Cultura Pop
Ave Sangria: baú dos anos 1970 aberto no novo disco

Dizem por aí que se você lembra dos anos 1960 e 1970, é porque não esteve lá. Marco Polo, vocalista do Ave Sangria, clássica banda de rock nordestina dos anos 1970, bateu um papo com o POP FANTASMA e citou exatamente essa frase. De qualquer jeito, muita coisa da época ficou nas memórias dele, de Paulo Rafael (guitarra solo) e Almir de Oliveira (guitarra), os três remanescentes do grupo. O repertório de Vendavais, segundo álbum do Ave Sangria (o primeiro, epônimo, havia saído em 1974), foi todo composto nos anos 1970 e ficou guardado nas cabeças dos músicos durante todo esse tempo.
Formado originalmente por Marco Polo (vocal), Ivinho (guitarra solo), Paulo Rafael (guitarra base), Almir de Oliveira (baixo), Agrício “Juliano” Noya (percussão) e Israel Semente (bateria), o grupo começou com o nome de Tamarineira Village – era uma referência ao bairro no qual ficava um hospital psiquiátrico conhecido no Recife. Conseguiram sair do circuito recifense e gravaram um primeiro disco pela Continental, mas a censura dos anos 1970 acabou atrapalhando o grupo. Seguidores de uma mistura de referências que incluía Led Zeppelin e Jackson do Pandeiro, os roqueiros estouraram justamente com um samba, Seu Waldir, que narrava a história de amor e desilusão de uma pessoa pelo personagem-título.
O problema é que a música, que já tocava no rádio, era cantada justamente por Marco Polo. A canção acabou censurada e o disco foi recolhido das lojas. O grupo achou mais seguro encerrar atividades. Marco foi se dedicar ao jornalismo, profissão que já tinha antes da banda, e os outros integrantes foram tocar com Alceu Valença – boa parte do Ave Sangria pode ser ouvida em Vivo!, disco ao vivo de Alceu lançado em 1976. Paulo Rafael, você deve saber, é guitarrista de Alceu até hoje.
Batemos um papo com Marco para lembrar histórias do grupo e saber um pouco da gravação do disco novo. Sabe aquelas lendas de que os músicos andavam armados com peixeiras e se beijavam na boca no palco? Lê aí que tem tudo explicado.
POP FANTASMA: O repertório do novo disco foi quase todo feito nos anos 1970. Ele estava guardado como? Nas memórias de vocês?
MARCO POLO (AVE SANGRIA): Tava na memória. Nenhum de nós deixou de fazer música. A gente se dedicou a outras atividades para sobreviver, mas continuamos fazendo pequenos shows. O repertório estava vívido na nossa cabeça e nunca morreu. A ditadura nos censurou mas não nos destruiu. É isso que a gente quer demonstrar.
Tem músicas que estavam censuradas? Não, porque a maioria delas não chegou nem a ser apresentada em shows. Só teve uma que foi censurada, Dia a dia, porque a censura achou que ela falava de posições sexuais. Depois de meia hora discutindo, convenci a censura de que se tratava de uma música feminista, que falava do homem por cima, a mulher por baixo, a mulher por cima, depois os dois iguais… (risos). Bom, tinha as duas coisas.
Você já trabalhava como jornalista antes do Ave Sangria gravar? Já, comecei até muito cedo, com 18 anos. Eu fiz muita coisa: já fui artesão, trabalhei na Feira Hippie de Ipanema, vendia bolsas, cintos, tapetes. Depois fui tradutor de livros de bang bang, aquelas edições que vendiam em bancas de jornal. Fui jornalista free lancer da editora Bloch, na Fatos e Fotos. Trabalhei na Fair play, acho que foi a primeira revista masculina que teve no Brasil. E fiz shows também. Fiz Projeto Pixinguinha, fiz um show de abertura para a Nara Leão no Teatro do Parque no Recife, uma turnê com Belchior por vários estados…
Isso já solo? Sim, como artista solo. Passei com ele por Rio de Janeiro, Salvador, Ilhéus, Recife, Maceió, Fortaleza. A partir de 2008 houve uma redescoberta do nosso trabalho através da internet. Os jovens começaram a descobrir o trabalho do Ave Sangria e começaram a querer shows da gente, Em 2008 a prefeitura do Recife convidou a gente para fazer um show no Pátio São Pedro, e a partir daí… Em 2014 conseguimos reunir a banda para um show comemorativo de 40 anos do nosso show de despedida, no Teatro Santa Isabel. Na verdade os sobreviventes da banda, que éramos eu, Paulo Rafael, Almir e Ivinho (que morreria em 2015). Daí já pulou para a ideia de fazermos o nosso disco novo, que foi gravado em 2018 no Rio de Janeiro.
