Lançamentos
Shriving Drawers: banda psicodélica “de desenho” que já lançou EP e single em 2024

Meu primeiro contato com os Shriving Drawers foi por intermédio de um single deles de 2022, o samba lisérgico Dracophobia, creditado a John Mcmahon e Ewa Kopanska, que parecem ser os únicos integrantes fixos desse projeto britânico, bastante marcado pelo mistério.
As fotos de divulgação do grupo, por exemplo, são desenhos. O Instagram da turma é bastante inconclusivo, e repleto de vídeos estranhos (alguns deles não recomendáveis para pessoas sensíveis a luzes e estímulos visuais). Ao pedido de um release, responderam com o seguinte texto: “Shriving Drawers é uma partícula solitária de cinzas de cremação inaladas dos corpos de heróis musicais. Eles preferem contornar a indústria musical tóxica, mas ainda assim desejam encontrar um público heterogêneo que não tenha problemas de controle”.
De qualquer jeito, 2024 tem sido um ano de bastante trabalho, pelo menos em estúdio, para eles. Em 12 de janeiro saiu o EP sacana Fruit, cuja capa traz o desenho de um pênis formado por uma banana, duas ameixas e um pêssego, e cujo repertório está mais para uma mistura bem feita de folk, dream pop e até jazz, nas faixas Banana, Peach, Plum e Plum (Spoiled seed) – os nomes das músicas são as mesmas frutas da capa, enfim.
Nesse ano também saiu Antelope heaven, doo wop cantado com forte sotaque britânico, com letra satírica. “A história cristã do Céu recontada para os antílopes torna toda a narrativa muito mais ridícula. Além disso, os conceitos de bem e mal são diminuídos quando consideramos o horror de ser comido por um carnívoro”, afirmam no Patreon do grupo.
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Crítica
Ouvimos: Panchiko, “Ginkgo”

O 4chan, fórum polêmico repleto de disseminações de ódio, foi responsável pela carreira do grupo inglês Panchiko – um sujeito que frequentava o fórum descobriu em 2020 uma demo descartada deles, que havia sido feita 20 anos antes, e mobilizou uma turma enorme a descobrir quem se tratava daquela turma. Não há relações entre a banda e gente que dissemina discursos escrotos na internet, mas aparentemente a estética quase vaporwave daquelas músicas chamou a atenção da turma.
O grupo já estava fora de atividade há tempos, e os integrantes nem sequer imaginavam que um projeto abandonado (e repleto de estranhices eletrônicas) fosse ser reativado e fazer sucesso. Mas o Panchiko voltou, passou a gravar discos e excursionar, e Ginkgo, o segundo disco feito em tempo real, sai tendo lá suas expectativas. Em especial a expectativa de soar mais uma vez como um disco que poderia soar como uma mensagem na garrafa, jogada no mar há tempos, e que brotou agora (enfim, a graça da coisa).
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Ginkgo, de certa forma, mantém essa mística, unindo eletrônica viajante e um “pé no chão”, às vezes, quase grunge. Logo no começo, tem o pop “antigo” e ambient, com voz tranquila, de Florida; o som celestial e quase ternário da faixa-título; e um soul-lounge com fitas ao contrário em Shandy in the graveyard.
Honeycomb é rock dream pop, com teclados cintilando (piscando quase como se fosse um videogame musical) e clima doído de tão “feliz”. Shelled and cooked tem guitarra e bateria surgindo como lufadas de vento – é uma balada quase anos 80, mas um 80’s com cara 60’s, vamos dizer assim. O mesmo clima toma conta de Rise and fall, um trip hop de quarto, que tem algo da psicodelia beatle.
Já Vinegar é slacker rock arrumadinho, e Macs omelette sugere um encontro entre Pink Floyd e Pavement. Tons eletrônicos e quebrados, além de um ou outro elemento de city pop, dão as caras em faixas como Lifestyle trainers (que depois vira um quase shoegaze), Formula e Innocent, enquanto Chapel of salt parece um Jesus and Mary Chain luminoso e explosivo.
O Panchiko às vezes ameaça parecer com mais um projeto maluco de Thom Yorke, ou com a senha musical psicodélica de bandas como Pond. Mas tem uma cara própria que faz todo mundo ouvir o som experimental do grupo como se fosse uma grande novidade – mesmo que artistas juntando guitarras, teclados, programações e paisagens sonoras não sejam novidade desde os anos 1970. Dá até para usar clichês batidos como “música do futuro” para se referir a eles, mas Ginkgo é só uma boa surpresa.
Nota: 9
Gravadora: Nettwerk Music Group
Lançamento: 4 de abril de 2025.
Crítica
Ouvimos: Shape, “A way out” (EP)

Banda francesa com design sonoro pós-punk, o Shape interessa bastante a quem tem saudades do rock britânico do fim dos anos 1970, e do começo dos anos 1980. A way out, EP de estreia, é basicamente uma carta de amor a bandas como Smiths, Buzzcocks, The Cure e The Sound, com o acréscimo de um baixo “gordo” à frente, disputando espaço com os vocais, em faixas como Paranoia e Hangover, marcadas por um vocal que oscila entre a gravidade de Ian Curtis (Joy Division) e a melancolia de Michael Stipe (R.E.M.).
A way out chega perto da darkwave, por causa da ambiência de Guts, e dos teclados de Inner me e Recovery. Também lança mão de um pós-punk sombrio e nostálgico em Urban theater – basicamente uma música sobre passear, sair por aí, e se distrair dos problemas, mas que mesmo assim, não abre mão do lado sorumbático que marca o EP da banda.
Nota: 8
Gravadora: Independente.
Lançamento: 14 de março de 2025.
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Crítica
Ouvimos: La 126, “Te enteras?” (EP)

“Nunca tenho clareza sobre nada, vamos ver como explico”, dizem Elia Sempere (bateria e vocal); Laura Giner (guitarra e vocal); e Lucía De Bunder (vocal principal e guitarra), as três espanholas do La 126. Te enteras?, EP novo delas, investe num punk pop que faz lembrar tanto de Spice Girls e Shakira quanto de Blondie, No Doubt e Green Day. Segundo o release do EP, a ideia do “você entende?”, do título, vem da ideia de “colocar em palavras o que às vezes nem mesmo a gente entende, reviver um turbilhão emocional tendo o tempo como única bússola”.
Entre guitarras e batidas rápidas, as três enfiam o dedo nas caras de pessoas falsas em geral, e machos escrotos em particular, nas faixas No va contigo, QTHCQE (“¿Quién te has creído que eres?”, em português: “quem você pensa que é?”) e Mis amigas te odian, uma carta de ódio a algum sujeito falso. Te vas, pop punk do final, é que fala sobre a dor da despedida, quase no clima dramático de uma canção que George Shadow Morton faria para as Shangri-Las.
Nota: 7
Gravadora: Pink Flamingos
Lançamento: 14 de março de 2025.
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