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Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

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Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

O Fleetwood Mac nunca foi das bandas mais estáveis do mundo. Era uma banda de blues que foi gradativamente se aproximando do pop, e que mudava de integrantes (e de liderança) a cada disco. Enfim, a banda trocou até de país – começou na Inglaterra, acabou nos EUA. Mas na época que antecedia seu 14º disco, Tango in the night (1987), andava tudo realmente estranho.

Para começar, o disco anterior do FM, Mirage, havia saído em 1982, e os integrantes embarcaram em carreiras solo, algumas mais, outras menos vitoriosas. Lindsey Buckingham (voz, guitarra), que vinha de um hit solo de 1981, Trouble, conseguiu seu lugar ao sol com o single e o disco Go insane (1984). Christine McVie (voz, teclados) e Mick Fleetwood (bateria) gravaram álbuns sem a banda – a primeira com repercussão, o segundo sem nenhuma. John McVie (baixo) ficou na dele. Já Stevie Nicks (voz), que gravava sozinha desde 1981, fez bastante sucesso solo. Inclusive conseguiu êxito o suficiente para ficar em dúvida sobre se valia a pena voltar com a banda.

Não havia nada indicando que o Fleetwood iria voltar, já que os integrantes pareciam felizes separados. Mas não tinha havido uma entrevista sequer da banda falando que os serviços do grupo estavam encerrados e que daí para a frente os fãs que se virassem para acompanhar cinco carreiras solo.

A volta, com Tango in the night, era a verdadeira adaptação do Fleetwood Mac à sonoridade e ao método de trabalho que vigoraram nos anos 1980. Ou seja: programações eletrônicas, vocais modificados com samples, experimentações de estúdio para deixar canções com mais cara de “rádio”, tons latinescos e novelescos para brigar nas paradas com artistas como Madonna (La isla bonita fez sucesso, não?) e derreter os corações das Américas.

Várias coisas que você já sabia sobre Tango In The Night, do Fleetwood Mac

Nos últimos dias, por causa de um viral do tiktok, Dreams, clássico do FM lançado no poderosíssimo disco Rumous (1977), voltou a virar hit – o que levou álbum a retornar ao Top 200 da Billboard. Como já tem um monte de gente recordando os tempos confusos de Rumours – disco marcado pelos divórcios dos dois casais da banda, e por trocas de farpas em letras de músicas – decidimos dar um salto no tempo e lembrar o segundo disco mais vendido do Fleetwood Mac. O álbum que fez a banda experimentar sucesso de verdade no mundo maravilhoso da MTV, graças aos clipes de Seven wonders, Big love, Everywhere, Isn’t it midnight e Little lies.

Tá aí nosso relatório sobre Tango in the night. Leia ouvindo o disco.

HIATO. Os fãs do Fleetwood Mac estavam acostumados a pausas entre um disco e outro – inclusive, com os dois casais da banda separados e integrantes com os pés afundados na jaca das drogas, só dando um tempo. Após Rumours (1977), a banda lançou o estranho disco duplo experimental Tusk (1979), considerado um fracasso pela Warner, gravadora deles. Em 1980, saiu o duplo ao vivo Live. 1982 foi o ano de Mirage. Mas, se bobear, muitos fãs-de-ocasião acharam que a banda sumiu do mapa depois do mega bem sucedido Rumours.

MAS QUE CASAIS? Se você não sabe, durante Rumours houve a separação dos casais Stevie Nicks e Lindsey Buckingham, e Christine McVie e John McVie.

SUCESSO E CASAMENTO RÁPIDOS. Stevie Nicks tinha sido a integrante do Fleetwood Mac a voar mais longe como solista. Gravara dois discos muito bem sucedidos – antes mesmo do hiato pós-Mirage, ela já batera recordes com Bella Donna, de 1981. Em 1986, dividiu palcos com Bob Dylan e Tom Petty & The Heartbreakers. Mas a vida pessoal não andava legal. Em 1981, ela tivera a péssima decisão de casar com o viúvo de sua melhor amiga Robin Anderson, que morrera de leucemia após ter tido um filho. Aliás, fez isso porque “achava que ela gostaria que cuidássemos do bebê”. O casamento durou três meses.