Como foi fazer os últimos shows com o Ivinho? Ele fez o show do Santa Isabel e fez outro com a gente no Festival Psicodália em Santa Catarina. E logo depois infelizmente, morreu. Pelo menos ele voltou para a banda antes disso e teve o prazer imenso de ser ovacionado como o grande guitarrista que ele era. O povo adorava o Ivinho, ele era a estrela maior da banda.
Ele não vinha tocando antes disso, né? Sim, tava meio parado. Ele teve problemas, tomou muitas drogas, isso deixou o Ivinho meio perturbado, com lesões cerebrais sérias. Ele bebia muito também. Só quando conseguimos frear um pouco isso, ele voltou a produzir satisfatoriamente, voltou a tocar de forma genial. Mas estava muito lesionado em termos de saúde.
Vocês chegaram a tocar no Paebiru, o disco do Zé Ramalho e do Lula Côrtes? Não, não… Eu sou um dos poucos que não participaram daquele disco. Aliás, nem entendo o motivo, já que todo mundo participou. Eu não lembro em que circunstâncias isso aconteceu, até porque eu era amigo tanto de Zé Ramalho quanto de Lula Côrtes. Mas não sei o que houve. Como dizem por aí: se você viveu bem aquela época e lembra de tudo, é porque não viveu, não é mesmo? (risos).
Nesse período, mais ou menos, vocês entraram na Continental. Como vocês entraram na gravadora? Bom, o Secos & Molhados tinha estourado, vendido acho que um milhão de discos, e rendeu uma grana preta. As gravadoras principalmente a Continental, que era uma das raras gravadoras 100% brasileiras, descobriram que rock dava grana, dava lucro. Eles enviaram olheiros para o país todo, para ver se tinha uma banda com potencial para estourar. O olheiro deles que veio aqui nos descobriu, viu que a gente lotava os teatros, as praças onde a gente se apresentava. Nos indicou e assinamos o contrato.
Tinha muita lenda em torno de vocês, que vocês se beijavam na boca no palco, etc. Isso é verdade? A gente tinha consciência de que precisávamos questionar o status quo. Gostávamos de provocar. Eu usava batom, sempre usei. Hoje não uso mais, mas na época, usava por pura provocação mesmo. Teve um show em que nosso baterista, o Israel – ele era um cara muito emotivo – viu que a gente tinha tocado tão bem uma música, que pulou da bateria e me deu um selinho (risos). Isso deixou todo mundo chocado! E eu gostei: “Vamos continuar a fazer isso aí!” (risos). Era para chocar, tinha esse sentido de provocação, de ir contra ao que se chamava de quadrado, a coisa reacionária. Que está de volta hoje em dia, né? É uma coincidência incrível: surgimos na ditadura e voltamos não numa ditadura, mas num período extremamente direitista, conservador, reacionário.
É, o ciclo se repetiu… É ridículo mas é verdade.
Tem aquela lenda de que vocês, quando foram gravar o primeiro disco no estúdio Haway, foram armados com peixeiras. Aconteceu de verdade? Olha, o Ivinho usava peixeira. Ele era bem machão, e era casado com uma mulher muito bonita. O gerente do estúdio começou a dar em cima da mulher dele e ele ameaçou o cara: “Para de dar em cima da minha mulher, senão eu vou te furar, seu filho da puta!” (risos)
Quando vocês perceberam que a atitude era tão importante quanto a música? Bom, até a década de 1960, o jovem não tinha vez nem tinha voz. Quando ele dava uma opinião, escutava que tinha que ouvir os mais velhod, que eles é que sabiam o que era melhor… Só que a partir dessa década, no mundo inteiro, apesar de não haver celular nem internet, houve união entre todos os jovens do mundo. Eles começaram a se rebelar contra isso . Houve protestos nos Estados Unidos contra a Guerra do Vietnã, que era uma guerra criada pelos velhos, mas os jovens é que foram pro front morrer. E principalmente teve a eclosão do maio de 1968 na França, quando os estudantes foram para as ruas e quebraram o pau com a polícia, para mudar tudo. Tinha os slogans da época: “é proibido proibir”, “seja realista, exija o impossível”. E eu sempre fui um cara rebelde a vida toda, tinha esse temperamento. O temperamento junto com a consciência gerou essa atitude da gente, de que rock não era somente música, era atitude. A descoberta dos jovens pelo nosso trabalho veio por causa disso. Eu falo até que as letras do disco novo são antigas mas são atemporais, falam de rebeldia, de liberdade.
