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Dois discos e duas canções de 2021

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No ano passado, fizemos uma lista de melhores de 2020, mas como a gente é meio do contra, fizemos uma lista diferente, destacando alguns discos, umas coisas da televisão, alguns sites, filmes, etc. Sem ordem de preferência. Dessa vez, pra não contribuir para a síndrome de burn-out de ninguém e não atochar nenhum leitor/leitora do POP FANTASMA com 300 discos, resolvemos destacar de 2021 dois discos (um nacional e um internacional) e duas músicas (uma nacional e uma internacional). Leiam e ouçam (foto: Leo Aversa/Divulgação)

DISCO INTERNACIONAL

“SLING” – CLAIRO. O segundo álbum da cantora ligada à onda do bedroom pop tem influências (segundo ela própria) que incluem Paul Simon, Carpenters e sua nova cachorrinha, Joanie – cujo nome foi inspirado no de Joni Mitchell. Do primeiro disco para o segundo, rolou um salto audível. Immunity (2019) era bom demais justamente por parecer com uma demo que deu certo. Já em Sling rolam arranjos mais elaborados, cordas, vozes triplicadas e sonoridades que lembram Joni Mitchell, Todd Rundgren e Judee Sill. Um desdobre pandêmico da onda bittersweet dos anos 1970, mas com outra cara.

“Por alguma razão, eu estava voltando a eles (Carpenters) no ano passado, e meu amigo Sam me apresentou a sua música Calling occupants of Interplanetary Craft. Eu estava tipo ‘Você está brincando comigo agora? O que é isto?’ Eles tinham uma imagem de enorme sucesso que não era estranha e nunca me ocorreu que eles pudessem ser tão estranhos. Eu amo essa música, porque ela incorpora coisas como cordas, pilhas de vocais e melodias de uma forma estranha”, disse ela à Vogue.

DISCO NACIONAL

“SÍNTESE DO LANCE” – JOÃO DONATO E JARDS MACALÉ. Os dois compositores e cantores tinham uma admiração mútua, várias coisas em comum (o humor é uma delas) mas ainda não tinham uma enorme amizade nem uma parceria. Agora têm: saiu o disco que une a dupla, formado apenas por faixas inéditas, incluindo algumas parcerias com outras pessoas (com o músico e diretor do selo Rocinante, Sylvio Fraga, com Joyce, com o trombonista Marlon Sette). João Duke e a faixa-título são o melhor da música brasileira lançado em 2021. E como naquelas propagandas de TV em que rola um “e tem mais isso!”, “e isso!”, ainda tem um lindo samba-soul-jazz, O amor vem da paz, cantado por Macalé.

“Nosso humor é bem parecido, a gente ri de qualquer coisa, tem sempre um lado engraçado na coisa. E isso se traduz na música. Uma das melhores qualidades que a música pode conter é a alegria, ela é uma coisa divina. E a minha música com o Macalé tem uma inocência. Prefiro a música simples do que a música complicada, dos mal-intencionados”, disse João Donato ao Globo.

MÚSICA INTERNACIONAL

“LIKE I USED TO” – SHARON VAN ETTEN & ANGEL OLSEN. A parceria das duas titãs do indie rock tem cara de ABBA, mas surgiu de um projeto envolvendo o Velvet Underground – o tributo I’ll be your mirror, para a qual releram Femme fatale. O resultado, disse Sharon em uma entrevista a um podcast da The Fader, “é como se Dion (líder do grupo vocal Dion & The Belmonts) encontrasse Bruce Springsteen, o que é engraçado porque originalmente eu estava pensando que era mais uma vibe Fleetwood Mac”, disse.

MÚSICA NACIONAL:

“DELTA ESTÁCIO BLUES” – JUÇARA MARÇAL. Para quem gosta de histórias boas baseada em “e se…?”. Imagine se o bluesman Robert Johnson, em vez de um pacto com o diabo, tivesse ido ao Estácio, no Rio de Janeiro, e tivesse feito um pacto com três sambistas da área? Foi desse conto que surgiu a faixa-título do novo disco de Juçara. “Compartilhei com o Kiko Dinucci (produtor do disco) o nome e ele falou: ‘Nossa, ainda por cima Delta é o nome dessa nova variante (da Covid-19)‘. Eu falei: ‘é isso!’. Esse é o nome da conta de tudo, da sonoridade e do momento que estamos passando”, contou Juçara, que lançou um dos álbuns mais subversivos de 2021.