VIDA LOUCA. As drogas vinham causando problemas à banda, especialmente a dois integrantes: Stevie Nicks e o baixista John McVie. John tinha problemas com álcool o suficiente para ter uma séria convulsão em 1987. Em 1986, Stevie foi alertada por um cirurgião plástico de que teria problemas sérios no nariz por causa do abuso de cocaína, e que poderia ficar sem voz. Em seguida, internou-se na clínica Betty Ford, procurada por dez entre dez popstars em reabilitação, e largou a droga. No entanto, Nicks continuou bebendo e acabou viciada, ironicamente, na droga que ela tomava para se livrar da cocaína (Klonopin).

POR SINAL, uma das músicas de Tango in the night, Welcome to the room… Sara, escrita por Stevie, foi inspirada em sua estadia na clínica Betty Ford. “Sara Anderson” era o pseudônimo que ela usava ao se internar.

SOM ELETRÔNICO. O começo dos anos 1980, você deve se lembrar ou saber, foi a glória para os fãs de sintetizadores e sons eletrônicos, que dominavam as paradas. O Fleetwood Mac passou de sapato alto sobre isso em Mirage. Mas Lindsey ficou meio obcecado pelo assunto em Go insane, seu disco de 1984, no qual ele tocava todos os instrumentos e substituía as batidas orgânicas pela afamada LinnDrum, que já aparecia em dez entre dez sucessos pop. Foi o pontapé inicial para muita coisa que aconteceria em Tango in the night.

ALIÁS E A PROPÓSITO, Tango in the night seria, de início, um disco solo de Buckingham.

OU MELHOR. Havia dois projetos sendo feitos, o disco de Buckingham e o LP novo do Fleetwood Mac. Ambos os trabalhos correram em paralelo por um tempo, até que Lindsey se juntou aos colegas e levou seu repertório. Mas Mick Fleetwood diz que a banda – em especial ele – persuadiu Lindsey a se juntar aos outros, e que o amigo foi pressionado para concluir o disco.

DASHUT E DROMAN. Quer saber de Tango in the night, pergunte a esses dois. Richard Dashut, que produzira os três últimos discos do FM, havia sido chamado por Christine McVie em 1985 para produzir uma versão de Can’t help falling in love para a trilha do filme A fine mess, de Blake Edwards. O projeto acabou virando uma reunião informal do Fleetwood Mac, com Fleetwood, McVie e Buckingham convidados para tocar na trilha. Stevie continuava em turnê solo.

DASHUT E DROMAN 2. Greg Droman, um jovem produtor e engenheiro de som, foi chamado por Dashut para gravar o projeto. Acabou trabalhando também com Buckingham em Time bomb town, que o músico criou para a trilha do blockbuster De volta para o futuro, de Robert Zemeckis. Acabou sendo convidado para trabalhar em Tango. Na época, Droman era do estúdio Rumbo, de propriedade da dupla Captain & Tennille, em Los Angeles. Por sinal, o local era quase um quartel-general do hard rock e do hair metal: até o Ratt gravou lá.

ALIÁS E A PROPÓSITO, até mesmo parte do Appetite for destruction, do Guns N Roses, saiu das máquinas do Rumbo.

DEZOITO MESES. Foi o tempo em que o grupo, mais produtor e técnico de som, passaram lambendo as músicas de Tango in the night. O material que surgia no novo disco do Fleetwood Mac era quase um projeto dos integrantes não-fundadores da banda, usando o nome do FM. John McVie e Mick Fleetwood não deram pitacos nas composições. Já Lindsey usou e abusou da liderança, dando ideias de como o material deveria soar e trazendo uma referência musical importante para a pequena equipe do disco (o som pop e profundo de Kate Bush).

MAIS GENTE. Outros nomes apareciam nos créditos de composições de Tango. Sandy Stewart compôs o hit Seven wonders com Stevie, e era parceira de carreira solo dela. Eddy Quintela, novo marido de Christine McVie, dividia Little lies com ela, e Isn’t it midnight com ela e Buckingham. Dashut compôs Family man com Buckingham.

