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Cultura Pop

Trinta clássicos e obscuridades de Raul Seixas

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Trinta clássicos e obscuridades de Raul Seixas

Quando morreu, há exatos trinta anos, o roqueiro baiano Raul Seixas, ironicamente, renasceu. Foi redescoberto por fãs antigos (o cantor sumira dos palcos por alguns anos e chegou num ponto em que, como dizia o parceiro Marcelo Nova, “não havia mais carreira”), virou trilha sonora de vários novos fãs que eram crianças na época do sucesso Gita (1974) e sua obra passou a desfrutar de um status bem diferente no jogo de xadrez da MPB. Canções de Raul que tocaram bastante no rádio entre os anos 1970 e 1980 se tornaram clássicos e peças cultuadas. E do baú do cantor surgiram ainda itens que pouca gente associava a ele, como as músicas compostas para Jerry Adriani e Leno.

“VOCÊ AINDA PODE SONHAR” (Raulzito e os Panteras, 1968). “Pode parar! Entrem no primeiro ônibus de volta para a Bahia. Esse tipo de música tem 14 mil conjuntos fazendo igual. Raulzito, ainda por cima, é nome de cantor de bolero!”. Foi assim, dessa maneira calorosa, que o grupo liderado por Raul Seixas nos anos 60 foi recebido pelo produtor e empresário Carlos Imperial, quando eram apenas a banda de acompanhamento de Jerry Adriani e tentavam voos mais altos. O único disco lançado pelo grupo é um nugget sessentista sem muito brilho, mas destaca músicas como Trem 103, Dorminhoco e essa versão de Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles – que o Ira! regravaria em 1991.

“SEU TÁXI ESTÁ ESPERANDO” (do álbum de Jerry Adriani Jerry, de 1970). Ao entrar na CBS para trabalhar como produtor, uma das primeiras funções de Raul foi passar um bombril na carreira do astro Jerry Adriani – que havia sido o responsável por sua ida para a gravadora. Pôs o cantor para posar de Elvis Presley na capa de Jerry, recrutou jovens compositores (como o futuro soulman Hyldon) para compor e inseriu mais rock, blues e soul no seu repertório. Seu táxi está esperando é uma das melhores músicas de Raulzito (como assinava na época) gravadas pelo jovemguardista. Doce doce amor, maior hit de Raul gravado por Jerry, sairia em 1972 no disco Pense em mim, quando o baiano já estava partindo para outra.

https://www.youtube.com/watch?v=m772tgyXqis

“SENTADO NO ARCO ÍRIS” (do álbum de Leno Vida e obra de Johnny McCartney, gravado em 1970/1971 e só lançado em 1995). Cortado pela censura em 1971 e transformado em compacto duplo, o álbum de Leno produzido por Raul trouxe parcerias dos dois, sempre acompanhados por bandas como A Bolha e Renato & Seus Blue Caps. Esse hard rock, que traz o baiano nos backing vocals, é tido como a primeira obra “política” escrita pelo então compositor popular Raulzito – que costumava dizer a Leno o quanto se orgulhava de tê-la feito.

“VÊ SE DÁ UM JEITO NISSO” (do álbum Trio Ternura, de 1971). O trio de irmãos formado no final da jovem guarda (e sempre confundido com o Trio Esperança, de mais duas irmãs e um irmão dos Golden Boys) gravou um inventivo e curioso disco em 1971 “produzido por Raul Seixas”. Além de recrutar autores como Sérgio Hinds, Dalto, Fred Falcão, Hyldon e Carlos Imperial para compor para o grupo, incluiu Vê se dá um jeito nisso, parceria com Mauro Motta e Sérgio Sampaio (creditado como Sérgio Augusto). E atendendo ao seu desejo de cantar, deu um jeito de se enfiar nos backing vocals da canção.

