Connect with us

Cultura Pop

Várias coisas que você já sabia sobre “Dirty mind”, do Prince

Published

on

Várias coisas que você já sabia sobre "Dirty mind", do Prince

Ele só pensava naquilo. Se em For you (1978) e Prince (1979), Prince já chocava a audiência com músicas como Sexy dancer e Soft and wet, bem vindo ao maravilhoso mundo da sacanagem e da liberdade. Dirty mind (1980), o terceiro disco, fazia odes à pornografia e ao sexo em canções como a faixa-título e Do it all night. Falava sobre festas que nunca terminavam em Party, sobre sexo oral em Head, sobre sexo a três em When you are mine e sobre (uau) tesão incestuoso no roquinho meio Queen-meio Pretenders Sister. Ademais, só para não ficar em definitivo no assunto “sexo”, Prince ainda tecia comentários sobre racismo e liberdade em Uptown.

Por acaso, o terceiro disco de Prince (que durava econômicos trinta minutos) vinha numa hora boa, já que a Warner se animara bastante com as vendas dos dois primeiros álbuns. E aquele artista multitarefa, que tocava tudo em seus LPs, chamava bastante a atenção da crítica. Mas se Dirty mind precisava deixar a gravadora feliz, havia uma tarefa mais difícil ainda para o álbum: satisfazer os critérios e o controle artístico do próprio Prince.

Várias coisas que você já sabia sobre "Dirty mind", do Prince

Em Dirty mind, o pós-disco dos dois álbuns anteriores voltava repaginado, com cara new wave, vocais simplificados (já incluindo os falsetes influenciados tanto por Stevie Wonder quanto pelos Beach Boys, que caracterizariam o cantor até o fim da vida) e muitos sintetizadores. Aliás, não era só isso: Prince voltava disposto a botar para quebrar nas paradas de rock, e inverter o caminho traçado por artistas como Rolling Stones e Queen (que foram do rock aos sons dançantes ou à disco music e derivados).

Morto em 2016, Prince gravou tantos discos memoráveis que uma discussão sobre “melhor disco” dele pode facilmente acabar em briga. Mas Dirty mind tem lá seus pontos: é um disco extremamente provocador e pioneiro, e ainda por cima está completando 40 anos essa semana (saiu em 8 de outubro de 1980). E vai aí nosso relatório sobre ele. Leia ouvindo o disco.

PARECIA QUE NÃO IA DAR. Inicialmente, nem mesmo a Warner punha tanta fé assim no taco de Dirty mind, e o disco não se revelou de cara um grande sucesso. Prince chegou a lembrar que o disco “teve vendas mínimas” assim que chegou nas lojas e as rádios também não caíram dentro com voracidade – até mesmo pelo medo de tocar músicas com letras tão cara-de-pau. O livro Prince FAQ: All that’s left to know about the Purple Reign, de Arthur Lizie, informa que se tratou do índice mais baixo de Prince nas paradas até Rainbow children (2000).

DEMOS. Essa descrença da Warner em Dirty mind veio, em parte, do fato do terceiro disco de Prince ter iniciado basicamente com demos que o cantor tinha guardadas. Prince resolveu mostrar as fitinhas para os executivos da gravadora, mas eles receberam o material de nariz torcido. “Eles disseram: ‘O som tá legal, mas não temos certeza sobre as canções. Não podemos colocar isso nas rádios, não é parecido com seu disco anterior’. Eu respondi: ‘Mas é parecido comigo'”, contou.

ORIGENS. A mistura musical de Dirty mind vinha de experiências recentes de Prince. Para começar o cantor havia aberto shows de seu rival Rick James, durante a turnê do álbum Prince (1979). Rick, considerado um grande inovador do funk, estava fazendo um baita sucesso com seu terceiro disco, Fire it up (1979) e com letras sacanas e cheias de conversa mole, como as de Love gun e Lovin in you is a pleasure. Em um período no qual a disco music ia sumindo das paradas e a new wave virava o garoto novo da escola, era um feito e tanto.

RICK JAMES – “LOVIN’ YOU IS A PLEASURE”

RICK PISTOLA. O astro Rick James havia, segundo o próprio contou algumas vezes, topado que Prince abrisse seus shows porque haviam lhe falado que o novato era fã de seu trabalho. Acabou, na lembrança do próprio Rick, se irritando, já que Prince mal lhe dirigia a palavra. James jura que o cantor fazia péssimos shows de abertura, ficava imóvel no palco e chegou a ser vaiado.