ZZZZZZ. Dashut e Droman concordam numa coisa: Tango in the night foi um disco feito tão devagar que todo o processo levou a equipe ao tédio e ao desespero em pouco tempo. Buckingham estava maravilhado com as possibilidades dos samples, das modificações de vozes em estúdio e com qualquer maluquice que pudesse ser feita para mudar vocais ou alterar partes de músicas. Ele, o produtor e o técnico faziam coisas como diminuir a velocidade das canções, triplicar ou quadruplicar várias partes nos canais e depois ajustar o pitch de cada uma dessas partes. Tudo para encontrar novas texturas e tornar Tango in the night uma experiência inesquecível.

CORTA E COLA. Os vocais percussivos de Big love (todos feitos por Buckingham, e não por Stevie) e os climas meio “vamos abrir a Porta da esperança” de algumas introduções (como a de Everywhere e a de Little lies) vêm dessas encucações de Lindsey.

VIDINHA BESTA. Durante as gravações, uma frase repetida por Droman virou quase meme da equipe: “Tédio é a nossa vida”. A equipe passava o dia inteiro envolvida com apenas uma parte da gravação, ou duas partes, para refazer tudo no dia seguinte, porque Buckingham não havia ficado feliz com o resultado. A turma também ficava bastante isolada no Rumbo. Aliás, isolada a ponto de perder a noção do tempo. “Naquela época, os estúdios não tinham janelas. Nunca sabíamos que horas eram. Você saía no corredor para ir ao banheiro ou algo assim, e de repente, você percebe que é noite, daí você perdeu todo o sol do dia”, contou Droman.

PÂNICO. Por causa do estresse, das repetições e do excesso de trabalho, rolou de tudo: até ataques de pânico no jovem Droman. “Eu nem sabia que se tratava disso”, conta. “Nem conseguia dizer o que estava acontecendo. Eu estava meio que pirando”. Logo que saiu Tango in the night, ele estava tão de saco cheio que desligava o rádio se o DJ tocasse Big love.

PÉ NA BUNDA. Antes de Tango, Lindsey havia tido um relacionamento fracassado com a estilista Carol Ann Harris, que vazou para as letras do disco (em Tango in the night e, evidentemente, Caroline), e continuava mal por causa disso. Carol, que trabalharia em vários clipes de artistas conhecidos, escreveu um livro sobre o relacionamento com Lindsey (Storms: My life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac) e contou que já estava cansada das brigas do namorado com a banda, e de seu envolvimento com a cocaína.

BAÚ SEM FUNDO DE GRANA. Tango também foi um disco marcado por um comportamento perdulário típico da época em que as gravadoras ainda tinham verba ilimitada para gastar com seus artistas. Após o começo no Rumbo, o Fleetwood Mac ainda fez gravações na garagem da casa de Lindsey, num trailer alugado que ficava no quintal para não invadir demais a propriedade. A mixagem também foi feita lá, inicialmente em duas máquinas analógicas. O pentelho Lindsey demorava uma semana para mixar cada música com a equipe. Só que ele mudava bastante de ideia sobre o que estava sendo mixado. Para facilitar o processo, mandaram vir uma caríssima e moderníssima máquina digital da Sony.

COMO É QUE MEXE NISSO? Na mixagem, a turma tinha várias fitas digitais que precisavam ser manuseadas com cuidado, numa época em que ninguém sabia mexer direito nessas coisas. Com medo de estragar alguma coisa, Droman usava luvas brancas para mexer no material. O material era todo repicado e colado na base da fita durex.

QUASE DEU MERDA. Quando Tango foi masterizado, apareceu um monte de erros nas emendas. Para evitar problemas, a única solução que o trio de produção e gravação viu pela frente foi colocar as fitas na geladeira do estúdio. Não havia cópia de nada e o risco de um ano de trabalho ir por água abaixo era enorme.

STEVIE SUMIU. As gravações de Tango in the night foram pouco frequentadas por uma das integrantes mais populares do Fleetwood Mac. Stevie Nicks contribuiu com canções, mas estava ocupada demais com a turnê do disco solo Rock a little e quase não ia ao estúdio. Quando ia, ficava tão entediada que começava a beber e gravava os vocais embriagada. Boa parte dos vocais dela em composições de Christine e Buckingham foram tirados. Em When I see you again, por exemplo, vocais dela tiveram que ser remontados e Buckingham precisou cantar parte da música.

