Lançamentos
Radar: dez sons que chegaram até a gente pelo Groover (#4)

O Pop Fantasma já tem perfil na plataforma Groover, em que artistas independentes podem mandar suas músicas para vários curadores – nós, inclusive. O time de artistas que vem procurando a gente é bem variado, mas por acaso (ou talvez não tão por acaso assim) tem uma turma enorme ligada a estilos como pós-punk, darkwave, eletrônico, punk, experimental, no wave e sons afins.
Abaixo, você fica conhecendo mais dez nomes do Groover que já passaram na nossa peneira e foram divulgados pela gente no site. Ponha tudo na sua playlist e conheça.
KAPUT. Essa dupla que faz som sintetizado e frenético vem de Chicago, é formada por Brian Fox (Electrical Audio) e Nadia Garofalo (Heavy Feelings, ex-Ganser), e já apareceu no Groover, e no Pop Fantasma, quando lançou o single Runner, que fala da cultura capitalista do trabalho, além do burnout nosso de cada dia. Agora é a vez do agitadíssimo new wave eletrônico Sucker, que mais parece trilha de videogame, só que com peso, voz e atitude. “Ela é um hino hi-energy que fala sobre as pressões das expectativas de outras pessoas e uma linha de gol em constante movimento. Farto e sem vontade de cooperar, o personagem de Sucker esmurra e bate sem deixar nada em seu caminho”, dizem os dois. Tem um álbum vindo aí, no começo deste ano.
Ouça: Sucker.
ALEPH NAUGHT AND THE NULL SET. “Este é meu 8º álbum (sem contar as fitas cassete e tudo mais) – e o segundo em 6 meses. Sou um viciado em rock progressivo, adoro! Meu novo álbum, Head cleaner, é todo instrumental e acredito que seja um retorno às minhas raízes no prog rock”, avisa Aleph no Groover. O universo dessa banda-de-um-homem-só que vem dos Estados Unidos é viajante, colorido, eletrônico e influenciado pelas novidades da Inteligência Artificial (aparentemente foi com ela que a capa do disco novo foi feita).
Ouça: Lobotomy.
CORDE OBLIQUE. Essa banda da Itália faz uma espécie de shoegaze clássico – tem violinos, vocais de anjo, algo próximo do metal clássico, mas rola uma parede de guitarras e toda uma distorção que põem o grupo bem distante da barafunda do metal melódico, ou algo do tipo. Cries and whispers, o disco novo, tá vindo aí (sai dia 14 de fevereiro), comemora o vigésimo aniversário do grupo e ganha duas partes. O nome do disco é uma homenagem a Gritos e sussurros, filmes de Ingmar Bergman.
Ouça: The nightingale and the rose.
MAGICK BROTHER & MYSTIC SISTER. Essa banda de Barcelona, Espanha, se considera bastante “misteriosa” – e o tema do grupo mexe com vários mistérios ligados ao ocultismo. Lançaram recentemente Tarot pt 2, a segunda parte de um disco duplo conceitual, “um caleidoscópio de 22 músicas baseadas nos Arcanos Maiores do Tarô, uma linguagem de sonho intercultural”, como afirmam eles. “Nós fundimos dream-prog, jazz cósmico estilo Canterbury, Krautrock retro-futurista e folk mágico”, definem-se.
Ouça: The tower.
NEURAL GROOVE MACHINE. A quantidade de álbuns lançados por este projeto é assustadora de grande. Jay Tindall, criador do Neural, um músico norte-americano que vive em Bangkok, na Tailândia, assume que usa a IA para criar sons e experimentar, e faz uma música que vai do rock e do trip hop ao eletrônico. O álbum mais recente é o pesado e raivoso Anarchist lullaby, lançado nas plataformas em novembro.
Ouça: Synapse static.
RED DIVAN. Projeto musical saído da República Dominicana, o Red Divan tem uma manha musical latina misturada a sons dos anos 1980 (Smiths, A-Ha) e lançou recentemente o álbum Prelúdio. “Queremos fazer canções que evoluam através do tempo, e nosso crescimento tem sido influenciado pela expansão do rock em espanhol”, contam.
Ouça: Traducelo.
DANTEZ. “Meu som é uma fusão de visões de vanguarda, indie e experimentais, misturando emoção crua com melodias não convencionais”, diz esse músico de origens latinas, que usa uma grafia de banda de black metal para desenhar-escrever seu nome artístico. A sussurrada e eletrônica High on you é vaporwave (em ritmo de reggaeton) de fazer viajar sentado na cadeira.
Ouça: High on you.
