografia da Universidade Estácio de Sá. Também comanda o site Rock Press, em nova fase.

Michael em ação (foto: Efraim Fernandes)
Michael é um cara de antigamente: mantém uma caixa postal para receber material para o seu selo (30450, Rio de Janeiro/RJ, CEP 21351-970), não pensa em liberar o material de sua gravadora para plataformas digitais (são bandas pesadas, entre punk e metal, como Protesto Suburbano, Darge, Statik Majik e Repúdio) e ainda prefere livros e revistas velhas. A Parahyba está para voltar ainda em 2019 e deve investir em formatos como vinil, se tudo correr bem. Pega aí o papo com ele.
POP FANTASMA: Você montou o selo em 2001, numa época em que as pessoas estavam começando a fazer download ilegal, tinha muita pirataria, as gravadoras começavam a sentir os efeitos disso tudo aí… O que te moveu para lançar um selo?
MICHAEL MENESES (PARAYBA RECORDS): Bom, o ano de 2001 foi literalmente uma nova era para mim. Fui despedido do último emprego em que não trabalhava numa área ligada à arte e comunicação. Era um trabalho que me pagava muito bem, mas onde não era feliz, estressava e me estressava diariamente. Ao ficar desempregado, resolvi que nunca mais iria trabalhar em algo que não fosse ligado a cultura. Já era fotógrafo do underground e das Lonas Culturais do Rio de Janeiro (especialmente a Lona de Campo Grande/RJ) e foi aí que quase “tudo ao mesmo tempo agora”. Comecei a estagiar na Revista Rock Press, iniciei a faculdade de jornalismo e a vender discos em stands no Espaço Cultural 911 (onde fui curador da programação), no Rato no Rio e shows underground. Comecei a namorar e uns oito meses depois estava casado. Me separei em menos de dois anos (risos).

Capa do disco do Darge
Não deu certo? Minha ex cansou de sonhar comigo. Mas aqueles stands, o Selo Cultural Parayba Records começou. O tempo foi passando e continuava evoluindo tudo o que iniciei em 2001. Em 2007, por conta do meu aniversário, realizei o Parayba Rock Fest, evento que teve três edições. Uma das bandas que tocou foi a Repúdio (RJ) que estava gravando no estúdio do saudoso Américo. O baterista Dagotta me perguntou se não queria lançar o disco do Repúdio. Até então, achava que só teria um selo, quando tivesse uma loja de discos, afinal a história da Baratos Afins, Cogumelo Discos… Sempre foram inspiração para mim. Topei lançar o Repúdio elevando a distribuição a selo e se o nome é Selo Cultural Parayba Records, é porque as ações não se resumiram apenas apoiar o lançamento de CDs de hardcore, metal, punk, de bandas como Darge (Japão), Incendiall (RJ), Statik Majik (RJ), Karne Krua (SE), Protesto Suburbano (Macaé/RJ), C.P.D. (RJ). Também promovi iniciativas culturais como documentários e filmes independentes, teatro infantil, shows, exposições e eventos independentes em geral. Curiosamente, contando a partir de 2001 a Parayba Records está completando 18 anos. Já não é dimenor! (risos).

Capa do disco do Repúdio
Lembra do quanto você reservou de grana para fazer seus primeiros lançamentos? Como pensou o modelo de negócio, logística de distribuição, etc? Alguns lançamentos tiveram uma forma parecida. Um sinal de entrada durante o processo de produção e o valor final na entrega dos discos. Porém, tive parcerias, onde paguei com ensaio fotográfico, assessoria de impressa, divulgação… O disco do Repúdio chegou no dia da missa de sétimo dia do meu pai e focar no trabalho foi revigorante. Meses antes, Tiaguinho, o vocal da Incendiall, me convidou para lançá-los. Eu falei que teria que pensar pois meu pai estava doente e não saberia como seriam os meses seguintes. Mas ele ele disse:“Parayba, a gente te conhece faz um tempão, acompanhamos sua luta pelo rock em Marechal Hermes, desde moleque, você vai estar no disco nem que seja com R$ 1”.
