Lançamentos
Radar: Lara Klaus, Inseton, Monobloco, Marisa Monte, Iorigun

Sai da frente que o Radar nacional chega atrasado, mas chega cheio de lançamentos: Iorigun, Lara Klaus, Marisa Monte, Inseton, Monobloco… Tudo que não foi lançado hoje foi lançado bem perto de hoje. Ouça tudo no último volume para mostrar que você está ligado/ligada em sons novos – pode acreditar, isso dá sorte.
Texto: Ricardo Schott – Foto (Lara Klaus): Rodrigo Sotero/Divulgação
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LARA KLAUS, “DE SE IMAGINAR”. Pernambucana radicada no Canadá, Lara – que também é uma das fundadoras da banda Ladama – já havia lançado o single Qual sabor a paixão tem?, feito em parceria com o conterrâneo Jr Black, morto em 2022. Uma parceria com jeito de homenagem, enfim – que se repete agora com o forró-folk De se imaginar, também fruto do trabalho em dupla de Lara e Jr.
“A canção nasceu com a cadência do xote, ritmo do universo do forró, mas recebeu um novo arranjo a partir dos bandolins e da guitarra baiana de Rafael Marques”, conta ela, que gravou o clipe em Montreal, ao lado da diretora Tarsila Schott. “Ele combina imagens que gravei em 8mm, são paisagens, natureza, momentos íntimos e de introspecção, com cenas do presente. É um fio poético que conecta o vivido ao agora, lembrando que são as memórias que nos fazem vivos e nos sustentam na invenção e criação do que queremos ser”.
INSETON, “FILTRO”. Oscilando entre punk, metal e sons eletrônicos, essa banda capixaba fez de sua nova música, Filtro, um protesto contra a busca por padrões inalcançáveis. O clipe da música, dirigido por Rayan Casagrande – com roteiro dele e Jeff Chicão, vocalista e guitarrista da Inseton – une live action e animação, e traz uma boneca sendo produzida a partir de partes de outros bonecos. Traz também o dia a dia de um boneco que é moldado por um “Criador de Filtros”, uma metáfora para as pressões sociais e a indústria da estética. Letra direta, som pesado, imagens que falam bastante do nosso dia a dia e das pressões que todo mundo sofre.
MONOBLOCO, “LUCRO/DESCOMPRIMINDO” (AO VIVO). O bloco liderado pelo sambista carioca Pedro Luís tem uma parceria de duas décadas com a Fundição Progresso – que envolve vários shows e noitadas na casa. Agora essa parceria virou lançamento musical, já que o Monobloco lança um single pelo selo Fundisom, criado pela Altafonte ao lado da Fundição em 2022.
Lucro/Descomprimindo, música do repertório do Baiana System (lançada no disco Duas cidades, de 2016), foi composta por Russo Passapusso e Mintcho Garrammone, e foi a escolha da banda para integrar o projeto Ao vivo na Fundição – sim, a versão foi gravada pelo Monobloco num show dado no local. Já a letra de Lucro fala de um pesadelo bem real, em que a especulação imobiliária avança e as coisas só interessam se gerarem dinheiro. Uma letra de protesto que Pedro canta ao lado de dois outros integrantes do bloco, Mariá Pinkusfeld e Igor Carvalho, em meio à massa de percussão.
MARISA MONTE, “SUA ONDA”. Fã da ideia de lançar singles de surpresa – seja para marcar o início de turnês, complementar registros ao vivo ou apenas compartilhar um novo momento com o público – Marisa Monte apresenta Sua onda, já disponível com lyric video. A faixa, uma toada serena e meditativa, é parceria com Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes, e tem produção do argentino Gustavo Santaolalla – o mesmo que tocou os violões no sucesso Ainda bem. Sua onda também é a novidade que Marisa vai incluir na turnê Phonica, prestes a estrear.
“Gustavo sugeriu a Budapest Scoring Orchestra, tocou quase todos os instrumentos e fez o arranjo. Fizemos uma gravação remota, ele em Los Angeles, eu no Rio e a orquestra em um estúdio na Hungria, numa experiência que a tecnologia nos proporcionou de conexão, compartilhamento e sintonia”, conta Marisa.