RICK PISTOLA 2. O astro principal do show acabaria ficando mais puto da vida ainda com Prince. Acusou o futuro cantor de Purple rain de roubar seus truques de palco, como o ato de virar o microfone. Diz que Prince via atentamente seus shows para copiar tudo, em detalhes. Os dois chegaram a partir para o confronto algumas vezes: James contava que chegou a agarrar Prince pelo pescoço numa festa e a “enfiar conhaque garganta abaixo dele” (oi?).

CIDADEZINHA. Ao final da turnê com James, Prince retornou para Minnesotta, mas não para a populosa Minneapolis, onde nasceu. Foi se meter numa cidade turística, próxima e bem menor, Wayzata, onde montou um estúdio de 16 canais, pago pela Warner. Foi de lá que saíram as demos de Dirty mind que a Warner achou que não renderiam. Prince admitiu depois que a gravadora nem sabia o que ele estava fazendo.

ALIÁS E A PROPÓSITO, na ficha técnica de Dirty mind, o ouvinte fica sabendo que o disco foi gravado em “somewhere in Uptown”, e mais nada.

EU FIZ TUDO. Prince, além de cantar, compor, arranjar, produzir e tocar de tudo um pouco em Dirty mind, ainda por cima autogravava-se a si mesmo no estúdio, já que também foi o técnico de som do disco. Só que assinou a tarefa como Jamie Starr. Era um pseudônimo que ele depois adotaria como engenheiro de som e produtor de discos de artistas vindo de suas bandas. Entre eles, Apollonia 6, Sheila E. e The Time.

EU FIZ (QUASE) TUDO. Prince não “tocou todos os instrumentos” em Dirty mind, como costuma ser dito por aí. Algumas participações superespeciais do álbum estão listadas no encarte: o tecladista Doctor Fink tocou sintetizadores em Head e Dirty mind. Lisa Coleman fez vocais em Head. A contracapa no entanto omite algumas parcerias. Fink coescreveu Dirty mind e Morris Day, vocalista de Prince, coescreveu Party up.

ALIÁS E A PROPÓSITO. Morris deixou a falta de crédito para lá, desde que o patrão Prince produzisse o disco de estreia de sua banda The Time. O músico produziu o disco The Time, em 1981, mas… assinou como Jamie Starr.

FORA DO LP. No meio da tour de Dirty mind, em 1981, Prince lançava pela primeira vez um single que não estava presente num LP seu. Era Gotta stop (Messin’ about), que acabou incluída no repertório da tour, e foi lançada apenas para o mercado britânico. Nos EUA, apareceu como lado B do single Let’s work, naquele mesmo ano.

“GOTTA STOP (MESSIN’ ABOUT)”

CORTARAM. Na Filipinas, Dirty mind, a música, ganhou uma versão single editada, com alguns segundos a menos.

ALIÁS, E NO BRASIL? O segundo disco de Prince, epônimo, foi lançado aqui em 1980. Mas a Warner local não se animou a fazer o mesmo com Dirty mind, que só chegou às lojas brasileiras em 1990. For you saiu quase junto com Dirty mind por aqui nesse ano.

A CAPA, CLARO. Não entende inglês e ficou por fora dos temas das letras de um disco chamado “mente poluída”? Bom, o lay out do álbum não poderia ser mais claro, com Prince de casaco, tanguinha, sem camisa, olhando desafiadoramente para a câmera. A foto de Dirty mind foi feita por Allen Beaulieu, fotógrafo de Minneapolis que se tornaria grande amigo de Prince. Pouco antes do disco, Allen fotografara um desfile chamado Save the blackness, em que pessoas negras apareciam vestidas com roupas negras sobre fundo negro. Aliás, ele fez as fotos em preto e branco. Prince viu as imagens, achou seu nome no cartaz e ligou para ele oferecendo o trabalho.