Legal. Sim. Meses depois o disco saiu com o logo da Parayba Records sem ter pago nada. Em troca, fiz assessoria para eles por um tempo e, da cota de discos que recebi, basicamente não vendi nenhum. Fiz promoção em rádios e dava um CD para todos que me comprassem na Parayba Records. A atitude do Incendiall me deu o maior orgulho. Fazemos uma ação hoje que terá uma reação no futuro: a banda lembrou-se de quando ainda eram crianças, já que até fotografei eles em festa infantil. Eles me viam por Marechal Hermes/RJ com discos, zines, camisas de bandas, divulgando shows… Incendiall saiu por reconhecimento às correrias dos anos 1990.
E hoje esses primeiros projetos e previsões financeiras estão totalmente mudados, né? Do quanto alguém precisa para manter um selo que lança CDs hoje em dia? Olha, primeiramente, mais que dinheiro, quem pensa em ter um selo tem que acreditar, ser paciente, sonhador e persistente. Ou um teimoso, como muita gente costuma me classificar (risos). Falando de questões financeiras: sempre que sou procurado, vejo a proposta de valores da banda e se for o caso, faço uma contrapartida. Acho importante que selos de outros estados e países também participem, fazendo circular o trabalho em outras regiões. Claro, não basta apenas a banda ser “boa”. Eu tenho que gostar e ela tem que estar na correria, tocando, divulgando o som além da internet. É um trabalho em conjunto, todo mundo promovendo em sintonia.

Botaram Wagner Montes para divulgar o Parayba Rock Fest
Que talentos seus você percebeu que precisava usar (ou o que precisou aprender) quando montou um selo? Tenho que aprender e me adaptar a muita coisa, mas como falei antes, o que mais aprendi foi a ser persistente. Não dou o braço a torcer por certas coisas. Esse lance de discos virtuais gratuitos é uma delas. Não entendo uma banda que investe em equipamento, estúdio, ensaios, tempo… E grava algo que não vai pagar as contas. Bom, até seria uma revolução se todo o processo fosse de graça: energia elétrica, instrumentos e todos os gastos. Quando comecei, o selo não tinha nome, mas muita gente falava “Vou ali comprar um disco no Parayba”, por conta do meu apelido, que ganhei nos anos 1990 por ser um carioca que morou os anos 1980 em Sergipe. Escolhi o nome como marketing e deu certo. Felipe, primeiro baixista da Gangrena Gasosa, me falou uma vez que transformei o preconceito zoeiro dos amigos em uma iniciativa cultural. Hoje o selo é conhecido no Brasil e os discos estão em todos os continentes.
Como está a Parayba Records hoje? Soube que você deu um tempinho nos projetos de CDs novos. Foi a crise? Ao menos uma vez por mês, sou convidado para fazer novos lançamentos, em CDs, vinil, K7 e até em livros. Não tenho nada confirmado, mas talvez role até o fim do ano. Não posso culpar a crise, embora ela seja uma vilã, especialmente em um país onde já teve banda que acabou porque ou ensaiava, ou comprava um quilo de feijão. O fato que não me fez lançar outros discos nos últimos anos, foi tempo para me dedicar, propostas surreais de orçamentos e principalmente o investimento em outros projetos. Comprei minha casa, comprei a marca/site/revista Rock Press… Na medida do possível apoiei eventos culturais como a volta do Arena do Heavy na Lona Cultural de Campo Grande, Semana da Fotografia de Madureira e o festival Rato no Rio na Lona de Bangu, entre outros. Finalizando sobre a crise, pior que ela, são pessoas que gastam dinheiro com bebidas, cigarros, drogas, mas não investem em arte e cultura. Não quero soar o falso moralista, também tomo minha cerveja e o meu vinho, e até já pensei em produzir a cerveja do selo, porém, entre comprar um disco, livro, ir ao cinema, ou chapar, vou optar sempre por me entorpecer eternamente de cultura.
Você pensa em lançar vinil e K7? Como tá isso na sua cabeça? Lançar em vinil sempre foi um sonho. Recentemente recebi uma proposta de uma banda que gosto, pode ser que role. O K7 também é um formato que sempre gostei de colecionar e que também me vejo lançando um dia.