Crítica

Ouvimos: Hotline TNT – “Raspberry moon”

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Em Raspberry moon, o Hotline TNT acerta ao misturar noise, power pop esquisito e guitarras noventistas com letras simples e clima quase emo.

RESENHA: Em Raspberry moon, o Hotline TNT acerta ao misturar noise, power pop esquisito e guitarras noventistas com letras simples e clima quase emo.

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Rotular a banda novaiorquina Hotline TNT como shoegaze é dar bem pouca areia para o caminhão deles. O grupo liderado por Will Anderson está mais para aquela época em que se sabia que rock, via de regra, tinha que ser ruidoso – seja lá em que gênero ele se adequasse. Raspberry moon, terceiro disco do grupo, guia o timão para os tempos de Hüsker Dü, Sugar, Velocity Girl, Dinosaur Jr e põe os rangidos e as paredes de guitarra para funcionar a favor da melodia.

Raspberry moon traz Will num clima diferente: em vez de compor e tocar sozinho, como aconteceu nos discos anteriores, ele pôs a galera que o acompanha nos shows para criar o disco ao lado dele. Boa parte do repertório soa mais próximo, de fato, do que pode ser entendido como um “disco de banda”, com dinamismo mais acentuado, e variando entre ruído e melodia. Was I wrong?, na abertura, é noise rock educado e alimentado como uma dieta de rock dos anos 1960. The scene é quase um haikai ruidoso e voltado pata a musicalidade pesada dos anos 1990. A ligeiramente funkeada Julia’s war tem cara de hit e chega a lembrar aquelas bandas mais palataveis que usavam a fórmula do grunge (Third Eye Blind, etc).

  • Ouvimos: Dinosaur Jr – Farm (15th anniversary edition)
  • Ouvimos: Velocity Girl – UltraCopacetic (Copacetic remixed and expanded)
  • The living end: lembranças do Hüsker Dü ao vivo, em CD lançado em 1994
  • Entrevista: Greg Norton (Hüsker Dü, Porcupine) exclusivo para o Pop Fantasma

Isto posto, dá pra dizer que o Hotline TNT se aproximou bastante do power pop no disco novo – aliás num papo com a newsletter Last Donut Of The Night, Will disse que, quando mais novo, ouvia bandas como Weezer e Red Hot Chili Peppers. Mas é um power pop esquisito, no qual cabem loucuras vaporwave (Transition lens), um clima que remete tanto a Joy Division quanto ao soft rock (Break right e Candles) e um pós-grunge como talvez ele devesse ser hoje em dia (Letter to heaven).

Aclimatações jangle-pop tomam conta de Dance the night away, e ruídos acústicos rangem nos violões ardidos de Lawnmover – enquanto uma nuvem sonora mais próxima do shoegaze que costuma ser associado à banda aparece na última faixa, Where U been?. Já as letras valorizam a simplicidade, ou o desejo de ser entendido (e sentido) em poucas frases. Há mensagens de adeus em Was I wrong? e Letter to heaven, um curioso conto de escalada em Julia’s war, e inseguranças amorosas em várias faixas, num clima praticamente emo – como o “se você realmente me amasse / faria uma cena de ciúmes / visibilidade / e todos veriam” da amarga The scene.

Talvez esse prazer por mostrar o lado mais imaturo da vida corte um pouco da boa experiência de ouvir o Hotline TNT. Mas Raspberry moon faz bem aos ouvidos quase todo o tempo.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Third Man Records
Lançamento 20 de junho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Getdown Services – “Primordial slot machine”

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Em Primordial slot machine, o Getdown Services mistura pós-punk, soul e krautrock com humor ácido e melodias tortas, em faixas caóticas e cativantes.

RESENHA: Em Primordial slot machine, o Getdown Services mistura pós-punk, soul e krautrock com humor ácido e melodias tortas, em faixas caóticas e cativantes.