DEU TEMPO. Por causa de suas ausências, Stevie perdeu inicialmente a chance de fazer vocais em Everywhere, de Christine McVie – e reclamou disso. Acabou acrescentando vocais quando a música já estava para ser finalizada.

CLIMA BOM, CLIMA RUIM. Testemunhas afirmam que o clima na banda estava até amistoso, apesar do controle de Lindsey e do fato de ninguém se encontrar direito para fazer as gravações na casa dele. Mas o músico costuma dizer que as vidas pessoais dos integrantes estavam em desalinho. “Na época em que fizemos Tango in the night, todos estavam levando suas vidas de uma maneira que não ficariam muito orgulhosos hoje”, contou.

SOBROU COISA PRA CARAMBA. Tango in the night ganhou recentemente, você deve saber, uma edição de luxo com quase três horas. O trio de compositores estava tão prolífico que compôs e gravou muita coisa que não foi usada. Algumas apareceram em singles, como Down endless street, de Buckingham (no compacto de Family man). A You and I, part II, do LP, tinha uma parte I que saiu apenas no lado B do single Big love.

DEU CERTO. Assim que Tango in the night saiu, o maior medo dos fãs e da crítica era que Buckingham tivesse transformado a banda num troço amorfo e sem substância. Embora não tivesse sido um disco queridinho da crítica, o público aderiu rapidamente às novas músicas. Big love virou hit de pista e acabou inserida no contexto da house music, com direito a remix feito por Arthur Baker. Só até 2000, Tango já havia vendido mais de 3 milhões de cópias nos EUA.

CLIPE. Mick Fleetwood lembra que só o clipe do primeiro single, Big love, custou cerca de US$ 250 mil. O músico, que abriu falência no começo dos anos 1980, voltou a sorrir: as vendas do disco novo foram tão boas que houve interesse pelo catálogo antigo da banda, e a grana voltou a pingar.

PERA, NÃO DEU CERTO NÃO. Tango in the night saiu em abril de 1987 e deixou um ferido: Lindsey Buckingham. O músico reclamava que a banda não havia sido solidária com ele e havia feito pressão durante o processo. Tanto que assim que saiu o disco, o músico anunciou que não sairia em turnê.

FEZ MERDA. A banda passou um bom tempo tentando convencer Buckingham a não sair. Em agosto de 1987, ele anunciou que estava pulando fora. A banda marcou uma reunião em 7 de agosto daquele ano na casa de Christine McVie para cobrar pelo menos uma explicação. Só que deu merda: estourou uma discussão bizarra entre Lindsey e sua ex-namorada Stevie Nicks, que acabou com o músico agredindo seriamente a ex-namorada. Buckingham acabou posto para fora da casa e da banda.

DOIS NO LUGAR DE UM. A turnê de Tango seria feita com dois guitarristas, Billy Burnette e Rick Vito. O grupo optou por cortar as músicas de grande sucesso feitas por Lindsey, até mesmo o grande hit Big love. Aliás, a banda deu uns “presentes” aos fãs antigos que ainda acompanhavam a banda, incluindo uma canção dos primórdios do grupo, escrita por Peter Green, I loved another woman. O FM considerou incluir Black magic woman, outro hit dessa fase. John McVie vetou a ideia porque Santana gravou a canção e a transformou em uma música de seu repertório.

ALIÁS E A PROPÓSITO, um show da banda em San Francisco chegou às lojas como… um VHS de Tango in the night (na época, era tendência bandas lançarem shows em homevideo, como se fosse “o disco em vídeo”, muitas vezes com a mesma capa do LP). O VHS de Tango tinha o mesmo título e a mesma capa.

E DEPOIS? Claro que Lindsey Buckingham voltaria ao Fleetwood Mac. No ao vivo The dance, lançado em 1997, a formação de Rumours (1997) e Tango in the night (1987) estaria toda lá. Até lá, o grupo lançaria Behind the mask (1990), sem Lindsey, por sinal o primeiro disco da banda desde 1974 a nem roçar o Top 10. Em seguida, Time (1995), sem Stevie Nicks, sem Christine McVie e com Lindsey como cantor convidado numa das faixas (!).