Como está sua relação com plataformas digitais? Você não pensa nem em usar o Bandcamp? Não sei o dia de amanhã, mas não me vejo lançando um disco em pendrive e afins. Não consigo me conectar a esses formatos. Curto pegar o disco e o encarte em mãos e não apenas a praticidade virtual. Falando assim, parece que apoio um lançamento para ter esses discos estocados em casa. Não é isso, apenas não consigo me conectar com essas plataformas, e nem ter discos salvos em HDs e afins, é algo muito meu, acho importante a existência delas como fomentadoras culturais. Já instalei algumas vezes o Spotify, mas raramente escutei uma banda nova. Sempre me pego escutando as clássicas. Sabe aquele sentimento que muitos tinham nos anos 1980/90 quando a fita K7 “arrastava” por falta de pilha no walkman? Então, é o que sinto quando a conexão cai e estou usando essas plataformas. (risos). Porem, tem uma coisa na internet que acho muito bacana que são os financiamentos coletivos. Participei de alguns e penso neles em meus projetos.
https://www.youtube.com/watch?v=Ko3dUJQ1UgE
Como você começou a se envolver com música? Chegou a ter uma banda? Tudo começou com meu nome, que foi inspirado no Michael Jackson. Eu nasci no ano da tour do Jackson 5 no Brasil (foi em 1974). Nos anos 1970 escutava meu pai ouvindo Benito di Paula, minha mãe ouvindo Caetano Veloso e meu primeiro K7 foi o Disco Baby com as Melindrosas. Depois, já morando em Aracaju/SE vieram os vinis, entre eles o compacto Voa canarinho, voa, do Júnior. Aos poucos o rock foi aparecendo em minha vida, morte de John Lennon, show do Kiss na TV, primeiro Rock in Rio… Sergipe vivia a fase “underground” da axé Music, que naqueles tempos era rotulada de “deboche”. Andava de skate e o ritmo baiano não combinava, até comprei a revista Bizz com adesivos grátis para colar no skate. Aos 12 anos, Queen e Paralama, eram algumas das minhas bandas do coração. No início de uma noite de agosto de 1986, saindo do colégio de padre onde estudava, olhei para a extinta revista Metal em uma banca de revista e falei algo como: “Vou ser metaleiro!” (risos). Logo o metal levou-me ao punk/HC, ao rock progressivo, e ao envolvimento com a cena independente sergipana. Em 1991, por conta do Rock in Rio II, voltei a morar no Rio e aos poucos, os demais estilos do rock e da música foram entrando em minha vida. Tive duas bandas que não saíram dos ensaios, em uma quase fui vocalista, mas saí quando a banda começou a focar em covers e não no autoral. Com o batera dessa banda, formei outra, onde era para ser o baixista. Só que eu não tinha tempo de estudar música, trabalhava de dia e estudava à noite e não nasci com dons musicais. Tenho o baixo e um violão até hoje, o que me falta é tomar vergonha na cara e aprender a fazer um “dó” (risos). Também tive zine na virada dos anos 1980/90 e programas em rádios comunitárias da zona oeste carioca na década de 1990.