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Dupla de Bristol, na Inglaterra, o Getdown Services parece um cruzamento de Prince, Beck e John Lydon – ou seja: balanço, estranhice e zoeira marcam o repertório da dupla formada por Josh Law e Ben Sadler.

Primordial slot machine, terceiro EP dos dois (eles têm ainda um álbum, Crisps, de 2023) abre com o pós-punk desértico de Provide me your name, música na qual rola uma conversa telefônica das mais esquisitas. E em seguida vem Chrysalis, soul-rock-pop com piano Rhodes, guitarra sinuosa e vocal falado – a letra basicamente fala sobre situações estressantes resolvidas de maneira imbecil (“vou formar uma crisálida perfeita / e enchê-la de mijo”, explicam/não explicam na letra).

  • Ouvimos: The Wants – Bastard
  • Ouvimos: Godofredo – Tutorial
  • Ouvimos: Unknown Mortal Orchestra – Curse (EP)

Ben e Josh investem num eletrokrautrock ruidoso em James Bay’s hat e Eat quiche. Sleep. Repeat, duas músicas cujas letras parecem uma mistura da inocência falsa de David Byrne com o humor corrosivo de Mike Patton (“eu encontrei o maior amor do mundo / no menor meet and greet do mundo / dei uma crítica de duas estrelas de um filme que eu nem tinha visto”, afirmam na segunda). God bless é um rap que parece ter sido construído num sample – ou numa imitação – da levada de Rational culture, de Tim Maia.

A música mais “normal” do disco, Drifting away, vem no fim, e fala sobre vontade de desaparecer (“sou corajoso, mas não corajoso o suficiente para ficar / indo embora”) sob uma base de rock indie e sessentista, com vocal grave lembrando Lou Reed. Para ouvir quando a amargura desses dois não conseguir te contagiar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8
Gravadora: Breakfast Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.

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Crítica

Ouvimos: Vovô Bebê – “Bad english”

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Quarto disco de Vovô Bebê, Bad english mistura Bowie, Jovem Guarda, baião e soul em um pop experimental cheio de referências e surpresas.

RESENHA: Quarto disco de Vovô Bebê, Bad english mistura Bowie, Jovem Guarda, baião e soul em um pop experimental cheio de referências e surpresas.

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Quando começaram a surgir as notícias sobre Bad english, quarto álbum de Vovô Bebê – codinome do músico Pedro Dias Carneiro – nomes como David Bowie eram bastante citados em textos que adiantavam o disco. Bowie paira como uma espécie de santo padroeiro sobre Bad english, disco produzido por Chico Neves e dirigido artisticamente por Ana Frango Elétrico – e a capa parece referir-se a uma versão torta de Blackstar (2016), seu disco de despedida.

E justamente o Bowie que baixou no estúdio em que Vovô Bebê gravou foi a versão mais aventureira e experimental do britânico – a da fase Berlim e a dos discos que ele fez nos anos 1990, incompreensíveis para vários fãs antigos, e revistos anos depois por vários deles. Não é só isso: o despojamento dos discos de Gilberto Gil e Caetano Veloso feitos em Londres, e até o balanço dos Red Hot Chili Peppers, além do desdobre psicodélico da Jovem Guarda (Incríveis, Silvinha, Vanusa)… Tudo isso é citado em faixas como Intro/End of the moon, Forest baby (essa, em tom bossa + rock + soul + Bowie), a contemplativa e sinuosa Little sun, a espacial Night away e a beatle-tropicalista Offbook effort.

Bad english une Beck e disco music saturada em Star smoke ticket, põe algo de glam rock na mistura em Wrong ticket, e junta baião, afoxé, jazz e lisergia em Brazil commodity e Left for dead. O soul indie Daily basis slide guitars, voz tranquila e um balanço que remete tanto a Marcos Valle quanto a Titãs. Tem experimentalismo, e muito, em Bad english – mas ele surge como um elemento a mais nas canções e arranjos.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Estúdio304
Lançamento: 23 de abril de 2025.

  • Ouvimos: Ana Frango Elétrico – Me chama de gato que eu sou sua
  • Ouvimos: Sophia Chablau e Uma Enorme Perda de Tempo – Música do esquecimento
  • Ouvimos: Julia Branco – Baby blue

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