“DR. PAXECO” (Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta Sessão das 10, 1971). Gravado por Raul ao lado de três talentos contratados por ele para a antiga CBS (Sergio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada), esse disco traz piadas musicais no estilo de Frank Zappa, vinhetas, letras críticas e um flerte com a psicodelia inaudito em outros álbuns do cantor. Com longa introdução e instrumentação lembrando nuggets perdidos da jovem guarda, essa música é um dos melhores momentos do álbum.

https://www.youtube.com/watch?v=KHe97WvPwhs

“AOS TRANCOS E BARRANCOS” (Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta Sessão das 10, 1971). Do mesmo disco: um curioso e raro samba (!) composto e cantado por Raul.

https://www.youtube.com/watch?v=4vaY6VLU47g

“OBJETO VOADOR” (do álbum Leno & Lilian, de 1972). Em meio à parceria com Leno, Raul conseguiu emplacar essa música no repertório da dupla do amigo com Lilian, fazendo referência a Mr. Spaceman, dos Byrds. Em 1974, Objeto voador ressurgiu como SOS no disco Gita.

https://www.youtube.com/watch?v=4IXQ4Ilpzyo

“PODE VIR QUENTE QUE EU ESTOU FERVENDO” (Os 24 maiores sucessos da era do rock, 1972). Antes de estrear como cantor solo, gravando discos com seu nome, Raul surgiu como crooner de um grupo-armação chamado Rock Generation (na verdade sua própria banda de shows e estúdio, com músicos como Jay Vaquer na guitarra) em uma coletânea-picadinho de clássicos do rock produzida por Nelson Motta. A versão do clássico gravado por Erasmo Carlos tocou em rádio (com Raul falando “felvendo” em vez de “fervendo”) e reapareceu recentemente num comercial de banco.

“LET ME SING MY ROCK´N ROLL” (compacto, 1972). A música que mostrou de verdade ao Brasil quem era Raul Seixas – que, na época, era um rapaz magrelo, de cabelos curtos, topete e casaco de couro, que dançava rock e forró na frente da plateia do Festival Internacional da Canção, exibido pela Rede Globo. Não havia ainda Paulo Coelho. Raul era apenas uma promessa da Philips (hoje Universal), contratado para fazer o que quisesse: cantar, compor, produzir…

“OURO DE TOLO” (Krig ha bandolo!, 1973). Com melodia lembrando um pouco Set you free this time, dos Byrds, Raul solta uma letra que deveria ser lembrada em momentos cruciais como: planos econômicos do governo, campanhas eleitorais, Copas do Mundo, Olimpíadas, carnavais e em todos os momentos em que é possível se sentir num jardim zoológico dando pipocas aos macacos. Obrigatório.

“CAROÇO DE MANGA” (da trilha da novela A volta de Beto Rockfeller, 1973). O retorno do personagem imortalizado pelo ator Luiz Gustavo trouxe, em sua trilha sonora, uma interessante mistura pop, que incluía Bee Gees (My life has been a song, Method to my madness), The Osmonds (That’s my girl), o dueto entre James Brown e Lyn Collins (The guy/This girl’s in love), Jorge Ben (Jazz potatoes) e o forró-soul de Raul.

“LOTERIA DA BABILÔNIA” (do LP Phono 73, 1973). A Sociedade Alternativa (tentativa de comunidade esotérica, criada por Raul e Paulo Coelho) nasceu no palco do Anhembi, em São Paulo, quando Raul cantou essa música e, de peito nu, pintou a “chave” da agremiação em seu próprio corpo. No volume 1 do trio de discos Phono 73, essa música e seu arranjo (inspiradíssimo em How many more times, do Led Zeppelin, que já era uma chupação do blueseiro Willie Dixon) aparecem em versão mais crua. No álbum Gita, o produtor Mazzola manteve a base (e as palmas), regravou vocais e acrescentou metais regidos por Erlon Chaves.

“PRELÚDIO” (Gita, 1974). Vinheta orquestrada cujo único verso (“sonho que se sonha só/é só um sonho que se sonha só/mas sonho que se sonha junto é realidade”) foi, digamos, levemente chupado de Now or never, de Yoko Ono. Algo que não atrapalha a beleza e o esoterismo de um dos mais belos momentos de Gita.

“UM SOM PARA LAIO” (da trilha da novela O rebu, 1974). Composta para a trilha de O rebu original, de 1974, foi feita para um personagem que não reapareceu no remake que a Globo levou ao ar recentemente (Laio, interpretado por Carlos Vereza). Foi gravado por Raul com A Bolha. O som é mais próximo do hard rock.

“NÃO PARE NA PISTA” (compacto, 1974). Curioso power pop incluído num compacto e no álbum do festival Hollywood rock, em 1975 (mas com a inclusão de palmas pré-gravadas). Mais uma vez, traz A Bolha no acompanhamento.

