Cinema
Em 1974: Alice Cooper, o filme

Em 1974, divulgando o bem sucedido disco Billion dollar babies, Alice Cooper estava prestes a se tornar (er) uma estrela do cinema, com um filme que deveria ter se chamado Hard hearted Alice, mas que acabou ganhando o nome de Good to see you again, Alice Cooper.
O filme, que chegou aos cinemas em 1974, intercalava trechos do show da banda em 1973 no Sam Houston Coliseum, no Texas, com segmentos de “comédia” que funcionavam para os fãs roxos, mas que não eram exatamente engraçados – incluindo a história de um diretor de cinema alemão puto da vida com Alice e seus companheiros, que abandonam a gravação de um filme após o cantor soltar a voz numa versão cafajeste de Lady is a tramp, do repertório de Tony Bennett. É o vídeo abaixo.
Quem queria ver a Alice Cooper Band (sim, era uma banda) no auge do rock-horror e da provocação, saiu (imagina-se) feliz do cinema. Alice dá uma de GG Allin e escolhe pessoas da plateia para sair na porrada com ele, é guilhotinado no fim do show e, no meio de uma execução do hino dos Estados Unidos (com direito ao hasteamento da bandeira americana), comanda o espancamento, pela banda, de um imitador do presidente Richard Nixon.
O filme deixou pais preocupados com a saúde mental dos filhos, irritou os críticos (que já falavam mal de Alice Cooper o tempo todo) mas de qualquer jeito não foi um grande sucesso, até porque teve exibição em poucos cinemas e durante bem pouco tempo. E os fãs do cantor discutem até hoje se se trata ou não de um lançamento que presta, já que as qualidades ruins da produção ficam evidentes: som ruim, imagens escuras, etc (tem um debate entre fãs de Alice nesse fórum aqui, com vários deles falando mal do filme).
Pra quem quiser recordar ou conhecer, Good to see you again, Alice Cooper saiu até em DVD, com vários extras. O filme inteiro já esteve no YouTube mas saiu do site de vídeos.
Dá para achar outros trechos. Olha aí School’s out. Sim, tem momentos em que a imagem parece aquele vídeo que você fez do celular – e isso não quer dizer que parece que o filme tem qualidade digital.
E I’m eighteen.
https://www.youtube.com/watch?v=Ie6gbUL34mg
E em 13 de abril de 1974, um simpático Alice Cooper recebia a TV finlandesa para falar da turnê de Billion dollar babies, de banalidades da carreira e do filme que estava chegando. Admitindo que ainda não estava bêbado o suficiente para deixar “baixar” o santo Alice Cooper (Vincent Furnier, nome verdadeiro do artista, é quem estava no comando), contou que a ideia do codinome veio pelo contraste com o que a sociedade americana esperava.
“Quando você ouve falar em ‘Alice Cooper’, imagina uma cantora folk loura, e o que você tem sou eu”, brinca. “É o oposto do que você espera, adoro essas brincadeiras”. O repórter dá uma contestada no nome do filme (era Hard hearted Alice, ainda), dizendo que o cara na sua frente, pessoalmente, não parecia tão durão quanto queria fazer parecer. “Bom, eu não sou, mas o Alice é. Não posso ser o Alice Cooper o tempo, é muito perigoso”, brincou.
Mesmo que os shows de Alice tivessem brincadeiras com a bandeira norte-americana ou com Nixon, ele dizia que não era para levar aquilo a ferro e fogo e que ele mesmo não levava nada a sério: a ideia era apenas zoar os símbolos norte-americanos e a maneira como a sociedade do país tratava as pessoas. “Não acredito em nada do que ficam pregando para mim e me recuso a ficar pregando para os outros”, disse.
O papo inteiro, em inglês com legendas em inglês, está aí.