Você tem também uma banca em que vende vinis e CDs, não? Como é lidar com o lado da venda de discos hoje em dia? As pessoas estão interessadas em comprar discos? Nesses 18 anos, os stands da Parayba Records já foram montados por todo o Rio e Grande-Rio, interior, e nos estados de Sergipe e Rio Grande do Sul. Comecei com uma mesinha com 12 CDs entre mainstream e independentes e hoje, além dos discos do selo tenho de tudo, até livros, revistas, zines, camisas… Graças à Parayba Records, há 10 anos fico à frente dos stands da Polysom Discos em feiras de vinil e esse trabalho chegou a mim graças a recomendação do amigo Leonardo Panço do selo Tamborete, e que assim como o Calanca da Baratos Afins é inspiração para mim. Nos stands vejo desde colecionadores de discos como eu, até adolescentes na casa dos 13 anos que tem suas coleções financiadas na base do cartão de crédito dos pais. São graças a esses jovens adolescentes que acredito que a arte segue respirando, pois tem muita gente cansada no auge dos seus 20, 30, e 40 anos… Não acho que comprar um CD por R$ 10 seja um gasto, para mim sempre será um investimento, gastar, gastamos com cerveja, cigarro, drogas…
Que tipo de produto some da sua banca em pouco tempo? Tem algum recordista? (vale disco de um determinado artista, um formato, etc)… Dos discos da Parayba Records, Repúdio, Darge, Statik Majik, estão quase esgotados. Em vinil discos do Jorge Ben (especialmente o Tábua de esmeralda) vende muito e em todo show da Pitty que trabalhei vendi muito bem tudo o que tinha disponível em vinil e CDs. Os fãs da Pitty são de fé!
Você tem um projeto de editar livros, não tem? Fala mais disso. Sim, são projetos antigos, que comecei e parei por vários motivos: o principal foi a compra do meu apê. Entre as ideias para os livros, destaco um sobre a história do rock suburbano carioca, um livro biográfico sobre o artista plástico sergipano Augusto César que foi quem me apresentou o rock lá nos anos 1980. Esse tá quase pronto. Quero fazer também um livro misturando texto poéticos/sensuais com fotografias e pinturas abstratas de nu artístico. Vejo todos esses projetos em futuros financiamentos coletivos. Acho que até o ano que vem algum deles será finalizado. Preciso de tempo para focar neles.
Como tá sendo editar a Rock Press? Estou na Rock Press desde 2001, antes era um leitor fiel da revista, desses que esperavam a revista chegar na banca e para mim era um sonho um dia fotografar para a revista. Graças ao acaso, fui convidado para disponibilizar fotos do Ratos de Porão e da Gangrena Gasosa em um show que aconteceu aqui na estrada onde hoje moro. Comecei fotografando e aos poucos fui escrevendo. Há cerca de uns quatro anos uma voz dizia em minha cabeça: “Você vai ser promovido na Rock Press”, foi aí que em 2017, no meio da Via Dutra indo vender discos na Galeria do Rock/SP, recebi a mensagem com a proposta da Cláudia, então editora da Rock Press. Fechamos os valores e curiosamente hoje (dia 23 de junho) o site atual completou 2 anos que começou a ser desenvolvido, minutos depois de um assalto (risos) que eu e o webmaster sofremos. O antigo site Rock Press estava meio parado quando assumi, ficou acordado que não deveria dar continuidade ao site e sim começar um novo, do zero, o que reconheço foi uma pena, pois muita coisa boa foi publicada lá. Desde então, venho dando oportunidade para novos colaboradores de texto e fotos, assim como fez a Rock Press que foi uma escola para tanta gente boa ao longo dos anos, da qual me incluo. Convidei alguns ex-colaboradores e gente da geração Rock Press para pautas e colunas, mas por muitos motivos não quiseram ou não puderam. Posso dizer que seja a Parayba Records e a Rock Press só existem porque sou apaixonado por ambas, é muito amor envolvidos, tais iniciativas já me foram jogadas na cara por relacionamentos que não entendem o amor que sinto pela Parayba Records e pela Rock Press.
E como é a conversa com teus alunos da universidade sobre o selo? Você percebe que essa geração que lida com foto, jornalismo, música, arte, é mais empreendedora? Costumo dar exemplos midiáticos que vivi. Muitos entendem essas vivências e pesquisam sobre mídia física, cultura pop, underground… Mas por outro lado não escondo que fico decepcionado com essa geração que acredita no atual formado de jornalismo e mídia, onde o que se vê são fake news, stories, lives e vídeos com o celular em pé. Querem trabalhar na TV, e não assistem TV, querem trabalhar em um jornal ou revista, mas não compram publicações impressas e por aí vai. É como bandas que querem fazer shows e gravar discos, mas não vão a shows e nem compram discos. As redes sociais são ferramentas importantes, mas não devemos focar apenas nelas, pois todas são passageiras e logo caem no esquecimento. Tenho livros, discos, revistas, fotos…, mas não tenho nada do que publiquei no Orkut, no ICQ… Sou um romântico amante do eterno e não me prendo as paixões passageiras!