E STEVIE NICKS? Em 1989, Stevie Nicks voltaria à carreira solo com The other side of the mirror, Top 10 nos Estados Unidos. Por sinal, foi a turnê do Klonopin, já que a cantora estava tão dependente da droga que tomava para se livrar da cocaína (é bastante comum) que diz não ter recordação alguma da tour.

E HOJE? Até novembro de 2019, o Fleetwood Mac circulava por aí com a tour An evening with Fleetwood Mac, sem Lindsey (expulso da banda após uma discussão justamente com Stevie Nicks, com direito a processo nos ex-colegas e “ou ela ou eu”). A formação incluía Fleetwood, McVie, Christine, Stevie, Mike Campbell (guitarra) e Neil Finn (teclados, guitarra e voz). Little lies era a segunda música do set list.

E já que você chegou até aqui pega aí os outros clipes do disco. O de Little lies já apontava para o lado country que o Fleetwood Mac deixaria aparecer em alguns de seus trabalhos posteriores: mostrava a banda circulando numa fazenda abandonada, incluindo cenas maravilhosas de Christine McVie fingindo que tocava piano numa escrivaninha (!) e Lindsey Buckingham usando blazers caríssimos em meio a pedaços de feno e cercas desdentadas. Teve também o clipe de Family man, feito com sobras do de Seven wonders, quando Lindsey já havia saído, mas não está no YouTube.

Com informações dos livros Playing in the rain: Lindsey Buckingham & Fleetwood Mac, de Tyler Martin Sehnal, Storms: my life with Lindsey Buckingham and Fleetwood Mac, de Carol Ann Harris, e Fleetwood Mac: The complete illustrated history, de Richie Unterberger. E de links como esse e esse.

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements). E a Dirty mind (Prince). E a Paranoid (Black Sabbath).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Fleetwood Mac no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

Urgente!: E agora sem o Ozzy?

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Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre.

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.

Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.

Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.

Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.

Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.

Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).

Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.

Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.

Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação

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Crítica

Ouvimos: Justin Bieber – “Swag”

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Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

RESENHA: Swag, novo disco-surpresa de Justin Bieber, mistura lo-fi, trap e synth pop com vibe indie e desleixo calculado. Musicalmente rico, mas com letras rasas.

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Justin Bieber opera hoje num universo de, vamos dizer assim, venda fácil e compreensão difícil. Ser um cantor branco de r&b significa basicamente que você vai ter que fazer shows, gravar discos e existir no show business, de modo geral, no limite da polêmica. Afinal, tanto r&b quanto rap são áreas de artistas negros, ligadas a um histórico que se estende ao soul, e a vivências pessoais – e o mundo mudou o suficiente para que o mercado quase entenda o peso de certas coisas.

Por quase entenda, leia-se que, na maioria dos casos, tudo pode ser resolvido por uns posts nas redes sociais e uma tour pelos lugares certos, com as pessoas corretas. Mas pra piorar um pouco, nos últimos tempos, Justin andava brotando mais no noticiário de fofoca do que nos cadernos de cultura. As notícias eram sobre cancelamentos de shows, brigas com a mulher Hailey, relacionamentos supostamente mais do que íntimos com o rapper P. Diddy e supostos abusos de substâncias.

E, bom, o que faz um astro como Justin Bieber numa hora dessas? Para calar a boca de uma renca de gente durante um bom tempo, ele simplesmente lança um disco novo do mais absoluto nada – e este disco é Swag, uma epopéia de quase uma hora, com 21 faixas. E antes de mais nada, Swag consegue colocar de vez Justin numa espécie de “espírito do tempo” pop no qual artistas como Taylor Swift, Rihanna, Beyoncé e Miley Cyrus já se encontram há um bom tempo.

Esse tal (hum) zeitgeist significa que tais artistas – seguindo uma linhagem que inclui de Beatles a Marvin Gaye – decidiram se libertar de amarras para fazerem o que bem entendem. Ou seja: discos de protesto, álbuns com design musical troncho, feats que os fãs vão estranhar, projetos com produtores pino-solto, singles com referências que o fã-clube vai ter que buscar no Google, lançamentos com fotos de divulgação distorcidas – ou capas no estilo meu-sobrinho-fez.

