Cultura Pop
Trinta clássicos e obscuridades de Raul Seixas

Quando morreu, há exatos trinta anos, o roqueiro baiano Raul Seixas, ironicamente, renasceu. Foi redescoberto por fãs antigos (o cantor sumira dos palcos por alguns anos e chegou num ponto em que, como dizia o parceiro Marcelo Nova, “não havia mais carreira”), virou trilha sonora de vários novos fãs que eram crianças na época do sucesso Gita (1974) e sua obra passou a desfrutar de um status bem diferente no jogo de xadrez da MPB. Canções de Raul que tocaram bastante no rádio entre os anos 1970 e 1980 se tornaram clássicos e peças cultuadas. E do baú do cantor surgiram ainda itens que pouca gente associava a ele, como as músicas compostas para Jerry Adriani e Leno.
“VOCÊ AINDA PODE SONHAR” (Raulzito e os Panteras, 1968). “Pode parar! Entrem no primeiro ônibus de volta para a Bahia. Esse tipo de música tem 14 mil conjuntos fazendo igual. Raulzito, ainda por cima, é nome de cantor de bolero!”. Foi assim, dessa maneira calorosa, que o grupo liderado por Raul Seixas nos anos 60 foi recebido pelo produtor e empresário Carlos Imperial, quando eram apenas a banda de acompanhamento de Jerry Adriani e tentavam voos mais altos. O único disco lançado pelo grupo é um nugget sessentista sem muito brilho, mas destaca músicas como Trem 103, Dorminhoco e essa versão de Lucy in the sky with diamonds, dos Beatles – que o Ira! regravaria em 1991.
“SEU TÁXI ESTÁ ESPERANDO” (do álbum de Jerry Adriani Jerry, de 1970). Ao entrar na CBS para trabalhar como produtor, uma das primeiras funções de Raul foi passar um bombril na carreira do astro Jerry Adriani – que havia sido o responsável por sua ida para a gravadora. Pôs o cantor para posar de Elvis Presley na capa de Jerry, recrutou jovens compositores (como o futuro soulman Hyldon) para compor e inseriu mais rock, blues e soul no seu repertório. Seu táxi está esperando é uma das melhores músicas de Raulzito (como assinava na época) gravadas pelo jovemguardista. Doce doce amor, maior hit de Raul gravado por Jerry, sairia em 1972 no disco Pense em mim, quando o baiano já estava partindo para outra.
https://www.youtube.com/watch?v=m772tgyXqis
“SENTADO NO ARCO ÍRIS” (do álbum de Leno Vida e obra de Johnny McCartney, gravado em 1970/1971 e só lançado em 1995). Cortado pela censura em 1971 e transformado em compacto duplo, o álbum de Leno produzido por Raul trouxe parcerias dos dois, sempre acompanhados por bandas como A Bolha e Renato & Seus Blue Caps. Esse hard rock, que traz o baiano nos backing vocals, é tido como a primeira obra “política” escrita pelo então compositor popular Raulzito – que costumava dizer a Leno o quanto se orgulhava de tê-la feito.
“VÊ SE DÁ UM JEITO NISSO” (do álbum Trio Ternura, de 1971). O trio de irmãos formado no final da jovem guarda (e sempre confundido com o Trio Esperança, de mais duas irmãs e um irmão dos Golden Boys) gravou um inventivo e curioso disco em 1971 “produzido por Raul Seixas”. Além de recrutar autores como Sérgio Hinds, Dalto, Fred Falcão, Hyldon e Carlos Imperial para compor para o grupo, incluiu Vê se dá um jeito nisso, parceria com Mauro Motta e Sérgio Sampaio (creditado como Sérgio Augusto). E atendendo ao seu desejo de cantar, deu um jeito de se enfiar nos backing vocals da canção.
