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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

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Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

O Who não parecia ser exatamente o tipo da banda “psicodélica”, que vingaria no mercado da música pop-experimental, como os Beatles e Donovan, entre outros nomes. Em 1967, estava fazendo sucesso com um power pop de boa qualidade, Pictures of Lily, e vinha de um segundo LP profundamente mod, A quick one (1966).

Mas no caminho de Roger Daltrey (voz), Pete Townshend (guitarra), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) tinham algumas mudanças chegando. Todas elas causadas pela chegada de Sgt Pepper’s Lonely Hearts Club Band, dos Beatles (1967), pelo esvaziamento da subcultura mod (substituída pela psicodelia nos corações e mentes de vários jovens) e pelo fim do Ready, steady, go!, programa de TV no qual haviam se apresentado dezoito vezes. E com o qual eram identificados a ponto de terem gravado um EP chamado Ready, steady, Who, em 1966.

Outra mudança era o evidente crescimento de Pete Townshend como compositor, e seu crescente domínio de todos os processos na produção de uma música e de um disco. Isso aumentou demais as tensões no Who em vários momentos, já que Roger, Keith e John se sentiam subaproveitados. Mas, de fato, Pete inovou levando a cultura das operetas-rock para dentro do grupo (com A quick one while he’s away) e investindo na criação de personagens, além de letras com plots bem definidos (bom, Entwistle respondeu a isso compondo Whiskey man, Boris the Spider e Silas Stingy).

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Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

Foi sob esse signo que nasceu o terceiro disco do Who, o conceitual The Who sell out (“The Who se vende”), com os quatro integrantes posando de garotos-propaganda de produtos na capa (Pete e Roger) e na contracapa (Keith e John), em 1967. O álbum oferecia um passeio por uma rádio pirata imaginária, com jingles roubados da bucaneira Radio London, e canções compostas para produtos que existiam de verdade, como o creme para acne Medac e o desodorante Odorono. O disco já teve diversas reedições e está voltando às lojas numa superedição com vários bônus, além do “pôster psicodélico” que saiu nos LPs originais. Para quem deseja ao menos a experiência de ouvir o disco turbinado, as músicas já estão nas plataformas.

E eis o nosso relatório sobre The Who sell out. Ouça lendo, leia ouvindo.

O WHO estava em plena atividade em 1967, fazendo vários shows e apresentações históricas pelos Estados Unidos. No Fillmore, em Nova York, tiveram apresentações abertas pelo saxofonista de jazz Cannonball Adderley. “Mal pude acreditar, isso explodiu minha mente. E ele era um cara legal”, contou Pete Townshend. Paralelamente a isso, o principal compositor do Who passava todo o tempo escrevendo canções novas, a ponto de ter um material realmente enorme e desafiador quando a banda decidiu fechar um novo disco, no fim de 1967.

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O MATERIAL que o Who tinha em mãos era bastante inovador para o rock da época. Mesmo hinos rebeldes como Help, dos Beatles, soavam ingênuos diante de canções que falavam de assuntos metafísicos, manias, depressões e questionamentos existenciais. Não por acaso, saiu uma canção chamada Melancholia, que quase se chamou The virus (“a ideia era trabalhar com a doença mental como um vírus”, afirmou Pete).

ESSA MÚSICA era quase um plot maluco que tratava a melancolia juvenil como um vírus, adiantando um pouco do que rolaria com Tommy ou a abandonada Lifehouse. Mas para ter uma ideia do quanto a banda, com Pete na liderança, descartava coisas, Melancholia foi deixada de lado e só reapareceu em coletâneas e reedições de The Who sell out.

AO MESMO TEMPO, Pete começou a direcionar o disco para uma onda de paródia dos comerciais de rádio, tendo em mente a programação das emissoras piratas da Inglaterra. A ideia de fazer um disco dessa forma não surgiu do nada. Richard Barnes, escritor e amigo do Who, havia ficado animado com a versão que a banda fizera do tema do Batman no EP Ready, Steady, Who. Sugeriu a Daltrey e a Townshend que a banda gravasse jingles comerciais. O guitarrista achou a ideia a maior viagem e reagiu com ironia. Mas ao longo do ano o Who podia ser visto gravando jingles para as baterias Premier e até para um par de comerciais “mod” da Coca-Cola.