De modo geral, são artistas que podem se dar ao luxo de perder alguns fãs, em nome de verem seus álbuns se tornarem (vá lá) pretensos barômetros do nosso tempo, ou pelo menos crônicas pessoais-autoficcionais. Alguns exemplos: Brat, de Charli XCX, trouxe a zoeira da noite de volta. Hit me hard and soft, de Billie Eilish, foi importante na onda de música sáfica. GNX, de Kendick Lamar, explora misérias existenciais e brigas no showbusiness. Vai por aí. Fazer disco com “desencucação” virou, mais do que nunca, coisa de roqueiro – aposto que você se divertiu muito com Cartoon darkness, de Amyl and The Sniffers, e ficou assustado/assustada com as teorias geradas por Brat.

Se a essa altura do meu texto você já está prestes a desistir de ler, por eu ainda não ter dito se Swag vale seu tempo precioso, aqui vai: vale, e muito. Justin já vinha de uma tradição de álbuns ligadíssimos na atualidade – o melhor deles é Purpose, de 2015. Swag tem um subtexto de “libertação”, já que Bieber acaba de dar adeus a seu empresário de vários anos, Scooter Braun (um adeus que vai lhe custar mais de 30 milhões de dólares, por sinal). E traz o cantor investindo em climas lo-fi, sons texturizados, vibes derretidas e muita coisa que virou moda de uma hora para a outra.

O G1 disse que Swag é um disco chato. Eu discordo bastante, mas o The Guardian chegou perto da realidade ao dizer que as letras prejudicam o novo álbum – de fato, a poética de Swag tem a profundidade de um pires. Já musicalmente, a diversão é garantida até para quem nunca ouviu nada do cantor. Bieber e sua turma de produtores e parceiros transformam trap e sons lo-fi em pop adulto, em faixas muito bem feitas e bem acabadas, como All I can take, a estilingada Daisies, o bedroom pop Yukon e a viajante Go baby.

O design musical de Swag é minimalista, e boa parte das músicas têm aquele clima de desleixo estudado do indie pop atual. Things you do tem guitarras decalcadas do The Police e silêncios entre vozes e sons, Butterflies é uma gravação quase caseira que vai crescendo, e faixas como First place, Way it is, Sweet spot e Walking away unem synth pop, modernidades, sons derretidos e tentativas de emular Michael Jackson.

Dadz love, com o rapper Lil B, evoca Prince, com tecladeira dos anos 1980 e texturas de 2025. A vibe dos Rolling Stones, e das voltas do grupo britânico em torno do soul e do r&b, dáo as caras em Devotion e na vinheta Glory voice memo. Uma curiosidade é o trap da faixa-título, com participações de Cash Cobain e Eddie Benjamin, e um verso proscrito sobre cocaína (“seu corpo não precisa / de nenhuma linha prateada”) que aparentemente só o Spotify transcreveu.

Vale dizer que, tentando tomar de volta o controle da própria narrativa, Justin derrapa feíssimo ao decidir colocar em Swag três diálogos com o comediante negro norte-americano Druski. Num deles, o humorista diz a ele que “sua pele é branca, mas sua alma é negra, Justin” (o cantor só responde um “obrigado” desajeitado) – em outro, o assunto inclui paparazzi e redes sociais. No final, quem ouve o disco inteiro é “premiado” com a estranhíssima presença do cantor gospel Mavin Winans ocupando sozinho a última música – o cântico religioso Forgiveness.

Enfim, é Bieber buscando legitimidade para o autoperdão e para a própria carreira de cantor branco de r&b – e mandando recados de maneira tão desajeitada que Swag, um excelente disco, quase rola escada abaixo. Swag não resolve todas as questões em torno de Justin Bieber – mas quando acerta, lembra que, às vezes, é melhor fazer do que explicar.

Texto: Ricardo Schott

Nota: 8,5
Gravadora: Def Jam
Lançamento: 11 de julho de 2025

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Cultura Pop

Urgente!: Nova do Hot Chip, “DVD” do Oasis em Cardiff, The Rapture de volta com turnê

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Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

RESUMO: Hot Chip (foto) anuncia coletânea e lança single e clipe. Fã produz vídeo do primeiro show do Oasis em Cardiff só com imagens feitas por fãs. The Rapture anuncia turnê pelos Estados Unidos e Canadá.