“NOVO AEON” (Novo aeon, 1975). Em tom country-hard-rock (com uma inesperada participação de Altamiro Carrilho em um solinho de flauta), Raul, com os parceiros Marcelo Motta e Claudio Roberto, fala sobre mudanças de ciclos mágicos e revoluções silenciosas na humanidade. E prega corajosamente “o direito de ter riso e de prazer/e até direito de deixar Jesus sofrer”.

“O PRÍNCIPE VALENTE” – LUIZA MARIA (do álbum de Luiza Maria Eu queria ser um anjo, de 1975). Parceria com Paulo Coelho que foi parar no primeiro disco da cantora carioca Luiza Maria, com produção de Rick Ferreira (guitarrista de quase todos os álbuns de Raul) e participações de Dadi (A Cor do Som), Sergio Dias (Mutantes), Arnaldo Brandão (A Bolha), Jim Capaldi (Traffic) e outros,

“EU TAMBÉM VOU RECLAMAR” (Há dez mil anos atrás, 1976). Country-rock sem refrão e com letra enorme, zoando novidades pop lançadas no mercado nos anos 70 e que costumavam ser associadas a Raul: Belchior (“agora eu sou apenas um rapaz latino americano/que não tem cheiro nem sabor”), Hermes Aquino (“e sendo nuvem passageira não me leva nem à beira/disso tudo que eu quero chegar”) e Silvio Brito (“ligo o rádio e ouço um chato/que me grita nos ouvidos: ‘Pare o mundo que eu quero descer'”).

“QUANDO VOCÊ CRESCER” (Há dez mil anos atrás, 1976). Se tivesse outra letra, essa música, com piano elétrico e discretas guitarras, poderia estar no repertório de Hyldon ou Carlos Dafé. Nas mãos de Raul, tornou-se uma música sobre as convenções e chatices da “vida de adulto”.

“O HOMEM” (Há dez mil anos atrás, 1976). Num disco conhecido por sua bipolaridade, Raul Seixas esfrega tristeza na cara do ouvinte, neste gospel com cordas chorosas. Curiosamente, a letra traz renascimento e crescimento pessoal após a depressão, lembrando o discurso de Renato Russo em O descobrimento do Brasil, álbum de 1994 da Legião Urbana.

https://www.youtube.com/watch?v=iW1hx5QBAwM

“JUDAS” (Mata virgem, 1978). De volta (breve) à parceria com Paulo Coelho, Raul gravou seu melhor disco na Warner, Mata virgem, com uma constelação de músicos de estúdio (Antonio Adolfo e Pepeu Gomes entre eles). Judas, narrada “em primeira pessoa” pelo personagem bíblico, é um curioso flerte com a disco music. Paulo Coelho é o “narrador” da abertura da faixa (“quem é você?”, etc).

“ILHA DA FANTASIA” (Por quem os sinos dobram, 1979). Um dos poucos momentos de respiração num dos mais confusos e estranhos álbuns de Raul, todo composto em parceria com o argentino Oscar Rasmussen, com quem dividiu apartamento em Copacabana. Na época, o baiano arrumou sérias encrencas ao contratar uma equipe de caratecas argentinos como seguranças. Um deles, ligado ao tráfico, foi assassinado a tiros no apartamento de Raul.

“ALUGA-SE” (Abre-te sésamo, 1980). Protesto bem humorado e desaforado, com solos de guitarra de um jovem músico chamado Celso Blues Boy. Regravada anos depois pelo Camisa de Vênus e pelos Titãs. Segundo o guitarrista Rick Ferreira, o “grande Soluça!”, gritado por Raul antes de um dos solos, seria um apelido que o cantor deu para Celso.

“O CARIMBADOR MALUCO” (do disco Raul Seixas, 1983). Compondo e cantando o tema de abertura do infantil Plunct plact zummm, Raul reinventou-se no mercado, chamou a atenção de um improvável público infantil e, de certa forma, se enfiou a seu modo no circo pop dos anos 80.

https://www.youtube.com/watch?v=KV38MHX4ALw

“MAMÃE EU NÃO QUERIA” (do disco Metrô linha 743, de 1984). Censurada e proibida para execução em rádio, a criação de Raul em cima de I don’t want to be a soldier, mama, de John Lennon, traz o cantor, digamos, parecendo um tanto quanto etilicamente alterado. Kika Seixas surge logo na introdução fazendo “o papel” de mãe do artista.