“DR. PAXECO” (Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta Sessão das 10, 1971). Gravado por Raul ao lado de três talentos contratados por ele para a antiga CBS (Sergio Sampaio, Edy Star e Miriam Batucada), esse disco traz piadas musicais no estilo de Frank Zappa, vinhetas, letras críticas e um flerte com a psicodelia inaudito em outros álbuns do cantor. Com longa introdução e instrumentação lembrando nuggets perdidos da jovem guarda, essa música é um dos melhores momentos do álbum.
https://www.youtube.com/watch?v=KHe97WvPwhs
“AOS TRANCOS E BARRANCOS” (Sociedade da grã-ordem kavernista apresenta Sessão das 10, 1971). Do mesmo disco: um curioso e raro samba (!) composto e cantado por Raul.
https://www.youtube.com/watch?v=4vaY6VLU47g
“OBJETO VOADOR” (do álbum Leno & Lilian, de 1972). Em meio à parceria com Leno, Raul conseguiu emplacar essa música no repertório da dupla do amigo com Lilian, fazendo referência a Mr. Spaceman, dos Byrds. Em 1974, Objeto voador ressurgiu como SOS no disco Gita.
https://www.youtube.com/watch?v=4IXQ4Ilpzyo
“PODE VIR QUENTE QUE EU ESTOU FERVENDO” (Os 24 maiores sucessos da era do rock, 1972). Antes de estrear como cantor solo, gravando discos com seu nome, Raul surgiu como crooner de um grupo-armação chamado Rock Generation (na verdade sua própria banda de shows e estúdio, com músicos como Jay Vaquer na guitarra) em uma coletânea-picadinho de clássicos do rock produzida por Nelson Motta. A versão do clássico gravado por Erasmo Carlos tocou em rádio (com Raul falando “felvendo” em vez de “fervendo”) e reapareceu recentemente num comercial de banco.
“LET ME SING MY ROCK´N ROLL” (compacto, 1972). A música que mostrou de verdade ao Brasil quem era Raul Seixas – que, na época, era um rapaz magrelo, de cabelos curtos, topete e casaco de couro, que dançava rock e forró na frente da plateia do Festival Internacional da Canção, exibido pela Rede Globo. Não havia ainda Paulo Coelho. Raul era apenas uma promessa da Philips (hoje Universal), contratado para fazer o que quisesse: cantar, compor, produzir…
“OURO DE TOLO” (Krig ha bandolo!, 1973). Com melodia lembrando um pouco Set you free this time, dos Byrds, Raul solta uma letra que deveria ser lembrada em momentos cruciais como: planos econômicos do governo, campanhas eleitorais, Copas do Mundo, Olimpíadas, carnavais e em todos os momentos em que é possível se sentir num jardim zoológico dando pipocas aos macacos. Obrigatório.
“CAROÇO DE MANGA” (da trilha da novela A volta de Beto Rockfeller, 1973). O retorno do personagem imortalizado pelo ator Luiz Gustavo trouxe, em sua trilha sonora, uma interessante mistura pop, que incluía Bee Gees (My life has been a song, Method to my madness), The Osmonds (That’s my girl), o dueto entre James Brown e Lyn Collins (The guy/This girl’s in love), Jorge Ben (Jazz potatoes) e o forró-soul de Raul.
“LOTERIA DA BABILÔNIA” (do LP Phono 73, 1973). A Sociedade Alternativa (tentativa de comunidade esotérica, criada por Raul e Paulo Coelho) nasceu no palco do Anhembi, em São Paulo, quando Raul cantou essa música e, de peito nu, pintou a “chave” da agremiação em seu próprio corpo. No volume 1 do trio de discos Phono 73, essa música e seu arranjo (inspiradíssimo em How many more times, do Led Zeppelin, que já era uma chupação do blueseiro Willie Dixon) aparecem em versão mais crua. No álbum Gita, o produtor Mazzola manteve a base (e as palmas), regravou vocais e acrescentou metais regidos por Erlon Chaves.
“PRELÚDIO” (Gita, 1974). Vinheta orquestrada cujo único verso (“sonho que se sonha só/é só um sonho que se sonha só/mas sonho que se sonha junto é realidade”) foi, digamos, levemente chupado de Now or never, de Yoko Ono. Algo que não atrapalha a beleza e o esoterismo de um dos mais belos momentos de Gita.
“UM SOM PARA LAIO” (da trilha da novela O rebu, 1974). Composta para a trilha de O rebu original, de 1974, foi feita para um personagem que não reapareceu no remake que a Globo levou ao ar recentemente (Laio, interpretado por Carlos Vereza). Foi gravado por Raul com A Bolha. O som é mais próximo do hard rock.