Texto: Ricardo Schott – Foto Hot Chip: Louise Mason/Divulgação

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Vai sair pela primeira vez uma coletânea do Hot Chip, Joy in repetition, prevista para 5 de setembro. Vale até a pergunta que muita gente já se fez: qual a importância de coletâneas nessa época de playlists e aplicativos de música com poucas infos? Bom, a importância de uma boa coletânea de hits é enorme, vale por uma setlist bem montada e pode contar uma história. E elas eram as playlist de duas décadas atrás.

No caso de Joy, ela traça o caminho do Hot Chip do tempo dos cachês baixos até a época em que jornais como The Guardian já estavam classificando Alexis Taylor, Joe Goddard, Owen Clarke, Al Doyle e Felix Martin como o maior grupo pop de seu tempo. E entre hits como Ready for the floor, I feel better e Look at where we are, ainda tem uma música nova de altíssimas proporções de grude: Devotion, já lançada em single, que é uma mescla de pop adulto, eletrônica psicodélica e futuro hit de pista, com clipe gravado no Japão.

Taylor rasga seda: Devotion é “uma celebração da devoção a este projeto coletivo”. E ele ainda faz um baita elogio ao colega Joe Goddard: “Penso no Joe como alguém parecido com o Brian Wilson, com uma dedicação enorme em descobrir como criar a música pop mais incrível possível”. Errado não está.

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Alguém com (felizmente, não estamos julgando) muito tempo livre pegou varias imagens diferentes do primeiro show do Oasis em Cardiff, feitas por fãs da banda, e compilou um (digamos) DVD do show.

O registro tá o mais fiel possivel, apesar das imagens à distância e do som nem sempre maravilhoso – vale como um belo bootleg das antigas. Tem ate o som da fitinha de Fuckin in the bushes na abertura, e a voz do apresentador do show. Detalhe: quem botou o video no ar tentou se livrar de problemas avisando que o video nao é monetizado. Pode ser que não ganhe strike do YouTube. “É de um fã apenas para fãs”, avisa.

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E ainda Oasis: vale ler o texto de Liv Brandão, fera do jornalismo musical brasileiro recente, sobre como a setlist do show do Oasis não foi apenas uma setlist. Foi uma aula de storytelling daquelas – como numa (olha aí) coletânea daquelas que vinham com textos contextualizando tudo.

“Muito se falou da escolha das canções, que privilegia os dois primeiros álbuns, como se só eles importassem (…). Mas tão especial quanto a seleção das 24 músicas que compõem o set, idêntico nos dois dias, é a ordem em que elas aparecem, montada para contar a história de quando o Oasis foi a maior banda do mundo – justamente na época desses discos – e tudo o que aconteceu desde então”. Leia o restante na newsletter dela

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Banda importante do dance punk dos anos 2000, The Rapture voltou, mas não há ainda nenhuma novidade a respeito de disco novo – nem de shows no Brasil, já avisamos. Na real, esse grupo novaiorquino já está de volta desde 2019, com o cantor Luke Jenner como único membro fixo, mas não havia retornado de fato. Fizeram alguns shows, mas pararam as atividades por conta da pandemia, e foi só. Dessa vez, o grupo tem uma turnê de verdade pela frente, que começa dia 16 de setembro no mitológico First Avenue, em Minneapolis, e passa por várias cidades dos EUA e Canadá até novembro.

“Anos atrás, quando me afastei da banda, eu precisava de tempo e espaço para reconstruir minha vida”, conta Jenner sobre a volta, sem comentar diretamente sobre as brigas intermináveis que a banda tinha lá por 2014. “Eu precisava consertar meu casamento, estar presente para meu filho e, por fim, trabalhar em mim mesmo. Esta turnê marca um novo capítulo para mim, moldado por tudo o que vivi e aprendi ao longo do caminho. Conquistei tudo o que esperava alcançar através da música e agora posso usá-la para ajudar qualquer pessoa que talvez precise, como eu precisei naquela época”.

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