“GERAÇÃO DA LUZ” (do disco Metrô linha 743, de 1984). O testamento de Raul, gravado para o Plunct plact zummm 2, cinco anos antes do cantor morrer.

“MUITA ESTRELA POUCA CONSTELAÇÃO” (do disco do Camisa de Vênus Duplo sentido, de 1987). Rara participação de Raul num disco de outro artista e mais rara ainda relação do cantor com um grupo de rock brasileiro dos anos 80. Em parceria com Marcelo Nova (com quem gravaria um álbum, A panela do diabo, em 1989), o baiano fez vocais e ainda assinou a letra.

“A LEI” (A pedra do gênesis, 1988). No penúltimo disco de Raul, voltam à capa o “imprimatur” (imprima-se, em latim, como nos primeiros escritos católicos) da Sociedade Alternativa e o logotipo do cantor escrito em fontes góticas. Na capa, o cantor aparece numa foto de 1974, segurando um livro de magia. Em A lei, Raul compõe um funk torto usando o refrão de Sociedade alternativa e lendo textos de Aleister Crowley quase na íntegra.

“LUA BONITA” (A pedra do gênesis, 1988). Cantando com um fiapo de voz no fim da carreira (seus últimos discos foram gravados em meio a muito abuso de álcool), Raul faz chorar ao reler um clássico do compositor paraibano Zé do Norte – autor também de Sodade meu bem, sodade e, alega-se, de Mulher rendeira.

“NUIT” (A panela do diabo, 1989). Momento solo de Raul em seu último disco, gravado em dupla com Marcelo Nova. Sobra de um disco-fantasma do baiano, também chamado Nuit (que chegou a ser anunciado por ele em 1981), a balada de Raul e Kika Seixas foi a última canção gravada por ele no álbum, com as luzes do estúdio todas apagadas. “Todos na sala de gravação estavam com os olhos rasos d’água, porque entenderam que aquela era uma letra de despedida”, contou o produtor Pena Schmidt em 1999 à Trip.

Ricardo Schott é jornalista, radialista, editor e principal colaborador do POP FANTASMA.

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

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Urgente!: O silêncio que Bruce Springsteen não quebrou

Tá aí o que muita gente queria: Bruce Springsteen vai lançar uma caixa com sete álbuns “perdidos”, nunca lançados oficialmente. O box vai se chamar Tracks II: The lost albums (é a continuidade de Tracks, caixa de 4 CDs lançada em 1998) e nasceu de uma limpeza que Bruce fez nos seus arquivos durante a pandemia. Pelo que se sabe até agora, o material inclui sobras das sessões de Born in the USA (1984) e gravações da fase eletrônica dele, no comecinho dos anos 1990 – inclusive um disco inteiro desse período, que nunca viu a luz do dia.

Essa notícia caiu nos sites na semana passada e trouxe de volta um detalhe que os fãs de Bruce já conhecem bem: ele tem muito material inédito guardado – e material bom. Em uma entrevista à Variety em 2017, ele mesmo comentou que sabia ter feito mais discos do que os que lançou, mas que havia motivos sérios para manter alguns deles nas gavetas.

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“Por que não lançamos esses discos? Não achei que fossem essenciais. Posso ter achado que eram bons, posso ter me divertido fazendo, e lançamos muitas dessas músicas em coleções de arquivo ao longo dos anos. Mas, durante toda a minha vida profissional, senti que liberava o que era essencial naquele momento. E, em troca, recebi uma definição muito precisa de quem eu era, o que eu queria fazer, sobre o que estava cantando”, disse na época (o link do papo tá aqui – é uma entrevista longa e bem legal).

Com o tempo, vários desses registros acabaram saindo em boxes e coletâneas. Um deles foi The ties that bind, um disco de pegada punk-power pop que seria lançado no Natal de 1979 – e que acabou virando uma espécie de esboço inicial do disco duplo The river, de 1980. Pelo menos saiu uma caixa em 2015 chamada The ties that bind: The River collection, com todo o material dessa época, inclusive o tal disco descartado (além de um material que formava quase um suposto disco de punk + power pop que teria sido abandonado).

Um texto publicado na newsletter do músico Giancarlo Rufatto recorda que Bruce infelizmente deixou de fora do novo box alguns álbuns que realmente mereciam ver a luz do dia. Um deles é um álbum solo (sem a E Street Band, enfim), com uma sonoridade country ’n soul, que foi gravado em 1981. Esse disco teria sido abandonado durante um período de depressão, que resultou em isolamento e na elaboração do disco cru Nebraska (1982), feito em casa com um gravador de quatro canais, só voz e violão.

