Cultura Pop
Quando Neil Young fez um som com Charles Manson e disse que ele parecia com Bob Dylan (!)

Existiu uma ligação entre Neil Young e ninguém menos que Charles Manson, o fiho da puta cuja “família” cometeu ma série de nove assassinatos em quatro locais em julho e agosto de 1969, e matou gente conhecida como a atriz Sharon Tate e o casal de milionários La Bianca. Essa relação rendeu uma canção.
Manson, como se sabe, queria ser músico e se achava um pária da indústria musical – ainda que mal tivesse uma banda para acompanhá-lo, não cantasse bem e sequer mantivesse foco o suficiente para terminar de cantar as próprias canções que fazia. Conseguiu ficar amigo de Dennis Wilson, dos Beach Boys (numa relação marcada pelo uso massivo de ácido e por surubas homéricas com as garotas da “família”) e o músico prometeu que iria gravar uma canção do “artista” num disco dos Beach Boys.
Acabou saindo em dezembro de 1968 Never learn not to love, canção adaptada de Cease to exist, de Manson, e… creditada só a Dennis. Charles ficou puto da vida, e Dennis teve um trabalhão para se livrar do maluco. Sentindo-se ameaçado por Manson (que certa vez chegou a lhe mostrar uma bala de revólver e disse a ele para olhar para ela e pensar “como é bom seus filhos estarem seguros”), Wilson decidiu cortar o relacionamento ali.
Antes da briga (e antes de ficar claro que Manson era um assassino demente, diga-se de passagem) Dennis, mui amigo, acabou apresentando em 1968 Manson a Neil Young, que vivia frequentando sua casa. Os dois músicos têm algo em comum: são dois escorpianos nascidos em 12 de novembro.
Como Manson vivia frequentando a casa de Wilson, ainda não havia nada contra o maluco. Volta e meia Charles aparecia nas festas da turma de Wilson, e havia a noção de que se o cara era cabeludo, era gente boa – daí, ninguém estranhava tanto assim as excentricidades dele. Young curtiu as músicas de Manson e até comentou algo como “se ele tivesse uma banda no nível da de Bob Dylan em Subterranean homesick blues…”.
Young chegou a falar com o jornalista Nick Kent num momento em que havia acabado de sair de um encontro com Manson. “Acabamos de sair. Ele tocou algumas músicas para mim, sentado na casa antiga de Will Rogers, no Sunset Boulevard. Dennis tinha a casa dele lá, e eu visitei Dennis algumas vezes”, disse, afirmando que teve contato com garotas da “família”, como Linda Kasabian. “Elas só prestaram atenção em Charlie, para mim e Dennis era como se eles não estivessem lá”.
Um tempo depois, Young recordou que chegou a tentar um contrato para Manson na Warner, o que não rolou. Disse que Manson parecia tenso, e que apresentava músicas novas toda hora, quase não havendo duas músicas iguais. E um tempinho depois que Manson já havia se revelado um dos criminosos mais escrotos da face da Terra, Young compôs Revolution blues, sobre o meliante, que saiu em 1974 no disco On the beach.
A música faz referência às ideias malucas de Manson, como a de provocar uma guerra racial a partir do deserto de Mojave (no verso “10 milhões de dune buggies”). As mortes de artistas são citadas no verso “ouvi dizer que Laurel Canyon está cheio de celebridades/mas eu os odeio mais do que leprosos e vou matá-los em seus carros”. E David Crosby, que toca guitarra na canção, chegou a alertar Young de que ele não deveria fazer uma canção sobre um assunto tão bizarro. “Não é engraçado”, disse o músico.
Em 1985, num papo com o New Musical Express, Young disse que tocou a canção numa turnê de retorno de Crosby, Stills, Nash & Young, e o amigo fez cara feia. “Ele estava especialmente desconfortável, porque a música era o lado mais sombrio. Todos queriam que as luzes se apagassem e todo mundo fosse feliz, e essa música era como uma verruga”.
Se você nunca ouviu, tá aí Revolution blues.
Veja também no POP FANTASMA:
– Jogaram no YouTube o estranho documentário Charles Manson: Superstar
– Um papo com Jeff Guinn, autor da biografia definitiva de Charles Manson
– E agora, com vocês… Charles Manson?
– Passos de dança, 17 garotas e “congelamento”: Dennis Wilson fala sobre a Família Manson em 1968
– Thirteen chairs: o esquecido último filme de Sharon Tate
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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