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ANTES DE The Who sell out virar o que se tornou, houve um lançamento importante na vida do grupo: o single Pictures of Lily. Lançado em abril de 1967, ele espremia em menos de três minutos um storytelling que caberia melhor num romance, num conto ou num filme. Um garoto insone ganhava de seu pai imagens em que aparecia uma moça chamada Lily, e aquilo lhe trazia paz e calma. Só que ao tentar obter mais detalhes sobre Lily, o pai lhe contava que ela havia morrido em 1929, o que partia o coração do garoto.

ALIÁS E A PROPÓSITO, Pictures of Lily é tida como uma música sobre masturbação, mas não há referência alguma a isso na letra. The Who sell out, por sua vez, tinha uma música bem mais explícita e safada sobre o assunto, Mary-Anne with the shaky hand.

POR SINAL, Pictures of Lily foi tão importante na vida do Who que, num rascunho inicial, The Who sell out quase se chamou Who’s Lily.

ALIÁS E A PROPÓSITO, um site chamado Albums That Never Were reconstituiu a lista de Who’s Lily, com músicas como Armenia city in the sky e Our live was, que foram para The Who sell out, misturadas a Girl’s eyes, o instrumental Sodding about e In the hall of Mountain King, que não foram aproveitadas no LP original.

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ANTES mesmo de Who’s Lily, o Who – um tanto abalado com a chegada da psicodelia às páginas de jornais e com o sucesso de Sgt. Pepper’s, dos Beatles – havia pensado na hipótese de lançar um EP instrumental. A ideia foi deixada de lado porque: 1) Pete não parava de compor e de fazer letras; 2) seria melhor permitir que os outros três integrantes contribuíssem com pelo menos uma faixa cada um, para acalmar os ânimos na banda. Com o disco mais ou menos bolado, o grupo tinha gravado músicas como Armenia city in the sky, Relax e I can’t reach you e partiu para uma turnê de três meses pelos EUA com Herman’s Hermits, durante a qual deveria concluir o disco.

QUASE ÓPERA. O tom diversificado e maluco que The Who sell out teria acabou sendo dado por uma primeira tentativa de Pete Townshend de compor uma ópera-rock. No esqueleto inicial escrito por Townshend, Rael teria trinta minutos. A letra falava sobre o soldado anônimo de um país imaginário (Rael, que muita gente interpreta como uma referência a Israel) que se lançava ao mar para lutar contra os “red chins” (que costuma ser interpretada como uma referência à China comunista).

O PROJETO de Rael foi deixado de lado pela exigência de que o Who fizesse singles. Para caber em The who sell out foi reduzida a dez, depois a seis minutos.

PETE nunca foi exatamente claro sobre Rael e sobre o que ela significa, mas sua obra é repleta de referências judaicas – apesar de ele não ser judeu. Um artigo de Seth Ragovoy esmiúça o judaísmo na obra de Townshend e recorda que o compositor do Who sempre protestou contra o antissemitismo em entrevistas. “Morávamos em uma casa que se dividia em duas, e na parte de cima vivia uma família judia bastante devota. Judeus poloneses eram as crianças com quem eu brincava. Eles eram meu povo”, afirmou Townshend.

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POR OUTRO LADO, interpretar a letra de Rael como uma crítica ao comunismo pode ser um erro: Pete foi do Partido Comunista Jovem da Inglaterra na juventude (pouco antes de The Who sell out, por sinal) e, nos anos 1970, dava entrevistas dizendo que “era capitalista nas atitudes, mas comunista nos ideais”.

ROGER DALTREY considera Rael “um pequeno pedaço de Tommy“, por incluir no final trechos de uma canção instrumental que apareceria na ópera-rock, Sparks. E diz que The Who sell out era basicamente uma coleção de pedaços de canções de Pete que foram unidas nos estúdios pelos quais a banda passou. “Esses pedaços juntos nem formavam um álbum. Acho que Chris Stamp (empresário) veio com a ideia de fazer o disco como se fosse uma rádio”, contou.