Bruce até parece fazer referência a esse álbum perdido na entrevista da Variety. “Esse disco é influenciado pela música pop da Califórnia dos anos 70”, contou. “Glen Campbell, Jimmy Webb, Burt Bacharach, esse tipo de som. Não sei se as pessoas vão ouvir essas influências, mas era isso que eu tinha em mente. Isso me deu uma base pra criar, uma inspiração pra escrever. E também é um disco de cantor e compositor. Ele se conecta aos meus discos solo em termos de composição, mais Tunnel of love e Devils and dust, mas não é como eles. São apenas personagens diferentes vivendo suas vidas.”

Outro material bastante esperado pelos fãs – e que também não está na caixa – é o Electric Nebraska, a tentativa de Bruce de gravar com a E Street Band as músicas que acabaram no Nebraska. Nem ele, nem o empresário Jon Landau, nem os co-produtores Steven Van Zandt e Chuck Plotkin gostaram do resultado, e as gravações foram trancadas a sete chaves. Nem em bootlegs esse material apareceu até hoje. Pra você ter ideia, Glory days, que só sairia no Born in the USA (1984), chegou a ser ensaiada e gravada junto.

Quase todo mundo próximo a Bruce acredita que ele nunca vai lançar oficialmente essas gravações elétricas do Nebraska. Max Weinberg, baterista da E Street Band desde 1974 (com algumas pausas), confirmou a existência desse material em 2010, numa entrevista à Rolling Stone, e disse que adoraria ver tudo lançado.

“A E Street Band realmente gravou todo o Nebraska, e foi matador. Era tudo muito pesado. Por melhor que fosse, não era o que Bruce queria lançar. Existe um álbum completo do Nebraska, todas essas músicas estão prontas em algum lugar”, revelou. Bruce pode até guardar discos inteiros na gaveta, mas esse é um daqueles casos em que o silêncio guarda várias histórias – que podem render surpresas bem legais.

E ese aí é o lyric video de Rain in the river, uma das faixas programadas para Tracks II (a faixa sai num disco montado durante a elaboração do box, Perfect world).

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Cultura Pop

Urgente!: Supergrass, Spielberg e um atalho recusado

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Coisas que você descobre por acaso: numa conversa de WhatsApp com o amigo DJ Renato Lima, fiquei sabendo que, nos anos 1990, Steven Spielberg teve uma ideia bem louca. Ele queria reviver o espírito dos Monkees – não com uma nova versão da banda, como uma turma havia tentado sem sucesso nos anos 1980, mas com uma nova série de TV inspirada neles. E os escolhidos para isso? O Supergrass.

O trio britânico, que fez sucesso a reboque do britpop, estava em alta em 1995, quando lançou seu primeiro álbum, I should coco. Hits como Alright grudavam na mente, os vídeos eram cheios de energia, e Gaz Coombes, o vocalista, tinha cara de quem poderia muito bem ser um monkee da sua geração. Spielberg ouviu a banda por intermédio dos filhos, gostou e fez o convite.

Os ingleses foram até a Universal Studios para uma reunião com o diretor – com direito a recepção no rancho dele e papo sobre fase bem antigas da série televisiva Além da imaginação. O papo sobre a série, diz Coombes, foi proposital, porque a banda sacou logo onde aquilo poderia dar. “Talvez eu estivesse tentando antecipar a abordagem cafona que seria sugerida, tipo a banda morando junta como os Monkees”, contou Coombes à Louder, que publicou um texto sobre o assunto.

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A proposta era tentadora. Mas eles disseram não. “Foi lisonjeiro e muito legal, mas ficou óbvio para nós que não queríamos pegar esse atalho”, explicou o vocalista, afirmando ter pensado que aquilo poderia significar o fim do grupo. “Você pode acabar morrendo em um quarto de hotel ou algo assim, ou então a produção quer apenas um de nós para a próxima temporada. Foi muito engraçado, respeitosamente muito engraçado”.

O tempo passou. E agora, em 2025, I should coco completa 30 anos (mas já?). O Supergrass, que se separou no fim dos anos 2000, voltou para tocar o disco na íntegra e alguns hits em festivais como Glastonbury e Ilha de Wight.

Aqui, o trio no Glastonbury de 2022.