ENTREVISTA COM ALLEN BEAULIUEU

A CAPA (2). Aquilo que aparece no fundo da foto, por trás de Prince – e se é que você já não reconheceu – são as molas de uma cama. O cantor disse a Allen que fazia questão de ser fotografado numa cama, e apareceu deitado numa das fotos do disco. O fotógrafo fez todas as imagens sozinho, sem nenhum assistente. Anos depois, quando foi fazer imagens para a Rolling Stone, Allen ficou orgulhoso ao ouvir de um colega de redação: “Vi Prince antes de ouvir o som dele”.

ALIÁS E A PROPÓSITO, tem out takes das fotos espalhados pela web, além de uma imagem colorida, que acabou vazando para um pôster do disco.

Várias coisas que você já sabia sobre "Dirty mind", do Prince

A CRÍTICA GOSTOU. Só sendo completamente surdo para não perceber o quanto Dirty mind era um puta disco e o quanto era um álbum inovador, claro. E não custa dizer que a crítica gostou bastante do LP. Robert Christgau comparou Prince a Jim Morrison e John Lennon, e ainda arrematou com uma frase lapidar: “Mick Jagger deveria recolher seu pau e ir para casa”. Na Rolling Stone, Ken Tucker dizia que Prince era um romântico ingênuo nos dois primeiros discos, mas finalmente estava à solta nas sacanagens e na música.

OS SHOWS. A turnê Dirty mind foi de 4 de dezembro de 1980 a 6 de abril de 1981. A banda incluía Bobby Z (bateria), Dez Dickerson (guitarra), Lisa Coleman (teclados), André Cymone (baixo) e Matt Fink (teclados), além de Prince na voz e guitarra. O look do cantor durante o giro incluía desde cópias do visual da capa do disco (cabendo ainda leggings pretas, botas de cano longo e salto alto) até sobretudos e coletes com franjas. O repertório incluía tudo de Dirty mind, acrescido dos hits dos dois primeiros discos. Gotta stop (Messin’ about), inédita que fazia sucesso nos shows, virou single.

QUE É ISSO, RAPAZ? Na turnê, Prince queria usar calças de spandex – tecido colante, geralmente usado em roupas de ginástica e que era tendência na época. Mas queria dispensar o uso de cuecas ao colocar as tais calças. Seus empresários não gostaram muito da ideia e Prince acabou desistindo de dar uma de homem-berinjela nos palcos.

ALIÁS E A PROPÓSITO, ainda que Prince tocasse praticamente tudo em Dirty mind, a banda de palco aparecia numa foto do disco.

Várias coisas que você já sabia sobre "Dirty mind", do Prince

CONTROVÉRSIA. O sucesso de Dirty mind e de outros discos bem explícitos de Prince acendeu uma luz vermelha para vários setores conservadores dos EUA. Pastores televisivos apresentavam o disco como “mau exemplo”. Mas o álbum surfou uma onda bem interessante nos Estados Unidos, numa época em que Ronald Reagan ainda não era o presidente e não havia tanto espaço para o fundamentalismo religioso no dia a dia do país. Aliás, a mira do Parents Music Resource Center, criado na metade dos anos 1980, estava apontada mais para discos subsequentes de Prince, como Purple rain (1984), do hit onanista Darling Nikki.

E JÁ QUE VOCÊ CHEGOU ATÉ AQUI, pega aí o clipe original de Dirty mind. Aliás, curta, entre outras coisas, o visual do tecladista gozador Dr. Fink, que anos antes da pandemia do coronavírus já passava o tempo todo de máscara cirúrgica.

PRINCE – “DIRTY MIND”

Veja também no POP FANTASMA:
– Demos o mesmo tratamento a Physical graffiti (Led Zeppelin), a Substance (New Order), ao primeiro disco do Black Sabbath, a End of the century (Ramones), ao rooftop concert, dos Beatles, a London calling (Clash), a Fun house (Stooges), a New York (Lou Reed), aos primeiros shows de David Bowie no Brasil, a Electric ladyland (The Jimi Hendrix Experience) e a Pleased to meet me (Replacements).
– Demos uma mentidinha e oferecemos “coisas que você não sabe” ao falar de Rocket to Russia (Ramones) e Trompe le monde (Pixies).
– Mais Prince no POP FANTASMA aqui.

Cultura Pop

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Published

on

Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

Continue Reading

Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

Published

on

Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

Continue Reading

Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Published

on

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

  • Apoie a gente e mantenha nosso trabalho (site, podcast e futuros projetos) funcionando diariamente.

Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

Continue Reading
Advertisement

Trending