Veja também no POP FANTASMA:
– Flash Fearless: Alice Cooper e The Who numa ópera-rock da qual ninguém lembra
– Alice Cooper na TV em 1969
– Aquela vez que James Last e sua orquestra releram Hawkwind, Alice Cooper e T. Rex
– Aquela vez que Alice Cooper e Grateful Dead quiseram manter você longe das drogas
Cinema
Urgente!: Filme “Máquina do tempo” leva a música de Bowie e Dylan para a Segunda Guerra

Descobertas de antigos rolos de filme, assim como cartas nunca enviadas e jamais lidas, costumam render bons filmes e livros — ou, pelo menos, são um ótimo ponto de partida. É essa premissa que guia Máquina do tempo (Lola, no título original), estreia do irlandês Andrew Legge na direção. A ficção científica, ambientada em 1941, acompanha as irmãs órfãs Martha (Stefanie Martini) e Thomasina (Emma Appleton), e chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (13), dois anos após sua realização.
As duas criam uma máquina do tempo — a Lola do título original, batizada em homenagem à mãe — capaz de interceptar imagens do futuro. O material que elas conseguem captar é todo registrado em 16mm por uma câmera Bolex, dando origem aos tais rolos de filme.
E, bom, rolo mesmo (no sentido mais problemático da palavra) começa quando o exército britânico, em plena Segunda Guerra Mundial, descobre a invenção e passa a usá-la contra as tropas alemãs. A princípio, a estratégia funciona, mas logo começa a sair do controle. As manipulações temporais geram consequências inesperadas, enquanto as personalidades das irmãs vão se revelando e causando conflitos.
Com apenas 80 minutos de duração e filmado em 16 mm (com lentes originais dos anos 1930!), Máquina do tempo pode soar confuso em algumas passagens. Não apenas pelas idas e vindas temporais, mas também pelo visual em preto e branco, valorizando sombras e vozes que quase se tornam personagens da história. Em alguns momentos, é um filme que exige atenção.
O longa também tem apelo para quem gosta de cruzar cultura pop com história. Martha e Thomasina ficam fascinadas ao ver David Bowie cantando Space oddity (o clipe brota na máquina delas), tornam-se fãs de Bob Dylan, adiantam a subcultura mod em alguns anos (visualmente, inclusive) e coadjuvam um arranjo de big band para o futuro hit You really got me, dos Kinks, que elas também conseguem “ouvir” na máquina. Um detalhe curioso: a própria Emma Appleton operou a câmera em cenas em que sua personagem Thomasina se filma (“para deixar as linhas dos olhos perfeitas”, segundo revelou o diretor ao site Hotpress).
Ainda que a cultura pop esteja presente, Máquina do tempo é, acima de tudo, um exercício de futurologia convincente, explorando uma futura escalada do fascismo na Inglaterra — que, no filme, chega até mesmo à música, com a criação de um popstar fascista.
A ideia faz sentido e nem é muito distante do que aconteceu de verdade: punks e pré-punks usavam suásticas para chocar os outros, Adolf Hitler quase figurou na capa de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, Mick Jagger não se importou de ser fotografado pela “cineasta de Hitler” Leni Riefenstahl, artistas como Lou Reed e Iggy Pop registraram observações racistas em suas letras, e o próprio Bowie teve um flerte pra lá de mal explicado com a estética nazista. Mas o que rola em Máquina do tempo é bem na linha do “se vocês soubessem o que vai acontecer, ficariam enojados”. Pode se preparar.
Cinema
Ouvimos: Lady Gaga, “Harlequin”

- Harlequin é um disco de “pop vintage”, voltado para peças musicais antigas ligadas ao jazz, lançado por Lady Gaga. É um disco que serve como complemento ao filme Coringa: Loucura a dois, no qual ela interpreta a personagem Harley Quinn.
- Para a cantora, fazer o disco foi um sinal de que ela não havia terminado seu relacionamento com a personagem. “Quando terminamos o filme, eu não tinha terminado com ela. Porque eu não terminei com ela, eu fiz Harlequin”, disse. Por acaso, é o primeiro disco ligado ao jazz feito por ela sem a presença do cantor Tony Bennett (1926-2023), mas ela afirmou que o sentiu próximo durante toda a gravação.