VALE CITAR QUE esse excesso de material de Pete não vinha à toa: o guitarrista do Who tinha sido um dos primeiros músicos da Inglaterra a investir num estúdio caseiro. Já tinha uma máquina de gravação em 1963, antes da fama, e insistia com amigos famosos, como Jimi Hendrix, para que fizessem o mesmo investimento.

ALIÁS E A PROPÓSITO, havia um outro vislumbre de Tommy na bela I can’t reach you, música de amor platônico em que o personagem não conseguia nem alcançar, nem “ver, sentir ou ouvir” nada da mulher amada.

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O DISCO. The Who sell out acabou ganhando esse formato porque, além dos vários jingles gravados pela banda, Pete decidiu fazer uma homenagem às rádios piratas da Inglaterra, que faziam um papel que a estatal BBC não costumava fazer, e tocavam muita música jovem – a ponto de influenciarem a emissora grandalhona. Eram emissoras que, não raro, funcionavam em barcos no meio do mar, e não estavam sujeitas às leis territoriais de broadcasting.

A FARRA das rádios piratas acabou em 14 de agosto de 1967, quando uma nova lei mandou fechar todas as rádios que funcionavam nos mares do Reino Unido. “A ideia de que uns garotos podiam entrar num barco e transmitir rádio sem licença era um anátema para o governo da época”, lembrou Pete, recordando também que a BBC teve papel único de transmissão de notícias durante a Segunda Guerra Mundial. “Mas sem essas rádios piratas, você não teria como ouvir nem Small Faces, nem Beatles, nem Kinks, nem nenhuma das forças criativas da época”.

NUM PAPO COM o site Consequence of Sound, Pete contou que a ideia do disco veio de horas a fio que o músico passava no escritório dos empresários tentando bolar algo novo para o próximo lançamento do Who. Ele diz que não é verdade que Sgt Pepper’s tenha influenciado The Who sell out, apesar de haverem semelhanças conceituais evidentes – até mesmo no final com uma imitação de sulco arranhado, lembrando o palavreado incompreensível do álbum dos Beatles.

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TOWNSHEND e a banda chegaram a ter mesmo a ideia de vender comerciais entre as faixas e chegaram a propor isso a seus empresários e produtores. A banda fez um anúncio para a American Cancer Society com a música Little Billy, cujo objetivo era desencorajar os jovens a fumarem (Pete chama o anúncio de “hipocrisia, já que eu fumava”). Mas viria coisa bem mais complexa na frente: em 1967 Townshend gravou um estranho anúncio de rádio encorajando os jovens a ingressarem na Força Aérea Americana, em plena Guerra do Vietnã.

A RIGOR, segundo Pete, só mesmo a fábrica de baterias Premier e as cordas Rotosound (cujos jingles estão no LP, o primeiro depois de Marianne e o segundo antes de I can see for miles) se interessaram em ter um espaço pago no disco. As duas empresas mantiveram Keith Moon e John Entwistle munidos de, respectivamente, peças de bateria e cordas de baixo até o fim de suas vidas. Kit Lambert, empresário do grupo ao lado de Chris Stamp, ligou para a Coca-Cola a pedido de Townshend, para oferecer espaço no LP. A empresa desligou na cara de Kit quando nem ele nem Pete souberam dizer quantas cópias o grupo venderia.

O CARA QUE FEZ “ARMENIA”. Armenia city in the sky, a psicodélica faixa de abertura do disco, foi composta por um sujeito chamado Speedy Keen, que dividiu apartamento com Pete e foi motorista do amigo no começo do Who. Speedy compôs o hit Something in the air para a banda Thunderclap Newman, e depois gravou dois discos solo, em 1973 e 1975, além de produzir bandas como Motörhead. Morreu em 2002, pouco antes da morte do baixista John Entwistle.

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A CAPA. As imagens de The Who sell out foram feitas por David Montgomery, o mesmo cara que fez a foto da capa de Electric ladyland, de Jimi Hendrix. As imagens foram tiradas num mesmo estúdio, com os quatro juntos, mas clicados em separado. Tanto que há um outtake com os quatro. Olha aí.

Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

SIM, é verdade, pelo menos segundo Roger Daltrey: o cantor do Who pegou uma baita pneumonia por causa da foto em que aparecia mergulhado em feijões. “Eles estavam congelando de frio! Fiquei sentado nos feijões por vinte minutos, até que tiveram a grande ideia de colocar fogo elétrico na parte de trás da banheira em que eu estava sentado, o que funcionou por um tempo”, contou. “Só que o feijão começou a cozinhar. Então, minha bunda estava assando enquanto o resto do meu corpo estava congelando”.

OS COMERCIAIS DA CAPA não eram de verdade. Os produtos, você deve saber, existiam de verdade, até mesmo o tal programa de musculação de Charles Atlas, que John Entwistle “propagandeou”. Cada produto ganhava uma música inteira ou jingle no álbum. A de Odorono, escrita por Pete Townshend, é a melhor e mais radiofônica.

ALIÁS E A PROPÓSITO, a introdução de London calling, do Clash, lembra bastante a dessa música do Who. Ou será que é impressão nossa?

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ODORONO. Possivelmente, se você buscar “Odorono” no Google vai achar a canção do Who antes mesmo de chegar em qualquer referência à marca. Que originalmente se chamava Odor-o-no e havia sido iniciada em 1910 em Ohio, nos EUA, como fabricante de antitranspirantes, numa época em que as pessoas não só não achavam que precisavam de desodorantes, como achavam que fazia mal à saúde. Olha aí um reclame de 1913 da empresa, quando Townshend nem havia nascido ainda. A Odorono ainda resiste no mercado – até mesmo aqui no Brasil – como marca registrada da grandalhona Unilever.

Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

HEINZ. Roger Daltrey poderia ter evitado a pneumonia se tivesse feito ao fotógrafo a proposta de trocar o panelão de feijões por uma pizza ou um hambúrguer tamanho-família. Isso porque a empresa (que não patrocina o POP FANTASMA mas se quiser pode) é ate mais conhecida pela sua linha de ketchup. A Heinz existe desde 1869, foi fundada em Pittsburgh, Pensilvânia. e introduziu seu molho vermelho no mercado em 1876. É bastante popular no Brasil. O site da empresa não faz nenhuma referência a The Who sell out.

MEDAC. Apesar de existir uma empresa farmacêutica alemã com esse nome, o remédio cantado em verso por Keith Moon é um creme para espinhas bastante popular na Inglaterra dos anos 1960, e fabricado por uma empresa chamada Genatosan Ltd. Um detalhe: a edição australiana substituía o medicamento pela marca de skin care Clearasil. O baterista foi escolhido para posar com o remédio porque, em suas memórias, ele era o mais novo da banda e poderia passar por um adolescente espinhudo.

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CHARLES ATLAS. Assim como os comerciais da capa de The Who sell out eram farsas, Charles também não se chamava Charles Atlas. Ele era um fisiculturista italiano cujo nome era Angelo Siciliano (1892-1972), e que, já morando em Nova York, adotara o nome “artístico” ao ver uma estátua de Atlas no topo de um hotel em Coney Island. Criou uma série de exercícios baseados na isometria (treinamento que consiste, entre outras coisas, em fazer força contra objetos imóveis), que eram divulgados em revistas em quadrinhos e ficaram extremamente populares. Também abriu uma rede de academias. Na edição canadense, o nome Charles Atlas não pôde ser mencionado e foi trocado para “treinamento isométrico” mesmo.

NÃO MANDE DINHEIRO AGORA. Os tais quadrinhos, aliás, serviam para Charles vender livros com seus programas de musculação – que poderiam ser treinados em casa, na base do seja-seu-próprio-personal. Num dos mais populares, um sujeito magrelo sofria bullying de um valentão parrudo. Comprava o livro de Charles, treinava, ficava forte e ia lá sentar a mão na cara do folgado.

A GAROTA DA CAPA. A modelo que posa ao lado de John Entwistle é Jill Langham, que durante vários anos foi conhecida como a dancing queen de Palm Springs, e aos 44 anos, bem depois de The Who sell out, se tornou fisiculturista e passou a competir. Ela já lançou até uma autobiografia. Na época do disco, tinha vinte e poucos anos e havia acabado de ter um filho.