“NÃO PARE NA PISTA” (compacto, 1974). Curioso power pop incluído num compacto e no álbum do festival Hollywood rock, em 1975 (mas com a inclusão de palmas pré-gravadas). Mais uma vez, traz A Bolha no acompanhamento.
“NOVO AEON” (Novo aeon, 1975). Em tom country-hard-rock (com uma inesperada participação de Altamiro Carrilho em um solinho de flauta), Raul, com os parceiros Marcelo Motta e Claudio Roberto, fala sobre mudanças de ciclos mágicos e revoluções silenciosas na humanidade. E prega corajosamente “o direito de ter riso e de prazer/e até direito de deixar Jesus sofrer”.
“O PRÍNCIPE VALENTE” – LUIZA MARIA (do álbum de Luiza Maria Eu queria ser um anjo, de 1975). Parceria com Paulo Coelho que foi parar no primeiro disco da cantora carioca Luiza Maria, com produção de Rick Ferreira (guitarrista de quase todos os álbuns de Raul) e participações de Dadi (A Cor do Som), Sergio Dias (Mutantes), Arnaldo Brandão (A Bolha), Jim Capaldi (Traffic) e outros,
“EU TAMBÉM VOU RECLAMAR” (Há dez mil anos atrás, 1976). Country-rock sem refrão e com letra enorme, zoando novidades pop lançadas no mercado nos anos 70 e que costumavam ser associadas a Raul: Belchior (“agora eu sou apenas um rapaz latino americano/que não tem cheiro nem sabor”), Hermes Aquino (“e sendo nuvem passageira não me leva nem à beira/disso tudo que eu quero chegar”) e Silvio Brito (“ligo o rádio e ouço um chato/que me grita nos ouvidos: ‘Pare o mundo que eu quero descer'”).
“QUANDO VOCÊ CRESCER” (Há dez mil anos atrás, 1976). Se tivesse outra letra, essa música, com piano elétrico e discretas guitarras, poderia estar no repertório de Hyldon ou Carlos Dafé. Nas mãos de Raul, tornou-se uma música sobre as convenções e chatices da “vida de adulto”.
“O HOMEM” (Há dez mil anos atrás, 1976). Num disco conhecido por sua bipolaridade, Raul Seixas esfrega tristeza na cara do ouvinte, neste gospel com cordas chorosas. Curiosamente, a letra traz renascimento e crescimento pessoal após a depressão, lembrando o discurso de Renato Russo em O descobrimento do Brasil, álbum de 1994 da Legião Urbana.
https://www.youtube.com/watch?v=iW1hx5QBAwM
“JUDAS” (Mata virgem, 1978). De volta (breve) à parceria com Paulo Coelho, Raul gravou seu melhor disco na Warner, Mata virgem, com uma constelação de músicos de estúdio (Antonio Adolfo e Pepeu Gomes entre eles). Judas, narrada “em primeira pessoa” pelo personagem bíblico, é um curioso flerte com a disco music. Paulo Coelho é o “narrador” da abertura da faixa (“quem é você?”, etc).
“ILHA DA FANTASIA” (Por quem os sinos dobram, 1979). Um dos poucos momentos de respiração num dos mais confusos e estranhos álbuns de Raul, todo composto em parceria com o argentino Oscar Rasmussen, com quem dividiu apartamento em Copacabana. Na época, o baiano arrumou sérias encrencas ao contratar uma equipe de caratecas argentinos como seguranças. Um deles, ligado ao tráfico, foi assassinado a tiros no apartamento de Raul.
“ALUGA-SE” (Abre-te sésamo, 1980). Protesto bem humorado e desaforado, com solos de guitarra de um jovem músico chamado Celso Blues Boy. Regravada anos depois pelo Camisa de Vênus e pelos Titãs. Segundo o guitarrista Rick Ferreira, o “grande Soluça!”, gritado por Raul antes de um dos solos, seria um apelido que o cantor deu para Celso.