Lady Gaga é o nome recente da música pop que conseguiu mais pontos na prova para “artista completo” (aquela coisa do dança, canta, compõe, sapateia, atua etc). E ainda fez isso mostrando para todo mundo que realmente sabe cantar, já que sua concepção de jazz, voltada para a magia das big bands, rendeu discos com Tony Bennett, vários shows, uma temporada em Las Vegas. Nos últimos tempos, ainda que Chromatica, seu último disco pop (2020) tenha rendido hits, quem não é 100% seguidor de Gaga tem tido até mais encontros com esse lado “adulto” da cantora.
A Gaga de Harlequin é a Stefani Joanne Germanotta (nome verdadeiro dela, você deve saber) que estudou piano e atuação na adolescência. E a cantora preparada para agradar ouvintes de jazz interessados em grandes canções, e que dispensam misturas com outros estilos. Uma turminha bem específica e, vá lá, potencialmente mais velha que a turma que é fã de hits como Poker face, ou das saladas rítmicas e sonoras que o jazz tem se tornado nos últimos anos.
O disco funciona como um complemento a ao filme Coringa: Loucura a dois da mesma forma que I’m breathless, álbum de Madonna de 1990, complementava o filme Dick Tracy. Mas é incrível que com sua aventura jazzística, Gaga soe com mais cara de “tá vendo? Mais um território conquistado!” do que acontecia no caso de Madonna.
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O repertório de Harlequin, mesmo extremamente bem cantado, soa mais como um souvenir do filme do que como um álbum original de Gaga, já que boa parte do repertório é de covers, e não necessariamente de músicas pouco conhecidas: Smile, Happy, World on a string, (They long to be) Close to you e If my friends could see me now já foram mais do que regravadas ao longo de vários anos e estão lá.
De inéditas, tem Folie à deux e Happy mistake, que inacreditavelmente soam como covers diante do restante. Vale dizer que Gaga e seu arranjador Michael Polansky deram uma de Carlos Imperial e ganharam créditos de co-autores pelo retrabalho em quatro das treze faixas – até mesmo no tradicional When the saints go marching in.
Michael Cragg, no periódico The Guardian, foi bem mais maldoso com o álbum do que ele merece, dizendo que “há um cheiro forte de banda de big band do The X Factor que é difícil mudar”. Mas é por aí. Tá longe de ser um disco ruim, mas ao mesmo tempo é mais uma brincadeirinha feita por uma cantora profissional do que um caminho a ser seguido.
Nota: 7
Gravadora: Interscope.
Agenda
Rock Horror Film Festival: cinema de terror em setembro no Rio

O Rock Horror Film Festival, festival carioca de filmes de terror, está de volta na praça – e vai rolar de 19 de setembro a 02 de outubro no Cinesystem de Botafogo (Zona Sul do Rio). Dessa vez, o evento vai trazer uma seleção de mais de 50 filmes de 17 países em seis categorias: Longas Sinistros, Médias Bizarros, Docs Estranhos, Curtas Macabros, Brasil Assombrado e Pílulas de Medo.
O objetivo do festival é unir terror, cultura pop e rock, e juntar os públicos das três coisas. Entre os filmes selecionados, há produções como The history of the metal and the horror, documentário de Mike Schiff repleto de nomões do som pesado (EUA), Tales of babylon, de Pelayo de Lario (Reino Unido), The Quantum Devil, de Larry Wade Carrell (EUA). Há também Death link, dirigido por David Lipper (EUA), com um time de astros e estrelas que inclui Jessica Belkin (Pretty little liars), Riker Lynch (Glee), David Lipper (Full House) e outros.
O evento também vai ter mesas redondas com diretores, atores e outros profissionais da indústria para o público do festival, comandadas pela criadora do Rock Horror Film Festival, Chrys Rochat (Sin Fronteras Filmes), e que vão rolar no hall do Cinesystem. Entre os convidados já estão confirmados diretores da Polônia, EUA, Canadá e Brasil. Happy hours cinéfilas, shows de rock e oficinas estão no programa também, além da exibição de um filme inédito no Brasil na abertura.
Lista completa dos filmes que participarão da edição no site do festival: www.
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