Cultura Pop
Pare tudo e ouça Ziggy Stardust agora mesmo

(evidentemente esse texto é pra quem nunca ouviu o disco clássico de David Bowie – mas pra quem já ouviu fica como dever cívico)
The rise and fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars, quinto disco de David Bowie, completa 50 anos hoje. Não é o melhor disco dele: aqui no Pop Fantasma já falei de Low, de The man who sold the world e de Hunky dory, e só esse último já é um disco bem mais inspirado do que Ziggy. A saga do popstar alienígena que vem à Terra salvar o planeta do apocalipse, no entanto, é aquela história que você dificilmente vai cansar de acompanhar, e que provavelmente pegou você por algum aspecto perdido.
Ouvi o disco pela primeira vez aos 15 anos, e já em CD, porque a EMI tinha lançado a coleção remasterizada de Bowie que saíra pela Rykodisc. Na minha cabeça, o disco ainda tem Sweet head, Velvet goldmine e John I’m only dancing, incluídas como faixas bônus. O CD vinha com as letras, mas eu não entendia muita coisa de inglês. No máximo, iria pegar um dicionário de bolso para tentar entender aquele monte de imagens da letra de Five years, ou iria sofrer por alguma garota da escola ao som de Soul love, sem entender direito o que queria dizer um dos versos mais lapidares da história da música pop: “o amor é descuidado em sua escolha”.
O principal é que: Ziggy Stardust gruda em você, e da melhor maneira possível. Mesmo que você não entenda as letras. Você não vai conseguir deixar de dar atenção a um disco que começa com algo que parece o bater de um coração, e prossegue com a narração de um estranho caos urbano (as duas coisas em Five years). Muito menos vai conseguir deixar de ser pego pelo clima power pop de Star, pela proto new wave de Hang onto yourself, ou pela dramaticidade de Moonage daydream, união de hard rock, suingue, arranjo vertiginoso de orquestra e um solo de guitarra de Mick Ronson que parece vir do espaço sideral.
A mensagem do popstar ao planeta, Starman, adiantava em um ano o clima de “a lua iluminou/a dança, a roda, a festa” dos Secos & Molhados – que possivelmente se inspiraram bastante no Bowie de 1972. Ao contrário do blues folk psicodélico espacial do T Rex, do amigo/rival Marc Bolan, o glam rock de Bowie era pra cima, para o alto e avante, de olho na tendência do público setentista para gostar de experiências inesquecíveis, climas grandiloquentes e histórias-catástrofe.
Ziggy Stardust, como disco conceitual, é um disco não-conceitual, ou uma não-ópera rock. Bowie deixa vários buracos na história de propósito, para o ouvinte completar como quiser. As faixas vão avançando e fica claro (talvez) que Bowie está tentando colocar em letra e música o drama do artista num mundo de caos, tentações, groupies, gente aproveitadora. Nem todo mundo é popstar, mas todo mundo já foi Ziggy um dia. Todo mundo já se sentiu estranho num universo de pés na bunda, falsos amigos, festas estranhas, expectativas dos pais e notas ruins.
Era um tema que dava samba, ou rock, nos anos 1970. Alice Cooper, por exemplo, musicou em Caught in a dream o tropo narrativo do “eu era pop, acordei e descobri que eu não era ninguém”. Ali, o assunto servia como alento para a geração que era nova demais quando Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison morreram e os Beatles acabaram – mas que já pressentia a chegada do punk, do heavy metal, do pop eletrônico, das novidades e estranhezas do pop e do rock.
Com 15 anos, eu já tinha idade suficiente pra entender que The rise and fall... guardava alguns de seus melhores segredos para o fim. Na música Ziggy Stardust, cantada como se fosse um velho amigo do personagem relembrando causos, Ziggy aparece sem rumo, perdido e fora da realidade – igualzinho a muita gente naquela mesma época. Confesso que nunca entendi a letra de Suffragette city, mas era um hard rock chiclete de primeira. Rock’n roll suicide, a última faixa, surge como se alguns momentos tivessem sido pulados na história do personagem – talvez faltasse uma ponte para explicar como exatamente surgiu aquele momento de despedida. Mas é uma música bem assertiva, quando diz ao ouvinte, com todas as letras: “Não, você não está só”.
Se Bowie tivesse resumido a saga de Ziggy a um single com essa música, já teria seu lugar guardado nos corações de vários fãs. E muitos deles se sentiam bastante solitários quando ouviram as canções de Ziggy Stardust, um disco que surgiu para tratar cada ouvinte, naquele momento, como se fosse uma pessoa especial. E que nunca será esquecido.
>>> Leia tudo o que andamos publicando sobre Ziggy Stardust aqui.
Cultura Pop
O 1967 dos Beatles no podcast do Pop Fantasma

Da mesma forma que uma década muitas vezes não começa no ano em que ela se inicia (já havia um “anos 1990” encartado no fim da década anterior), as mudanças vividas pelos Beatles em 1967, ano do disco Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, começaram pelo menos uns dois anos antes.
Mas para todos os efeitos, foi há 55 anos que John, Paul, George e Ringo lançaram um dos discos mais desafiadores da história da cultura pop, tramaram sua volta ao cinema, fizeram duas aparições significativas na televisão (numa delas, lançaram um telefilme que deixou sensação de entalo nas gargantas de muitos fãs), realizaram montes de experiências de estúdio, perderam tragicamente seu empresário e começaram a dar passos rumo à independência. E, ah, graças a um certo composto químico de três letras, sintonizaram dimensões bem diferentes das que os pobres mortais estavam acostumados naquela época.
O último episódio da segunda temporada do Pop Fantasma Documento levanta os causos de uma das épocas mais movimentadas do dia a dia dos quatro de Liverpool. Aumente o volume, ligue-se e sintonize!
Nomes novos que recomendamos e que complementam o podcast: Turn Me On Dead Man, Trudy and The Romance, Dario Julio & Os Franciscanos.
Estamos no Castbox, no Mixcloud, no Spotify, no Deezer e no Google Podcasts.
Edição, roteiro, narração: Ricardo Schott. Arte: Aline Haluch. Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Estamos aqui toda sexta!
Cultura Pop
Devo: no YouTube, tem versão “rascunho” do filme The Men Who Make The Music