Foro: Keira Vallejo/Wikipedia

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Crítica

Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

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Ouvimos: Lady Gaga, “Mayhem”

Tudo que é mais difícil de explicar, é mais complicado de entender – mesmo que as intenções sejam as melhores possíveis e haja um verniz cultural-intelectual robusto por trás. Isso vale até para desfiles de escolas de samba, quando a agremiação mais armada de referências bacanas e pesquisas exaustivas não vence, e ninguém entende o que aconteceu.

Carnaval, injustiças e polêmicas à parte, o novo Mayhem foi prometido desde o início como um retorno à fase “grêmio recreativo” de Lady Gaga. E sim, ele entrega o que promete: Gaga revisita sua era inicial, piscando para os fãs das antigas, trazendo clima de sortilégio no refrão do single Abracadabra (que remete ao começo do icônico hit Bad romance), e mergulhando de cabeça em synthpop, house music, boogie, ítalo-disco, pós-disco, rock, punk (por que não?) e outros estilos. Todas essas coisas juntas formam a Lady Gaga de 2025.

Algo vinha se perdendo ou sendo deixado de lado na carreira de Lady Gaga há algum tempo, e algo que sempre foi essencial nela: a capacidade de usar sua música e sua persona para comentar o próprio pop. David Bowie fazia isso o tempo todo – e ele, que praticamente paira como um santo padroeiro sobre Mayhem, é uma influência evidente em Vanish into you, uma das faixas que melhor representam o disco. Aqui, Gaga entrega dance music com alma roqueira, um baixo irresistível e um batidão que evoca tanto a fase noventista de Bowie quanto o synthpop dos anos 1980.

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Mais coisas foram sendo deixadas de lado na carreira dela que… Bom, sao coisas quase tão difíceis de explicar quanto as razões que levaram Gaga a criar um álbum considerado “difícil” como Artpop (2013), enquanto simultaneamente mergulhava no jazz com Tony Bennett e preparava-se para abraçar o soft rock no formidável Joanne (2016), um disco autorreferente que talvez tenha deixado os fãs da primeira fase perdidos. Em outro tempo, Madonna parecia autorizada a mudar como quisesse, mas quando Gaga fazia o mesmo, deixava no ar notas de desencontro e confusionismo. O pop mudou, as décadas passaram, o público mudou – e todas as certezas evaporaram.

É nesse cenário que Mayhem equilibra as coisas, entregando um pop dançante, consciente e orgulhoso de sua essência, mas ao mesmo tempo sombrio e marginal. Há momentos de caos organizado, como em Disease e Perfect celebrity – esta última começa soando como Nine Inch Nails, mas, se você mexer daqui e dali, pode até enxergar um nu-metal na estrutura. Killah traz uma eletrônica suja, um refrão meio soul, meio rock que caberia num disco do Aerosmith, enquanto Zombieboy aposta no pós-disco punk, evocando terror e êxtase na pista (por acaso, Gaga chegou a dizer que o disco tem influências de Radiohead, e confirmou o NiN como referência).

Na reta final, o álbum se aventura por outros terrenos: How bad do U want me e Don’t call tonight flertam com o pop dinamarquês dos anos 90 (e são, por sinal, as únicas faixas pouco inspiradas do disco); The beast tem cara de trilha sonora de comercial de cerveja; e Lovedrug mergulha na indefectível tendência soft rock que surge hoje em dia em dez entre dez discos pop. Essa faixa soa como um híbrido entre Fleetwood Mac e Roxette – como se Gaga  estivesse pensando também na programação das rádios adultas de 2035.

O desfecho de Mayhem chega como um presente para o ouvinte: Blade of grass é uma balada melancólica de violão e piano, que ecoa tanto a tristeza folk dos anos 70 quanto a melancolia do ABBA, crescendo em inquietação à medida que avança. E então, como quem perde um pouco o tom, o álbum termina com… Die with a smile, a já conhecida balada country-soul gravada em parceria com Bruno Mars, lançada há tempos como single. Dentro do contexto do disco, ela soa mais como um apêndice do que como um encerramento – uma nota de rodapé onde se esperava um ponto final. Nada que chegue a atrapalhar a certeza de que Lady Gaga conseguiu, mais do que retornar ao passado, unir quase todos os seus fãs em Mayhem.

Nota: 8,5
Gravadora: Interscope
Lançamento: 7 de março de 2025.

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