ALIÁS, Jill, que na época tinha aparecido no filme Um golpe à italiana, ao lado de Michael Caine, declarou ao livro The Who FAQ: All that’s left to know about fifty years of Maximum R&B, de Mike Segretto, que nem sequer se lembrava muito da sessão. “Posar com o Who nem era algo tão especial para mim. Eu era mais fã dos Beatles”, recordou.

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TONY RAMOS DO WHO. Segundo Keith Moon, Entwistle – mesmo estando longe de possuir um porte atlético – foi escolhido para o comercial da Charles Atlas porque “tinha um peito cabeludo” (na foto isso não aparece, enfim).

MAS POR OUTRO LADO, Entwistle conta outra história sobre isso. O baixista diz que originalmente, ele é que deveria mergulhar no feijão, e Daltrey, que ainda não era o sex symbol dos anos 1970, posaria com a modelo. Só que o baixista espertinho resolveu chegar mais cedo ao estúdio de propósito e acabou posando com Jill.

ATRASOU. The Who sell out havia sido programado para 17 de novembro de 1967 e precisou ser adiado justamente porque a banda e a gravadora estavam esperando as autorizações das marcas.

ALIÁS E A PROPÓSITO, DEU MERDA. Os criadores dos jingles da Radio London se estressaram com o Who por causa do uso alegadamente não-autorizado das gravações. A Heinz, conta-se, estressou-se no começo, mas depois ficou animada com a publicidade gratuita.

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PÔSTER GRÁTIS. As primeiras edições de The Who sell out vinham com um aceno à mania dos pôsteres, que começavam a ficar bastante populares entre a juventude da época. Na capa, um adesivo anunciava “pôster psicodélico grátis”. Dentro, o fã do Who encontrava um desenho psicodélico feito pelo artista gráfico Adrian George, um dos nomões da Osiris Vision, negócio de pôsteres dirigido por Joe Boyd, que dirigia o clube UFO, e Barry Miles, proprietário da livraria Indica Books e do jornal de contracultura International Times. Os primeiros LPs de The Who sell out valem uma boa nota por causa desse pôster, mas depois ele foi acrescentado em algumas reedições.

Várias coisas que você já sabia sobre The Who Sell Out, do Who

RECEPTIVIDADE. The Who sell out é um disco de 1967 na Inglaterra e um álbum de 1968 nos Estados Unidos – saiu no Reino Unido em 15 de dezembro, e nos EUA em 6 de janeiro. Na terra do Who chegou ao número 13 nas paradas. O álbum foi muito bem recebido pela crítica, e de modo geral, foi visto como um foco da arte pop no universo do rock, por misturar publicidade e música. Mas foi consenso quase geral que o fato da banda ter optado por um storytelling maluco prejudicou as vendas.

BOM, NEM TANTO. Alguns críticos detestaram o fato do Who “se vender”. Bruno Bornino, do Cleveland Press, classificou os anúncios como “revoltantes” e sugeriu que os fãs comprassem o disco e jogassem a capa no lixo. Joe Bogart, diretor da rádio WMCA, de Nova York, mandou um “disgusting” quando viu Roger Daltrey mergulhando no feijão e proibiu o disco de ir ao ar em sua emissora.

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ALIÁS E A PROPÓSITO, The Who sell out é um dos raros discos do Who que nunca foram lançados em formato algum no Brasil.

MAS E DEPOIS? O Who, mesmo valorizando os LPs conceituais, passou o ano de 1968 investindo em singles, como Call me lightining, Dogs e Magic bus. Também saíram coletâneas como Direct hits (nos EUA) e Magic bus: The Who on tour (no Reino Unido). Chegou a ser imaginado um disco de estúdio chamado Who’s for tennis?, que sairia em 1968. O projeto original, bolado antes mesmo de The Who sell out ser fechado, incluía até mesmo músicas como Silas Stingy, além do futuro hit Magic bus. A banda teria descartado a ideia por não botar fé na seleção final de músicas. Disco novo só mesmo em 1969, com Tommy.

E BOA PARTE do material deste texto foi tirado dessa entrevista recente de Pete e Roger.

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(agradecemos a Marcelo Fróes pela dica da Jill)

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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