Raridade por vários anos para muitos fãs do Devo, o filme The men who make the music (1981), realizado pela banda, foi lançado sob o rótulo maluco de “vídeo-LP”. A produção combina imagens de shows do Devo (focando bastante na turnê de 1978) com textos irônicos sobre a indústria da música, além de aparições do controverso personagem General Boy (interpretado por Robert Mothersbaugh Sr, pai dos irmãos Mark e Bob).
O tal conteúdo “anarquista” do vídeo fez com que ele ficasse arquivado por uns dois anos, já que The men who make the music foi terminado em 1979. O lançamento deveria ter acontecido em paralelo com o disco Duty now for the future, tanto que o LP original anuncia um endereço para os fãs comprarem um produto chamado Devo-vision, que sairia pela Time-Life (empresa responsável por arquivar o filme por dois anos, irritada com as mensagens anti-indústria da música do vídeo).
O material ainda aparece intercalado com imagens bem antigas do Devo. O grupo aparece tocando Jocko homo em 1976, em imagens do primeiro curta do Devo, The truth about de-evolution – que também incluía o clipe do grupo em 1974 tocando Secret agent man, igualmente incluído em The men. Nessa época, o Devo tinha uma formação bastante variável. Com pelo menos cinco ou seis músicos gravitando em volta (incluídos aí três irmãos Mothersbaugh), a banda virou quarteto no clipe de Secret agent man.
The men who make the music, por sinal, teve ainda uma versão demo, feita com produção amadora, em 1977. Tá no YouTube. Foi dirigida por Jerry Casale e produzido por Marina Yakubic, que era namorada de Mark na época.
O vídeo (sim, é vídeo, produzido com câmeras de TV) tem diferenças nos diálogos, nos cenários, na qualidade de som e de imagem (bastante rascunhadas) e no fato de que as músicas não aparecem em clipes. Todas são gravadas em versões extremamente cruas, ao vivo num palco.
Uma surpresa para os fãs é que, originalmente, a versão do grupo para (I can’t get no) Satisfaction, dos Rolling Stones, era quase um blues maníaco e lembrava Captain Beefheart. Muito diferente do que se imagina do Devo.
Aproveita e pega The men who make the music, a versão oficial, que também tá no YouTube.
Cultura Pop
The Lost Sheep: um single (da Virgin, de 1979) com ovelhas soltando a voz

Você provavelmente não conhece Adrian Munsey. Dono de uma carreira de sucesso como produtor de TV, o britânico trabalhou em canais como BBC Worldwide, ITV, Universal, e dirigiu dois longas, além de uns 45 documentários. Também tem uma extensa carreira como produtor musical e dono de gravadora. A vida dele tá aqui.
Agora, um detalhe que garantiu bastante popularidade a ele no fim dos anos 1970 foi ter aderido à mania sempre em alta dos novelty records – discos feitos para vender por uns tempos, com piadas ou assuntos da moda. Em 1979, ele soltou o single The lost sheep, creditado a “Adrian Munsey, ovelha, sopros e orquestra”. Essa pérola aí.
Lançado pela Virgin, o single trazia, segundo o site World’s Worst Records, ” uma fatia medíocre de monotonia sub-clássica que apresenta um cordeiro balindo enquanto uma pequena orquestra – repleta de baixista e baterista – toca a música mais sentimental que você já ouviu”.
Se você já acha pitoresco escutar isso em áudio, olha aí o próprio Munsey tocando a peça ao vivo no Russel Harty Show, na London Weekend Television. Munsey levou para o palco uma ovelha (“é uma fêmea”, esclarece) e a mãe do animal – além da orquestra, para tocar ao vivo. Só que o bichinho ficou meio amedrontado e não “cantou” nada. Sobrou para Munsey fazer o “béééé” ao vivo. A plateia ri, os músicos de orquestra não movem um músculo das faces.
Russel fica indisfarçavelmente de boca aberta ao ouvir Munsey contar como foi que surgiu a ideia de fazer música com ovelhas. Ele fez uma viagem e passou por um anfiteatro que estava cheio delas, balindo. “Acho que as pessoas às vezes se sentem como ovelhas perdidas um dia”, contou, já anunciando que sairia um single em ritmo de discoteca. Saiu sim: C’est sheep, lançado também em 1979, e produzido por Ron e Russell Mael, os dois irmãos da banda Sparks. Essa música, mais tarde, foi incluída na compilação da Virgin Methods of dance.
Ah sim, tinha o lado B de The lost sheep. Era Echoing spaces, essa maravilha pós-prog relaxante aí.
Um detalhe bem louco a respeito de C’est sheep, o tal single disco de Munsey, é que ele foi detonado por um colega de gravadora do cantor. John Lydon, já cantando à frente do Public Image Ltd, foi participar do Juke box jury da BBC, programa no qual uma turma de jurados comentava lançamentos recentes. A canção, cheia de balidos com beats dançantes, foi apresentada e provocou verdadeira aflição nos convidados, que precisaram dar suas opiniões na frente do próprio Munsey (!), mais perdido que cebola em salada de frutas. Lydon diz que a música é “a Virgin Records tentando faturar uns trocados e falhando miseravelmente”.
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