IORIGUN, “PUDESSE”. O som ágil dessa banda baiana volta em forma no novo single, Pudesse – uma das músicas que anunciam o primeiro álbum do Iorigun, planejado para o primeiro semestre de 2026, e que vai ter em seu repertório faixas gravadas de 2024 e 2025, no home studio da banda. A nova música traz uma cara mais ligada ao pós-punk, entre riffs e toques marcantes na guitarra – um tipo de sonoridade que já surgiu em parte no primeiro single, Não vai valer a pena.
O clipe da faixa, dirigido por Samara Reis , faz referência simultaneamente às filmagens nas antigas câmeras analógicas, e também às gravações verticais dos stories. Foi feito durante a participação do Iorigun no Circuito Nova Música, projeto que leva bandas novas para tocar por todo o Brasil – Crystal, vocalista do Vera Fischer Era Clubber, banda que também participava do circuito, aparece de relance em algumas cenas. Já a letra fala sobre “as nuances de se relacionar com o outro. É uma música sobre amores efêmeros, projeção e desejo. Mas a sonoridade é como uma cama que você deita confortável pra pensar sobre tudo”, conta o vocalista e guitarrista Iuri Moldes.
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Crítica
Ouvimos: Upchuck – “I’m nice now”

RESENHA: O Upchuck volta com I’m nice now, disco tenso e raivoso produzido por Ty Segall, unindo punk, rap e caos existencial liderado por KT.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Domino
Lançamento: 3 de outubro de 2025
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Liderado pela explosiva vocalista KT, o Upchuck volta em clima de (vá lá) superprodução em seu terceiro disco. I’m nice now marca a estreia da banda na Domino, com produção de Ty Segall. Com um produtor desses, daria para imaginar que o grupo voltaria fazendo um som mais doidão e que fosse bem além da raiva punk. Mas K7, Chris Salgado (bateria e voz), Mikey Durham, Hoff (ambos guitarras), e Ausar Ward (baixo) voltaram fazendo um disco quase insociável, com emanações de bandas como Black Flag, Melvins e Flipper – além de umas músicas que soam como Stooges e MC5 transformado em spoken word rápida.
Importante falar que o melhor álbum do Upchuck continua sendo a estreia, Sense yourself, de 2022: era um disco que variava mais nas melodias e trazia um pouco mais de experimentação na hora de compor. I’m nice now foca mais na raiva e num clima denso e tenso, de palavras de ordem, e estruturas um tanto parecidas para boa parte das canções. O disco foca na mescla de punk e rap a maior parte do tempo, como em Tired, Plastic, Fried e o punk garageiro Homenaje, uma das faixas em que surgem os vocais em espanhol do baterista Chris Salgado. Essa raiva, e essa atmosfera radical que o grupo impõe, são o melhor do álbum.
KT soa como uma cantora de banda riot grrrl que tem total domínio da voz – entre gritos e partes faladas, você percebe de cara que ela é uma grande vocalista. O grupo bebe na fonte de Slits em New case, lembra do lado podre do rock dos anos 1980/1990 (Melvins, Flipper, o próprio Black Flag) em Kept inside, segue entre Pixies e Sonic Youth em Pressure. Já Kin, quase um hardcore, soa como Ratos de Porão, só que mais sociável musicalmente. Uma curiosidade é a melodia solar e pesada de Slow down, com pegada grunge.
As letras de I’m nice now, por sua vez, falam de intranquilidades e ranços diários – só que de maneira quase existencialista. KT narra histórias de racismo, abandono e apagamentos (Forgotten token), aponta o dedo para o cinismo da política e da mídia (Tired), fala sobre trabalho exaustivo e performático (Slow down). E fala até de amor, só que forma punk e desesperada, em Nowhere – música que encerra o disco, com clima pesado e sombrio, mas também com melodia criativa.
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Crítica
Ouvimos: Algernon Cadwallader – “Trying not to have a thought”

RESUMA: De volta após dez anos, o Algernon Cadwallader une desespero emo e beleza melódica em um disco intenso, político e cheio de guitarras vivas.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Saddle Creek
Lançamento: 12 de setembro de 2025
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Em 2012, a banda norte-americana Algernon Cadwallader ainda tinha um blog, no qual falava de discos novos, turnês e bastidores. Foi lá que os fãs ficaram sabendo, em agosto daquele ano, que a banda havia sido “oficialmente sepultada” – sim, porque não basta ser uma banda emo, o fim tem que ser anunciado de forma dramática e quase fantasmagórica.