“O CARIMBADOR MALUCO” (do disco Raul Seixas, 1983). Compondo e cantando o tema de abertura do infantil Plunct plact zummm, Raul reinventou-se no mercado, chamou a atenção de um improvável público infantil e, de certa forma, se enfiou a seu modo no circo pop dos anos 80.
https://www.youtube.com/watch?v=KV38MHX4ALw
“MAMÃE EU NÃO QUERIA” (do disco Metrô linha 743, de 1984). Censurada e proibida para execução em rádio, a criação de Raul em cima de I don’t want to be a soldier, mama, de John Lennon, traz o cantor, digamos, parecendo um tanto quanto etilicamente alterado. Kika Seixas surge logo na introdução fazendo “o papel” de mãe do artista.
“GERAÇÃO DA LUZ” (do disco Metrô linha 743, de 1984). O testamento de Raul, gravado para o Plunct plact zummm 2, cinco anos antes do cantor morrer.
“MUITA ESTRELA POUCA CONSTELAÇÃO” (do disco do Camisa de Vênus Duplo sentido, de 1987). Rara participação de Raul num disco de outro artista e mais rara ainda relação do cantor com um grupo de rock brasileiro dos anos 80. Em parceria com Marcelo Nova (com quem gravaria um álbum, A panela do diabo, em 1989), o baiano fez vocais e ainda assinou a letra.
“A LEI” (A pedra do gênesis, 1988). No penúltimo disco de Raul, voltam à capa o “imprimatur” (imprima-se, em latim, como nos primeiros escritos católicos) da Sociedade Alternativa e o logotipo do cantor escrito em fontes góticas. Na capa, o cantor aparece numa foto de 1974, segurando um livro de magia. Em A lei, Raul compõe um funk torto usando o refrão de Sociedade alternativa e lendo textos de Aleister Crowley quase na íntegra.
“LUA BONITA” (A pedra do gênesis, 1988). Cantando com um fiapo de voz no fim da carreira (seus últimos discos foram gravados em meio a muito abuso de álcool), Raul faz chorar ao reler um clássico do compositor paraibano Zé do Norte – autor também de Sodade meu bem, sodade e, alega-se, de Mulher rendeira.
“NUIT” (A panela do diabo, 1989). Momento solo de Raul em seu último disco, gravado em dupla com Marcelo Nova. Sobra de um disco-fantasma do baiano, também chamado Nuit (que chegou a ser anunciado por ele em 1981), a balada de Raul e Kika Seixas foi a última canção gravada por ele no álbum, com as luzes do estúdio todas apagadas. “Todos na sala de gravação estavam com os olhos rasos d’água, porque entenderam que aquela era uma letra de despedida”, contou o produtor Pena Schmidt em 1999 à Trip.
4 discos
4 discos: Ace Frehley

Dizem por aí que muita gente só vai recordar de Gene Simmons e Paul Stanley, os chefões do Kiss, quando o assunto for negócios e empreendedorismo no rock – ao contrário das recordações musicais trazidas pelo nome de Ace Frehley, primeiro guitarrista do grupo, morto no dia 16 de outubro, aos 74 anos.
Maldade com os criadores de uma das maiores bandas de rock de todos os tempos, claro – mas quando Frehley deixou o grupo em 1982, muita coisa morreu no quarteto mascarado. Paul Daniel Frehley, nome verdadeiro do cara, podia não ser o melhor guitarrista do mundo – mas conseguia ser um dos campeões no mesmo jogo de nomes como Bill Nelson (Be Bop De Luxe), Brian May (Queen) e Mick Ronson (David Bowie). Ou seja: guitarra agressiva e melódica, solos mágicos e sonoridade quase voadora, tão própria do rock pesado quanto da era do glam rock.
Ace não foi apenas o melhor guitarrista da história do Kiss: levando em conta que o grupo de Gene e Paul sempre foi uma empresa muito bem sucedida, o “spaceman” (figura pela qual se tornou conhecido no grupo) sempre foi um funcionário bastante útil, que lutou para se sentir prestigiado em seu trabalho, e que abandonou a banda quando viu suas funções sendo cada vez mais congeladas lá dentro. Deixou pra trás um contrato milionário e levou adiante uma carreira ligada ao hard rock e a uma “onda metaleira” voltada para o começo do heavy metal, com peso obedecendo à melodia, e não o contrário.
