Cultura Pop
Relembrando: Smash Mouth, “Astro lounge” (1999)

Não estranhe a noção de que havia um “alternativo de luxo” na virada dos anos 1990 para os 2000, que previa que a “moda nerd” viraria cult de uma hora para a outra. Que previa que “indie rock” se tornaria uma senha, um estilo, dado a visuais cuidadosamente desleixados e recados enviados à geração CBGB’s. E que até Madonna viraria “psicodélica” em Ray of light (1998). E que até os Stone Temple Pilots, raspa do tacho do grunge, virariam uma banda colorida e ligada ao glam rock.
Vindo para o Brasil: essa tendência previa também que uma banda de reggae como o Skank se tornaria um grupo com cara sixties. E que o Los Hermanos largaria o hardcore melódico, e se tornaria uma banda dada a tons sorumbáticos e MPBistas. Captou? Bom, foi nessa tendência que uma banda de Los Angeles chamada Smash Mouth, que fazia ska-punk em seu primeiro álbum, Fush yu mang (1997), estouraria com uma espécie de patinho feio do disco, o single Walkin’ on the sun. Uma música completamente diferente do resto do álbum.
Bom, justamente pelo contraste, na real era um cisne branco e vistoso: a música tinha um balanço sessentista e latinesco (lembrando Zombies), um clima meio lounge e meio psicodélico, e um refrão que você saía decorando só de ouvir.
O álbum vendeu loucamente, mas sim, teve gente ficando decepcionada quando descobria que, fora o single, o disco era repleto de canções pula-pula (e excelentes) como Padrino, Let’s rock, Disconnect the dots, The fonz e a releitura de Why can’t we be friends?, do War (essa virou single e clipe). Mais que isso: as rádios ficaram decepcionadas com as outras faixas do álbum, e até a Interscope, gravadora da banda, pediu um segundo álbum que lembrasse Walkin’, ou a situação ficaria complicada.
“Queremos cinco singles, e quando começamos a conversar sobre compor, queríamos que o disco inteiro fosse tocável no rádio”, garantia o hoje saudoso vocalista Steve Harwell à Spin em agosto de 1999, quando o grupo lançava aquele que quase todo mundo considera hoje o melhor disco da banda, Astro lounge (8 de junho de 1999).
Steve, Paul de Lisle (baixo, voz), Greg Camp (guitarras) e Kevin Coleman (bateria) procuraram cortar pelos dois lados no segundo disco. A ideia era mostrar o que tivessem de melhor, mas garantir airplay nas rádios com algo parecido com o hit principal do grupo. “Mercenários?”, perguntava a Spin. O guitarrista Greg Camp, autor de Walkin’, que por sinal ele havia escrito antes de ingressar no grupo, foi oficializado como principal autor (já era antes, mas ele próprio diz que o Smash Mouth fazia tudo junto no primeiro álbum). Como grande hit feito nos mesmos padrões, saiu uma música melhor ainda, All star.
Não havia ska-punk em Astro lounge. O que vinha por ali era algo bem diferente já na música de abertura, a cosmotrônica Who’s there, aberta com sintetizadores e mellotrons, e com uma letra que falava em “você, você olha para as estrelas em busca de respostas/seu rosto brilhando em azul/você sorri ao pensar/que há algo lá fora”. O clima era de trilha de série antiga de TV recauchutada (Monkees era um padrão a ser seguido), de atração televisiva vintage reapresentada para as novas gerações, em tempos de Austin Powers.
Diggin’ your scene era meio lounge, meio Kinks, com riff de órgão. I just wanna see era rock barroco com batida de hip hop – ou com alguma batida que se fosse feita nos anos 1960, seria sampleada por algum beatmaker, dá no mesmo. Waste era glam rock nas estrelas, com batida dançante. Tinha ainda o megahit All star, mais cantarolável ainda que Walkin’ on the sun, um recado da banda para si própria depois do sucesso: “Ei, agora você é uma estrela do rock/comece seu jogo, vá jogar/comece o show, seja pago”, e um samba psicodélico, Satellite.