Cultura Pop
Quando Suicide gravou… “Born in the USA”, do Bruce Springsteen

A way of life, disco de 1988 da dupla de música eletrônica Suicide, é tido como um disco, er, acessível. Acessível à moda de Martin Rev e Alan Vega, claro. O disco pelo menos podia ser colocado tranquilamente na prateleira dos artífices da darkwave e era bem mais audível do que o comum de um grupo que havia lançado a assustadora Frankie teardrop. O disco era produzido por Ric Ocasek, líder dos Cars (que já havia produzido o segundo disco deles, de 1981, Alan Vega/Martin Rev), e tinha até uma eletro-valsinha, Surrender, além de um estiloso misto de rockabilly e synthpop, Jukebox baby 96.
O que ninguém esperava era que a dupla tivesse feito nessa mesma época uma estranhíssima versão de… Born in the USA, de Bruce Springsteen. A faixa surge numa versão ao vivo, gravada num show de Vega e Rev em 1988, em Paris. A dupla nem sequer disfarçou que a ideia era fazer uma versão bem lascada – saca só o sintetizadorzinho da música, e a referência a músicas como Lucille, de Little Richard, e o tema When the saints go marching in, logo na abertura. A “versão” da faixa resume-se a quase nada além do título da canção. Parece um karaokê do demo (e é).
A versão poderia ser uma bela pirataria, mas vira oficial nesse mês: vai aparecer em uma reedição de A way of life, prevista para o dia 26. A edição de luxo estará disponível em vinil azul transparente com Born in the USA e em CD com quatro faixas bônus, além do formato digital. O material extra inclui versões ao vivo de Devastation e Cheree, bem como uma versão inicial de estúdio de Dominic Christ. O pesquisador Jared Artaud encontrou as faixas enquanto trabalhava no arquivo de Vega, após a morte do cantor em 2016.
E se você não sabia, vai aí a surpresa: Springsteen tá bem longe de ser um sujeito que diria “what?” ao ser informado da existência do Suicide. Pelo contrário: era fã da dupla e costumava dizer que a estreia do Suicide, o disco epônimo de 1977, era “um dos discos mais sensacionais que já ouvi”. Em 1980, o cantor esteve com a dupla e Vega descobriu que Springsteen era seu fã – e se surpreendeu.
“Ele estava gravando o disco The river (1980) e nós estávamos gravando nosso segundo álbum em Nova York. Então tivemos uma reunião de audição do nosso álbum. Havia três ou quatro figurões da nossa gravadora, e Bruce também estava lá. Depois que tocamos o álbum, houve um silêncio mortal… exceto por Bruce, que disse, ‘Isso foi ótimo pra caralho.’ Ele fazia questão de nos dizer o quanto nos amava”, contou em 2014 ao New York Post.
Mais: um texto do site Treblezine, a partir de audições da obra de Bruce e de entrevistas do Suicide, descobre: a dupla influenciou muito o sombrio disco Nebraska, tido como o “primeiro disco solo” (sem a E Street Band) de Springsteen (1982), basicamente um disco sobre crise, desemprego e gente à beira do desespero pela falta de oportunidades. Houve uma versão elétrica e pesada de Nebraska, mas Bruce quis lançar o disco acústico, de voz, violão e registros crus, e que de fato lembram o clima esparso do Suicide do primeiro disco.
Na dúvida, ouça State trooper, cujos uivos lembram bastante os gritos (sem aviso prévio) de Frankie teardrop. “Lembro-me de entrar na minha gravadora logo após o lançamento do meu disco”, disse Vega depois de ouvir State trooper pela primeira vez. “Eu pensei que era um dos meus álbuns que eu tinha esquecido. Mas era Bruce!”