Nessa época, o Algernon deixava para trás uma boa discografia, muitos fãs, e uma reputação de banda redentora, bastante influente no cenário math-rock e emo. Uma banda que, mesmo quando abordava temas incômodos, procurava falar mais de vida do que de morte, de soluções que de problemas – até quando as coisas pareciam não ter solução.
Daí corta pra Trying not to have a thought, primeiro disco do grupo após o retorno em 2022, e primeiro disco deles com sua formação original – o ex-baterista Tank Bergman não está presente e Nick Tazza, primeiro titular do instrumento, que saiu antes dos primeiros álbuns, voltou. No disco, o Algernon retorna lembrando bastante bandas que já eram influências deles, como Cap’n Jazz e Fugazi.
Hawk, na abertura, é marcada por guitarras circulares e vocais gritados, com clima próximo do pós-punk. A curiosa Shameless faces (Even the guy who made the thing was a piece of shit) une emo e country folk, com vibe dolorida na voz e na sonoridade. Um clima que também domina boa parte da quilométrica What’s mine, com seis minutos e atmosfera tensa que se esvai em gritos e guitarras altas.
A experimentação math rock dá as caras em músicas como noitanitsarcorP (“procrastination” ao contrário), funkeada e levada adiante por ruídos de guitarra e bateria – a ponto de lembrar Perfeição, da Legião Urbana. Surge também em Koyaanisqatisi, nos ritmos quebrados de Million dollars… Mas o que fica mais na mente é a tentativa (bem sucedida) de unir desespero emo e beleza melódica, como em You’re always been here, na faixa-título e no clima Byrds-R.E.M. de Attn move.
Nas letras, o grupo une raiva existencial e raiva política. Shameless faces é sobre uma sociedade incapaz de consertar a si própria. Revelation 420 espalha brasa para feriados norte-americanos, mentiras do governo Trump, e prega algo que parece ingênuo, mas está dentro de um recorte: “nunca confie em um presidente / nunca confie em uma nação / não presuma que seu professor está certo / faça sua própria educação”.
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Crítica
Ouvimos: Emerald Hill – “À queima-roupa”

RESENHA: Punk, pós-punk e noise rock guiam À queima-roupa, disco combativo da Emerald Hill, que fala de memória, resistência e fúria política.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Independente
Lançamento: 10 de outubro de 2025
Se você ouviu Vida de cão, primeiro single a anunciar o terceiro disco da banda paraibana Emerald Hill, À queima-roupa, já sabe que deparou com uma banda disposta a abordar temas desconcertantes. No caso dessa faixa, um pós-punk visceral, sombrio e ruidoso, o tema é a resistência do narrador-personagem em fazer o que vários de seus amigos já fizeram, que é mudar-se para São Paulo, “crescer” profissionalmente e largar velhos hábitos.
Trilhado num corredor que inclui punk, pós-punk e noise rock, À queima-roupa oferece um pouco mais que isso: Vitor Figueiredo (vocal, guitarra), Gabriel Novais (vocal, baixo) e Catarina Serrano (vocal, bateria) fizeram um disco guerrilheiro e brigão, com capa pró-Palestina, em que as músicas falam de lembranças do passado, verdades secretas, perdas e vontade de derrubar tudo que está estabelecido. O punk desesperado Uma ideia antiga, com um curioso solo de flauta, prega: “liberdade para os presos / saúde pros enfermos /comida pros famintos /pras travestis empregos / armas pros guerrilheiros”. A lascada e auto-explicativa Destruir o capitalismo espalha brasa para igreja, polícia e publicidade.
- Ouvimos: Oruã – Passe
Já a balada punk Santa Cecília soa como uma série em que novos plots vão se descortinando, a partir da história de irmãos que deixaram de se falar (“eu fui inconsequente e infantil / mas eu tinha só 18 anos / e minha alma era um fuzil”). O som de À queima-roupa invade também áreas como power pop (Av. Sapê), shoegaze (na faixa-título) e jangle rock (em Mapa, com órgãozinho lembrando Inspiral Carpets e vibe mutante nas linhas vocais). Encerrando, Deserto passeia pelos riffs arábicos lembrando Shocking Blue e pela atmosfera cigana de bandas como Siouxsie and The Banshees, pregando que “do rio ao mar / a Paraíba vencerá”.
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