Como fazia tempo que não rolava um 4 Discos aqui no Pop Fantasma, agora vai rolar: se for começar por quatro álbuns de Ace, comece por esses quatro.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Reprodução
“KISS: ACE FREHLEY” (Casablanca, 1978). Brigas dentro do Kiss fizeram com que Gene, Paul, Ace e o baterista Peter Criss lançassem discos solo padronizados em 1978 – adaptando uma ideia que o trio folk Peter, Paul and Mary havia tido em 1971, quando saíram álbuns solo dos três cujas capas e logotipos faziam referência ao grupo. Ace lembra de ter ouvido uma oferta disfarçada de provocação numa reunião do Kiss, quando ficou definido que cada integrante lançaria um disco solo: “Eles disseram: ‘Ah, Ace, a propósito, se precisar de ajuda com o seu disco, não hesite em nos ligar ‘. No fundo, eu dizia: ‘Não preciso da ajuda deles’”, contou.
Além de dizer um “que se foda” para os patrões, Ace conseguiu fazer o melhor disco da série – um total encontro entre hard rock e glam rock, destacando a mágica de sua guitarra em ótimas faixas autorais como Ozone e What’s on your mind? (essa, uma espécie de versão punk do som do próprio Kiss) além do instrumental Fractured mirror. Foi também o único disco dos quatro a estourar um hit: a regravação de New York Groove, composta por Russ Ballard e gravada originalmente em 1971 pela banda glam britânica Hello. Acompanhando Frehley, entre outros, o futuro batera da banda do programa de David Letterman, Anton Fig, que se tornaria seu parceiro também em…
“FREHLEY’S COMET” (Atlantic/Megaforce, 1987). Seguindo a onda de bandas-com-dono-guitarrista (como Richie Blackmore’s Rainbow e Yngwie Malmsteen’s Rising Force), lá vinha Frehley com seu próprio projeto, co-produzido por ele, pelo lendário técnico de som Eddie Kramer (Jimi Hendrix, Beatles, Led Zeppelin) e Jon Zazula (saudoso fundador da Megaforce). Frehley vinha acompanhado por Fig (bateria), John Regan (baixo, backing vocal) e Tod Howarth (guitarras, backing vocal e voz solo em três faixas).
O resultado se localizou entre o metal, o hard rock e o rock das antigas: Frehley escreveu músicas com o experiente Chip Taylor (Rock soldiers), com o ex-colega de Kiss Eric Carr (Breakout) e com John Regan (o instrumental Fractured too). Howarth contribuiu com Something moved (uma das faixas cantadas pelo guitarrista). Russ Ballard, autor de New York groove, reaparece com Into the night, gravada originalmente pelo autor em 1984 em um disco solo. Típico disco pesado dos anos 1980 feito para escutar no volume máximo.
“TROUBLE WALKING” (Atlantic/Megaforce, 1989). Na prática, Trouble walking foi o segundo disco solo de Ace, já que os dois anteriores saíram com a nomenclatura Frehley’s Comet. A formação era quase a mesma do primeiro álbum da banda de Frehley – a diferença era a presença de Richie Scarlet na guitarra. O som era bem mais repleto de recordações sonoras ligadas ao Kiss do que os álbuns do Comet, em músicas como Shot full of rock, 2 young 2 die e a faixa-título – além da versão de Do ya, do The Move. Peter Criss, baterista da primeira formação do Kiss, participava fazendo backing vocals. Três integrantes do então iniciante Skid Row (Sebastian Bach, Dave Sabo, Rachel Bolan), também.
“10.000 VOLTS” (MNRK, 2024). Acabou sendo o último álbum da vida de Frehley: 10.000 volts trouxe o ex-guitarrista do Kiss atuando até como “diretor criativo” e designer da capa. Ace compôs e produziu tudo ao lado de Steve Brown (Trixter), tocou guitarra em todas as faixas – ao lado de músicos como David Julian e o próprio Brown – e convocou o velho brother Anton Fig para tocar bateria em três faixas. A tradicional faixa instrumental do final era a bela Stratosphere, e o spaceman posou ao lado de extraterrestres no clipe da ótima Walkin’ on the moon. Discão.
Cultura Pop
Urgente!: E não é que o Radiohead voltou mesmo?