SIMON SHACKLETON. Com um EP novo, This is who we are, lançado agora mesmo, no comecinho de 2025, esse cantor e compositor norte-americano faz uma união de synth pop, trip-hop, sons eletrônicos e rock industrial, com vocais graves e misteriosos. Vai sair um álbum novo no dia 7 de fevereiro, The shadowmaker. O single Smokestack blues, que está no EP novo, é definido por ele como “uma jornada corajosa e atmosférica pelas horas inquietas de uma cidade que nunca dorme, canalizando a tensão das ruas tarde da noite encontrando a força de trabalho matinal”.
Ouça: Addicted to lies.
LOGAN GARRETT. Músico, DJ e produtor da cidade do country, Nashville, Logan vai além disso e une o estilo com hip hop e música eletrônica. No single Move, seu som é um pop bastante influenciado por country e batidas de house music. “Tocando como DJ em Nashville, sou constantemente desafiado a encontrar discos que possam fornecer uma sensação country, mas que se encaixem em um set dance/eletrônico. Fiz Move com a intenção de se encaixar em algum lugar nessa confusão de limites de gênero”, conta ele, que convidou a cantora Anella para fazer um feat nessa faixa.
Ouça: Move.
ENNIELLE. O responsável por esse projeto misterioso é um músico natural de Nova York, chamado Geoff Bradford, que cresceu em países como Suécia e Venezuela, e passou a vida sendo exposto a diversos tipos de culturas e estilos musicais. Hoje ele vive em Austin, no Texas, e dedica-se ao Ennielle, que faz pop com argamassa acústica e influências de sons latino-americanos.
Ouça: This time it’s different.
Crítica
Ouvimos: Hotline TNT – “Raspberry moon”

RESENHA: Em Raspberry moon, o Hotline TNT acerta ao misturar noise, power pop esquisito e guitarras noventistas com letras simples e clima quase emo.
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Rotular a banda novaiorquina Hotline TNT como shoegaze é dar bem pouca areia para o caminhão deles. O grupo liderado por Will Anderson está mais para aquela época em que se sabia que rock, via de regra, tinha que ser ruidoso – seja lá em que gênero ele se adequasse. Raspberry moon, terceiro disco do grupo, guia o timão para os tempos de Hüsker Dü, Sugar, Velocity Girl, Dinosaur Jr e põe os rangidos e as paredes de guitarra para funcionar a favor da melodia.
Raspberry moon traz Will num clima diferente: em vez de compor e tocar sozinho, como aconteceu nos discos anteriores, ele pôs a galera que o acompanha nos shows para criar o disco ao lado dele. Boa parte do repertório soa mais próximo, de fato, do que pode ser entendido como um “disco de banda”, com dinamismo mais acentuado, e variando entre ruído e melodia. Was I wrong?, na abertura, é noise rock educado e alimentado como uma dieta de rock dos anos 1960. The scene é quase um haikai ruidoso e voltado pata a musicalidade pesada dos anos 1990. A ligeiramente funkeada Julia’s war tem cara de hit e chega a lembrar aquelas bandas mais palataveis que usavam a fórmula do grunge (Third Eye Blind, etc).
- Ouvimos: Dinosaur Jr – Farm (15th anniversary edition)
- Ouvimos: Velocity Girl – UltraCopacetic (Copacetic remixed and expanded)
- The living end: lembranças do Hüsker Dü ao vivo, em CD lançado em 1994
- Entrevista: Greg Norton (Hüsker Dü, Porcupine) exclusivo para o Pop Fantasma
Isto posto, dá pra dizer que o Hotline TNT se aproximou bastante do power pop no disco novo – aliás num papo com a newsletter Last Donut Of The Night, Will disse que, quando mais novo, ouvia bandas como Weezer e Red Hot Chili Peppers. Mas é um power pop esquisito, no qual cabem loucuras vaporwave (Transition lens), um clima que remete tanto a Joy Division quanto ao soft rock (Break right e Candles) e um pós-grunge como talvez ele devesse ser hoje em dia (Letter to heaven).
Aclimatações jangle-pop tomam conta de Dance the night away, e ruídos acústicos rangem nos violões ardidos de Lawnmover – enquanto uma nuvem sonora mais próxima do shoegaze que costuma ser associado à banda aparece na última faixa, Where U been?. Já as letras valorizam a simplicidade, ou o desejo de ser entendido (e sentido) em poucas frases. Há mensagens de adeus em Was I wrong? e Letter to heaven, um curioso conto de escalada em Julia’s war, e inseguranças amorosas em várias faixas, num clima praticamente emo – como o “se você realmente me amasse / faria uma cena de ciúmes / visibilidade / e todos veriam” da amarga The scene.