Cultura Pop
No podcast do Pop Fantasma, a fase de transição do Metallica

A morte do baixista Cliff Burton, em 27 de setembro de 1986, desorientou muito o Metallica. Além do que aconteceu, teve a maneira como aconteceu: a banda dormia no ônibus de turnê, sofreu um acidente que assustou todo mundo, e quando o trio restante saiu do veículo, só restou encarar a realidade. A partir daquele momento, estavam não apenas sem o baixista, como também estavam sem o amigo Cliff, sem o cara que mais havia influenciado James Hetfield, Lars Ulrich e Kirk Hammett musicalmente, e sem a configuração que havia feito de Master of puppets (1986) o disco mais bem sucedido do grupo até então.
Hoje no Pop Fantasma Documento, a gente dá uma olhada em como ficou a vida do Metallica (banda que, você deve saber, está lançando disco novo, 72 seasons) num período em que o grupo foi do céu ao inferno em pouco tempo. O Metallica já era considerado uma banda de tamanho BEM grande (embora ainda não fosse o grupo multiplatinado e poderoso dos anos 1990) e, justamente por causa disso, teve que passar por cima dos problemas o mais rápido possível. E sobreviver, ainda que à custa justamente da estabilidade emocional de Jason Newsted, o substituto do insubstituível Cliff Burton…
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Skull Koraptor e Manger Cadavre?
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta-feira!
Destaque
Dan Spitz: metaleiro relojoeiro

Se você acompanha apenas superficialmente a carreira da banda de thrash metal Anthrax e sentia falta do guitarrista Dan Spitz, um dos fundadores, ele vai bem. O músico largou a banda em 1995, pouco antes do sétimo disco da banda, Stomp 442, lançado naquele ano. Voltaria depois, entre 2005 e 2007, mas entre as idas e as vindas, o guitarrista arrumou uma tarefa bem distante da música para fazer: ele se tornou relojoeiro (!).
A vida de Dan mudou bastante depois que o músico teve filhos em 1995, e começou a se questionar se queria mesmo aquela vida na estrada. “Fazíamos um álbum e fazíamos turnês por anos seguidos, e então começávamos o ciclo de novo – o tempo em casa não existia. É uma história que você vê em toda parte: tudo virou algo mundano e mais parecido com um trabalho. Eu precisava de uma pausa”, contou Spitz ao site Hodinkee.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Rockpop: rock (do metal ao punk) na TV alemã
Na época, lembrou-se da infância, quando ficava sentado com seu avô, relojoeiro, desmontando relógios Patek Philippe, daqueles cheios de pecinhas, molas e motores. “Minha habilidade mecânica vem de minha formação não tradicional. Meu quarto parecia uma pequena estação da NASA crescendo – toneladas de coisas. Eu estava sempre construindo e desmontando coisas durante toda a minha vida. Eu sou um solucionador de problemas no que diz respeito a coisas mecânicas e eletrônicas”, recordou no tal papo.
Spitz acabou no Programa de Treinamento e Educação de Relojoeiros da Suíça, o WOSTEP, onde basicamente passou a não fazer mais nada a não ser mexer em relógios horrivelmente difíceis o dia inteiro, aprender novas técnicas e tentar alcançar os alunos mais rápidos e mais ágeis da instituição.
>>> Veja também no POP FANTASMA: Discos de 1991 #9: “Metallica”, Metallica
A música ainda estava no horizonte. Tanto que, trabalhando como relojoeiro em Genebra, pensou em largar tudo ao receber um telefonema do amigo Dave Mustaine (Megadeth) dizendo para ele esquecer aquela história e voltar para a música. Olhou para o lado e viu seu colega de bancada trabalhando num relógio super complexo e ouvindo Slayer.
O músico acha que existe uma correlação entre música e relojoaria. “Aprender a tocar uma guitarra de heavy metal é uma habilidade sem fim. É doloroso aprender. É isso que é legal. O mesmo para a relojoaria – é uma habilidade interminável de aprender”, conta ele. “Você tem que ser um artista para ser o melhor – seja na relojoaria ou na música. Você precisa fazer isso por amor”.
>>> POP FANTASMA PRA OUVIR: Mixtape Pop Fantasma e Pop Fantasma Documento
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