Viralizações de Tik Tok são bem misteriosas e duvidosas. Diria, inclusive, que bem mais misteriosas do que as festas regadas a cocaína, prostitutas de Los Angeles e malas de dólares que embalavam os nada dourados tempos da payola (jabá) nos Estados Unidos. Mas o fato é que o Radiohead – que, você deve saber, acaba de anunciar a primeira turnê em sete anos – conseguiu há alguns dias seu primeiro sucesso no Billboard Hot 100 em mais de uma década por causa da plataforma de vídeos. Let down, faixa do mitológico disco Ok computer (1997), viralizou por lá, e chegou ao 91º lugar da parada
A canção, de uma tristeza abissal, já tinha “voltado” em 2022 ao aparecer no episódio final da primeira temporada da série The bear – mas como o Tik Tok é “a” plataforma hoje para um número bem grande de pessoas, esse foi o estouro definitivo. Como turnês de grandes proporções nunca são marcadas de uma hora pra outra, nada deve ter acontecido por acaso. E tá aí o grupo de Thom Yorke anunciando a nova tour, que até o momento só incluirá vinte shows em cinco cidades europeias (Madri, Bolonha, Londres, Copenhague e Berlim) em novembro e dezembro.
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O batera Phillip Selway reforçou que, por enquanto, são esses aí os shows marcados e pronto. “Mas quem sabe aonde tudo isso vai dar?”, diz o músico. Phillip revela também que a vontade de rever os fãs veio dos ensaios que a banda fez no ano passado – e que já haviam sido revelados em uma entrevista pelo baixista Colin Greenwood.
“Depois de uma pausa de sete anos, foi muito bom tocar as músicas novamente e nos reconectar com uma identidade musical que se arraigou profundamente em nós cinco. Também nos deu vontade de fazer alguns shows juntos, então esperamos que vocês possam comparecer a um dos próximos shows”, disse candidamente (esperamos é a palavra certa – a briga de faca pelos ingressos, que serão vendidos a partir do dia 12 para os fãs que se inscreverem no site radiohead.com entre sexta, dia 5, e domingo, dia 7, promete derramar litros de sangue).
Enfim, o que não falta por trás desse retorno aí são meandros, reentrâncias e cavidades. O Radiohead, por sua vez, investiu no lado “quando eu voltar não direi nada, mas haverá sinais”. Em 13 de março, dia do trigésimo aniversário do segundo disco da banda, The bends, o site Pitchfork noticiou que a banda havia montado uma empresa de responsabilidade limitada, chamada RHEUK25 LLP. – sinal de que provavelmente alguma novidade estava a caminho. Poucos dias depois, um leilão beneficente em Los Angeles sorteou quatro tíquetes para “um show do Radiohead a sua escolha”. Muita gente levou na brincadeira, mas algumas fontes confirmaram que o grupo tinha reservado datas em casa de shows da Europa.
Depois disso – você provavelmente viu – surgiram panfletos anunciando supostos shows do grupo em Londres, Copenhague, Berlim e Madri, ainda sem nada oficialmente confirmado, até que tudo virou “oficial”. Pouco antes disso, dia 13 de agosto, saiu um disco ao vivo do Radiohead, Hail to the thief – Live recordings 2003-2009 (resenhado pela gente aqui). Com isso, possivelmente, os fãs até esqueceram a antipatia que Thom Yorke causou em 2024, ao abandonar o palco na Austrália, quando foi perguntado por um fã sobre a guerra entre Israel e Palestina.
O site Stereogum não se fez de rogado e, quando a turnê ainda não estava oficialmente anunciada (mas havia sinais) chegou a perguntar num texto: “E aí, será que eles vão tocar Let down?”. No último show da banda, em 1º de agosto de 2018 (dado no Wells Fargo Center, Filadélfia), ela era a nona música, logo antes da hipnotizante Everything in its right place. Seja como for, já que bandas como Talking Heads e R.E.M. não parecem interessadas em retornos, a volta do Radiohead era o quentinho no coração que o mercado de shows, sempre interessado em turnês nostálgicas, andava precisando. Que vão ser vários showzaços e que muitas caixas de lenços serão usadas, ninguém duvida.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Tom Sheehan/Divulgação
Cultura Pop
Urgente!: E agora sem o Ozzy?