Talvez esse prazer por mostrar o lado mais imaturo da vida corte um pouco da boa experiência de ouvir o Hotline TNT. Mas Raspberry moon faz bem aos ouvidos quase todo o tempo.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Third Man Records
Lançamento 20 de junho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Getdown Services – “Primordial slot machine”

RESENHA: Em Primordial slot machine, o Getdown Services mistura pós-punk, soul e krautrock com humor ácido e melodias tortas, em faixas caóticas e cativantes.
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Dupla de Bristol, na Inglaterra, o Getdown Services parece um cruzamento de Prince, Beck e John Lydon – ou seja: balanço, estranhice e zoeira marcam o repertório da dupla formada por Josh Law e Ben Sadler.
Primordial slot machine, terceiro EP dos dois (eles têm ainda um álbum, Crisps, de 2023) abre com o pós-punk desértico de Provide me your name, música na qual rola uma conversa telefônica das mais esquisitas. E em seguida vem Chrysalis, soul-rock-pop com piano Rhodes, guitarra sinuosa e vocal falado – a letra basicamente fala sobre situações estressantes resolvidas de maneira imbecil (“vou formar uma crisálida perfeita / e enchê-la de mijo”, explicam/não explicam na letra).
- Ouvimos: The Wants – Bastard
- Ouvimos: Godofredo – Tutorial
- Ouvimos: Unknown Mortal Orchestra – Curse (EP)
Ben e Josh investem num eletrokrautrock ruidoso em James Bay’s hat e Eat quiche. Sleep. Repeat, duas músicas cujas letras parecem uma mistura da inocência falsa de David Byrne com o humor corrosivo de Mike Patton (“eu encontrei o maior amor do mundo / no menor meet and greet do mundo / dei uma crítica de duas estrelas de um filme que eu nem tinha visto”, afirmam na segunda). God bless é um rap que parece ter sido construído num sample – ou numa imitação – da levada de Rational culture, de Tim Maia.
A música mais “normal” do disco, Drifting away, vem no fim, e fala sobre vontade de desaparecer (“sou corajoso, mas não corajoso o suficiente para ficar / indo embora”) sob uma base de rock indie e sessentista, com vocal grave lembrando Lou Reed. Para ouvir quando a amargura desses dois não conseguir te contagiar.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8
Gravadora: Breakfast Records
Lançamento: 6 de junho de 2025.
Crítica
Ouvimos: Vovô Bebê – “Bad english”

RESENHA: Quarto disco de Vovô Bebê, Bad english mistura Bowie, Jovem Guarda, baião e soul em um pop experimental cheio de referências e surpresas.
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Quando começaram a surgir as notícias sobre Bad english, quarto álbum de Vovô Bebê – codinome do músico Pedro Dias Carneiro – nomes como David Bowie eram bastante citados em textos que adiantavam o disco. Bowie paira como uma espécie de santo padroeiro sobre Bad english, disco produzido por Chico Neves e dirigido artisticamente por Ana Frango Elétrico – e a capa parece referir-se a uma versão torta de Blackstar (2016), seu disco de despedida.
E justamente o Bowie que baixou no estúdio em que Vovô Bebê gravou foi a versão mais aventureira e experimental do britânico – a da fase Berlim e a dos discos que ele fez nos anos 1990, incompreensíveis para vários fãs antigos, e revistos anos depois por vários deles. Não é só isso: o despojamento dos discos de Gilberto Gil e Caetano Veloso feitos em Londres, e até o balanço dos Red Hot Chili Peppers, além do desdobre psicodélico da Jovem Guarda (Incríveis, Silvinha, Vanusa)… Tudo isso é citado em faixas como Intro/End of the moon, Forest baby (essa, em tom bossa + rock + soul + Bowie), a contemplativa e sinuosa Little sun, a espacial Night away e a beatle-tropicalista Offbook effort.
Bad english une Beck e disco music saturada em Star smoke ticket, põe algo de glam rock na mistura em Wrong ticket, e junta baião, afoxé, jazz e lisergia em Brazil commodity e Left for dead. O soul indie Daily basis slide guitars, voz tranquila e um balanço que remete tanto a Marcos Valle quanto a Titãs. Tem experimentalismo, e muito, em Bad english – mas ele surge como um elemento a mais nas canções e arranjos.
Texto: Ricardo Schott
Nota: 8,5
Gravadora: Estúdio304
Lançamento: 23 de abril de 2025.
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