Era para esse lado, da diversidade e da loucura musical, que apontava o mercado na virada de século. E Astro lounge ainda trazia outra pérolas, como a britânica e doidona Stoned, levada adiante com um refrão beatle e sons de teclados vintage. Walkin’ on the sun ganhava um irmão quase gêmeo com Then the morning comes. O lado introspectivo do álbum era reforçado com a bela e tristonha Fallen horses, ainda assim quase tão dançante quanto o resto do disco. E o mais próximo do disco anterior em Astro lounge eram a ska-new wave Come on, come on e o reggae interestelar Home. Se alguém fizer uma lista de “discos dos anos 1990 sem nenhuma música ruim” e esquecer de Astro lounge, desconfie.
Astro lounge foi platina tripla, e o Smash Mouth, uma banda que quase pedia para estar nas telonas de alguma forma, foi parar na trilha do infantil Shrek – com All star e uma versão de I’m a believer, dos (veja só) Monkees, que tocou muito no rádio, até no Brasil. O grupo prosseguiu como algo entre o Sugar Ray (outra banda californiana dos anos 1990 que havia virado mania) e o rap rock novaiorquino do Fun Lovin Criminals, só que por um viés mais festeiro – em 2001, no disco Smash Mouth, samplearam Love’s theme, de Barry White, no hit Pacific Coast party.
Viradas no mercado, mudanças na formação (o hitmaker Camp saiu em 2008), problemas pessoais, escrotices e negacionismo (os três últimos da parte de Harwell) causaram mil problemas ao Smash Mouth, que infelizmente se manteve mais na encolha na chegada do novo século. O grupo vinha circulando numa formação sem o vocalista desde 2021. Talvez siga assim.
Cultura Pop
No nosso podcast, Alanis Morissette da pré-história a “Jagged little pill”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. No segundo e penúltimo episódio desse ano, o papo é um dos maiores sucessos dos anos 1990. Sucesso, aliás, é pouco: há uns 30 anos, pra onde quer que você fosse, jamais escaparia de Alanis Morissette e do seu extremamente popular terceiro disco, Jagged little pill (1995).
Peraí, “terceiro” disco? Sim, porque Jagged era só o segundo ato da carreira de Alanis Morissette. E ainda havia uma pré-história dela, em seu país de origem, o Canadá – em que ela fazia um som beeeem diferente do que a consagrou. Bora conferir essa história?
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: Capa de Jagged little pill). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
Ouça a gente preferencialmente no Castbox. Mas estamos também no Mixcloud, no Deezer e no Spotify.
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Cultura Pop
No nosso podcast, Radiohead do começo até “OK computer”

Você pensava que o Pop Fantasma Documento, nosso podcast, não ia mais voltar? Olha ele aqui de novo, por três edições especiais no fim de 2025 – e ano que vem estamos de volta de vez. Para abrir essa pequena série, escolhemos falar de uma banda que definiu muita coisa nos anos 1990 – aliás, pra uma turma enorme, uma banda que definiu tudo na década. Enfim, de técnicas de gravação a relacionamento com o mercado, nada foi o mesmo depois que o Radiohead apareceu.
E hoje a gente recorda tudo que andava rolando pelo caminho de Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Ed O’Brien e Phil Selway, do comecinho do Radiohead até a era do definidor terceiro disco do quinteto, OK computer (1997).
Edição, roteiro, narração, pesquisa: Ricardo Schott. Identidade visual: Aline Haluch (foto: reprodução internet). Trilha sonora: Leandro Souto Maior. Vinheta de abertura: Renato Vilarouca. Estamos aqui de quinze em quinze dias, às sextas! Apoie a gente em apoia.se/popfantasma.
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4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
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