Afinal como foi trabalhar com o Marcio Antonucci, um cara da Jovem Guarda, como produtor do primeiro disco de vocês? O Marcio não entendia pica nenhuma de rock´n roll. Mas era uma pessoa muito gente fina, legal, aberta. Ele dizia: “Ué, vocês têm certeza que vão querer gravar essa música aqui?” E gente: “Temos!”. A gente tinha diálogo. O som do disco ficou muito polido, muito limpo, a gente queria um som mais visceral, mais próximo do que a gente fazia no palco. E a gente não podia gravar nenhuma música com mais de dois minutos, porque não tocava no rádio. Graças à qualidade das letras, das interpretações e dos arranjos, conseguimos fazer um bom disco, mas não era o que a gente queria. O Marcio atrapalhou mas não atrapalhou muito. Ele cedeu muito, se abriu, tentou entender a gente. Eu mesmo tinha uma relação boa com ele. Não foi algo traumático. Mas a gente gravou tudo em cinco dias e eu botei todas as vozes num dia só!
O Haway, por sinal, era um dos estúdios mais usados do Rio naquela época. Chegaram a ver alguém famoso lá? Sim. Teve um dia em que o Zé Rodrix esteve lá para pegar um teclado que tinha esquecido lá, ouviu uma música nossa e perguntou se poderia colocar um teclado nela. Era Cidade grande. Ele colocou um órgão lá, sem cobrar nada e ficou lindo.
Quais eram as referências musicais de vocês? Daqui do Brasil eram Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro – que por sinal estaria completando cem anos. Lá fora, Beatles, Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Rolling Stones. Os discos chegavam atrasados ao Brasil, a gente tinha que conversar com marinheiros americanos e comprar deles. Ou trocar por calças jeans (risos). Tem ainda o detalhe que aqui no Recife não existia nada. Era uma pasmaceira total. Ninguém tomava conhecimento do que acontecia lá fora.
Como era arrumar LSD no Recife naquela época? Cara, não tinha nem ácido, era maconha mesmo. Ácido, só fui tomar em São Paulo depois. Agora, a maconha era boa, a gente até chamava de massa. A do Rio era ruim, era chamada de palha. A maconha do Recife era a chamada manga-rosa, que o pessoal enterrava na terra com mel de cana e deixava ficar lá um tempo. Era muito doido, muito forte.
Tem uma história de que vocês pediram uma indenização. Como foi isso? Pedimos, mas com esse governo novo, não tem nem chance, né? A gente nem pediu tanto isso, nem estávamos interessados na grana, mas na questão moral. Achávamos que a gente merecia ser ressarcido, pela interrupção da nossa carreira.
Isso aconteceu porque o primeiro disco de vocês foi tirado das lojas, por causa de Seu Waldir, não foi? Depois o disco foi relançado sem a música, não? Sim, mas aí não adiantou nada, porque essa era justamente a música que estava tocando no rádio.
Na época tinha uma onda glam no ar, justamente por causa do Secos & Molhados. Como resolveram gravar essa música? Ela foi feita na verdade para ser gravada pela Marília Pêra. Ela estava fazendo uma peça, um musical, e teve um dia em que um produtor da Som Livre foi ver a peça e a convidou para gravar um disco. Eu namorava uma das atrizes da peça, a Marilia sabia que eu era compositor e me pediu uma música. Fiz Seu Waldir para ela dentro do espírito paródico do personagem que ela fazia na peça, que era uma comédia. Ela gostou muito da música, só que ela desistiu de gravar o disco e eu fiquei com aquela música na mochila, sem saber o que fazer com ela. Cheguei a pensar em chamar uma cantora para gravar, mas tem aquela coisa do machismo pernambucano que era e é ainda muito acirrado, e eu pensei: ‘Quer saber de uma coisa? Vou cantar essa música só pra peitar esse machismo’. E deu certo!
Você sofreu homofobia na época por causa disso? Olha, alguns amigos deixaram de falar comigo. Cheguei a ouvir: “Não sabia que o Marco Polo era viado, não!” (risos). Na minha família não aconteceu nada disso, sempre me aceitaram como eu era. Aliás eu nem sou homossexual, mas digo isso só pra estabelecer fronteiras. O que eu fiz foi só uma provocação.
Foto lá de cima: Divulgação/Flora Negri
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
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