Todo mundo que um dia se sentiu meio estranho e ouviu Ozzy Osbourne na hora certa, foi levado para um universo bem melhor, e para sempre. Tudo começou com uma banda, o Black Sabbath, que já era um verdadeiro errado que deu certo – um ET musical que fazia som pesado quando mal havia o termo “heavy metal” e que falava de terror na ressaca do sonho hippie. E prosseguiu com a lenda de um sujeito que gravou álbuns clássicos como Blizzard of Ozz (1980), Diary of a madman (1981) e No more tears (1991) – eram quase como filmes.
Ozzy pode ser definido como um cara de sorte – e também como um cara que abusou MUITO da sorte, mas pula essa parte. A depender daqueles progressivos anos 1970, não havia muito o que explicasse o futuro de Ozzy Osbourne na música. Em várias entrevistas, Ozzy já disse que não sabia tocar nenhum instrumento quando começou – na verdade nunca nem chegou a aprender a tocar nada. Tinha a seu favor uma baita voz (mesmo não ganhando reconhecimento algum da crítica por isso, Ozzy sempre foi um grande cantor), um baita carisma, ouvido musical e a disposição para encarnar o estranho e o inesperado no palco em todos os shows que fazia.
Imortalizada em livros como a autobiografia Eu sou Ozzy, a história de Ozzy Osbourne é um daqueles momentos em que a realidade pode ser mais desafiadora que a ficção. Afinal, quem poderia imaginar que um garoto da classe trabalhadora britânica se tornaria o que se tornou? Talvez tenha sido até por causa das dificuldades, que também moveram vários futuros rockstars ingleses da época – ou pelo fato de que o rock e a música pop do fim dos anos 1960 ainda eram quase mato, universos a serem desbravados, com poucos parâmetros. Seja como for, se hoje há artistas de rock que se dedicam a discos e a projetos que parecem ter saído da cabeça de algum roteirista bastante criativo, Ozzy teve muita culpa nisso.
Fora as vezes que o vi no palco, estive frente a frente com Ozzy apenas uma vez, numa coletiva de imprensa do Black Sabbath – da qual Tony Iommi não participou, por estar se recuperando de uma cirurgia (havia tido um câncer). Seja lá o que Ozzy pensasse da vida ou de si próprio, me chamou a atenção o clima de quase aconchego da sala de entrevistas (acho que era no hotel Fasano): um lugar pequeno, com ele e Geezer Butler (baixista) bem próximos dos repórteres. Que por sinal não eram inúmeros.
Já havia feito entrevistas internacionais antes mas nunca imaginei estar tão perto de uma lenda do rock que eu ouvia desde os doze anos. Fiz uma pergunta, ele respondeu, e eu, que sempre fiquei nervoso em entrevistas (imagina numa coletiva com o Black Sabbath!) voltei pra casa como se tivesse ido cobrir um buraco que apareceu numa rua no Centro. Não que não tenha me dedicado à pauta, mas era o Ozzy e eu estava… numa tranquilidade inimaginável.
Ozzy também já me deu uma entrevista por e-mail, em 2008, em que reafirmou sua adoração por Max Cavalera, disse que não tinha ideia se a série The Osbournes havia levado seu nome a um novo público, e reclamou da MTV, “que virou uma versão adulta da Nickelodeon”. Também disse que nunca diria nunca a seus então ex-companheiros do Black Sabbath (“nos falamos por telefone e quando as agendas permitem, nos encontramos”).
Nesse papo, Ozzy só se irritou quando fiz uma pergunta que envolvia o Iron Maiden, que tinha passado recentemente pelo Brasil, ou estaria vindo – não lembro mais. “Bom, não sei te responder, pergunta pro Iron Maiden!”, disse, em letras garrafais (todas as respostas foram em caixa alta). Lembro que ri sozinho e fui bater a matéria.
Até hoje só acredito que isso tudo aí aconteceu (e não é nada perto do que uns colegas viveram com Ozzy e o Black Sabbath) porque vi as matérias impressas. Mas acho que antes de tudo, consegui humanizar na minha mente um cara que eu ouvia desde criança. Ozzy era de carne e osso, respondia perguntas, tinha lá seus momentos de irritação e, enfim, mesmo tendo o fim que todo mundo vai ter, viveu bem mais do que muita gente. E mudou vidas.
Texto: Ricardo Schott – Foto: Divulgação
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