Cinema
Fluminense FM: a “maldita” num documentário

Quem lembra da fase “maldita” e roqueira da rádio Fluminense FM e já viu o curta A maldita, da cineasta Tetê Mattos, vai se assustar (e se emocionar) quando assistir à versão longa-metragem do documentário, que estreia nesta quarta (14) às 20h no Canal Brasil. Isso porque a história dos primórdios da rádio ganha outros contornos, com imagens raras dos bastidores da emissora, leituras de cartas dos ouvintes e uma gama enorme de entrevistas com bandas, músicos, radialistas, jornalistas e fãs da rádio.
As cartas dos ouvintes incluem agradecimentos à emissora, e pedidos para que a Fluminense tocasse mais blues, ou bandas como Led Zeppelin e Água Brava – este último, um grupo de hard rock que virou xodó da emissora, e que só gravou um único single, em 1983.
“Procuramos dar um pouco mais de subjetividade na narrativa, e partir da mítica da rádio, do que ela construía no imaginário dos ouvintes. Usamos muita imagem e som de arquivo e conseguimos ter a colaboração de muita gente que tinha áudios de programas”, conta Tetê Mattos. As fotos de eventos, e da turma da rádio, são uma atração à parte. “Até porque era um momento em que produzir imagens era muito raro. Nem todo mundo fotografava tudo, não era como hoje”.
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Nascida na mesma cidade da rádio, Niterói (aliás o filme tem várias imagens da cidade nos anos 1980), Tetê teve a ideia do filme ao entrar numa livraria e deparar com o livro A onda maldita, do criador do conceito da rádio durante os anos 1980, o jornalista e radialista Luiz Antonio Mello.
Os casos de bastidores, onde surgiam nomes como Amaury Santos, Sergio Vasconcellos, Monika Venerabile, Selma Boiron (primeira voz feminina a ser escutada na rádio), fizeram Tetê resolver transformar aquilo tudo em imagem. “Eu sou muito niteroiense, muito orgulhosa da cidade e sou da geração da rádio. Quis contar uma história em que Niterói era protagonista”, recorda ela, que prepara agora um curta sobre a Revolta das Barcas, ocorrida na cidade em 1959.
Instalada na redação do jornal O Fluminense, em frente à rodoviária da cidade, a Fluminense FM não tinha luxos. Sofria eternamente com baixos salários, esquema deficitário, poucos telefones e equipe diminuta. Várias apresentações realizadas no estúdio (algumas com artistas internacionais, como Steve Hackett) não puderam ser gravadas por falta de fita. Ou foram gravadas e apagadas posteriormente.
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“A rádio era feita por uma equipe de jovens que lutava muito, que trabalhavam em condições muito precárias para a época. Todo mundo tinha que usar muito a criatividade e a inteligência. Ela tinha pouca estrutura, mas os produtores tinham conhecimento profundo, e numa época em que era difícil conseguir informações. A formação cultural que a rádio proporciona vai além do rock”, conta Tetê.
Surpreendentemente, a emissora começou a virar um polo fantástico para lançamentos de artistas… da vanguarda paulistana. Integrantes de grupos como Língua de Trapo e Rumo (cuja Carnaval do Geraldo virou hit na emissora) surgem no filme para recordar como era pegar um avião, uma barca e seguir até a rádio. “Ela dava muito espaço para bandas novas. E procuramos tratar de uma música independente que não fosse exatamente rock, no filme”, conta a cineasta, que entrevistou até Arrigo Barnabé, que também tocava na Maldita.
A locução feminina, outra inovação da fase “Maldita” da Fluminense, também é destacada no filme. Toda a equipe de comunicadoras era formada por mulheres. E praticamente todas as garotas estavam encarando um estúdio de rádio pela primeira vez quando começaram a trabalhar na Fluminense. “Com isso, a Fluminense revolucionou a estrutura das rádios”, recorda Tetê.
Reapresentações de A Maldita: quinta, dia 15/07, às 18h; sexta, dia 16/07, às 16h40 e segunda, dia 19/07, às 13h45.
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Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
Cinema
Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

- Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
- Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.
Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.
A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.
O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.
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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.
De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.
Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.
Nota: 7
Gravadora: Interscope.
Agenda
Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.
O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.
O evento também vai ter mesas redondas com diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.
Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.
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